Em evento, CEO do JP Morgan eleva o tom sobre o risco geopolítico: “Nós rodamos cenários [no banco] que chocariam vocês. Eu não quero nem mencioná-los”

Nem a inflação americana, nem a desaceleração do crescimento no restante no mundo. O que mais preocupa Jamie Dimon são os riscos geopolíticos. A Guerra da Ucrânia e a intensificação dos conflitos no Oriente Médio têm chamado atenção de grandes financistas em todo o mundo — mas o CEO do JP Morgan está especialmente alarmado.

“A Terceira Guerra Mundial já começou. Você já tem batalhas no terreno sendo coordenadas em vários países”, disse em um evento no Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês) na semana passada – mas que agora começou a ganhar mais cobertura na mídia internacional.

Rússia, Coreia do Norte e Irã — que ele chama de “eixo maligno” — assim como a China, estão trabalhando ativamente juntos para “desmantelar” os sistemas criados pelos aliados após a Segunda Guerra Mundial, como a Otan, segundo ele.

“E eles estão falando sobre fazer isso agora”, disse em uma gravação obtida pela Fortune. “Eles não estão falando sobre esperar 20 anos. E então o risco disso é extraordinário se você olhar para a história.”

Dimon continuou, dizendo que os Estados Unidos não podem ser “inocentes” e permitir que esses eventos globais se desenrolem sem nenhuma intervenção.

“Não podemos correr o risco de que isso se resolva sozinho. Precisamos nos certificar de que estamos envolvidos em fazer a coisa certa”, ressaltou.

Segundo ele, há uma chance de que a ameaça da Terceira Guerra Mundial diminua ao longo do tempo, mas as implicações podem ser muito negativas se as coisas continuarem da maneira como estão.

“Eu estou falando sobre o risco das coisas irem muito mal”, disse Dimon. “Nós rodamos cenários [no banco] que chocariam vocês. Eu não quero nem mencioná-los”.

O CEO do JPMorgan também colocou a ameaça nuclear da Rússia — e de qualquer adversário em potencial — no topo da lista de preocupações. “Nunca tivemos uma situação em que um homem [Putin] estivesse ameaçando fazer chantagem nuclear. Esse tipo de coisa: ‘Se seus militares começarem a vencer, vamos lançar armas nucleares’”, disse Dimon.

Nesse sentido, o maior risco para a humanidade, disse ele, não é a mudança climática, mas a proliferação nuclear.

“Temos que ter muito cuidado com o que estamos tentando realizar nos próximos dois anos. Se a disseminação de poderes nucleares continuar, é só uma questão de tempo até cidades inteiras possam ser dizimadas”, afirmou.

O CEO do maior banco do mundo é um democrata registrado, mas tem trânsito nos dois partidos. Já buscando seus sucessores após duas décadas à frente do JP Morgan, o mercado tem especulado que ele poderia ser um candidato potencial para a Secretaria do Tesouro tanto num eventual governo de Kamala Harris quanto de Donald Trump.

FONTE: Exame

NOTA DA REDAÇÃO: A “Madman Theory” é uma teoria política frequentemente associada à política externa do presidente norte-americano Richard Nixon. Essencialmente, a estratégia envolvia transmitir a percepção de que Nixon era irracional e imprevisível, uma manobra calculada para fazer com que líderes de nações comunistas hostis, como o Vietnã do Norte e a União Soviética, evitassem provocações temendo uma resposta inesperada e potencialmente catastrófica dos Estados Unidos. Nixon acreditava que essa postura o ajudaria a obter concessões estratégicas e a dissuadir os adversários de ações que comprometessem os interesses norte-americanos.

A ideia de uma “estratégia de louco” foi articulada por Nixon ao seu chefe de gabinete, H. R. Haldeman, que registrou a visão do presidente em suas memórias. Nixon explicou a Haldeman que pretendia convencer o governo norte-vietnamita de que ele estaria disposto a “fazer qualquer coisa” para encerrar a guerra, inclusive tomar medidas extremas. Nixon queria que os norte-vietnamitas vissem sua obsessão pelo anticomunismo como incontrolável e sentissem que ele poderia utilizar armas nucleares caso fosse provocado. A esperança era que, temendo esse cenário, os líderes vietnamitas se sentissem compelidos a buscar negociações de paz o mais rápido possível.

