A importância dos sistemas C4ISR na Guerra da Ucrânia
Rodolfo Queiroz Laterza [1]
Ricardo Cabral [2]
I – Introdução
Em um conflito militar de alta intensidade como a guerra da Ucrânia, a troca segura de informações táticas tem papel fundamental para o sucesso da missão de um grupamento específico de combate.
Mais especificamente, verificamos que existe uma integração de vários sistemas que promovem a fusão de dados, a análise de inteligência e a transferência de informações entre as várias unidades envolvidas em um ou mais teatros operacionais pode desequilibrar favorável ou desfavoravelmente a estratégia geral, o planejamento, a execução e o resultado de uma ou mais operações militares.
Aliás, é neste mesmo âmbito que encontramos um conjunto de instrumentos, aplicações, serviços e funções sintetizados no acrônimo C4ISR, que é a sigla para “Command, Control, Communications, Computers, Intelligence, Surveillance, and Reconnaissance” (Comando, Controle, Comunicações, Computadores, Inteligência, Vigilância e Reconhecimento).
O C4ISR tem a ver com o conceito de “Superioridade da Informação”, correspondendo a um sistema multiplicador de forças, um elemento-chave que fornece inteligência e sistemas de armas para a aquisição uma posição vantajosa no teatro de operações. O C4ISR bem utilizado pelo comando das operações contribui decisivamente para o sucesso no campo de batalha, especialmente no âmbito de um conflito complexo com vários sistemas (armamento, logística, pessoal, instrução, etc.) de diferentes origens atuando de forma simultânea, como o que está ocorrendo na Ucrânia.
Esse processo de coleta de informações possibilita a aquisição da “Consciência Situacional Compartilhada”, que é quando todas as informações de combate sobre uma determinada força beligerante são disponibilizadas para as forças amigas em um determinado teatro de operações. Um ponto importante a ser ressaltado é atualização da situação em tempo real, permitindo que o comando do Teatro de Operações (TO) e o alto-comando lancem os meios disponíveis para atuar contra o inimigo.
Em outras palavras, os recursos humanos e tecnológicos disponíveis das Forças Armadas de um Estado-Nação têm a função de coletar dados relevantes, processar, analisar e distribuir inteligência ao escalão superior. A inteligência é distribuída para cada nível operacional em um determinado Teatro de Operações para a decisão do comandante no emprego dos meios humanos e materiais à sua disposição. É a transparência incrementada do campo de batalha, ou seja, as informações são distribuídas para um uso eficaz dos meios de combate contra o inimigo.
Na atual conjuntura, o uso intensivo de sistemas de C4ISR permite às unidades operacionais das forças armadas que façam o melhor uso possível dessas capacidades a fim de obterem a melhor consciência situacional possível em determinada situação operacional. A consciência situacional fornece a inteligência necessária ao comandante para a tomada de decisão, visando obter a maior eficácia possível dos meios de combate disponíveis.
Neste contexto, as soluções tecnológicas ofertadas por sistemas C4ISR disponibilizadas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para a Ucrânia e os utilizados pela Rússia (com bem menos capacidades que os da OTAN) permitem ao comando do teatro de operações de cada Força, o controle e a coordenação dos recursos humanos e materiais nos diversos níveis das unidades que estejam atuando em um determinado TO. Lembrando que esse comando e controle ocorre dentro dos níveis dos escalões de combate, não havendo micro gerenciamento, ou seja, o general não vai comandar individualmente os soldados, mas o escalão imediatamente subordinado.
Este ensaio buscará analisar os aspectos técnicos e conceituais mais importantes de um sistema C4ISR e sua influência na Guerra da Ucrânia, e as lições que podemos tirar de seu emprego por outras forças armadas.
II – Aspectos conceituais de um sistema C4ISR
Uma arquitetura completa e sistêmica de C4ISR engloba sistemas integrados de gerenciamento de combate, torres móveis de controle de tráfego aéreo (ATC), sistemas de tiro de precisão eletro-óptica/infravermelho (EO/IR), radares de busca e vigilância, os quais podem estar em estações terrestres ou em UAVs e sistemas de sensoriamento remoto (satélites).
Sistemas C4ISR padrão implantados pelas Forças Armadas da Ucrânia – FAU na guerra da Ucrânia, com assistência e subvenção da OTAN, incluem:
- I) Sistemas de gerenciamento de campo de batalha para veículos militares e soldados;
- II) Sistemas de gerenciamento de informações;
III) Torres móveis de controle de tráfego aéreo para aplicações de defesa;
- IV) Rede de sensores de diversos tipos com transmissão de dados em tempo real;
- V) Sistemas de Guerra Eletrônica;
- VI) Sistemas de coleta de inteligência, vigilância, reconhecimento e aquisição de alvos (Intelligence Surveillance Target Acquisition and Reconnaissance – ISTAR);
VII) Software militar, sistemas de comunicação e de controle de armas;
VIII) Sistemas de rede de vigilância por sensores sem fio;
- IX) Sistemas de inteligência, vigilância e reconhecimento aerotransportados;
- X) UAVs, aeronaves e satélites.
Adaptabilidade, capacidade de manutenção, escalabilidade, flexibilidade e eficácia, além da capacidade de atender aos exigentes requisitos da guerra moderna, são os principais fatores considerados pelos exércitos modernos no uso de um sistema C4ISR.
Neste sentido, a digitalização das Forças Armadas é o primeiro passo para a atualização de um sistema centrado em rede, que é a integração de soluções tecnológicas estabelecidas em um sistema C4ISR de forma a compartilhar a informação obtida ao longo das diferentes fases de coleta e análise de dados aproveitando ao máximo o operational timing.
Digitalizar também significa reunir os diferentes sistemas C2 (Comando e Controle) utilizados pelas Forças Armadas e, sempre que possível, os diversos meios utilizados pela Marinha, Aeronáutica e Exército, reunindo-os em uma única rede para disponibilizar informações em tempo real.
A busca pela informação qualitativa para o diferencial da missão impulsiona a operacionalidade de um sistema integrado de inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR), comando e controle (C2) conjugado com um sistema multifuncional de informação e controle (C4I) em ação. Toda a inteligência coletada permite empregar de forma eficiente as capacidades das unidades em ação aumento sua eficácia em combate.
Os sistemas de informações táticas em rede fornecem inteligência em tempo real, possibilitando que os meios no terreno tenham uma consciência situacional tática do seu entorno imediato. O sistema permite ao comandante da fração tomar decisões sobre o emprego dos meios que se encontram a sua disposição. No estado-maior, obtém -se um planejamento de operações alicerçado em informações atualizada. O controle e a coordenação da operação no campo de batalha, feito pelo escalão superior ou pelo estado-maior, podem ser feitos em tempo real à luz das informações fornecidas pelos vários sistemas, aumentando a eficácia em combate e reduzindo perdas.
A fim de expandir e aprofundar as operações de guerra centradas na rede (Network-Centric Warfare, NCW), os equipamentos individuais móveis de informação dos combatentes e os diversos meios são baseados em sistemas de comunicações em rede. O comandante do escalão no terreno tem o controle e a coordenação da operação integrada ao escalão superior. Tais equipamentos individuais devem ser capazes de cumprir a filosofia de “soldado como um sistema”, que é central para a doutrina e implementação da guerra centrada em rede em que se baseia, grosso modo, o conceito de C4ISR.
Dentro desta lógica, os serviços de rede e os equipamentos de informação permitem que o comandante conduza as operações de combate em um teatro de operações não linear, facilitando o emprego de uma estratégia militar centrada em rede e permitindo que as operações de combate saiam dos consoles para o mundo real. O resultado são o emprego dos diversos meios de combate (artilharia, avião, drones, blindados, infantaria etc.) de forma mais precisa, aumentando a eficácia e explorando situações favoráveis rapidamente.
De fato, uma combinação de equipamentos móveis de informação em rede, arquitetura escalável e serviços de alto nível são necessários para expandir a Rede Global de Informações (GIG) diretamente para as mãos dos combatentes no campo de batalha que definem limites táticos diariamente.
O conceito moderno de “guerra centrada em rede” considera as formações de combate como uma espécie de dispositivo conectado a uma única rede. Dependendo da escolha da arquitetura de rede e seu tipo, tais dispositivos podem ser navios, aeronaves, drones, meios de destruição diversos como (Multiple Launch Rocket System) MLRS ou artilharia, controle, comunicações, inteligência e vigilância, uma unidade ou combatentes individuais, bem como uma combinação de tudo isso. Nesse caso, as capacidades das formações de combate são determinadas não tanto pelas características táticas e técnicas individuais de armas e equipamentos, mas pelas capacidades de todo o grupo de meios conectados à rede, gerando máxima interoperabilidade e exponenciando a eficácia.
A principal vantagem dessa abordagem é uma melhora significativa do ambiente operacional, pois permite que os diversos sistemas (nacionais, logísticos, armas etc.) se comuniquem. Isso gera o indiscutível benefício da interoperabilidade entre as forças operativas de uma coalizão internacional (algo muito difícil). A OTAN definiu oficialmente a interoperabilidade como “a capacidade dos Aliados de agirem em conjunto de forma coerente, eficaz e eficiente para alcançar objetivos tácticos, operacionais e estratégicos”[1].
Dentro da operacionalidade de um eficaz sistema C4ISR, estão as redes especiais (Mobile Ad Hoc Networking, MANET) ou rede ad hoc sem fio (Wireless Ad Hoc Network, WANET), que são essenciais para rapidez e eficácia relação das operações centradas em redes dinâmicas para tropas móveis, tais como se verificam com DRGs (destacamentos móveis ligeiros) ucranianos que se infiltram diariamente atrás das linhas inimigas no eixo de Svatovo e também com as unidades móveis do grupo russo “Brave” em Donbass.
As redes MANET e WANET são redes de banda larga escalonáveis e adaptáveis em conformidade com protocolos operacionais padrões que fornecem um backbone tático de banda larga para operações confiáveis e distribuídas no espectro de uma rede C2 (comando e controle), C4 (comando, controle, comunicações e computação), ISR (Inteligência, Vigilância e Reconhecimento) e mesmo C4ISR de todos os tipos. Essas redes podem ser de várias formas e são baseadas em várias arquiteturas de sistema e esquemas topológicos implantados. As redes mesh sem fio, por exemplo, consistem em nós transmissores organizados em uma topologia mesh (uma topologia de rede na qual existem duas ou mais rotas para qualquer banda) que não depende de terminais fixos ou estáticos, mas pode usar equipamentos de informação, como estações de rádio de combate, formando redes especializadas. A área de cobertura das bandas de rádio operando como uma única rede às vezes é chamada de “nuvem em malha”. O acesso a essa “nuvem em malha” depende das bandas de rádio trabalhando em sincronia entre si para criar uma rede de rádio dinâmica. Redundância e confiabilidade são elementos-chave dessas redes.
Em uma rede MANET, quando uma única banda não está mais operacional, as bandas funcionais ainda podem se comunicar entre si, diretamente ou por meio de bandas intermediárias. Essas redes dinâmicas que se constroem por si também são descritas como “autocura”.
Além dos aplicativos de comando e controle desmontados, como sistemas terrestres, aéreos, marítimos e espaciais, os dispositivos de informações táticas vinculados a um sistema C4ISR desempenham um papel importante em todas as iniciativas de combate no teatro de operações. O sistema visa estabelecer a comunicação entre os vários combatentes em qualquer lugar que afete a coordenação nos diversos escalões hierárquicos no teatro de operações.
Os sistemas de suporte a aplicativos móveis de comando e controle (como o programa FBCB2) incluem sistemas C4 (Comando, Controle, Comunicações e Computadores) móveis altamente confiáveis (como o sistema TWISTER) que podem ser transformados em centros de controle móveis com comunicações de banda larga confiáveis e receber redes táticas nos teatros de operações.
Os sistemas C4 instalados em veículos usam terminais de computador portáteis, às vezes chamados de terminais “add-on”, que podem ser instalados em veículos de combate para links de comunicação de rede móvel, troca de dados, direcionamento e outras operações de informações centradas na rede. Um exemplo de um sistema de terminal portátil que foi implantado pelo Exército dos EUA no Iraque e no Afeganistão e uma interface padrão para o sistema portátil FBCB2 é o robusto sistema portátil RVS 3300 da DRS Technologies, que é totalmente compatível com o MIL-STD-810E padrão para interação ideal com o usuário final tático móvel. Ele inclui um teclado de membrana selado, uma tela sensível ao toque LCD antirreflexo de alta resolução, integração sem fio com redes táticas existentes, bem como suporte a padrões integrados para comunicação e instalação no veículo.
A era das guerras “centradas em rede” é bem diferente das guerras travadas em períodos anteriores a Era da tecnologia da Informação. No século XX, o sucesso das operações militares dependia muito das capacidades individuais e das armas no campo de batalha. A necessidade de se concentrar uma quantidade maior de meios operacionais em uma ordem de batalha era, muitas vezes (mas não em todas ocasiões) determinante para a efetividade de qualquer estratégia militar, seja na ordenação de um inventário o maior possível de carros de combate ou de sistemas de armas variados.
Isso se refletia na infinita “construção muscular” de uma força militar, ou seja, em uma corrida armamentista baseada acima de tudo na superioridade da quantidade de armas em detrimento da eficácia. Com a guerra em rede baseada em sistemas amplos de C4ISR, essa necessidade não é mais tão determinante para o êxito na guerra. O “centrismo de rede” permite que o combatente sobreviva com menos blindados ou sistemas de artilharia, que já possuem o potencial necessário desde que integrados em uma cadeia de C4ISR eficaz. Assim, para implementar eficazmente um “centrismo de rede de combate” com efetividade máxima (ou seja, para se atingir o nível necessário de capacidades de combate), os sistemas de armas disponíveis devem ser conectados a uma rede e um “hub” ( ou seja, um centro de distribuição de comando que forneça conexão para todos os usuários da rede, sem o qual a própria rede não pode funcionar ou suas capacidades serão significativamente limitadas) que se torna um multiplicador dos recursos de ferramentas individuais conectadas à rede.
Aqui, de fato, se manifesta o efeito de sinergia, quando o todo é algo mais do que a soma de suas partes.
Na aplicação à ciência militar, a sinergia é o efeito da ação conjunta dos meios de combate de forma coordenada em rede, que, segundo o resultado cumulativo, supera a soma dos efeitos da utilização dos mesmos meios separadamente, sem o qual a própria rede não pode funcionar ou suas capacidades serão significativamente limitadas.
III – Desafios às forças russas para implementação de um sistema C4ISR no TO da Ucrânia
Quando a informação não gera um comando funcional, então as decisões não funcionam, influenciando negativamente na eficácia de combate. Portanto, a informação é o catalisador mais poderoso para a abordagem de um “sistema de sistemas” (ou sistema global) de uma guerra, pois sustenta as operações de combate centradas na rede, as quais são fundamentais para a implementação bem-sucedida de iniciativas transformadoras de uma operação defensiva ou ofensiva, incluindo o Ambiente Operacional Comum de Sistema de Sistemas centrado na rede (System-Of-Systems Common Operating Environment, SOSCOE).
Como a função de comando, controle e comunicação (C3) e a automação de combate (o controle remoto de UAVs e dos vários sistemas de artilharia) dependem do fluxo livre e oportuno de informações para usuários finais em todos os escalões, a dinâmica de transmissão de informações dos centros de comando de operações táticas (TOC) para as forças móveis é fundamental para o sucesso das operações. As dificuldades podem surgir onde há lacunas na cobertura de rede ou perda de conectividade, criando zonas mortas que reduzem a eficácia, velocidade e confiabilidade da cobertura de rede.
