If,The,U.s.,Economy,Were,To,Collapse,,It,Would,Happen

Por Vivekanand Jayakumar

Nos últimos dois anos, a ideia de que a economia dos Estados Unidos e seu mercado de ações estavam superando o restante do mundo desenvolvido ganhou destaque e passou a ser amplamente interpretada como uma nova forma de excepcionalismo americano. Em outubro passado, a revista The Economist afirmou que a economia dos EUA era a “inveja do mundo” e que havia “deixado outros países ricos para trás”.

A eleição de um presidente supostamente pró-negócios e a vitória republicana nas eleições de novembro reforçaram as expectativas de que a economia americana e seus mercados acionários continuariam a se destacar em 2025, especialmente em comparação com uma Europa estagnada e uma China em crescimento lento.

No entanto, as expectativas iniciais de um impulso trumpista ao crescimento econômico, baseadas na antecipação de uma desregulamentação significativa e cortes de impostos, fracassaram à medida que a incerteza política e medidas protecionistas impactaram o sentimento do consumidor e a confiança empresarial.

A mudança abrupta da administração Trump para um realismo na política externa, juntamente com sua execução desordenada de ameaças econômicas e tarifas comerciais, impulsionou um novo modelo de relações internacionais mais transacional. Isso tem forçado as principais economias europeias e asiáticas a adotarem reformas necessárias e a implementar medidas de estímulo econômico.

Embora a economia dos EUA tenha terminado o ano passado em alta, seu desempenho em 2025 pode ser prejudicado pelo aumento da incerteza política, queda no sentimento do consumidor, atrasos em investimentos empresariais e um enfraquecimento gradual do mercado de trabalho.

A recente reversão abrupta no mercado de títulos, após um aumento de 100 pontos-base entre setembro de 2024 e janeiro de 2025, confirma uma mudança dramática no sentimento do mercado. O medo de uma desaceleração econômica ultrapassou as preocupações com a inflação persistente.

O desempenho fraco das ações americanas sugere que investidores anteriormente otimistas estão reconsiderando suas apostas no mercado acionário dos EUA. Surpreendentemente, os mercados acionários da Europa e da Ásia, antes subestimados e relativamente desvalorizados, superaram seus equivalentes americanos até agora em 2025.

Para entender melhor esses desenvolvimentos recentes, é útil analisar os fatores que impulsionaram o chamado “excepcionalismo americano”. Desde o final de 2019, a economia dos EUA superou significativamente seus pares do G7. Um fator subestimado para esse desempenho foi o grande estímulo fiscal entre 2020 e 2024.

Como Jesper Rangvid destacou, através dos pacotes Cares Act, Consolidated Appropriations Act e American Rescue Plan Act, o governo dos EUA injetou US$ 6 trilhões na economia, o equivalente a cerca de 25% do PIB. A administração Biden ampliou esses estímulos com o Inflation Reduction Act e o CHIPS and Science Act.

Os Estados Unidos também possuem vantagens estruturais, como regulamentação mais favorável, alta produtividade, um setor tecnológico inovador e a liderança global na produção de petróleo e gás natural, o que os protege de choques energéticos externos. No entanto, os estímulos fiscais financiados por dívida tiveram um papel crucial ao sustentar o consumo e os investimentos, amenizando o impacto das taxas de juros elevadas em 2023 e 2024.

Enquanto os EUA continuaram com grandes déficits fiscais, ultrapassando US$ 1,83 trilhão (6,4% do PIB) em 2024, mesmo com crescimento econômico robusto, a Europa adotou medidas de austeridade nos últimos dois anos. Isso ajudou a explicar o desempenho inferior da zona do euro.

Até mesmo o extraordinário desempenho do mercado acionário dos EUA na última década está sob ameaça. No final de 2024, as ações americanas representavam quase 70% do índice MSCI AC World, um aumento em relação aos 30% da década de 1980. Além disso, o mercado acionário dos EUA tornou-se altamente concentrado, com as 10 maiores empresas representando cerca de 38% da capitalização de mercado do S&P 500. Em dezembro passado, Ruchir Sharma alertou que o mercado americano estava “supervalorizado, superestimado e excessivamente promovido” – e os eventos recentes parecem confirmar sua preocupação.

