Por Luiz Reis – especial para o Forças Terrestres

Entre os dias 17 e 25 de setembro de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, os Aliados lançaram uma frustrada operação usando forças aerotransportadas e terrestres com o objetivo de aniquilar as forças alemãs que ainda resistiam na Holanda (as quais se julgavam serem muito fracas) e depois seguir para a Alemanha para tentar acabar com a guerra antes do Natal de 1944.

A chamada Operação Market Garden (em alguns livros ela é escrita como “Market-Garden”) consistia basicamente em duas suboperações, nas quais o sucesso de uma dependia fundamentalmente do sucesso da outra:

  1. Operação Market (“Mercado”) – um ataque aerotransportado para capturar pontes importantes sobre os rios da região;
  2. Operação Garden (“Jardim”) – um ataque terrestre de divisões blindadas e de infantaria movendo-se sobre as pontes apreendidas, criando o saliente.

Essa operação foi proposta pelo Marechal de Campo inglês Bernard Montgomery, então comandante do 21º Grupo de Exércitos aliado. Os planejadores britânicos e norte-americanos deram o aval para a operação, mas ignoraram (devido a falhas na inteligência aliada) que grandes forças alemães, mesmo desfalcadas, estavam estacionadas na Holanda, como o Grupo de Exércitos B, sob o comando do Marechal de Campo Walther Model, o 15º Exército e o General de Infantaria Gustav-Adolf von Zangen, e remanescentes do II Corpo Panzer sob o comando do SS-Obergruppenfüher Wilhelm Bittrich. Tais tropas eram formadas por muitos veteranos, nos quais muitos lutaram na Frente Oriental contra os russos.

Já os Aliados iriam atacar, inicialmente com a Operação Market, com as 82º e 101º Divisões Aerotransportadas dos EUA (comandadas respectivamente pelos Generais James M. Gavin e Maxwell D. Taylor), a 1ª Divisão Aerotransportada inglesa (comandada pelo Major General Roy Urquhart) e a 1ª Brigada Paraquedista Independente Polonesa (comandada pelo Brigadeiro General Stanisław Sosabowski), que juntas formaram o 1º Exército Aerotransportado Aliado, sob o comando do Tenente General Lewis H. Brereton.

Paraquedistas saltando sobre a Holanda em 17 de setembro de 1944

O ataque aliado da Operação Garden consistia principalmente na ação do XXX Corpo inglês (comandado pelo Major General Brian Horrocks) e foi liderado inicialmente pela Divisão Blindada de Guardas (comandada pelo Major General Allan Adair), com a 43ª Divisão de Infantaria Wessex (comandada pelo Major General Ivor Thomas) e 50ª Northumbrian (comandada pelo Major General Douglas Grahamem) em reserva.

Esperava-se que as unidades terrestres chegassem ao extremo sul da área da 101ª Divisão Aerotransportada no primeiro dia, a 82ª no segundo dia e a 1ª no quarto dia, o mais tardar. As principais pontes a serem tomadas estavam sobre os rios Mosa, Waal e o baixo Reno, cruzando também pequenos canais e afluentes.

A operação inicia-se na tarde do domingo, 17 de setembro de 1944, com o lançamento de milhares de paraquedistas norte-americanos e ingleses, parte usando paraquedas em seus saltos, lançados a partir de aeronaves Douglas C-47 Dakota, parte descendo ao solo holandês usando planadores de fabricação inglesa (Horsa e Hamilcar) e norte-americana (Waco).

Na época foi considerada a maior operação aerotransportada da história, mas superada em março de 1945 pela “Operação Varsity”, quando 16.000 homens foram lançados sobre Wessel, na Alemanha, já nos estágios finais da guerra.

Os avanços iniciais dos Aliados foram bem-sucedidos. Várias pontes foram tomadas entre as cidades holandesas de Eindhoven e Nijmegen. O XXX Corpo do exército britânico teve seu avanço atrasado pois os paraquedistas tiveram bastante dificuldades para tomar as pontes entre os rios Son e Nijmegen. As forças alemãs explodiram as pontes sobre o Canal de Wilhelmina antes de recuarem.

A 101ª Divisão Aerotransportada do Exército dos Estados Unidos então tomaram a região. Já a 82ª Divisão norte-americana fracassara em tomar as passagens pelo rio Waal em Nijmegen antes de 20 de setembro de 1944, o que atrasou ainda mais os avanços das forças mecanizadas aliadas.

No setor mais distante das operações paraquedistas aliadas em Arnhem, a 1ª Divisão Aerotransportada britânica encontrou forte resistência dos experientes defensores alemães. O atraso dos Aliados em capturar as pontes, particularmente em Son e Nijmegen, deu tempo para o exército alemão organizar suas linhas de defesa e mobilizarem mais homens e tanques e logo planejaram um contra-ataque.

Na subsequente “Batalha de Arnhem”, os paraquedistas britânicos conseguiram conquistar o norte da cidade, mas quando os reforços terrestres atrasaram, eles acabaram sendo derrotados pelos alemães em 21 de setembro. O que sobrou da 1ª Divisão Aerotransportada ficou presa em um pequeno bolsão a oeste da ponte da cidade, sendo evacuados (cerca de 2.400 homens) apenas entre os dias 25 e 26, na chamada “Operação Berlim”.

No final, os Aliados acabaram fracassando em estabelecer seus objetivos e cruzar o Rio Reno e as defesas alemãs no norte e oeste do seu país continuaram firmes, e só cederiam por completo em março de 1945.

