Por Rodolfo Laterza*

A Guerra na Ucrânia, deflagrada a partir de operação militar promovida pela Federação Russa na data de 24/02/2022, atinge seu 124º dia sem previsão de resolução diplomática a curto prazo e em cenário de escalada progressiva, já tendo se transformado em guerra por procuração entre a Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN e a Rússia, apontada como potência agressora e invasora pela aliança militar.

Este artigo irá adentrar em análise estritamente militar do conflito sob a perspectiva operacional da força atacante, enfatizando-se as dificuldades dos teatros operacionais que são os próximos objetivos das Forças Armadas Russas – Slavyansk, Kramatorsk, Pesky, Marynka,  Avdiivka, Lisichansk e Nikolaev.

As baixas militares se tornaram crescentes na intitulada “segunda fase” do conflito (alegadamente iniciada em 05 de maio) , focalizada nas ofensivas russas em Donbass e na ocupação de novos assentamentos nas regiões de Luhansk e Donetsk, resultando em mudança da abordagem tático-operacional, mais baseada na concentração de poder de fogo e uso de sistemas de artilharia para saturação de área sobre o agrupamento de tropas adversárias com forte apoio de drones de reconhecimento e na correção de disparos, para posterior avanço gradual de unidades de infantaria empregadas para limpeza e neutralização de forças remanescentes em áreas urbanas.

Gav Don, analista militar britânico, sugeriu que as forças russas estão conduzindo neste teatro de operações uma abordagem diferente em relação à fracassada tentativa de cerco e rendição dos grandes centros políticos (Kiev e Kharkhiv, na primeira fase do conflito):  em vez de impulsionar contra a infantaria em linhas defensivas bem fortificadas construídas com grande habilidade pelas unidades de engenharia ucranianas ao longo de 8 anos, atualmente, as forças russas usam intensos bombardeios, porém a eficácia é relativa, perante tais fortificações (caso de Peski, Marynka e Vuhledar, por exemplo), pois  enquanto os soldados ucranianos estão entrincheirados, suas perdas são mínimas e a batalha torna-se de natureza posicional e de avanços e recuos mínimos. Para tirá-los de lá, cria-se uma ilusão para as Forças Armadas da Ucrânia (FAU) de que há uma lacuna no front, com parte da força de ataque do exército russo transferida para outra direção. Para reabastecer o fluxo de suprimentos, os militares ucranianos saem das trincheiras e entram em um corredor estreito e supostamente descontrolado, passando a serem atingidos pela artilharia russa e ataques aéreos majoritariamente promovidos por SU-25SM2 e KA-52.

Em áreas abertas, o raio de destruição de um projétil padrão de 122 mm é de cerca de 50 metros, o que é conveniente dentro da margem de erro da pontaria das armas pesadas (provável erro circular). Movendo-se em direção ao corredor aberto no fronte, as unidades ucranianas perdem até 10% de seu pessoal, quando considerado o nível de brigada. Em média, um ataque de artilharia ou aéreo elimina de 150 a 200 combatentes por vez. E é neste contexto tático que as forças ucranianas estão perdendo homens em um ritmo constante e colossal nesta segunda fase, conforme declarado pelo próprio Presidente Zelenski e seu conselheiro presidencial Arestovich. As perdas diárias estão estimadas entre 500-1000 diariamente, dentre mortos e feridos. Em entrevista à revista American National Defense, o general ucraniano Volodymyr Karpenko compartilhou que as Forças Armadas da Ucrânia perderam cerca de 50% das armas pesadas durante a NOM. Segundo ele, a Ucrânia perdeu 1.300 veículos de combate de infantaria, 400 tanques e 700 sistemas de artilharia.

Com tal desenvolvimento de eventos, o colapso de uma unidade atacada neste contexto situacional pode ocorrer a qualquer momento: no intervalo de vários dias a três semanas. Além disso, de acordo com a doutrina norte-americana, qualquer unidade, tendo perdido 30% de seu pessoal, torna-se incapaz de combater e perde seu espírito de luta. Tais realidades adversas têm atingido significativamente as unidades ucranianas tal como afetaram várias unidades russas no início do conflito.

