Zhou Dynasty

Por Roney Lemes de Moura Filho

Desde o início da dinastia Zhou Oriental em 770 a.C. até a consolidação da dinastia Qin em 221 a.C., a China se mostrou um lugar consideravelmente violento, principalmente no quesito de lutas entre Estados, cujos combates, com o passar do tempo, aumentaram em escala, tempo e mortos. Estudos feitos estimam que durante os 294 anos do período da Primavera e Outono, mais de 1.211 guerras foram combatidas entre as entidades chinesas, com apenas 38 anos de paz durante todo esse período, com 110 unidades políticas sendo anexadas pelos vencedores.

Durante os 254 anos do período dos Estados em Guerra, que veio logo depois, 468 guerras vieram a ocorrer, com apenas 89 anos de paz no total, obviamente que o número de guerras diminuiu pelo fato de a quantidade de ‘’competidores’’ ter diminuído consideravelmente, com mais outros 16 Estados sendo extintos durante este período, sobrando agora apenas sete.

Mudanças entre os inícios e fins desses períodos foram consideráveis: no início do período de Primavera e Outono, algumas das ‘’guerras’’, aconteciam por meio de uma única batalha em um único dia; já no fim do período dos Estados em Guerra, cercos poderiam durar meses, com as guerras podendo durar anos, e os exércitos chegando a conter até meio milhão de soldados.

Tal estado constante de guerras levou a uma grande capacidade de mobilização, até mesmo para os padrões ocidentais, que só seriam alcançados durante a Primeira Guerra Mundial. De acordo com estimativas, a China da dinastia Qin chegou a mobilizar de 8% a 20% da sua população, com a República Romana chegando a apenas 1% e a Liga de Delos grega chegando a 5,2%.

Igualmente as baixas ocorriam em escala muito maiores, com a República Romana perdendo 50 mil soldados no lago Trasimeno e em Canas lutando contra Aníbal, isso de acordo com Tito Lívio; um memorialista chinês por sua vez afirma que 240 mil soldados foram mortos em uma batalha em 293 a.C., com outros 450 mil sendo mortos em outra batalha em 260 a.C., com o Estado de Qin matando mais de 1,5 milhão de soldados inimigos entre 356 a.C. e 236 a.C.

Tais números não são completamente verificáveis e muito provavelmente foram inflados. Porém, dado o nível de mobilização chinês, o número real provavelmente não deve ficar longe disso, o que já ultrapassa consideravelmente os números de alguns dos maiores desastres vistos no Ocidente durante a antiguidade. Assim, por meio de um número incessante de guerras que se tornaram cada vez maiores e custosas, a China passou de um Estado feudal descentralizado para um império unificado com um Estado moderno no melhor sentido Weberiano possível, motivando mudanças consideráveis nos mais variados setores da vida chinesa.

Portanto, as mudanças ocorridas na China da dinastia Zhou Oriental até a dinastia Qin por conta desse estado incessante de guerras são consideráveis, indo desde o óbvio desenvolvimento da organização militar e suas implicações na vida civil até a tributação e organização da população.

Obviamente que um estado quase permanente de guerras iria influenciar primeiramente a organização militar. Porém, tais mudanças comumente acabam por influenciar a vida civil. De início, a principal arma usada pelas entidades chinesas em guerra era o carro de combate, de regra sendo conduzido por um aristocrata, com o apoio de dois soldados e sendo acompanhado por outros setenta soldados.

Porém, por conta dos terrenos irregulares onde as batalhas passaram a ocorrer, a evidência apresentada pelos bárbaros das estepes do quão útil a cavalaria poderia ser, a diminuição dos quadros da aristocracia por conta da alta letalidade, o desenvolvimento das armas de ferro, dos arcos, e da armadura lamelar, coisas estas que tornaram a infantaria muito mais útil que anteriormente, os carros de combate caíram em desuso completo, com o Estado ocidental de Qin sendo um dos primeiros a reorganizar o seu exército nesse sentido ao aplicar infantaria e cavalaria trabalhando em conjunto, sem carros de combate.

