Mais Brasil, menos Cuba
A presidente Dilma Rousseff transformou em realidade ontem, em Cuba, o que no Brasil ainda não passa de discurso ou sonho distante. Ao inaugurar a primeira etapa do Porto de Mariel, a 45km de Havana, ela aumentou sua dívida com a dura verdade de atrasos e ineficiência do setor portuário brasileiro, um dos campeões mundiais em custos e falta de capacidade operacional.
O porto cubano, com moderno terminal de contêineres, custou US$ 957 milhões, dos quais nada menos do que US$ 683 milhões saíram de cofres brasileiros, financiados em condições favoráveis pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). E, segundo anunciou a presidente, para a segunda etapa do projeto, a ser implantada em seguida, não faltarão recursos: “Vamos financiar US$ 290 milhões para implantar zona especial de desenvolvimento”. Sem dúvida, é o sonho de muitas cidades brasileiras, portuárias ou não.
A inauguração do porto cubano ocorre pouco menos de um ano depois que a Sunrise, uma das maiores tradings chinesas importadoras de soja, comunicou ao exportadores brasileiros o cancelamento de uma encomenda de 2 milhões de toneladas do grão, em razão de atrasos inaceitáveis no Porto de Santos. A mercadoria deveria iniciar viagem para a China em fevereiro, mas, na melhor das hipóteses, seria acomodada a bordo em abril. Os chineses, que já haviam tido prejuízos com o atraso de dois embarques anteriores, preferiram abrir mão do preço do grão brasileiro em favor do melhor funcionamento dos despachos pela Argentina.
Pior: na festa do Porto Mariel, não é certo que Dilma e sua alegre comitiva tenham se lembrado — menos ainda se constrangido — da distância que separa aquela celebração com a pompa e a circunstância que marcaram os primeiros dias de dezembro de 2012, quando foi lançado o até então ousado Programa de Investimentos em Logística (PIP). Somente para o setor portuário, estariam reservados R$ 54,2 bilhões.
A “salvação” dos portos brasileiros foi anunciada em detalhes em 6 de dezembro daquele ano. E a montanha de dinheiro não viria sozinha, pois obras de melhorias rodoviárias e ferroviárias dariam novo enredo ao escoamento da produção nacional, incluindo facilidades de acesso aos principais terminais portuários. Para isso, a iniciativa privada, que deixaria de ser vista como vilã, seria muito bem aceita.
Não foi o que aconteceu. Não houve até agora nada parecido com a boa vontade e a rapidez com que se viabilizou a aplicação do dinheiro do BNDES em Cuba. Pelo contrário, os exportadores brasileiros de soja já se preparam para mais uma safra de problemas a partir das porteiras de suas lavouras. Este ano, o Brasil vai colher mais uma supersafra de grãos (196,7 milhões de toneladas). Só a soja responderá por 90 milhões de toneladas, podendo superar, pela primeira vez, a colheita dos Estados Unidos.
A prioridade aos investimentos em infraestrutura, para destravar o crescimento da economia brasileira — que vai para o terceiro ano de taxas constrangedoras de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) —, foi uma das promessas da presidente aos investidores em Davos. O mundo, além dos brasileiros, está esperando que ela vá além do discurso e aplique mais no Brasil o dinheiro dos brasileiros e, com isso, recupere a confiança do capital internacional no país.
FONTE: Correio Braziliense – 28/01/2014
Empréstimos no exterior feitos pelo BNDES são classificados como “secreto” e, portanto, não tem nenhuma fiscalização.
E ao anunciar esses outros US$ 290 milhões, da segunda etapa, pega o BNDES de surpresa, pois nem projeto há.
Depois tem gente que não acha certo eu propor “corda” para esse tipo de coisa.
Enfim foi inaugurada a maior obra do governo do PT nesses doze anos: um porto em… Cuba!
Falar o que? Como pela própria incomPeTência o ParTido não consegue governar o Brasil, mesmo contando com a maior base aliada da história da República no Congresso, o negócio é auxiliar a ditadura cubana a governar sua ilha-prisão.
O povo brasileiro merece o que tem.
Marcos, os empréstimos internacionais feitos pelo BNDES não são, necessariamente, secretos. Salvo engano, somente aqueles feitos para Cuba e Angola, o ministério competente resolveu tornar sigiloso. Se os contratos fossem abertos, soubéssemos o conteúdo e ele fosse vantajoso para o Brasil (gerando empregos e impostos), eu até consideraria válido o investimento. Aliás, tirando commodities e um ou outro produto, como os aviões da Embraer, o Brasil só consegue exportar produtos e serviços para países subdesenvolvidos. Então, de uma forma torta, até que o PT acabou trazendo algumas vantagens, ao se relacionar com países atrasados, pois eles compram nossos produtos atrasados.… Read more »
Rafael
De fato. Só são secretos os negócios feitos para países companheiros,sem fiscalização nenhuma. Normalmente nesses negócios estão juntas as conhecidas empreiteiras.