O fracasso da Operação Market Garden, com a perda de valiosos homens e equipamentos, acabou com as expectativas dos Aliados de tentar acabar com a guerra antes do natal de 1944.

As forças aliadas sofreram mais perdas na Market Garden do que na gigantesca invasão da Normandia (“Operação Overlord”). A maioria dos historiadores militares concordam em que, no período de 24 horas do “Dia D” (6 de junho de 1944), as perdas aliadas alcançaram a estimativa de 10 mil a 20 mil.

Nos nove dias da Operação Market Garden, as perdas combinadas – forças aeroterrestres e blindadas – em mortos, feridos e desaparecidos são estimadas para mais de 17 mil homens.

As perdas britânicas foram as mais altas: 13.226 homens. A 1ª Divisão Aerotransportada inglesa foi quase totalmente destruída. Na força inicial de ataque a Arnhem, com um efetivo de 10.005 homens, na qual se incluem os poloneses e os pilotos de planadores, as perdas totalizaram 7.578 (cerca de 75% do total).

O XXX Corpo inglês perdeu 1.480 homens e os norte-americanos perderam cerca de 3.900 soldados. As cifras alemãs permanecem um pouco obscuras, devido a muitos documentos tendo sido perdidos ao final da guerra, mas em Arnhem e Oosterbeek as perdas chegaram a 3.300; entretanto, as perdas do Grupo de Exércitos B foram consideradas as mais elevadas.

Levando-se em conta a frente de batalha que se desenvolveu ao longo da campanha, estima-se que as perdas podem ter chegado até a 10 mil homens. Houve também cerca de 500 mortos entre os civis holandeses e os membros da resistência contra os alemães.

A operação foi imortalizada no famoso livro lançado em 1974, “A Bridge Too Far” (“Uma Ponte Longe Demais” no Brasil), escrito pelo escritor e historiador militar irlandês Cornelius Ryan.

O livro inspirou a produção de um filme épico do mesmo nome, lançado em 1977, com a direção de Richard Attenborough e estrelado por grandes atores como Sean Connery, Michael Caine, James Caan, dentre outros. Dramatizações das ações da 101ª Divisão Aerotransportada, em especial a “Easy Company” do 506º PIR, durante a batalha fizeram parte da minissérie de televisão da HBO “Band of Brothers”, lançado em 2001.

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Willber Rodrigues
Willber Rodrigues
1 mês atrás

Montgomery resolveu simplesmente ignorar uma caceta de relatórios da Inteligência mostrando que essa operação teria chances enormes de “dar ruim” ( como acabou dando ).
O que me espanta é o Einsenhower saber desses relatórios, e mesmo assim não ter feito nada pra impedir que o Montgomery fosse em frente com isso.

Bem, praticamente nenhum general americado gostava do “Monthy” mesmo…

Palpiteiro
Palpiteiro
Reply to  Willber Rodrigues
1 mês atrás

O que deveriam ter feito?

comenteiro
comenteiro
Reply to  Palpiteiro
1 mês atrás

Planejado melhor? Ficou parecendo o povo da Marinha Japonesa atacando Midway.

Willber Rodrigues
Willber Rodrigues
Reply to  Palpiteiro
1 mês atrás

Imagino que não ignorar os informes de Inteligência e não ignorar a geografia do T.O. que mostrava que a vantagem de defesa, de pontos de estrangulamento e de pontes era amplamente favorável aos alemães, já seria um bom começo…

PY3TO - Rudi
PY3TO - Rudi
1 mês atrás

Uma Ponte Longe Demais…Baita filme!

Carlos Campos
1 mês atrás

Vou provurar o filme para ver, esses dias estava revendo os primeiro eps de Band of Brothers

JuggerBR
JuggerBR
Reply to  Carlos Campos
1 mês atrás

Melhor seriado de guerra que já vi…

Bispo de Guerra
Bispo de Guerra
1 mês atrás

Fico conjecturando … seria possivel atualmente tais operações (grande contingente saltando de paraquedas) dentro da linha inimiga (inimigo nao camelífero(pastor de camelos, rs))

Creio que Nuc taticas …acabariam com a , ideia, de operação.

P.S- falando em acabar com a festa(misseis chovendo na Russia)…sera que EUA / UK amarelaram apos Putin rugir…ou esperam as eleições.

Velame
Velame
1 mês atrás

“Doravante em meus sonhos sempre haverá uma porta aberta e o roncar dos motores”

Tio Velho Comuna
Tio Velho Comuna
1 mês atrás

Aquele menino: Bernard Montgomery, só ganhava batalhas quando tinha clara vantagem tatica e logística sobre os alemães! Foi assim no Norte da África

Heinz
Heinz
1 mês atrás

“e remanescentes do II Corpo Panzer sob o comando do SS-Obergruppenfüher Wilhelm Bittrich. Tais tropas eram formadas por muitos veteranos, nos quais muitos lutaram na Frente Oriental contra os russos” Se querer ser chato, mas já sendo, os soviéticos emglobavam muitos outros povos além dos russos, ucranianos, georgianos, armênios também lutaram no lado da URSS.
No mais, tem até um filme muito bom sobre essa operação, “uma ponte longe demais”

Ozawa
Ozawa
1 mês atrás

A propósito, recomendo: ARNHEN – A batalha pelas pontes, 1944, de Antony Beevor.