Ademais, o comprometimento de recursos militares por parte da OTAN, principalmente a partir dos Estados Unidos da América, se tornou notório e declarado, com provisão não apenas de sistema de armas leves como fuzis de assalto, óculos de visão noturna ou sistemas antitanque, mas abrangendo obuses autopropulsados como o M-109 nas versões A5 e A6, MLRS como o avançado sistema HIMARS e M-270, drones kamikaze e de monitoramento, vigilância e reconhecimento (a título exemplificativo, drones  Swithblade e Phalcon), artilharia rebocada como M-777, centenas  de milhares de projetis de artilharia, dentre outros equipamentos de apoio médico e de proteção individual.

O apoio da OTAN tem sido essencial para a manutenção da operacionalidade das FAU, que tiveram perdas muito amplas de seus sistemas de armas com comprometimento de seu esforço de guerra. Embora deva-se registrar o alto nível de prontidão e profundidade estratégica do país, detentor de força com experiência em combate, treinamento sistemático a partir de assistência técnica e militar de países da OTAN, além de um grande inventário de armas, principalmente, na FAU e nos batalhões nacionalistas vinculados à Guarda Nacional.

O apoio de sistemas de reconhecimento de longo alcance e de inteligência de sinais provido pela OTAN continua sistematicamente através do emprego de voos de aeronaves como RC-135 e P-8, nas áreas fronteiriças da Polônia e Romênia, permitindo uma consciência situacional avançada por parte das Forças Armadas da Ucrânia e capacidade de antecipação de cenários.
A logística para as forças russas tem sido mais bem organizada e facilitada pela ampla utilização da infraestrutura ferroviária conectada. Para o front em Kherson e sul de Donetsk, o suprimento vem a partir de trens da Crimeia; na área de Luhansk, o reabastecimento chega de Rostov, ao passo que no eixo Norte o reabastecimento é feito de Kursk. Para a Ucrânia, a questão logística tem sido uma superação, já que cerca de 25% de sua infraestrutura ferroviária encontra-se seriamente danificada por bombardeios maciços russos.

Entretanto, ataques russos diários e sistemáticos de longo alcance promovidos pela aviação de longo alcance e navios de superfície da Frota do Mar Negro têm causado grande escala de destruição do inventário militar ucraniano, afetando o potencial de uso dos sistemas de armas fornecidos pelos países da OTAN e afetando a cadeia de comando e controle, tal como ocorrido em 19 de junho, após um ataque de mísseis marítimos de alta precisão de longo alcance “Kalibr” no posto de comando das tropas ucranianas na região de Dnipropetrovsk, em que estimados 50 comandantes-chave das Forças Armadas da Ucrânia em Donbass foram mortos.

  1. O FRONT UCRANIANO: CONTEXTO ATUAL DAS PRINCIPAIS BATALHAS EM CURSO

Na data de 25/06 foram concluídos os combates na região do grande centro industrial de Severodonetsk, com retirada dos militares ucranianos ali entrincheirados e evacuação dos civis retidos na planta industrial Azot. Após 3 longos meses, as forças russas e a milícia popular de Luhansk conseguiram ocupar toda cidade e assentamentos circunvizinhos.

Registra-se que na Batalha de Severodonetsk, tentativas de contra-ataques ucranianos nas últimas semanas geraram perdas de unidades experientes e bem treinadas, situação agravada pela manutenção de uma única rota de reforço, propositalmente aberta, durante os confrontos. De acordo com a inteligência do MI6 obtida pelo Estado-Maior da Ucrânia (e quase imediatamente vazada para fontes abertas), os militares russos deliberadamente não fecharam o cerco na direção de Severodonetsk, para que as Forças Armadas da Ucrânia preenchessem gradualmente e se vissem cercadas e com perda substancial de seu pessoal.  Intitulado “Loop Severodonetsk” pela inteligência britânica, seu objetivo tático foi esgotar gradualmente as unidades ucranianas para alcançar a superioridade estratégica – foi assim que o MI6 avaliou a situação. A inteligência britânica teria alertado o Estado-Maior ucraniano de que os russos estavam usando o “loop da anaconda de Severodonetsk”. Ironicamente, a estratégia Anaconda Loop (ou longo/grande envolvimento) foi originalmente proposto por Halford Mackinder e depois por Zbigniew Brzezinski para conter politicamente e dominar, geopoliticamente, a Rússia, no final dos anos 1970.

