Conflito Tecnológico: como a competição pela indústria de chips molda o cenário geopolítico global
Por Victor Muniz Pereira da Silva
victormunizps@yahoo.com
Os Estados Unidos estão investindo bilhões de dólares na construção de novas fábricas de chips. O Japão está fechando uma parceria com a TSMC, a maior fabricante de chips do mundo. A China continua investindo na YMTC, principal produtora do país de chips de memória NAND. Já a Alemanha planeja inaugurar a primeira fábrica da TSMC na Europa. Essa competição para garantir a soberania na produção de chips é mais antiga do que parece.
O começo da corrida
A primeira empresa fabricante dos primeiros chips de silício, a Fairchild Semiconductor, começou como uma parte da Fairchild Camera and Instrument, empresa fornecedora das câmeras do exército e da aeronáutica dos Estados Unidos. Seus contratos iniciais nas décadas de 50 e 60 foram feitos com a NASA para desenhar os computadores do programa Apollo, o primeiro lote de semicondutores foi vendido para a IBM que trabalhava no computador de bordo do bombardeiro supersônico B-70. O que fala muito sobre de onde veio o dinheiro que criou e financiou o Vale do Silício.
O artigo “The Experts Look Ahead” de Gordon E. Moore, publicado em 1965 na revista Electronics, é um dos marcos na história da tecnologia, onde Moore formulou o que mais tarde ficou conhecido como a Lei de Moore. Neste trabalho, ele previu que o número de transistores em um circuito integrado dobraria aproximadamente a cada dois anos, levando a uma aceleração exponencial na capacidade computacional e na miniaturização dos componentes eletrônicos.
Moore analisou a evolução dos circuitos integrados até aquele momento e projetou seu crescimento futuro, antecipando que essa tendência continuaria por décadas, tornando os computadores mais rápidos, menores e mais acessíveis.
Em uma época em que os Estados Unidos e a união Soviética competiam na fabricação de mísseis nucleares, reduzir o custo de fabricação dos mísseis através da redução dos custos de fabricação dos chips, porém com o aumento de sua eficiência, era uma forma extremamente eficaz de superar o arsenal do inimigo.
O pioneirismo do Vale do Silício foi o diferencial nessa competição. O que fazia com que, mesmo que a União Soviética copiasse os chips americanos, eles ainda estariam alguns anos atrás na capacidade de produção.
O cenário atual da fabricação de chips
No mundo moderno, existe apenas uma empresa capaz de produzir as máquinas de litografia em ultravioleta extremo (EUV): a ASML. Essas máquinas são essenciais para a fabricação dos microchips mais avançados da atualidade, com cada uma custando entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões.
Elas permitem a gravação de circuitos extremamente pequenos em wafers de silício, criando os transistores que formam os processadores modernos. O funcionamento dessas máquinas é complexo e envolve uma combinação de luz ultravioleta extrema, alta precisão mecânica e ambiente de vácuo.
As máquinas de litografia EUV da ASML representam o ápice da tecnologia de fabricação de semicondutores, permitindo a criação de transistores minúsculos e altamente eficientes. Elas são essenciais para manter a Lei de Moore e continuar a evolução dos dispositivos eletrônicos. No entanto, a sua complexidade técnica e o altíssimo custo de produção fazem delas um recurso escasso e altamente estratégico na cadeia global de suprimentos de chips.
As máquinas de litografia em ultravioleta extremo (EUV), fabricadas exclusivamente pela ASML, são essenciais para a produção dos chips mais avançados. As principais empresas que utilizam essa tecnologia na fabricação de semicondutores são TSMC e Samsung.
TSMC: A gigante dos chips e o papel estratégico do governo de Taiwan
A TSMC foi pioneira no modelo de negócio de pure-play foundry, concentrando-se exclusivamente na fabricação de chips para outras empresas (como Apple, AMD, Nvidia, Qualcomm), sem competir diretamente com elas no design ou desenvolvimento de produtos. Esse foco a permitiu capturar uma grande fatia do mercado, pois empresas de design de chips (fabless) preferiam terceirizar a produção de semicondutores para uma empresa confiável e neutra.
Fundada em 1987, é hoje a maior e mais avançada fabricante de semicondutores do mundo. Sua criação e sucesso estão intimamente ligados a uma visão estratégica do governo de Taiwan, que desempenhou um papel crucial no desenvolvimento da indústria de tecnologia no país. Na década de 1980, Taiwan estava em um processo de transição de uma economia agrária para uma economia industrial e tecnológica. O governo de Taiwan reconheceu a necessidade de diversificar sua economia e investir em indústrias de alta tecnologia para garantir crescimento econômico e independência tecnológica. A indústria de semicondutores, essencial para produtos eletrônicos, foi identificada como uma área estratégica.
O apoio contínuo do governo, por meio de investimentos, incentivos fiscais, infraestrutura e políticas educacionais, foi essencial para o desenvolvimento da empresa. Hoje, a TSMC é líder global em fabricação de chips, uma posição que tem profundas implicações econômicas e geopolíticas.
EUA: Dependência e ação estratégica
Para os Estados Unidos, a dependência dos chips produzidos pela TSMC é vista como um risco à segurança nacional. Chips avançados, produzidos em grande parte em Taiwan, são utilizados em diversas indústrias estratégicas dos EUA, desde o setor militar até o de tecnologia de ponta. Preocupado com essa dependência, o governo norte-americano tem tomado medidas para reduzir a concentração da produção em Taiwan.
Em 2022, os EUA aprovaram o CHIPS Act, destinando bilhões de dólares em subsídios para estimular a fabricação de semicondutores no território americano. Como parte dessa estratégia, a TSMC está construindo uma nova fábrica no Arizona, fortalecendo a produção doméstica de chips nos EUA e reduzindo a vulnerabilidade da cadeia de suprimentos americana.
China: Ambições e tensões com Taiwan
Para a China, Taiwan representa muito mais do que uma questão territorial. O controle da ilha significaria o domínio direto sobre a TSMC e suas tecnologias avançadas de semicondutores. A China, que ainda depende da importação de chips de alta performance, vê a indústria de semicondutores como essencial para seu desenvolvimento tecnológico e militar.
Pequim, no entanto, enfrenta uma barreira importante: as restrições impostas pelos EUA. O governo norte-americano proibiu a venda de máquinas de litografia EUV, fabricadas exclusivamente pela holandesa ASML, à China, o que impede o país de produzir chips com nós menores que 7 nm.
Além disso, a crescente presença militar da China no estreito de Taiwan e as ameaças de reunificação forçada elevam as tensões na região, criando um cenário de insegurança sobre a estabilidade da produção de chips na ilha.
Impacto geopolítico global
A disputa por semicondutores transcende a rivalidade entre os EUA e a China. A dependência mundial de chips fabricados em Taiwan e a possibilidade de um conflito militar na região criam incertezas significativas para a economia global. A interrupção da produção de semicondutores na TSMC, seja por razões geopolíticas ou militares, poderia causar uma crise de fornecimento em indústrias que vão desde automóveis até eletrônicos de consumo.
Diante desse cenário, países como o Japão, Coreia do Sul, Alemanha e até os Estados Unidos estão investindo em novas fábricas para diversificar a produção e reduzir a dependência de Taiwan. A corrida por semicondutores está cada vez mais intensa, e a segurança econômica global depende, em grande parte, de quem controlará essa tecnologia no futuro.
No centro da crescente tensão geopolítica sobre semicondutores está Taiwan e sua líder mundial, a TSMC. Enquanto os EUA buscam proteger sua cadeia de suprimentos e manter a liderança tecnológica, a China vê o controle de Taiwan como uma questão estratégica fundamental. Esse embate entre as duas potências coloca a fabricação de chips no centro de uma disputa que vai além da economia, envolvendo poder, soberania e segurança global.
Isso é coisa para gente grande , com capital nacional consolidado e instituições de credibilidade…não é jogo de várzea!
Cara, é coisa de país administrado por gente interessada no futuro de seu país, não de um bando de sanguessugas que só querem viver uma vida de reis às custas dos outros.
A próxima ( atual, melhor dizendo ) guerra será sobre quem consegue fabricar 100% dos seus chips, semi-condutores e IA.
É a guerra de quem investe mais em P&D.
Enquanto isso, passamos os últimos 40 anos nos desindustrializando a passos largos, com nossa infra-estrutura se deteriorando, e nos transformando num enorme fazendão com educação precária.
Ou seja ninguém consegue …nem EUA!
A disputa vai ser entre blocos politico/econômicos e vai vencer aquele que tiver melhor sinergia e autonomia tanto em matéria de tecnologia como de acesso a matérias primas.
Em resumo nada de novidade debaixo do sol.
