Países emergentes impulsionam setor global de armamentos
Andrea Rizzi
Em Madri (Espanha)
O mercado mundial de armamentos está contornando com êxito o temporal da crise financeira. Apesar das dificuldades econômicas de muitos países ocidentais que figuram entre os maiores investidores militares do mundo, o setor prosseguiu em expansão em 2010. O faturamento das cem principais empresas produtoras subiu este ano para 305 bilhões de euros (o equivalente a cerca de um terço do PIB da Espanha) e cresceu 1% em termos reais em relação ao ano anterior, segundo dados publicados na segunda-feira pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Suécia).
Várias razões explicam esse resultado, que não inclui os dados das muito ativas empresas chinesas e de outros países nos quais a falta de transparência impede o acesso à informação. A primeira está ligada às características próprias do setor: seus tempos de produção.
“São necessários anos para produzir armas sofisticadas. Os processos de produção são lentos e muitos contratos costumam ser a longo prazo”, explica em conversa por telefone a pesquisadora Susan Jackson, autora do relatório. A compra de aviões, navios de guerra ou mísseis – que constituem uma cota muito relevante do mercado – é planejada com anos de antecedência. Portanto, o setor não reage imediatamente às mudanças de ciclo.
Em todo caso, Jackson considera que mesmo nos próximos anos é improvável que o setor sofra retrocessos marcantes. “Não creio que haja grandes flutuações. Algumas empresas poderão sofrer mais que outras por cortes em programas de compras, mas em todo caso não será um fenômeno generalizado”, indica a analista.
Uma das explicações é a sustentada demanda procedente de países emergentes, que contribuiu para manter o faturamento nos últimos anos e sem dúvida o fará cada vez mais nos próximos.
O rearmamento da China, por exemplo, promoveu uma reação em cadeia no sul e no leste asiáticos, e países como Índia ou Coreia do Sul estão comprando uma quantidade crescente de material bélico. No último quinquênio, os dois países foram o primeiro e o terceiro importadores do mundo. Embora o gasto militar chinês seja muito superior ao indiano e ao sul-coreano, Pequim é só o segundo importador mundial, pelo fato de ter uma maior capacidade de produção interna. A bonança econômica latino-americana também propiciou um aumento do gasto.
Jackson indica que as companhias do setor têm suas estratégias definidas para aproveitar o impulso dos países emergentes. A francesa Dassault, por exemplo, acaba de ser escolhida por Nova Déli para a compra de 126 aviões de combate Rafale, um contrato estimado em 15 bilhões de euros.
Mas inclusive no Ocidente o corte poderia não ser tão acentuado quanto a crise faz pensar. Alguns países recuaram em compras de armamentos já planejadas. A Itália quer reduzir de 131 para 90 o número de caças F-35 que comprará nos próximos anos. Os EUA também estão revisando importantes programas de aquisições. “Mas em geral os cortes no gasto militar não significam necessariamente cortes na compra de armas”, indica Jackson. Esse é um tipo de corte que enfrenta grandes resistências. Não só pela vontade de equipar as forças armadas com novo armamento, como também pela vontade de manter vivos e na vanguarda os ciclos de produção de empresas consideradas estratégicas.
Assim, a crise desacelerou o crescimento do setor, mas não deveria fazê-lo retroceder. Dentre as principais cem empresas do setor, 44 são dos EUA e 30 da Europa ocidental. As espanholas Navantia e Indra figuram respectivamente em 45º e 84º lugares na escala global. Lockheed Martin, BAE Systems e Boeing são as três primeiras da lista. Desde 2002 o faturamento das cem maiores companhias – que juntas representam a arrasadora maioria do negócio do setor – aumentou 60%, segundo dados do instituto de Estocolmo. (Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves)
FONTE: UOL Notícias/El País
VEJA TAMBÉM: