Expansão do BRICS: falta uma ‘grand strategy’ ao Brasil
Vitelio Brustolin, PhD
Na última semana respondi a algumas entrevistas sobre a expansão do BRICS, como esta, para a CNN: Quem ganha e quem perde com a expansão do BRICS. Entre as análises, fui convidado por um jornal a escrever uma breve declaração a respeito do tema. Decidi responder a essa demanda utilizando um critério diferente daquele empregado nas análises que tenho lido: ao invés de debater ideologia ou política internacional imediata, procurei focar na estratégia do Brasil como nação. Talvez esse enfoque interesse a alguns amigos e colegas. Segue, abaixo, a declaração:
“O Brasil precisa de uma ‘grand strategy’ – de uma estratégia de longo prazo como nação. Precisa decidir o rumo da nação para as próximas décadas. A China faz isso muito bem: tem um plano para que seu exército seja mais competitivo até 2035 e para que Taiwan volte ao controle do governo central até 2049. O que o Brasil planeja para as próximas décadas? Se não há clareza quanto a isso, como definir os movimentos estratégicos do País na esfera internacional?
Sem essa clareza, o País tende a mudar de rumo com transições de governo e não chegar a lugar algum. Para além disso, há questões bastante práticas: o Brasil tem se beneficiado do comércio com países do BRICS, sobretudo com a China. Desde 2009, esta tem sido a nossa principal parceira comercial, substituindo os Estados Unidos de uma posição ocupada por praticamente 100 anos. Atualmente, os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil.
Diante disso e das mudanças motivadas pela guerra na Ucrânia – as maiores transformações na geopolítica global desde a dissolução da União Soviética, em 1991 – neste momento o Brasil tem buscado um maior alinhamento com o BRICS e apoiado a sua expansão. Em termos econômicos e comerciais, esse alinhamento e expansão podem fazer sentido, mas é importante que o Brasil tenha uma estratégia de longo prazo para que sua política externa e de defesa estejam alinhadas. As decisões de política externa de um país precisam estar alinhadas às suas capacidades de defesa. Mudanças são possíveis, mas tomam tempo. Quase todos os equipamentos militares do Brasil vêm de países da OTAN e isso ocorre há décadas. As Forças Armadas brasileiras chegaram a adquirir equipamentos de origem russa e chinesa, mas ainda em quantidades limitadas.
Em 2019, o Brasil foi designado um “parceiro preferencial extra-OTAN” dos Estados Unidos. Para conseguir essa designação, juntamente com o apoio dos EUA para ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil abriu mão do status de país em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC). Status esse que nem a China – segunda maior economia do mundo – abriu mão, pois representa perda de proteção para a produção nacional. Em março de 2020, houve um segundo passo: os governos do Brasil e dos EUA firmaram o Acordo de Pesquisa, Desenvolvimento, Teste e Avaliação (RDT&E). Em 2021, militares da Marinha do Brasil participaram de exercícios militares com a OTAN, justamente no Mar Negro, agora parte do teatro de operações da guerra na Ucrânia.
O BRICS não é uma aliança militar, mas devido à conjuntura geopolítica, assuntos econômicos e militares estão mais alinhados neste momento do que quando o grupo foi criado.
O ideal seria que o Brasil produzisse as suas próprias tecnologias de usos múltiplos, mas no mundo globalizado, nenhum país faz isso completamente sozinho. Por isso parcerias estratégicas são fundamentais e precisam ser duradouras.”
Prof. Dr. Vitelio Brustolin, website acadêmico: https://scholar.harvard.edu/brustolin
LEIA TAMBÉM:
Em minha analise, os BRICS veio justamente para fazer frente as sanções dos Estados Unidos e Europa Ocidental e transformar o mundo realmente em uma ordem multipolar,digo isso,por que após o fim da URSS o que se viu foi um mundo onde os Estados Unidos e Europa decidiram os rumos do planeta.
O Brasil realmente carece uma estratégia de longo prazo,por que não existe uma politica externa que agrade tanto conservadores tanto quanto progressistas( quando conservadores estão no poder, o alinhamento é automático aos Estados Unidos, quando os progressistas estão no poder, o alinhamento é mais a independência em relação aos Estados unidos ou alinhamento a Cuba e China ).
Em relação ao papel do Brasil nos BRICS, penso que temos uma elite alinhada aos interesses americanos, forças armadas com muito equipamento ocidental, se mergulharmos de cabeça nessa, sofreremos muitas sanções e distúrbios sociais.