A mesma tática ocorrera nas batalhas do caldeirão de Zolote – Gorskoye, em que várias unidades da 24ª brigada, estimada em três mil combatentes, foi progressivamente cercada, conforme ocorria a chegada de reforços pela única rota disponível antes do fechamento do cerco.

Ao sul de Lysichansk, os ucranianos pararam a resistência em Zolote e Gorsky, e esses assentamentos estão ainda sendo consolidados. Mais de 800 combatentes das Forças Armadas da Ucrânia que se encontravam cercados depuseram suas armas. Anteriormente, foi relatado que os remanescentes da 24ª Brigada Motorizada, a 57ª Brigada Motorizada e a 10ª Brigada de Guardas Especiais das Forças Armadas da Ucrânia mantinham a defesa em Gorsky e Zolote.

Neste contexto, está a próxima batalha da última grande resistência ucraniana na região de Luhansk: a tomada de Zolote permitirá às unidades russas e separatistas incursionarem Lisichansk pela retarguada. Se entrarem pela retaguarda, privando de sua vantagem em relação a Severodonetsk, que se baseia na altura dominante, em relação àquela cidade, permitindo vantagem posicional para ataques de artilharia e criação de fortificação frontal muito difícil de romper. A margem direita é mais íngreme que a esquerda, portanto a incursão pelo oeste de Lisichansk, diminuirá o tempo e perdas de material e soldados. Os avanços russos situam-se na fábrica de vidro e nas imediações da refinaria de Lisichansk, o que, entretanto, limita o emprego de apoio aéreo cerrado. Não é improvável que ocorra cenário similar ao que ocorrera em Severodonetsk, na planta industrial química de Azot, com unidades ucranianas entrincheiradas no interior da refinaria juntamente com civis como forma de se ganhar tempo para reorganização e reagrupamento das unidades ucranianas.

Além disso, foi relatado que os combates estão em andamento na zona industrial de Lisichansk, que é defendida por unidades da 24ª Brigada Motorizada, da 80ª Brigada de Operações Especiais e da 110ª Brigada Terodefense. Nos arredores de Bakhmut, tropas russas invadem as defesas inimigas na área do assentamento de Pokrovskoye.

Lisichansk é abastecida por duas estradas principais: uma estrada vai diretamente para a cidade de Artemovsk, mas recentemente foi cortada por unidades russas; a outra vem na direção de Seversk, tornou-se a estrada principal. Assim, as forças russas terão que cortar a estrada para Seversk, inviabilizar as principais comunicações e finalmente consolidar o cerco operacional do grupo de tropas ucranianas ali entrincheiradas, estimadas em cerca de cinco mil militares. Depois que o agrupamento de tropas estiver cercado, neste caso será possível iniciar a conquista da cidade de Lisichansk, mas para isso várias etapas serão necessárias e os combates durarão semanas.  A ocupação da refinaria de petróleo de Lisichansk, localizada fora da cidade, permitirá aproximação das forças russas por essa direção. Provavelmente ocorrerão pequenas batalhas difíceis em alguns territórios circunvizinhos para completar o cerco.

A mesma tática de cerco, com formação de caldeirões e avanços graduais em ‘pinças” , provavelmente, será adotada pelas forças russas para superar as fortificações ucranianas avançadas em Avdiivka, Marynka e Peski. As tentativas de tomadas das milícias separatistas tornaram um fracasso operacional devido ao assaltos frontais, o que gerou significativas perdas e esgotamento.  A mesma situação ocorre no front de Vuhledar – para se tomar a cidade, somente através de cerco, caldeirão e destruição sistemática das unidades entrincheiradas, sob pena de se persistir o cenário atual, baseado em batalhas posicionais com sistemáticos e parcialmente eficazes contra-ataques ucranianos que repelem as forças russas, mantendo-se uma zona cinzenta.

No eixo Slavyansk-Izyum, existem inúmeras tentativas de transferir unidades de sabotagem e de operações especiais ucranianas para a retaguarda do exército russo. Tal estratégia tem contribuído para grande paralisia operacional no eixo da ofensiva a Slavyanski a partir de Izium, com batalhas lentas e avanços pontuais das unidades russas, que se situam a 15 km deste eixo operacional da grande fortaleza de Slavyansk.