Em outubro de 1969, a administração Nixon sinalizou à União Soviética que “o louco estava à solta” ao ordenar que as forças armadas dos EUA se preparassem para uma guerra global. Bombardeiros equipados com armas termonucleares sobrevoaram a fronteira soviética por três dias consecutivos, em uma demonstração de força deliberada que foi mantida em segredo para o público americano. Esta ação fazia parte da estratégia de dissuasão, lançando uma incerteza calculada sobre as possíveis reações dos EUA em caso de conflitos ou provocações.

Nixon utilizou essa abordagem também para pressionar o governo norte-vietnamita a negociar o fim da Guerra do Vietnã. Em julho de 1969, segundo um relatório da CIA desclassificado em 2018, Nixon teria sugerido ao presidente sul-vietnamita, Thieu, duas opções: uma implicava o uso de armas nucleares, enquanto a outra envolvia o estabelecimento de um governo de coalizão. Essa postura visava mostrar que Nixon considerava a escalada nuclear uma possibilidade real, reforçando a ideia de que ele poderia agir de forma imprevisível e perigosa, caso necessário.

Outro exemplo da aplicação da Madman Theory foi a incursão militar no Camboja em 1970. Segundo o historiador Michael S. Sherry, essa incursão fez parte da estratégia de Nixon para demonstrar força e impulsionar o Vietnã do Norte a buscar um acordo. Nixon via essas demonstrações de força como formas de criar um ambiente de incerteza nos inimigos, fazendo-os temer que o próximo passo dos EUA poderia ser ainda mais agressivo.

Em resumo, a Madman Theory de Nixon representava uma tática de manipulação psicológica, cujo objetivo era obter vantagens estratégicas ao instilar medo e incerteza nos adversários. Ao projetar uma imagem de líder capaz de ações extremas e pouco previsíveis, Nixon procurava desestabilizar o cálculo estratégico dos rivais, fazendo-os optar pela negociação e, assim, atender aos interesses americanos de maneira indireta. Essa abordagem, ainda que polêmica, teve impacto na maneira como os EUA lidavam com conflitos e inimigos durante a Guerra Fria, moldando a imagem de Nixon e da política externa americana naquela época.

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Nilo
Nilo
15 horas atrás

Li artigo, sintetizando, ” os doidos estão soltos “, jogar a culpa . como mando desespero que já toma conta de algumas lideranças americanas que tem EUA nas fronteiras da Rússia e a Rússia longe das fronteiras americanas, um risco sem outras considerações para alongar o comentário, é conversa de maluco.

Last edited 15 horas atrás by Alexandre Galante
Beto
Beto
15 horas atrás

Alguém avisa a ele que são os EUA os maiores fomentadores desses conflitos ao redor do mundo, e o que o esta aterrorizando é a perda da hegemonia americana

José 001
José 001
15 horas atrás

Eixo maligno, democrata registrado mas próximo de republicanos, provável Secretário do Tesouro (Tanto de Kamala Harris quanto de Donald Trump), na véspera da eleição presidencial dos E.U.A.

Discurso oportuno de quem quer garantir a vaga de Secretário do Tesouro da maior economia do mundo para conseguir mais influência e poder do que já tem (Independente do vencedor da eleição), e ainda ficar blindado com o futuro cargo.

Fabio
Fabio
14 horas atrás

Corre tudo como o planejado. Um mundo em guerra enquanto os EUA vai passar ileso novamente e vitorioso com seu território intacto vendendo armas enquanto o resto do mundo vira cinzas. Não existem aliados, somente concorrentes econômicos e de poder para serem usados como bucha de canhão, pra isso que serve a OTAN.

Funcionou duas vezes, vai funcionar sempre.

