Nas areias movediças do Oriente Médio
Por STEVEN A. COOK, THE CHRISTIAN SCIENCE MONITOR – O Estado de S.Paulo
Mesmo antes da recente rodada de disparos de foguetes do Hamas e dos ataques aéreos de Israel à Faixa de Gaza, o enclave palestino estava nos noticiários como destino diplomático preferido dos líderes do Oriente Médio. No mês passado, o emir do Catar visitou Gaza. O rei do Bahrein cogita viajar para lá. O primeiro-ministro da Turquia também anunciou sua intenção de visitar a região.
Especula-se que a atenção dos líderes concederá ainda mais legitimidade aos militantes do Hamas, em detrimento do poder mais secular exercido pela Autoridade Palestina de Mahmoud Abbas, na Cisjordânia. No entanto, o repentino interesse diplomático por Gaza tem mais a ver com primeiros-ministros, reis, emires e presidentes em busca de conferir mais brilho a sua legitimidade ou a suas credenciais como potenciais líderes regionais.
As revoltas, revoluções e guerras civis que alteraram drasticamente a política interna no mundo árabe tiveram um profundo efeito sobre a dinâmica do poder regional, incluindo o Irã. A liderança regional no Oriente Médio está em aberto. Contudo, que país ou países vão liderar é algo tão incerto e complexo quanto as iniciativas para erigir novos sistemas políticos no Egito, Líbia, Tunísia e em outros lugares.
O problema da liderança é crucial para a região. Estados com prestígio e recursos militares, diplomáticos e financeiros podem conduzir os eventos no Oriente Médio – a esperança é a de que o façam para o bem, mas também há o risco de que sua atuação seja perniciosa. Nos anos 50 e 60, por exemplo, a liderança do Egito, sob o governo de Gamal Abdel Nasser, moldou a política regional nos mitos do nacionalismo árabe, o que levou a conflitos entre árabes e a uma guerra regional.
A Primavera Árabe ofereceu uma oportunidade para que uma potência ou grupo de potências abra caminho para uma nova era de paz, prosperidade e, talvez, democracia. Em 2011, alguns observadores acreditavam que a Turquia era um modelo para os países do mundo árabe que desejam se tornar uma democracia e uma economia bem-sucedida.
A visita triunfal do primeiro-ministro turco, Recep Tayyp Erdogan, ao Cairo, a Túnis e a Trípoli, em setembro de 2011, reforçou a ideia de que Ancara era o centro natural de uma nova ordem regional emergente.
A Turquia, certamente, tem muito a oferecer para a região. É mais democrática do que qualquer país árabe e a 16.ª economia do mundo. O vozerio dos vários dialetos árabes falados por egípcios, líbios, sauditas e outros turistas no controle de passaportes no Aeroporto Internacional Ataturk, de Istambul, ou no famoso Grande Bazar, mostra a força regional da Turquia.
No entanto, pouco mais de um ano depois da visita regional de Erdogan, a popularidade da Turquia, embora ainda grande, diminuiu. Numa pesquisa recente, a respeitada Fundação de Estudos Sociais e Econômicos da Turquia concluiu que existe uma ambivalência preocupante entre os árabes sobre o papel regional da Turquia.
Por exemplo, nos 16 países pesquisados, 69% dos entrevistados manifestaram uma impressão positiva da Turquia. O número de árabes que consideram o país um modelo, porém, caiu pela metade em relação a 2011. A aprovação da influência regional da Turquia foi de 60%, também menor.
Em termos abstratos, são todos resultados invejáveis, mas representam uma queda de oito a nove pontos porcentuais em apenas um ano – algo significativo.
A deterioração das relações com o Iraque e o alinhamento com a Arábia Saudita e o Catar na questão síria estão tendo um impacto negativo na posição regional da Turquia. É verdade que os turcos estão ajudando os sírios a se libertarem de um ditador brutal, mas poucos no mundo árabe confiam nos catarianos e muito menos nos sauditas.