Temos que repetir a politica externa de Getúlio Vargas na Segunda Guerra mundial, sermos neutros e barganhar dos dois lados.O BRICS ainda vai dar muito o que falar nos proximos anos
Caro Matheus,
Nós nunca vamos conciliar conservadores (leia-se fãs do micto) e progressistas (fãs do painho). Apesar desses dois não serem nada mais do que populistas de araque.
O objetivo é que haja um conflito constante entre essas duas “vertentes políticas” de modo a fragmentar a sociedade e extinguir qualquer possibilidade de nos organizarmos em torno de um objetivo maior para o país.
Perfeito Sulamericano!
A direita aqui nesse pais deveria ter sido um contrapeso ao populismo de araque que domina a politica desse pais, mas está trilhando o mesmo caminho dos “progressistas”.
O micto foi a pior coisa que poderia ter acontecido para a direita (e consequentemente para o pais), pois para os “conservadores” aqui no Brasil votam no personagem em detrimento nos conceitos do conservadorismo. Com isso colocaram uma figura totalmente despreparada para governar e como resultado de sua ineficiência politica, o sistema e as castas que governam de fato esse pais reagiram com tamanha força que dificilmente a direita irá “governar” esse pais nos próximos anos.
Aos “progressistas” tinha o outro candidato da esquerda, mas devido ao populismo do atual presidente (esqueceram que a atual crise foi causada pelas suas “gestões” anteriores, isso sem contar dos vários escândalos) preferem continuar votando nos mesmos e manter os status quo atual.
Devido a tudo isso não vejo muita mudança de organizar esse pais visando uma politica a longo prazo para esse pais.
AVISO DOS EDITORES: O DEBATE ESTÁ COMEÇANDO A DESVIAR PARA O PROSELITISMO POLÍTICO. LEIAM AS REGRAS DO BLOG:
https://www.forte.jor.br/home/regras-de-conduta-para-comentarios/
Os “conservadores” que vocês toleram sāo os da turminha do Novo e do MBL, né?
Esses ai nāo saberiam o que é o conservadorismo nem se caísse na cabeça deles.
AVISO DOS EDITORES: O DEBATE ESTÁ COMEÇANDO A DESVIAR PARA O PROSELITISMO POLÍTICO. LEIAM AS REGRAS DO BLOG:
https://www.forte.jor.br/home/regras-de-conduta-para-comentarios/
O BRICS é composto por 3 nações de verdade: China, Índia, Rússia.
Uma nação que tem como papel ser o grandão bobo que devido ao tamanho segue atras dos lideres carregando a bagagem.
E logo na sequencia nações não tão grandes como o Brasil mas muito mais espertas que não carregam a bagagem (Irã, Arábia Saudita, emirados) e que vendem caro sua utilidade para as três nações de verdade que são China, Índia e Rússia.
Por fim, o cenário né?
É necessário volume para ter como massa de manobra, ai entram os países africanos e demais latinos que venham a entrar no grupo.
Mas também vale dizer que o BRICS pode até ser temido pelo peso geopolitico pois isso conta muito para se contrapor as decisões ocidentais.
Mas do ponto de vista militar jamais irá representar algo pois os 3 grandes tem pontos irreconciliáveis entre si devido a natureza da geopolitica mesmo.
A Russia esta no colo da China graças ao ocidente, e o que ela fará (já esta fazendo, é só ver o alcance que a China ganhou do nada no oriente médio) e lutar pela sua soberania e entregar o assento de nação alfa conquistado na guerra Fria para a China como o Reino Unido fez para os EUA depois da segunda guerra…
Msm assim a Rússia é uma potência Militar nuclear e aeroespacia, o Brasil de nada é nada.
Sim a Rússia é uma grande potência que não se pode e não se deve ignorar.
O Brasil no cenário geopolítico no meu ver é menos que nada, pois nada são nações que não tenham envergadura para representar alguma diferença, o Brasil tem mas sua sociedade é incapaz de criar um estado então somos reduzidos a figuras de governos que mudam de quatro em quatro anos mas como não tem visão de estado nosso hiato tecnológico se expande a cada segundo que passa…
Desde 1820 falta uma grande estratégia para o Brasil. As únicas exceções foram durante o governo Vargas e do Geisel.