Esta situação tem ocorrido com bastante frequência, de acordo com relatos de fontes especializadas, normalmente entre o centro de comando central do Ministério da Defesa russo e as forças russas dispersas e mais avançadas no teatro de operações. Esta ocorrência gera problemas de interoperabilidade entre comandantes de campo e as unidades avançadas de combate. A perda de Krasny Liman e a ofensiva ucraniana em Izium a partir do eixo de Balakleya expuseram lentidão na transmissão da informação de campo e do processo decisório de comando, gerando problemas operacionais na retirada, como perdas de equipamentos e lentidão de chegada de reforços.
A utilização ampla de sistemas inteligência eletrônica (electronic intelligence, ELINT) por parte das FAU, com suporte massivo da OTAN, gerou uma disrupção nas redes móveis de comunicação das forças russas naquela ofensiva ucraniana, com consequências táticas negativas para as formações defensivas já extremamente limitadas em efetivo naquela frente de batalha.
Um novo termo intitulado “Operações de Vários Domínios” (Multi-Domain Operations, MDO) surgiu recentemente para descrever como as batalhas serão travadas no futuro. Como as forças militares operam em cinco dimensões (ar, terra, mar, espaço e ciberespaço), as operações militares realizadas nessas cinco dimensões ocorrem, simultaneamente coordenadas de um centro de comando que reúne as capacidades de operar em todos as dimensões como só fosse um único campo de batalha.
A rápida troca de dados de informações, em tempo real, entre as várias estruturas de comando e unidades de combate que operam no sistema MDO através de um sistema C4ISR é fundamental para o desempenho das unidades operativas. O sistema C4ISR é o componente mais relevante e estratégico de toda a estrutura de comando de uma força. Isso pode ser garantido escolhendo a arquitetura de troca de dados ideal. Neste escopo, é necessário criar uma estrutura flexível de interação e gestão operacional, pois as operações serão realizadas em um ambiente dinâmico e com recursos limitados.
Sob esse conceito inovador, são comuns, como tem ocorrido no conflito militar da Ucrânia, sistemas de reconhecimento, busca e controle de tiro empregados para identificar e rastrear possíveis alvos no campo de batalha. Devido à capacidade do MOD, todos os meios de ataque estão disponíveis e podem ser empregados de forma eficiente explorando o máximo das suas capacidades operativas na destruição de alvos, de forma precisa e com economia de recursos. Os sistemas de vigilância e reconhecimento são integrados em uma única rede, o que permite ao centro de operações/estado-maior receber informações de vários sensores, plataformas tripuladas e não tripuladas, unidades terrestres, marítimas, aéreas e satélites no espaço que estejam operando dentro de um teatro de operações.
A força-tarefa de um MDO, como se verifica na sinergia entre as FAU e a OTAN, neste conflito militar com a Federação Russa, permanece sob um comando-combatente unificado de um de grande teatro de operações, como ocorre, por exemplo com o Comando Europeu dos EUA (United States European Command, EUCOM) na Europa e África (United States Africa Command, USAFRICOM). No caso dos Estados Unidos, este grande comando controla todas as forças (Marinha, Fuzileiros Navais, Exército, Força Aérea e Força Espacial) já desdobradas e todas as bases militares desse determinado teatro de operações. No caso de emprego dessa estrutura, é comum o Comando Combatente regional ou o Chefe da Junta de Estado-Maior designar um comandante da operação.
No entanto, ao descer pelos níveis de corpo de exército-divisão-brigada, parte da capacidade da força-tarefa MDO disponível no teatro de operações pode ser alocada para apoiar certas fases das operações. Segundo o modelo norte-americano e da OTAN (em parte, já que as capacidades são compartilhas entre as diversas forças nacionais), as grandes unidades (escalão de divisão para cima) têm suas próprias unidades originais de apoio ao combate e de logística, os quais possuem capacidades técnicas de guerra eletrônica e seus próprios sistemas C4ISR. Além disso, as capacidades de defesa cibernética podem ser agregadas ao comando de um determinado teatro de operações ou alocados para um determinada operação envolvendo unidades diversas (infantaria, blindados, aeromovel, paraquedistas, artilharia, engenharia, forças especiais etc.), bem como elementos de guerra eletrônica podem operar em apoio direto sem estarem subordinados. O quartel-general do teatro de operações, na estrutura de uma brigada ou de um regimento, tem acesso a todas as informações obtidas.