Eu diria que os EUA conseguem pelo menos comprar o maquinário e produzir em seu território. Já a China vai ter que continuar trilhando o mesmo caminho, o de desenvolvimento nacional, já que os embargos vão ser cada vez maiores daqui pra frente. Agora fica a dúvida sobre o futuro de Taiwan. Com as principais potências vendo a produção de semi-condutores (em território nacional) como prioridade número 1, é provável que a pequena ilha perca a sua galinha dos ovos de ouro,. Se isso acontecer, a economia de Taiwan vai acabar implodindo e para além disso, os EUA não terão… Read more »
O interesse dos EUA em Taiwan vai além da indústria de semicondutores – basta ver que o interesse já existia antes de Taiwan os produzir. O verdadeiro interesse é a posição estratégica da ilha que faz parte da 1 cadeia de ilhas e que faz com que a China não tenha nenhuma saída para o mar com mais de 200km de largura.
Ou quem tem mais geladeira… hehehe
Tenho certeza que a Rússia esta correndo por fora msm estando na desvantagem econômica,russos sempre dão um jeito de tirar leite de pedra e colher bons frutos com as limitações que possuem.
Pelo menos vontade de correr atrás eles tem e isso que falta no Brasil.
Massa critica os caras tem
A Rússia é o país das exatas , ou seja , investe bem o que tem.
Verdade,cientistas e engenheiros é o que mais tem na Rússia.
K
Com essa guerra, eles estão vendo a importância de ter essa capacidade, da mesma maneira que eles viram que valeu a pena ter retiro sua capacidade de produzir munições de artilharia e blindados, mesmo no pior da crise que eles tiveram nos anos 90.
Certeza que eles vão investir muito nisso.
Isso msm,muitas empresas de armas da Rússia não davam lucro e msm assim eles subssidiavam para mantê-las vivas,e nessa guerra elas mostraram o seu valor.
Correndo por fora, mas muito, muito por fora. Os planos russos são de alcançar a tecnologia de 65nm em 2030 – sendo que esta tecnologia é de 2005.
Antes tarde do que nunca,uma hora eles alcançam a excelência, pior é ficar parado.
Hardware não é o fundamental*…já o software.
*podem alugar processamento de AI via AWS , Cloud , Azure …montando empresas de fachadas em N países(como a China a muito o faz..rs).
G42 – MEGA empresa para fornecimento de AI via nuvem no Oriente Médio.
Financiadores: Mubadala, Silver Lake, Microsoft …China*
*Peng Xiao é o CEO da G42 e misteriosamente não há informações da origem do laranja ..sic…de sua origem … 🙃
Claro que podem locar capacidade de processamento de terceiros. Mas é isso o que se espera de uma potência mundial?
Um Kornet, Kalibr, drones ou kits de JDAM não precisam de um hardware de um PlaStation 5 ou MacBook Pro.
Mesmo ultrapassado, dá pra fazer MUITA coisa com esses chips de 2005.
Acho que você está pensando no passado e não no futuro. Armas com AI estão na esquina. Os russos não vão conseguir produzi-las com processadores com 2 décadas de atraso.
Da maneira como você fala, fica parecendo que armas com IA já são são realidade, com centenas de armas desse tipo já implementadas e em uso pelo mundo, inclusive nessa guerra…
Não mesmo, cada vez mais na posição de “filhos da China”
“Pequim, no entanto, enfrenta uma barreira importante: as restrições impostas pelos EUA. O governo norte-americano proibiu a venda de máquinas de litografia EUV, fabricadas exclusivamente pela holandesa ASML, à China, o que impede o país de produzir chips com nós menores que 7 nm.”
Nada como o tal do livre mercado, com zero intromissão do estado, né? 🤭
E desde quando há zero intromissão do estado nos EUA? Não faz nem dois anos que o governo Biden baixou o CHIPS and Science Act, preve US$ 40 bi em subsídios para empresas do setor de semicondutores…
Como os EUA conseguem proibir uma empresa da Holanda de negociar com a china ?
Quando alguém diz que a Europa perdeu sua soberania e virou um puxadinho do tio sam ainda tem gente que retruca.
Porque alguns componentes é de origem norte americana, então se tiver um botão ali, já era motivo de bloqueio.
Tecnologia dos EUA. E se você acha que isso é problema na Europa saiba disso: praticamente toda comunicação satelital brasileira tem o mesmo problema.
“Diante desse cenário, países como o Japão, Coreia do Sul, Alemanha e até os Estados Unidos estão investindo em novas fábricas para diversificar a produção e reduzir a dependência de Taiwan”
Um dos motivos pelos quais eu acredito que o esforço ocidental para defender Taiwan em uma eventual tomada pela China será moderado ou minimo.
