O enviado das Nações Unidas e da Liga Árabe para a crise síria, Lakhdar Brahimi, defendeu ontem a adoção de um governo de transição com plenos poderes executivos em Damasco até a realização de uma eleição que definirá o sucessor do ditador Bashar Assad.

Brahimi não disse quem integraria esse governo interino, tampouco deu detalhes sobre o papel que Assad exerceria na transição. “Esse governo deve ser investido de todos os poderes do Estado”, disse a jornalistas em Damasco, depois de intensas conversações com Assad e líderes da oposição.

No mês passado, Brahimi realizou amplas consultas com os EUA e a Rússia na esperança de cumprir o acordo concluído em Genebra, em meados deste ano, que prevê um diálogo direto entre o governo e a oposição da Síria. “O povo sírio quer uma verdadeira mudança”, ele disse. Em seguida, o diplomata enfatizou a importância de preservar as instituições do país árabe, advertindo que uma intervenção militar “levará à destruição do Estado sírio”. “Nessa guerra não haverá vencedor”, advertiu.

Enquanto Brahimi concluía sua visita a Damasco, uma delegação do governo sírio encontrava-se com diplomatas de alto escalão da Rússia em Moscou. Segundo, Aleksandr Lukashevich, porta-voz da chancelaria russa, não existe um plano específico em discussão para formar um governo de transição. Representantes da oposição sugeriram que Brahimi apresentasse a Assad uma proposta para que o ditador cedesse parte de seu poder. Lukashevich, entretanto, negou que o assunto esteja em pauta em Damasco ou em Moscou: “Não havia nem há qualquer plano (desse tipo)”.

A Rússia, aliada estratégica do governo de Damasco, há muito se refere ao acordo de Genebra – que prevê negociações entre o governo e a oposição – como a única base aceitável para a solução do conflito.

No entanto, o acordo exige que os aliados de Assad e as forças da oposição síria concordem em negociar – algo, por enquanto, altamente improvável, segundo especialistas.

Há alguns meses, estrategistas influentes em Moscou mostraram-se favoráveis a um processo como o que levou aos Acordos de Dayton que resultaram no fim da Guerra da Bósnia, nos anos 90. “Reúna todos eles, feche as portas e não deixe que saiam até que cheguem a um acordo”, disse Dmitri Trenin, do Centro Carnegie de Moscou.

Ele disse duvidar que russos e americanos possam convencer as duas partes a sentar à mesma mesa. “Francamente, acho que a Rússia tem influência sobre Assad”, observou. “Mesmo se os EUA estivessem dispostos a apoiar a oposição, ou a pressioná-la a aceitar algum tipo de negociação, não acredito que os países do Golfo ou os turcos defenderiam essa decisão.” / NYT

FONTE: The New York Times via O Estado de S. Paulo

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