Nos últimos meses, diversas mudanças levaram investidores globais a questionar a tese do “excepcionalismo americano”. A China mostrou capacidade de desafiar o Vale do Silício no setor de inteligência artificial e anunciou medidas para impulsionar o consumo interno e se proteger das tarifas impostas por Trump.

Ao mesmo tempo, as recentes eleições na Alemanha provocaram uma mudança radical na postura fiscal e estratégica da maior economia da Europa. As expectativas de maior investimento alemão em defesa e infraestrutura já impulsionaram os mercados acionários e a moeda europeia.

Curiosamente, a abordagem caótica da administração Trump tem forçado o restante do mundo a implementar reformas essenciais que podem, no longo prazo, reduzir sua dependência do consumidor americano e até mesmo do sistema financeiro dos Estados Unidos.


Vivekanand Jayakumar, Ph.D., é professor associado de economia na Universidade de Tampa.

FONTE: The Hill

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Nilo
Nilo
9 horas atrás

Como desatar o nó dia grandes déficit, ano a ano, e manter riqueza fictícia do mercado de ações, a exemplo da Nvidea, ações vale o que se crê não o que se cria, agora Trump ganha mais um inimigo, as grandes riquezas financeiras, de papel.

Sulamericano
Sulamericano
Responder para  Nilo
6 horas atrás

Uma queda no mercado de ações americano seria um desastre para a economia global, mas seria especialmente catastrófica para o cidadão médio americano, que tem suas economias para a aposentadoria alocada em mais de 70% no mercado de ações.
Se isso acontecer, a grana para a velhice de uma parcela considerável da população viraria pó.

Carlos
Carlos
Responder para  Sulamericano
3 horas atrás

Sim, realmente. Mas, pelo que o rapaz disse e corretamente, boa parte dessa “riqueza” se dá por especulação e não pelo que as mesmas produzem e quando essa bolha estourar, já viu…

Carlos Campos
Carlos Campos
Responder para  Sulamericano
1 hora atrás

eles já perderão 4 trilhões desde o começo do ano, estou com ódio do Trump que terá uma reunião com CEOs

Augusto Cesar
Augusto Cesar
Responder para  Nilo
56 minutos atrás

Esse e provavelmente o plano de Trump, acabar com a dependência do mercado de ações americano (onde muitas empresas não valem nada, pura especulação) e promover a reendustrialização. Mas antes disso vem resseção (que já viria de qualquer forma) para limpar o mercado de ações.

Jadson S. Cabral
Jadson S. Cabral
Responder para  Augusto Cesar
19 minutos atrás

Plano de louco, me parece. Se é que é esse mesmo o plano.

Turco
Turco
8 horas atrás

O principal problema do Estados Unidos é a China. A china tem a capacidade de absorver qualquer mercado que o Estados Unidos ignore.

Eu tenho uma teoria muito particular minha, que essa aproximação dos Estados Unidos com a Rússia tem a ver com o futuro.

Estados unidos ainda importa muita coisa da China, e a Russia ainda é a maior Reserva minerais no Mundo.

Nilo
Nilo
Responder para  Turco
8 horas atrás

*Estados Unidos com a Rússia tem a ver com o futuro” Futuro do EUA👍

Willber Rodrigues
Willber Rodrigues
Responder para  Turco
8 horas atrás

“Eu tenho uma teoria muito particular minha, que essa aproximação dos Estados Unidos com a Rússia tem a ver com o futuro.”

Da mesma maneira que a ajuda ( não militar, mas econômica ) e o fato da China não ter sancionado a Rússia foi uma das pedras angulares que sustentou a Rússia em 3 anos de guerra, uma Rússia que, mesmo que não ajude militarmente, abasteça a China com commodities e mantenha suas “costas” seguras num conflito contra os EUA seria fator decisivo pra China.
Ver uma Rússia nos braços chineses a última coisa que os EUA precisam, se eles realmente querem “bater de frente” com a China no futuro.

Marcelo Baptista
Marcelo Baptista
Responder para  Willber Rodrigues
4 horas atrás

Li uma reportagem na BBC que diz algo semelhante.
Tanto a China quanto os EUA estão, digamos, afagando a Rússia para evitar que ela vá para um lado ou para o outro.
O mundo ideal das potencias é que a Rússia continue sendo a Rússia, não gosta do ocidente e desconfia do oriente.

Willber Rodrigues
Willber Rodrigues
Responder para  Marcelo Baptista
3 horas atrás

Ninguém gosta de admitir, mas a Rússia é a garota bonita e desejada do baile do nomento.