Quando o acesso à rede móvel é negado (pela ação do inimigo ou por problemas técnicos, por exemplo) às tropas em ação, para continuar suas missões de combate muitas vezes recorrem à banda estreita de comunicação. Este artifício pode privar os combatentes a operar sem informações em tempo real e às cegas. Nesse tipo de situação de combate (algo bem comum diga-se de passagem) conceitos operacionais, como a superioridade de informação, perdem valor neste contexto adverso, a menos que a força adversária padeça das mesmas restrições de uso e tenha consciência situacional qualitativa inferior.
IV – Considerações finais
Ao longo deste ensaio, buscamos apresentar o conceito de combate “centrado em rede” que surgiram como resultado da evolução das arquiteturas de rede militar, as quais preveem a implantação obrigatória de uma série de três redes C4ISR que proporcionam vantagens estratégicas em proveito do nível tático-operacional a partir da consciência situacional qualitativa privilegiada.
Os sistemas de combate “centrados em rede” baseado em C4ISR e o MDO atualmente são ferramentas empregadas para maximizar as capacidades de combate de uma determinada força armada. No entanto, não pode ser visto como uma panaceia para resolver todos os problemas de uma força militar, notadamente em relação a fatores como liderança, moral, treinamento, meios operacionais, bem como iniciativa estratégica e operacional da força.
A interconectividade proporcionada por um sistema C4ISR confirma o fato de que a informação é o fator capacitador dos mais importante para o princípio do sistema global. Este sistema inclui a criação de uma rede em um espaço de combate, redes personalizáveis e escaláveis que incluem identificação de tecnologia amigo-inimigo, possibilitando a conexão de um combatente a outros e até mesmo de outras unidades. Este fator atua para dar suporte aos vários sistemas de combate, que podem ir de blindados a drones e até mesmo acesso a imagens de satélites, se a missão exigir.
No entanto, mesmo que a superioridade da informação seja a chave para uma estratégia predominante, a informação não tem valor sem equipamento adequado de processamento de dados ou quando não há priorização na distribuição para usuários finais. Portanto, são inúmeras as iniciativas de desenvolvimento de equipamentos que potencializem as capacidades operativas no terreno.
Por isso entendemos ser relevante uma abordagem integrada para resolver o problema da aplicação de um sistema C4ISR que permita um MDO no teatro de operações da guerra da Ucrânia. As FAU, com o apoio da OTAN, tem sido bem sucedidas, enquanto que as forças militares russas mostram deficiências na obtenção de uma consciência situacional do campo de batalha. Essa situação desfavorável às forças russas é agravada pelas capacidades de guerra eletrônica e negação do uso do ciberespaço da OTAN que operam em favor dos ucranianos.
No que se refere às formações de combate russas, em nosso entendimento, não haverá modificação qualitativa e aumento da eficácia das forças combinadas sem a criação de sistemas de controle automatizados unificados em todas as formações de combate; desenvolvimento de meios técnicos modernos de reconhecimento e sensoriamento remoto; e, finalmente, a adoção de um número suficiente de equipamentos de guerra eletrônica que neutralizem as ameaças do uso de drones e de sistemas de artilharia integrados em uma rede C4ISR das mais modernas e eficazes já vistas.
À medida que as tecnologias de TI envolvam o campo de batalha e o modelo para operações centradas em rede, as aplicações para elas continuarão a evoluir, notadamente a partir das lições extraídas do conflito militar em curso na Ucrânia. No século XXI a informação continuará a servir como um agente crítico para uma guerra bem-sucedida, por ser o componente-chave para a obtenção de uma consciência situacional e das capacidades MDO.