O país tem (e sempre teve) como único objetivo, exportar commodities e importar manufatura e tecnologia.
E tem gente – muita gente mesmo – que acha que é esse o caminho certo que que temos que comprar tecnologia e manufatura de fora, porque aqui não tem competência pra fazer.
Salvo algumas ilhas de tecnologia, o Brasil tem um histórico de oportunidades desperdiçadas.
Acho o Lula até que um bom lider, porém é o povo do Brasil que não tem ambição , ai fica difícil um governo investir forte em um setor como o bélico enquanto o povo não entende a necessidade desse investimento.
O Lula, na minha opinião, é um dos maiores culpados da situação econômica e social degradada que o país se encontra.
Quando ele assumiu o país em 2002, poderia ter feito um investimento pesado em educação, reformando o currículo escolar e criando bases para uma sociedade melhor.
Não o fez!
Quando o Brasil começou a ter um crescimento expressivo do PIB (entre 2003 e 2011) ficou bem evidente a falta de mão de obra qualificada pra absolutamente tudo. Não tinha gente com competência pra trabalhar no crescimento do país.
Aí veio aqueles remendos do tipo PRONATEC e outras p0rcarias.
Agora, passado mais de 20 anos, vem essa turma de novo pra fazer o quê? Ficaram 14 anos no poder e não fizeram. Duvido que façam agora.
AVISO DOS EDITORES: O DEBATE ESTÁ COMEÇANDO A DESVIAR PARA O PROSELITISMO POLÍTICO. LEIAM AS REGRAS DO BLOG:
https://www.forte.jor.br/home/regras-de-conduta-para-comentarios/
“bom lider”, hábil politico ele até pode ser, mas passa longe de ser um exemplo de liderança, alias faz tempo que não vemos um exemplo de liderança aqui nesse pais.
Foi bom líder por no máximo uns 3 anos lá no início de seu primeiro mandato, naquela época Lula ainda representava a esquerda raiz embora já em processo de destruição.
A esquerda hoje é tudo menos raíz, já era.
AVISO DOS EDITORES: O DEBATE ESTÁ COMEÇANDO A DESVIAR PARA O PROSELITISMO POLÍTICO. LEIAM AS REGRAS DO BLOG:
https://www.forte.jor.br/home/regras-de-conduta-para-comentarios/
Nāo em processo de destruiçāo, a esquerda é a própria destruiçāo.
AVISO DOS EDITORES: O DEBATE ESTÁ COMEÇANDO A DESVIAR PARA O PROSELITISMO POLÍTICO. LEIAM AS REGRAS DO BLOG:
https://www.forte.jor.br/home/regras-de-conduta-para-comentarios/
Você tem razão quando diz que, para muitos, especialmente na política, o Brasil se limita a ser uma exportadora de commodities. E isso explica em grande parte a questão do BRICS e da pauta de exportações do Brasil.
Em termos econômicos, a questão dos BRCS deveria ser discutida junto com a pauta de exportações brasileiras. Que tipo de país queremos? Um que se limita a ser exportadora de matérias primas? Se a resposta for positiva, é abraçar o BRICS sem olhar para trás. Agora, se a nossa intenção, como país, é aumentar a participação da indústria nas nossas exportações e, como um todo, no nosso país, a conversa é outra.
Isso porque a grande verdade é que se a indústria brasileira dependesse dos BRICS ela estaria morta e enterrada – e isso inclui a nossa querida Embraer. A nossa pauta de exportação para os países dos BRICS é só commodities com pouquíssimo espaço para a indústria. É impossível a indústria brasileira competir com a chinesa e não há quase nada que o Brasil produza que a China não produza mais barato.
Os países para os quais exportamos produtos industrializados não estão nos BRICS (salvo, talvez a Argentina, a depender do que ocorrer lá). Se a nossa intenção é recuperar espaço no campo industrial, é preciso recalcular a rota.
Boa explanação.
Permita um complemento.
Segundo a Abracomex, os países para os quais mais exportamos produtos industrializados, além da mencionada Argentina (veículos de cargas, automóveis e peças para veículos) são os seguintes:
México (automóveis, semimanufaturados de ferro ou aço e motores de veículos)
Estados Unidos (aviões, semimanufaturados de aço ou ferro)
Chile (automóveis).
