Aviões espiões americanos ajudam em buscas por adolescentes sequestradas na Nigéria
Vários aviões espiões dos Estados Unidos sobrevoavam nesta terça-feira o norte da Nigéria para ajudar a encontrar as mais de 200 adolescentes sequestradas em abril pelo grupo islamita Boko Haram, que teve as exigências para libertar as jovens rejeitadas pelo governo. O anúncio das missões de “espionagem” acontece em um momento de mobilização internacional, poucos dias antes de uma reunião convocada pela França para abordar o tema.
Em Paris, duas ex-primeiras-damas, Carla Bruni-Sarkozy e Valérie Trierweiler, exigiram nesta terça-feira, ao lado de outras personalidades, a libertação das jovens. “Compartilhamos imagens de satélites comerciais com os nigerianos e estamos efetuando voos tripulados de espionagem, vigilância e reconhecimento sobre a Nigéria com a autorização do governo do país”, disse uma fonte americana que pediu anonimato. O governo nigeriano aceitou a ajuda internacional oferecida por Washington, Londres e Paris, assim como por Israel e China, apesar de sempre ter demonstrado dúvidas sobre ‘interferências’ estrangeiras.
Os especialistas americanos analisam de maneira minuciosa o vídeo do Boko Haram obtido na segunda-feira pela AFP, que mostra quase 130 adolescentes, supostamente as estudantes sequestradas, informou a diplomacia dos Estados Unidos. No total, 276 adolescentes foram sequestradas em 14 de abril em Chibok, no estado de Borno (nordeste), que tem uma importante comunidade cristã. Segundo as informações mais recentes, 223 continuam desaparecidas.
No vídeo divulgado na segunda-feira, o líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, exige a libertação dos “irmãos” combatentes das prisões nigerianas em troca da liberdade das adolescentes. Mas o governo ignorou a exigência. “Não cabe ao Boko Haram e a seus rebeldes impor suas condições”, disse à AFP o ministro nigeriano do Interior, Abba Moro, acrescentando que “não se trata de trocar uma pessoa pela outra”.
O novo vídeo do Boko Haram mostra um grupo de 130 adolescentes vestidas com véu preto e cinza, deixando apenas seus rostos à mostra, sentadas ao ar livre debaixo das árvores, em um local não identificado, recitando juntas a Al-Fatiha, o primeiro capítulo (“sura”) do Alcorão.
Em momento algum do vídeo, de 27 minutos de duração, Shekau aparece com as estudantes, que têm a expressão abatida e resignada, mas não parecem estar apavoradas. O líder do Boko Haram, que em um primeiro momento anunciou a intenção de vender as adolescentes como “escravas”, afirmou que começou a converter as jovens ao islã, apesar de algumas “estarem aferradas a sua religião”. Duas adolescentes entrevistadas no vídeo afirmam que eram cristãs e se converteram ao islã, enquanto uma outra declara que já era muçulmana.
Paris receberá no sábado uma reunião regional para ajudar a Nigéria e os países vizinhos a enfrentar o Boko Haram.
O presidente francês, François Hollande, receberá os governantes de pelo menos cinco países africanos (Nigéria, Chade, Camarões, Níger e Benin) e ampliou o convite a Estados Unidos e Grã-Bretanha para “um trabalho junto e eficaz”. A rebelião do Boko Haram (“A educação ocidental é um pecado” na língua hausa) provocou milhares de mortes desde 2009. O grupo nigeriano islamita, que deseja a criação de um Estado islâmico, ampliou a área de atuação e cometeu recentemente ataques fora de seus redutos na região norte da Nigéria, de maioria muçulmana.
FONTE: AFP