No que se refere aos nossos produtos, diga-se, nós temos excelentes produtos, alguns melhores que made in UA, Germany, Uk, entre outros. São poucos, evidente, mas há. De resto, nessas negociatas, o
REZO para que estas pessoas entreguem o governo após as eleições e que o eleito (ajuda, Deus!) tenha topete e rabo solto o suficiente para auditar estas bandalhas todas.
Prezados,
Tecer longas e demoradas críticas políticas a este ou aquele partido nunca será construtivo. Agora, discutir o real impacto de uma medida séria como esta (investimento externo), poderá nos ajudar a enxergar por entre as fumaças do partidarismo e de fato monitorar a eficiência das ações de um governo que foi eleito democraticamente.
Lanço um desafio ao querido Vader: ouvir esta breve matéria da CBN sobre este assunto.
http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/kennedy-alencar/2014/01/28/INVESTIMENTOS-NO-PORTO-DE-MARIEL-EM-CUBA-FAZ-BRASIL-OCUPAR-ESPACO-ECONOMICO-EM-OUTROS-PA.htm
Leonardo Então a tua lógica é a seguinte: ganha-se economicamente fora através de um porto estrangeiro ao passo que se perde economicamente aqui por falta de investimento em nossos portos. Resultado do exercício; vantagem econômica e política para a nação= 0 Vantagem política para os sacripantas do governo e econômica para os os seu apaniguados= uma ajudinha ao companheiro fidel. Medida séria e este governo são termos que nunca poderão estar juntos. Vou acreditar que você esta querendo ser irônico só. Aliás, so pra te lembrar, Cuba é uma ditadura, com presos políticos, e se houvesse um pingo de coerência… Read more »
Oi Colombelli,
Acredito que não tenha ouvido a matéria. Enquanto comentários sem a tentativa de enxergar além de uma única dimensão, continuarem sendo a justificativa para o BNDES não investir em empresas brasileiras que estão se internacionalizando, nunca conseguiremos ter uma discussão construtiva.
Depois de ouvir a matéria, terei grande prazer em discutir com você qual a minha lógica. Antes disso, ficaremos no seguinte impasse: eu tentando discutir economia e política pro-ativa; você querendo justificar suas posições simplistas com reacionarismo a um governo de esquerda.
E depois dona Dilma vem reclamar de espionagem. Jânio Quadros com suas condecorações à Che Guevara acabou se colocando em posição delicada mesmo que seus deensores diziam que não era uma aproximação política e sim, comercial pois com o embargo aumentariam as chances de aumentar exportações para a ilha e não me lembro de falarem em investimentos de infraestrutura. Mas é como foi dito acima, aparentemente seria uma chance de “ocupar espaços” mas, usando de dinheiro público nosso a perder de vista, sem garantia de retorno se torna mera peça políticagem mesmo e ainda, querendo posar de “enfrentamento ao imperialismo”.… Read more »
Leonardo, ouvi a matéria. Algumas informações do Kennedy são interessantes. O BNDES só levou calote em dois empréstimos internacionais. Um para empresa dos EUA e outro para empresa do Chile. Eu também gostaria de analisar os benefícios econômicos desse empréstimo. Porém, o governo do PT resolveu colocar em sigilo os empréstimos à Cuba e Angola, o que me impede saber quais foram as condições, taxa de juros, garantias, se o pagamento está em dia, etc. Por isso é difícil tirar alguma conclusão séria sobre a vantagem econômica desse investimento. Também causa-me desconforto ver a situação dos portos nacionais, após quase… Read more »
Oi Rafael, bom dia. Fico extremamente feliz em estabelecer uma linha de diálogo construtivo com alguém. Até que enfim. Não tenho informações concretas (ainda não tive tempo de pesquisar no site do BNDES) sobre esta informação sobre sigilos de contrato entre Cuba e Angola. Sei que sigilo entre acordos comerciais internacionais bilaterais normalmente são definidos para resguardar empresas durante a parte de negociação. Preços, listas de fornecedores, quantidades de insumos e etc., são informações de luxo. Imagine se você, proprietário de ações de uma empresa na bolsa que negocia cimento, descobre os valores que uma empreiteira pretende aplicar para uma… Read more »
Bom dia, Leonardo. Agradeço o elogio e o retribuo. Sobre a transparência do BNDES, desejo-lhe boa sorte, pois este não é o forte do banco. Aliás, algo natural, dada a questão do sigilo bancário que, legalmente, já limita o acesso a diversas informações. Porém, em se tratando de um banco público, eu acredito que o sigilo bancário deveria ser mitigado em favor do interesse público. Se o empresário quer manter o sigilo, que procure um banco privado. Mas, reconheço, que isso não é admitido pelas leis brasieiras, atualmente. Sobre os empréstimos à Cuba e Angola serem sigilosos, houve ampla divulgação… Read more »
Oi Rafael, Adorável troca de idéias, a nossa. Concordo com você que processos onde o dinheiro público é utilizado devem ser transparentes por natureza; e não considero unidimensional a sua análise. Pelo contrário: como diria o Garganta Profunda do caso Watergate: follow the money. No entanto, continuo com a idéia de que processos como esses não acontecem apenas porque um governante quer. O Itamaraty possui seus procedimentos e processos para intermediar estas negociações, o BNDES possui seus funcionários de carreira e normativa burocracia para julgar o interesse do investimento face ao retorno em juros. Se existem os empréstimos, existem processos… Read more »
Leonardo se você acha que “internacionalizar” em Cuba é um bom investimento não temos nada a discutir mesmo.