A política de Ancara também alimenta – ainda que circunstancialmente – a suspeita entre os árabes de que os turcos buscam uma estratégia sectária que propagará o conflito na região, o que em alguns aspectos já começou a ocorrer no Bahrein e na Arábia Saudita.
A proeminência regional da Turquia antes das insurreições tinha como base, em parte, sua capacidade de atuar como árbitro neutro e também em sua habilidade para solucionar problemas na região. A estima de que o país gozava parece ter se perdido em virtude do caos sírio e das complexidades das transições árabes.
Além disso, sob todo o romantismo a respeito do neo-otomanismo, jaz esquecido o fato de que, embora a Turquia seja geograficamente vizinha do Oriente Médio e sua população seja majoritariamente muçulmana, os turcos continuam sendo forasteiros na região, tendo em vista seu próprio legado colonial no mundo árabe.
Essa visão da Turquia é comum entre os árabes de mais idade e até entre os ativistas mais jovens que saíram às ruas para depor ditadores em nome da emancipação, da dignidade nacionais e da democracia.
Por fim, os analistas costumam fundir o soft power turco com a capacidade de moldar a política regional. Os cartazes de Erdogan nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Shatila talvez sejam um tributo ao posicionamento do líder turco na questão palestina, mas esse tipo de popularidade entre as massas não esconde o fato de que os esforços turcos para acalmar a situação em lugares conflagrados, como Líbia, Síria e Gaza, foram malsucedidos.
Erdogan não conseguiu convencer seu aliado, Muamar Kadafi, a implementar reformas na Líbia. Tampouco se mostrou capaz de fazer com que seu antigo amigo e protegido Bashar Assad suspendesse os ataques criminosos aos manifestantes pacíficos sírios. Também fracassou ao tentar acabar com o bloqueio de Israel à Faixa de Gaza.
Disputa aberta. Se o posto de potência regional não for ocupado pela Turquia, que outro país, ou países, tem chance de conquistá-lo? Os outros candidatos – Arábia Saudita, Catar, Egito, Irã e até Israel – sofrem com seus próprios déficits de soft power, além de outras limitações que dificultam muito o caminho para que esses países se estabeleçam como líderes incontestes da região.
Interesses divergentes e rivalidades regionais tornam improvável também que a liderança seja exercida por uma coalizão de países. Não é segredo para ninguém que catarianos e sauditas se detestam e os árabes dificilmente se submeteriam à liderança dos turcos, mesmo que ela se estabelecesse em parceria com outros países árabes. No Cairo, por exemplo, as relações estratégicas com Ancara despertam pouco entusiasmo.
Essas dificuldades vêm à tona com especial clareza quando se observa o fracasso de catarianos, sauditas e turcos em forjar uma oposição síria mais ampla e unificada – um objetivo que só a pressão dos EUA permitiu atingir.
Sem uma liderança clara, os Estados regionais continuarão a manobrar entorno uns dos outros, procurando obter vantagens e influência sempre que puderem, até que alguma mudança diplomática ou geopolítica – possivelmente a queda do regime de Assad ou um ataque militar ao programa nuclear iraniano – ofereça a oportunidade para que um país salte na frente dos outros e comece a liderar. / TRADUÇÃO TEREZINHA MARTINO e ALEXANDRE HUBNER
*É PESQUISADOR DE ORIENTE MÉDIO NO COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS E AUTOR DO LIVRO ‘A LUTA PELO EGITO: DE NASSER À PRAÇA TAHRIR’
FONTE: O Estado de S. Paulo
Israel continua a insitar os iranianos à um confronto, desafiando-o e querendo mostrar que naquela região, eles ( Israel) é que detem o poder, isso até quando não sabemos mas uma hora os persas e mais alguns islamitas irão chutar os paus da barraca, ai o bicho vai pegar. Aguadem e verão e não vai demorar.