José Múcio Monteiro: ‘As forças precisam que a sociedade entenda o que eles fazem para o país’

E as FA’s precisam parar de se acharem um “clubinho fechado” que não precisa prestar contas ou falar com o resto da sociedade.
Precisam também finalmente parar com essa amaldiçoada mania de séculos em se meter em assuntos civis e acharem que o melhor pro país é dar pitaco no governo, coisa que nem as FA’s norte-americanas ou européias, com infinitamente mais poder de fogo e tecnologia, fazem.
E, por último, orecisam respeitar mais a sociedade civil.
Aquele videozinho lamentável ( pra dizer o mínimo ) da MB no final do ano passado mostra muito bem o que os fardados com estrelinha no ombro acham do cidadão pagador de impostos…

Camaradas , não existe esse negócio de agente público despolitizado.!
No mundo inteiro os militares são politizados, a diferença é que o papel das forças armadas na Europa e EUA é enxuto e delimitado pela lei. Lá não existe Exército fazendo papel de policia de fronteira e agencia reguladora, não existe marinha de guerra fazendo papel de policia e as questões internas de maior complexidade são resolvidas por Guardas Nacionais. Aqui nosso presidente é Tutelado pelas forças armadas através do GSI , ou seja, o militar sempre fez e faz parte do governo. É assim desde 1889! lamentavelmente.

Quanto à politização, apesar de isso não ser ideal, eu não diria que é preocupante. Em verdade, acho que é até desejável, em certo grau. Toda sociedade, já dizia Bourdieu, é dividida em campos políticos. No caso do Brasil, existem instituições que são verdadeiros bastiões da esquerda, como a academia e, gradualmente, o Judiciário e o Ministério Público. O fato das Forças Armadas serem polos de direita permitem um equilíbrio nas esferas políticas nacionais, a despeito de que em um cenário ideal os militares não devessem ser politizados de forma alguma.

Feita essa consideração preliminares, é muito evidente que as FFAA não servem à função que lhes é designada, qual seja, a defesa nacional. E isso se explica de várias formas.

Eu diria que, no contexto macro, isso tem a ver com cultura institucional. O pensamento dominante no campo militar é atrasado porque não existe espaço para discussão e oposição de ideias de maneira sadia na nossa caserna. Eu vejo que os militares têm dificuldade de discernir discordância e insubordinação. E, sendo a disciplina um dos pilares das FFAA, transitar nessa linha tênue é um perigo para os oficiais. Por isso, para eles, é mais vantajoso ficar de bico calado, ser diligente no cumprimento de ordens e, quando muito, se dedicar a algum conhecimento estritamente técnico, que seja tão autoevidente que não abra espaço para discussão. Por isso que as FFAA tem centros tão renomados em áreas como a engenharia, mas não tem nenhum think tank em ciências humanas, políticas e sociais.

Acho que um exemplo disso é o Serviço Militar Obrigatório. Ouvi dizer, há um tempo atrás, que a função das tropas regulares seria retardar um ataque inimigo contra o território nacional por tempo suficiente para que as reservas fossem mobilizadas, permitindo a expulsão e um eventual contra-ataque. Esse tipo de pensamento militar seria perfeito se vivêssemos às vésperas da guerra do Paraguai. Mas estamos no século XXI. O fato dessa linha de raciocínio ter sobrevivido é a prova cabal de que não existe espaço e nem interesse no campo militar para a criação de novas ideias que estejam em consonância com os desafios atuais. Aqui ou preserva-se o passado ou copia-se bovinamente o que vem do exterior.

O desdém que o militar sente do mundo civil é justamente um sintoma disso. Ainda vivem sob a égide de uma filosofia de “defesa nacional” onde o civil e a economia civil serviriam como instrumentos para o poder militar em caso de guerra. Não a toa fala-se tanto em desenvolvimento nacional na ESG, e como os militares são uma peça chave para o desenvolvimento do Brasil. O desenvolvimento nacional, para eles, é necessário apenas na medida em que serve como mola propulsora para o poder militar. O coronel Alessandro Vissacro, de maneira muito apropriada, elabora sobre um conceito mais moderno de defesa nacional, onde o civil não é um instrumento de defesa, mas sim o próprio sujeito a ser defendido pelo militar. É uma ideia fantástica, mas que jamais será disseminada na caserna, porque isso implica em tirar do militar o enfoque, e em desafiar a ideia de que ele é o esteio do Brasil, o cavaleiro de armadura dourada, o heroi incompreendido.

Pelo valor gasto/investido não fazem 10% do que deveria. E do pouco que fazem, foi completamente apagado depois dos últimos acontecimentos.