Crise Diplomática: Venezuela convoca embaixador e aprofunda tensão com Brasil

A Venezuela convocou seu embaixador em Brasília de volta ao país, uma medida diplomática considerada uma repreensão, em resposta a declarações do assessor da Presidência brasileira, Celso Amorim. O governo venezuelano classificou as falas de Amorim sobre “quebra de confiança” como “intervencionistas e grosseiras”, aprofundando a crise diplomática com o Brasil.

A convocação do embaixador é o mais recente episódio de tensão entre os dois países, que se intensificou após a eleição presidencial na Venezuela. O presidente Nicolás Maduro foi declarado vencedor em um processo contestado pela oposição e pela comunidade internacional por falta de transparência. O governo brasileiro tem insistido na necessidade de apresentação das atas eleitorais pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para validar o resultado e reconhecer a vitória de Maduro.

Durante uma audiência na Câmara dos Deputados, Amorim declarou que as relações entre Brasil e Venezuela haviam sofrido uma “quebra de confiança”. Além disso, na cúpula do BRICS, o Brasil se opôs à inclusão da Venezuela no bloco, o que também aumentou a tensão entre os dois países.

Em comunicado, o governo de Maduro criticou Amorim por “minar as relações diplomáticas” entre os dois Estados e o acusou de agir “como mensageiro do imperialismo norte-americano” ao emitir juízos de valor sobre a política interna venezuelana. A Venezuela também convocou o representante de negócios brasileiro para prestar explicações sobre as declarações.

Até o momento, o governo brasileiro não respondeu publicamente à convocação. Fontes do Itamaraty indicaram que não há planos para um pronunciamento oficial sobre o gesto venezuelano. Segundo o Blog da Julia Duailibi, o Brasil deve manter uma postura discreta para evitar escalada de tensões.

A eleição de julho, na qual o candidato opositor Edmundo González enfrentou Maduro, foi marcada por controvérsias, incluindo a recusa do CNE em divulgar as atas eleitorais, alegando um ataque hacker. A oposição reuniu suas próprias atas, indicando a vitória de González, e o Brasil, que atuou como observador internacional, tem cobrado maior transparência do processo.

Desde o pleito, o Centro Carter também criticou a eleição, declarando que “não atendeu aos padrões internacionais de integridade” e que o CNE favoreceu Maduro. Em resposta, Maduro e seus aliados têm feito declarações hostis ao governo brasileiro e seus representantes, intensificando o atrito diplomático entre os países.

Veja a íntegra do comunicado do Ministério das Relações Exteriores venezuelano:

“O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela convocou, hoje, o encarregado de negócios da República Federativa do Brasil, com o objetivo de manifestar seu mais firme repúdio às recorrentes declarações intervencionistas e grosseiras de representantes autorizados pelo governo brasileiro, em particular as feitas pelo assessor especial de Assuntos Exteriores, Celso Amorim, que, comportando-se mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano, tem se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas. Tais declarações constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países.

Da mesma forma, foi manifestado o total repúdio à atitude antilatino-americana, contrária aos princípios fundamentais da integração regional expressos na Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e na longa história de unidade na nossa região. Essa atitude foi consumada pelo veto aplicado pelo Brasil na cúpula dos Brics em Kazan, pelo qual a Venezuela foi excluída da lista de convidados como membros associados da referida organização.

Denunciamos, também, o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros que, contrariando a aprovação do restante dos membros dos BRICS, adotaram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e de punição coletiva ao povo venezuelano.

Foi expressado que a Venezuela reserva-se, no marco de sua política exterior, o direito de tomar as ações necessárias em resposta a essa postura, que compromete a colaboração e o trabalho conjunto desenvolvidos até então em todos os espaços multilaterais.

Por fim, informamos à comunidade nacional e internacional que, seguindo instruções do presidente Nicolás Maduro Moros, decidiu-se convocar imediatamente para consultas o embaixador Manuel Vadell, que exerce nossa representação em Brasília.”

FONTE: G1