Como veículos e peças ainda aparecem bastante na pauta, vale lembrar que em décadas passadas os Estados Unidos eram nosso maior parceiro comercial, sendo hoje o segundo, e importavam anualmente centenas de milhares de motores fabricados no Brasil (da subsidiária da Ford, produzidos em Taubaté, e da GM, fabricados em São José dos Campos), e a Itália também importava motores produzidos pela fábrica da Fiat em Betim.
Já a China, hoje nosso maior parceiro comercial, importa basicamente soja, carnes, minério de ferro e petróleo bruto.
É uma pena que a discussão sobre a pauta de exportações brasileira esteja interditada por questões ideológicas. O mundo está passando por um momento peculiar com alterações sensíveis nas cadeias de produção. A indústria brasileira poderia se aproveitar do momento. A minha impressão, porém, é a de que vamos uma vez mais perder o bonde.
Olá Jacinto, muito boas as suas contribuições.
Com relação as exportações baseadas apenas em commodities, o Brasil já levou várias vezes na cabeça com as crises da cana de açúcar, borracha, café, etc. e não se aprendeu absolutamente nada com isso até hoje.
O questão é que as elites que comandam esse país, estão confortáveis com o andar da carruagem, e não vão mover uma palha para que isso mude. Muito pelo contrário, vão mover montanhas para que tudo continue exatamente como está.
Sulamericano,
As “elites que comandam esse país” já moveram muito mais do que palhas, em diversos momentos da história, para mudar a situação de exportador de commodities, quase sempre visando a manutenção e o aumento do seu próprio poder. Nada disso é estático.
Se o Brasil chegou a ser em décadas passadas exportador de produtos industriais, e ainda mantém parte (muito menor, contudo) dessa capacidade, como mostrei em comentário mais acima, isso só foi possível porque as elites dirigentes tomaram esse caminho e se beneficiaram disso, como é absolutamente esperado que ocorra.
Infelizmente, o que ocorre há décadas é uma desindustrialização prematura por graves erros de avaliação e de decisões dessas mesmas elites, em meio a grandes desafios políticos e econômicos desde pelo menos a virada do século (com raízes na década anterior). Quando mais precisou de elites pensantes, menos capacitadas elas se mostraram nos últimos tempos, infelizmente. Não que os acertos tenham sido poucos, mas era preciso muito mais.
Enfim, o que escrevi agora foi para contrapor a noção simplista de que até mesmo as famigeradas elites se movem para mudar as coisas, como aconteceu várias vezes no passado. A história econômica e industrial do Brasil é bastante complexa, não admite simplificações exageradas, é preciso analisar as atitudes dos grupos de pressão de várias classes e categorias.
A indústria não depende do BRICS, se falar de dependencia, então diga que o agronegócio depende do BRICS ou melhor da China. A indústria depende de investimento e pesquisa, nossa, depende como no setor da indústria bélica que as Forças armmadas seja um indutor de produção e pesquisa, na pratica, se resume a alguns casos de sucesso como parceria no setor aeronautico privado e FAB.
Quando não se culpa os EUA, agora se culpa o BRICS, pela ausencia de politica estratégica de longo prazo. Que claramente tivemos no governo GV e
Gen. Geisel.
Eu não escrevi que a indústria depende dos BRICS, na verdade o que eu escrevi é o exato oposto: que a nossa a indústria não exporta para os BRICS.
Mais da metade da população do mundo.
Falo a mesma coisa tem muito tempo. É algo óbvio que pouca gente enxerga.
A politica externa brasileira e patética. Nada pragmática e totalmente voltada para interesses ideológicos, totalmente amadora (com o ultimo governo incluso). Não temos nenhum projeto de estado, nenhum planejamento a longo prazo (na verdade o único planejamento e manter o status quo da classe politica desse pais).
Importante esclarecer que o Status Quo não é mantido pela classe politica.
Ela na verdade é a mais exposta, mas o guardião desse sistema é outro poder… rs
Sim concordo leonidas, faz sentido.
O Brasil tem que continuar neutro como sempre foi. Um pé em cada canoa. Em cima do muro. Se um dia for ” obrigado” a decidir um lado aí lá na frente veremos. Agora com relação às forças armadas o Brasil deveria ter a quantidade de caças e navios da Itália que tem um orçamento de defesa e um PIB PPC menor que o Brasil. Aí sim o Brasil deveria fazer um planejamento a longo prazo para tentar igualar a Itália em equipamentos.
Indiferente