O esforço não será pra isso. O esforço será pra dissolver a república popular da china( e eu acredito que, com o tempo, vai dar certo. )
O que tornou a Nvidia uma empresa de Trilhões de Dólares …superando Apple / Microsoft..etc. AI …A Nvidia cria GPUs para a mesma …não é bem isso as GPUs da AMD (MI300X/MI350X) são superiores em N quesitos. Em essência foi o software , mais especificamente, o ecossistema CUDA da Nvidia. Atualmente a N modelos de linguagem AI de código aberto (inclusive da Nvidia). Qualquer um pode baixar , instalar e ter seu “chatGPT” particular. (Tendo um hardware descente para o mesmo). Um dos mais famosos é o Llama – uma IA de código aberto do Facebook. Especialistas do Exército de… Read more »
Software e processamento são os dois lados de uma mesma moeda. Não adianta ter o software se o processador não tem a capacidade de rodá-lo; não adianta ter o processador sem a software lhe dar instruções.
A pauta brasileira é mais importante do que o conteúdo que está na matéria.
Estão diminuindo a qualidade do ensino, pra aumentar o número de formados no nível superior!
Pois é…
Basta ver a quantidade de “descentes”, “missel”, “a” no lugar de “há”, etc por aqui, só para não ir muito longe…
Vai aumentar muito o número de “engenheiros motoristas” no Brasil…
Enquanto isso a Intel falindo, China ignorando a empresa deu nisso. Rs
O problema da Intel é que ela errou na estratégia de produção dos seus chips. Seus concorrentes terceirizaram a produção para a TSMC e Samsung, enquanto a Intel continuou tentando produzir os seus próprios chips e tiveram problemas na tecnologia de 7nm que depois os atrasou para a tecnologia de 5nm.
Se eu fosse norte americano, chinês, taiwanes, japonês, alemão ou holandês teria orgasmos múltiplos de orgulho!
E aqui?
Resta a certeza da morte e de que, cedo ou tarde, este paiseco será apenas triste lembrança.
Essa é só mais uma das competições onde nós, brazilians sappiens, somente somos expectadores.
E a CEITEC, como anda????
“Durante 15 anos a empresa recebeu R$ 790.000.000,00 (setecentos e noventa milhões de reais) dos contribuintes brasileiros, tendo faturado R$ 64.200.000,00 (sessenta e quatro milhões, e duzentos mil reais).”
https://pt.wikipedia.org/wiki/Centro_Nacional_de_Tecnologia_Eletr%C3%B4nica_Avan%C3%A7ada
Descapitalizada, semicondutores e chips demandam dezenas de biliões de dólares por ano que não temos.
A CEITEC já perdeu a maioria dos profissionais qualificados que tinha, e isso, pra uma indústria em desenvolvimento no Brasil, é uma sentença de morte.
Não sei se um dia vai chegar a recuperar o patamar que esteve.
Nesse país, tem gente que trabalha dia e noite para sabotar qualquer chance de desenvolvimento e independência.
Qual patamar? CEITEC nunca teve um patamar de respeito! O plano era de produzir no máximo processadores de 28nm, tecnologia de 15 anos atrás, mas principalmente tags de leitura do tipo “SEM PARAR”.
Enquanto isso, em um certo “território” na América do Sul…
Deveria ser : Em mais de 90% dos países do mundo
Ótima Matéria , parabéns !! , Interesante é que a ASML é a Holandesa Philips que fábrica entre outras tantas coisas barbeadores elétricos… Já comentei a algum empo aqui em outro post sobre este assunto que essa briga é de “gente grande” e realmente é o grande motivo da cobiça da China por Taiwan, ter acesso e controle da TSMC consequentemente as máquinas da ASML, Já sobre a estatal CEITEC como perguntaram posso estar errado masnão vejo muito futuro , e não tem nada a ver com ideologia politica ou esse ou aquele governo… fato é que é defasada e… Read more »
OFF: Chamados a contribuir com o pacote fiscal, militares aceitam mudanças pontuais no sistema de previdência da corporação | Blog do Valdo Cruz | G1
A Lei de More já foi jogado no lixo. devia ficar ressaltado no texto que o designe dos chips é o que realmente importa, Apple, AMD, Qualcomm e Nvidia (agora com os magníficos chips Blackwell) dominam o mundo com soluções que revolucionam a nossa vida. Apenas 01 (um) Chip Blackwell da NVIDIA custa a bagatela de US$30.000,00. Isso é que faz a diferença… são chips capazes de processar 01 Exaflop (1 quintilhão de operações matemáticas por segundo). Fazer chips é muito importante… fazer os melhores chips do Mundo é mais importante ainda… e o texto não reflete isso. Se fosse… Read more »
enquanto isso em um certo pais no hemisfério sul, continua deitado em berço esplêndido.