Last edited 14 horas atrás by Fabio
Gustavo_Geopolitica
Gustavo_Geopolitica
13 horas atrás

Os ocidentais colonizaram a Africa e escravizaram os negros por séculos, instigaram e provocaram duas Guerras Mundias, invadiram a Russia duas vezes, colonizaram a China e os japoneses os humilharam, provocaram guerras no Oriente Médio utilizando-se de falsos pretextos (frasquinho de Antrax) e agora estão provocando a Rússia nas suas fronteiras e o eixo do mal são os outros…vai entender.

Fabio
Fabio
Reply to  Gustavo_Geopolitica
8 horas atrás

Todo mundo colonizou a África fera, Oriente Médio, Asia, os próprios paises africanos lutavam uns com os outros para colonizar o mais fraco. Era o contexto naquela época, aliás desde antes do descobrimento das Américas.
Abandone essas narrativas de colégio que abandonaram o ensino de história a muito tempo.

George
George
13 horas atrás

Apesar do Putin realmente ser uma grande ameaça à “estabilidade” (não existe mais né) das instituições globais com sua visão imperialista para a “nova ordem mundial”, que inclusive o guiou à atual agressão à Ucrânia e o enfiou no atoleiro militar que todo mundo previa que ia virar essa guerra para a Rússia, os maiores fomentadores de conflitos pelo mundo seguem sendo os EUA e os maiores ataques recentes à autoridade dessas Instituições seguem sendo eles e seus aliados. Como também é fato que até hoje apenas eles utilizaram armas nucleares em um conflito, não vejo muita lógica para além… Read more »

Pragmatismo
Pragmatismo
12 horas atrás

Contrainformação pura.

Gabriel BR
Gabriel BR
11 horas atrás

Eu sou da área politica e vos asseguro que ele pode sim estar coberto de razão.

Renato B.
Renato B.
Reply to  Gabriel BR
11 horas atrás

Como diria Caetano Veloso: “ou não”

Gabriel BR
Gabriel BR
Reply to  Renato B.
3 horas atrás

Ele acerta bem mais do que erra …pesquisa sobre a biografia deste senhor.

NBS
NBS
11 horas atrás

A declaração de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, destaca uma percepção alarmante para os norte-americanos: a emergência de um mundo multipolar e o declínio de sua influência, agora uma constatação entre figuras corporativas de grande peso. Para ele, o risco não reside apenas na inflação ou na desaceleração econômica, mas nas ameaças geopolíticas e na possível falha dos tratados de não proliferação nuclear, criados para evitar uma catástrofe global. O perigo está espraiado: além dos novos entrantes, inclui-se a incapacidade dos atuais detentores de armas nucleares de cumprir os compromissos de desarmamento, agravando ainda mais o cenário. Dimon, naturalmente,… Read more »

JuggerBR
JuggerBR
10 horas atrás

O cara é banqueiro, qual o interesse primordial dele? Manipular os mercados de acordo com seus investimentos. No caso, está buscando um mercado recessivo, onde todos correm pra guardar dinheiro em local seguro, no caso de uma guerra global. Zero credibilidade.

Casanova
Casanova
8 horas atrás

No início do ano, portanto antes do conflito Israel x palestina, em uma palestra eu alertei: o cenário da 3ª guerra já está montado, não se iludam, não haverá arrefecimento, os senhores da guerra já decidiram.

Deem uma olhada nesse artigo…

https://www.stylourbano.com.br/todas-as-guerras-sao-iniciadas-por-bandeiras-falsas-todas-as-guerras-sao-guerras-dos-banqueiros/

Bispo de Guerra
Bispo de Guerra
7 horas atrás

Não aceitam “largar o osso” criam factoides acreditando que será como foi contra a Alemanha nazista.

Venceremos e voltamos a dominar…como dizia Garrincha “faltou combinar com os russo/chineses”.

Maurício.
Maurício.
2 horas atrás

“Rússia, Coreia do Norte e Irã — que ele chama de “eixo maligno” — assim como a China.”

Quando o sujeito vem com esse papo, eu já sei pra quem ele trabalha…