Estou vendo o quanto você entende de “política “pro-ativa” e economia repetindo a cartilha do partido.
Informe-se sobre o volume de negócios de Cuba antes de falar de um porto lá. Cuba não tem nada a dar ao Brasil senão agentes infiltrados. Quer investir, vá a África.
A propósito, aqui não há incautos que acreditam no mundos dos hobbits.
Leonardo, Vou dar continuidade a nossa conversa cordial pelo fim. “Ninguém mora na União, nem no Estado. Mora-se no Município” – Aí começa uma das primeiras contradições do nosso país: a excessiva concentração de dinheiro nos cofres da União em detrimento dos Municípios e, até mesmo, dos Estados. Isso não é de hoje e, para quem está no poder, não é interessante mudar. Dinheiro é poder. Por isso temos dezenas de Ministérios para distribuir o dinheiro para os prefeitos e governadores aliados. Chega a ser ridículo um prefeito ter que ir à Brasília pedir dinheiro para comprar uma mísera ambulância.… Read more »
Oi Rafael,
De fato, uma prosa boa vai muito longe.
Continuando seu encerramento, seria excelente continuarmos a troca de ideias, pois consigo ver nelas um desejo claro de olhar para frente, em todos os seus pontos. Ademais, tenho certeza que a equipe da Trilogia irá nos brindar com muitos posts polêmicos pela frente.
Cordiais saudações!
Colombelli,
Meu ultimo comentário para você, não para o meu contentamento, continua válido. Não consigo entender onde chegaríamos se eu enveredasse na mesma linha das suas argumentações.
Então informe-se sobre Cuba e se coloque na condição de um empresário que tivesse dinheiro para investir e veja se vc investiria em um lugar que não tem nada para oferecer. Veja: mas dinheiro se não do contribuinte. Faze caridade com o chapéu alheio é fácil Simplismo é vir defender um ato nitidamente político, inegavelmente político partidário, sem pesquisar minimamente o que economicamente isso trará ao Brasil. Repito de novo também meu comentário anterior, veja o volume de negócios de Cuba e você vai entender o desperdício destas centenas de milhões que não acrescem nada econômica e politicamente ao Brasil,… Read more »
“seu” digo, e “fazer”
Aliás quem ganhou com isso: Aposto que tem empreiteiras brasileiras na obra, grandes, alguma(s) talvez que tenha(m) pago alguma das 30 viagens do cidadão aquele ao exterior depois que deixou o governo.
Acaso não foi esta a praxe do BNDS em financiamentos nos parceiros bolivarianos e “parceiros ideológicos” na África: dar um apoio a quem “colabora” na campanha. Conheço bem esta estória.
Enquanto isso, aqui o empresário pena para conseguir algo nem de longe semelhante de apoio.