Os EUA querem a Rússia longe da influência chinesa;
A China quer evitar que a Rússia caia no “canto da sereia” ocidental;
Os europeus querem que tudo volte ao “normal” pra poder voltar a comprar gás russo barato.

Quanto a Rússia, ela sabe que não pode confiar 100% na China, e que pode confiar “menos ainda” na Europa e EUA.

PS: repare que o que a Ucrânia quer, não entra na equação.

Turco
Turco
Responder para  Willber Rodrigues
3 horas atrás

Exatamente isso, quando você análise a geopolítica global como um todo, como o Trump esta fazendo, percebe que a questão da Ucrânia não é relevante suficiente pra comprar esta guerra.

E ficou evidente que hoje, qualquer tipo de sanção já não funciona mais, não funcionou contra a Rússia, e não vai funcionar contra a China enquanto as duas estiverem próximas.

A questão que preocupa ambos os lados é o expansionismo Chinês, mesmo que hoje a Rússia e China sem apoiem, Putin não é bobo e sabe que também não pode depender somente da China.

Em alguns anos vamos entrar em uma nova guerra Fria entre USA e China, só que desta vez a Rússia pode de desbalancear tanto de um lado, como para outro.

A Ucrânia é uma coisa irrelevante dentro deste contexto.

Marcos Bishop
Marcos Bishop
Responder para  Willber Rodrigues
2 horas atrás

A Rússia eu não sei, mas as russas… Essas são realmente desejáveis.

Augusto Cesar
Augusto Cesar
Responder para  Turco
49 minutos atrás

Exatamente isso, a Russia não precisa ser aliada, só sendo Neutra já ajuda.

JuggerBR
JuggerBR
7 horas atrás

Quanto tempo até a oposição democrata americana sair da cova e questionar o que está acontecendo? Acho que nunca. Fracos demais.
Clinton, Obama e demais ex-presidentes democratas ocupados demais olhando pro espelho pra se dar ao trabalho de tomar uma posição de confronto.

Filipe Prestes
Filipe Prestes
Responder para  JuggerBR
7 horas atrás

É que isso não cabe mais aos ex-presidentes que não podem se reeleger. São os atuais democratas no congresso – que são minoria – aqueles que deveriam se articular pra algo. Mas no fim, isso é problema dos americanos, pouco muda pra nós aqui quem é o ocupante do Salão Oval. O que é inequívoco é que todo esse cenário posto é um sinal forte do declínio geopolítico dos Estados Unidos, que com Trump conseguiu a proeza de criar inimizade onde antes haviam aliados. Nada mais sintomático do que o antiamericanismo que tomou conta dos canadenses.

Willber Rodrigues
Willber Rodrigues
Responder para  Filipe Prestes
6 horas atrás

Trump levou, além de sua vaga no Salão Oval, a maioria no Congresso e Senado, então ele tem, no momento, quase uma “carta em branco” pra fazer o que quer.
A oposição pode, no máximo, ser uma minoria barulhenta no momento, ou torcer pra que aconteça a mesma coisa que houve no Brasil: um governo tão ruim, que a população achou mais viável o “outro lado” do que manter o atual PR.

JuggerBR
JuggerBR
Responder para  Willber Rodrigues
5 horas atrás

Aliás, me parece que na próxima eleição as coisas vão mudar de novo, o Brasil tem alternado entre presidentes ruins faz um bom tempo…

Josè
Josè
Responder para  JuggerBR
4 horas atrás

Não votamos em quem queremos, votamos em quem eles querem que votemos, votamos em quem os partidos permitem que sejam candidatos.

Marcos Bishop
Marcos Bishop
Responder para  Josè
2 horas atrás

Isso é em todas as democracias…

Carlos Campos
Carlos Campos
1 hora atrás

Mas do que protecionismo, os EUA querem deixar de ser o líder do mundo, e seu ônus de proteger seus aliados, tudo isso coloca o fim no Dólar, pois não existirá mais o Império Americano, quem quiser uma nova moeda para teansações não terá que usar o Dólar, pois não haverá retaliação militar, nem o mercado americano será tão importante como é hj, o Trump está Dilmando

Jadson S. Cabral
Jadson S. Cabral
14 minutos atrás

Vivi pra ver os EUA terem uma Dilma como presidente, e com isso, a decadência do maior império de todos os tempos