Por conta da já citada diminuição considerável da quantidade de aristocratas e a subsequente diminuição de sua importância em combate, as unidades militares começaram a ser organizadas em unidades administrativas com hierarquias claras, ao contrário dos antigos grupos de parentes. As promoções por sua vez também passaram por mudanças, visto que antes apenas os aristocratas chegavam aos postos de comando determinados por seu parentesco.

Agora, os militares eram promovidos tendo como base o mérito, com um número cada vez maior de soldados não aristocráticos sendo promovidos por conta de seus feitos e habilidades. Logo, não demorou para até mesmo plebeus completamente desconhecidos chegarem à posição de general.

Sendo consideravelmente alta a possibilidade de que o conceito de promoção tendo como base o mérito tenha se iniciado no meio militar antes de passar para o meio civil, ainda mais levando em consideração que a mesma falta de aristocratas nos serviços militares também acabou por afetar os serviços civis, onde um número cada vez maior de pessoas chegava a postos relevantes por questões unicamente meritocráticas, com muitas delas vindas dos meios militares, visto a experiência já adquirida.

Recrutar, treinar, equipar, e remunerar exércitos que facilmente poderiam chegar a centenas de milhares de homens não era a tarefa mais fácil possível, sendo assim, a capacidade administrativa para tributar e recrutar as pessoas era fundamental em todos os setores possíveis, tanto aqueles relacionados ao campo militar, como manutenção e logística, como aqueles mais voltados ao campo civil, como os registros dessas pessoas.

Entre 543 e 539, Zi Chan remodelou os campos de seu Estado numa espécie de grade regular, com canais de irrigação determinados, reorganizou as casas campais em grupamentos de cinco famílias e estabeleceu um novo imposto em cima desses grupos. O Estado de Chu, em 548, fez uma espécie de senso em suas terras, contabilizando os viveiros de peixe, lagoas de sal, florestas e pântanos, assim como de sua população, com tal esforço administrativo visando a preparação de uma base fiscal mais eficiente e facilitar o recrutamento da população do campo.

REFERÊNCIAS 

  • FERGUSON, Niall. Civilização: Ocidente x Oriente. Planeta. São Paulo. 2012. p. 73-75.
  • FERGUSON, Niall. A Guerra do Mundo: A era de ódio na história. Planeta. São Paulo 2015. p. 126-130.
  • FUKUYAMA, Francis. As Origens da Ordem Política. Rocco. Rio de Janeiro. 2013. p. 133-134.
  • FUKUYAMA, Francis. As Origens da Ordem Política. Rocco. Rio de Janeiro. 2013. p. 135.
  • FUKUYAMA, Francis. As Origens da Ordem Política. Rocco. Rio de Janeiro. 2013. p. 136-137.

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Marcos Pesado
Marcos Pesado
14 horas atrás

Esclarecedor. Para contribuir paraum maior conhecimento da China, embora tenha me licenciado em História, tive muito pouco contato com a história da China – e do oriente e África, como um todo -, indico um excelente livro: História da China, de Michael Wood. Embora resumido, me foi útil para compreender um pouco sobre o desenvolvimento no tempo desse país

comenteiro
comenteiro
Responder para  Marcos Pesado
6 horas atrás

Tem ainda o “Sobre a China” do Sr. Kissinger, que tem a visão política americana sobre esse país. Ele pondera que ambos, Estados Unidos e China, tem suas semelhanças, pois acreditam no excepcionalismo.

Carlos Campos
Carlos Campos
13 horas atrás

Depois que se uniram em governo único, quem sofreu foras os países vizinhos, que viraram estados tributários, Japão só escapou por causa do Mar entre eles, mesmo assim tentaram invadir 2 vezes

comenteiro
comenteiro
Responder para  Carlos Campos
6 horas atrás

E o poder soft deles foi tremendo, Muito da cultura japonesa saiu da China.

Carlos Campos
Carlos Campos
Responder para  comenteiro
5 horas atrás

Sim, Kanji é literalmente Caractere Chinês