Mesmo um exame superficial das dotações orçamentárias do Pentágono e da China mostram alocações de recursos humanos e orçamentários cada vez maiores para a guerra centrada em rede. Tal fato confirma que as forças armadas se tornarão cada vez mais baseadas em informações e serão equipadas com vários sistemas robóticos (terrestres, aéreos, marítimo e espaciais) até o final da segunda década do século XXI.
Melhorias e atualizações continuarão, mas os principais componentes de qualquer rede militar robusta, como conectividade e largura de banda, confiabilidade da informação, escalabilidade e flexibilidade, permanecerão elementos bem conhecidos incorporados em sistemas futuros e existentes.
Nesse sentido, é aconselhável para todas as forças armadas que acompanham o conflito intensificarem o trabalho na criação de órgãos de comando e controle verdadeiramente unificados, no desenvolvimento de algoritmos modernos para seu trabalho na resolução de várias missões de combate, e, finalmente, na formação de uma lista de meios operacionais para as vincular à rede, entendendo por que e, mais importante, para que serve cada sistema.
Nesse aspecto, observamos a dependência das FAU perante a OTAN na execução e uso de uma rede em C4ISR. Acreditamos que essa dependência de fornecedores estrangeiros cria sérias vulnerabilidades e a melhor estratégia seria desenvolver soluções tecnológicas próprias e que desenvolvam uma sólida base industrial voltada para a defesa.
Fontes consultadas:
- https://www.army-technology.com/buyers-guide/command-and-control-systems/
- https://www.army-technology.com/comment/limitations-russian-ew-capabilities/
- https://www.960cyber.afrc.af.mil/News/Article-Display/Article/2809471/building-situational-awareness-in-joint-and-combined-operations-the-challenge-o/
- https://www.c4isrnet.com
- www.monch.com
- www.disa.mil
- www.northropgrumman.com
- www.military.com
- www.jtnc.mil
- www.defensenews.com
[1]Delegado de Polícia, Mestre em Segurança Pública, historiador, pesquisador em geopolítica e conflitos militares
[2]Mestre e Doutor em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada (PPGHC) da UFRJ, professor-colaborador e do Programa de Pós-Graduação em História Militar Brasileira (PPGHMB – lato sensu), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO e Editor-chefe do site História Militar em Debate e da Revista Brasileira de História Militar. Website: https://historiamilitaremdebate.com.br
[3]Glossário de Termos e Definições da OTAN, edição 2013, Agência de Normalização da OTAN
Alguém ai sabe se o soldado comum tem rádio individual criptografado pelo menos?
Sei do projeto Cobra mas ainda é só projeto.
O que que o pessoal usa no dia de hoje para comunicação? OU apenas o sargento tem radio?
Porque fica difícil pensar em C4ISR quando o nosso soldado e fuzileiro não tem o mínimo do mínimo.
1. Rádio (dotação): a doutrina não amarra quem deve ser dotado de rádio; normalmente, em tropas convencionais, vai ate o Cmt GC (ou equivalente); PE e tropas de Op Esp vai mais além, por conta das suas peculiaridades de emprego.
Importante ressaltar que, por vezes, não convém que muitos elementos (pcp quem não está em função de comando) utilize rádio: controle de emissões, limitação do espectro eletromagnético, congestionamento da rede, etc.
2. Rádio (tecnologias especiais): os rádios padronizados (comprados de forma centralizada pelo EB) dispõem de tecnologias de segurança das transmissões (evitar ser “interceptado”) e das comunicações (evitar ser “compreendido”).
A FAB tem, não sei se já implementada ou não, o LinkBR.
O que o EB, os FN e a MB tem operacionais NESSE MOMENTO pra esse conceito de C4ISR?
Com todo esse treco em uso pela naziucras não vai mudar o quadro real do conflito, os Russos não vão sair da Criméia e futuro do Dombas é ser uma república como a Chechênia, o que aparentemente vem se consolidando haja vista a participação dos Chechenos no Donbas e muito especificamente em Mariupol.