Leonardo, por mim a discussão pode seguir. Sò que, às vezes, demoro um pouco para responder. Colombelli creio que toda a política do BNDES pode ser questionada. Como ele empresta dinheiro subsidiado, os empréstimos deveriam ser mais claros e seguir os princípios da administração pública. A empreiteira do porto cubano é a Odebrecht. Aliás, hoje, qual grande empreiteira não financia campanhas? Diga-se de passagem, costumam financiar até adversários na mesma campanha, porque o negócio deles é ficar ao lado do vencedor. É uma questão de negócios. Espúria, é verdade. Outra coisa, ultimamente pegar dinheiro no BNDES não é tão difícil… Read more »
Rafael Tudo é custo benefício (ainda mais com dinheiro público). Com o dinheiro posto lá podem ser elencados uns 10 negócios que seriam mais rentáveis econômica e politicamente para o Brasil ( e com menor risco), seja aqui ou fora. Ademais, os portos brasileiros não estão uma maravilha para justificar serem preteridos. Não teria sido melhor financiar uma uma obra destas aqui, quiçá com aumento ainda maior de exportações do que se irá se conseguir e qualquer projeção, por mais otimista que seja, em relação a Cuba? Não seria o caso de financiar uma obra no oeste da África, continente… Read more »
acima leia-se receberão ao invés de receberam. Lembrei-me do filme Scarface, onde se retrata a debandada de cuba no início dos anos 80 e fins dos 70
Caro Colombelli, O grande problema do empréstimo para Cuba é que ele é sigiloso. Eu não tenho como responder, com segurança, qualquer quesionamento seu a respeito do empréstimo. Aqui eu faço uma ligação clara com aquela outra discussão que estamos travando sobre o regime militar. Quando as coisas são sigilosas, podemos pensar muitas coisas e não temos condições de concluir nada. Todos os pontos que você elencou podem ser verdadeiros, pois se “encaixam” nos fatos que vieram à tona (relações PT-Cuba e PT-Odebrecht, uso do BNDES). Por isso eu tenho ojeriza ao sigilo. Por isso eu também tenho nojo desse… Read more »
Rafel, O governo militar tinha os seus porões, mas ao menos não eram questões que envolviam ajudas a “amigos”. Não lembro de negócios que fossem sigilosos que não tivessem, de fato, um motivo realmente relacionado a segurança nacional. Posso estar errado, mas era criança no fim do governo militar e os escândalos de corrupção não eram nem 10% do que são hoje, e ainda que na época se possa dizer que não dava pra investigar o fato é que todos os governos que vieram depois reviraram tudo e não acharam nada que não fosse de conhecimento geral. . O negócio… Read more »
Colombelli, Algumas considerações: – hoje a economia é muito maior do que ne época da ditadura. Há mais dinheiro, mais políticos, mais obras para se fazer. Ou seja, há mais casos para serem explorados por corruptos. – a ditadura, apesar de ser detestável, tem a vantagem de impor sua vontade, sem precisar comprar votos no Congresso. Hoje, a base aliada tem que ser comprada (mensalão, ministérios, emendas parlamentares) para o governo conseguir fazer algo. Ou seja, há mais esse fator que favorece a corrupção em uma democracia. – avanços tecnológicos que facilitam investigações. Hoje, temos câmeras, computadores, dentre outras coisas… Read more »
Certamente uma parte da diferença entre o que o povo cubano pagará e o que realmente vale a obra irá para o bolso dos castro, pois são semelhantes aos seus pares brasileiros. A inércia do Judiciário, a qual eu conheço bem, pois já fui seu membro, e a que me reporto não é a jurisdicional, que se manifesta no princípio da demanda, mas a inércia em se reciclar. Em três anos e meio, usei termo cinco vezes coisa que odiava ( prefiro uma gandola) e ia a pé ao serviço. Andava no meio da população, dava palestras, divulgada minha produtividade… Read more »
Também conheço bem os problemas do Judiciário. Sou servidor, concursado, do TRT2 há quase uma década. De fato, a maioria dos juízes se comporta do jeito que você descreveu. E a ineficiência é a regra. O mesmo vale para os servidores. Uma boa parcela não trabalha o que deveria e ainda acha que está trabalhando muito. Fora que, pelo menos aqui, a estrutura é mal-planejada. Há inúmeros cargos nos tribunais e na 1ª Instância o quadro é incompatível com as obrigações. E apesar de ver uma nítida melhora, de quando eu entrei, para agora (por exemplo, o CNJ e o… Read more »
A única frase que aquele elemento falou certa foi da “caixa preta do judiciário.” Se tu és servidor da Justiça sabe bem do que eu falo. Eu ainda vou botar a boca no trombone uma hora destas e contar todos os podres que eu sei da justiça gaúcha ( que se faz e se acha), e que são muitos. Pura hipocrisia. A pedra que eles me devem vão pagar. É hora de uma reforma geral a começar pelo recrutamento, que privilegia pessoas que sabem “repetir” modelos e idéias, e acaba pondo na magistratura despreparados. Pelo que vi dos meus ex… Read more »
O Judiciário tem vários problemas crônicos. Se você tiver provas de tudo de errado que vemos no PJ, vá em frente. Eu tentei enfrentar alguns problemas internamente e, de certa forma, o que estava dentro da alçada da Vara, foi resolvido. Mandamos uns servidores vagabundos pra longe e relatamos os problemas na avaliação deles. Mas, não conseguimos que perdessem os cargos. Colocaram panos quentes. Infelizmente, como ainda estou “dentro do sistema” fica difícil botar a boca do trambone. Mas que seria ótimo fazê-lo, isso seria. Sobre o concurso para Magistratura eu praticamente desisti de fazê-lo, em especial, pelo modelo de… Read more »