No eixo de Kherson, as forças ucranianas tem promovido ataques que geram desgastes para ambas partes em conflito. A direção é de importância estratégica, esta é a principal cabeça-de- ponte na margem direita do Dnieper, a partir da qual é possível realizar uma ofensiva tanto na área de Nikolaev e Odessa, o que permitiria a realização de novas ofensivas para formação de buffer-zones no norte, formando um cinturão de segurança para tais cidades, que são objetivos estratégicos declarados pela Rússia para operações futuras.  Muito provavelmente, essa será uma das direções do contra-ataque ucraniano concentrado do qual tanto se espera, cujos anúncios constantes, por fatores políticos, têm permitido às forças russas estruturarem poderosas linhas de fortificação em três níveis e com ampla rede de reconhecimento por drones e defesa área.

Oblasts da Ucrânia

A frente nos arredores de Nikolayev permaneceu estável por muito tempo apenas, provavelmente, porque as forças russas não possuem tropas significativas neste setor. Não é portanto surpreendente que o comando ucraniano nesta área ainda não desistiu da ideia de uma contra-ataque na direção de Kherson, o que provavelmente se deve a circunstâncias políticas e não militares.

O Comando das FAU acredita que Kherson, diante de uma derrota no Donbass, é um objetivo viável para uma ofensiva. No entanto, até agora, as tentativas de contra-ataques ucranianos através do rio Ingulets só levaram a pesadas perdas para as Forças Armadas da Ucrânia. A liberação de tropas russas do Donbass apenas permitirá mudar o foco da ofensiva para novas direções, de modo que a Ucrânia perde um momento favorável para uma contra-ataque, enquanto as forças russas se concentram em Donbass.

O desenvolvimento da ofensiva em várias direções a partir de Nikolaev (para Odessa e também, digamos, para Krivoy Rog) depende de quantas e quais unidades russas serão alocadas nos setores sul e sudoeste após a conquista de Donbass. Além disso, se a operação para ocupar Nikolaev levar pouco tempo (pouco provável diante dos fracassos iniciais no início de março, quando a cidade foi sitiada sem uma incursão efetiva), a guarnição de Odessa simplesmente não terá tempo para se recuperar.

A operação para captura de Odessa, provavelmente, será muito importante para os objetivos políticos-estratégicos da Rússia de se interligar a Transnístria. Esta região localizada na fronteira da Moldávia com a Ucrânia, de maioria simpatizante da Rússia e de forte sentimento separatista, possui um dos maiores arsenais da era soviética, na Europa. A conquista do oblast ucraniano de Odessa, permitiria a ligação direta até a Rússia, através da ocupação de parte (ou totalmente) de Mykolayiv, interrompendo o fluxo de suprimentos bélicos para a Ucrânia através da Romênia (atualmente essencial para o esforço de abastecimento da OTAN às Forças Armadas da Ucrânia).

No eixo de Kharkhiv, após um contra-ataque ucraniano, no final de maio, que criou uma distância perimetral de segurança de 40 km. As forças russas reforçadas e reagrupadas conseguiram conter os contra-ataques ucranianos que visavam a fronteira russa, conseguindo retomar alguns assentamentos no eixo de Rubiznhe, porém as batalhas atualmente são posicionais.

Uma questão à parte é o status dos territórios libertados, ainda não está completamente claro. Talvez só seja definido após a concretização dos objetivos militares estabelecidos pela Rússia no conflito. Ou seja, provavelmente, a conquista de Odessa, Krivoy Rog, Sumy, Kharkiv e Dnepropetrovsk.

Assim, a solução política da guerra, pode ser adiada para meados do ano que vem. A obtenção do resultado das operações militares (estimada por alguns especialistas militares russos) na faixa de dois meses (Slavyansk e o agrupamento no Donbass) a quatro (Krivoy Rog, Nikolaev, Zaporozhye e, possivelmente, Dnepropetrovsk) é por demais otimista.

  1. A COMPLEXIDADE DOS TEATROS DE OPERACIONAIS DE SLAVYANSK-KRAMATORSK E NYKOLAYEV: BATALHAS DIFÍCEIS E PROLONGADAS.

Para a ocupação total da região de Donetsk, as forças russas terão que libertar, não apenas Slavyansk e Kramatorsk, as forças russas terão que liquidar com ainda mais emprego de artilharia e ataques aéreos os agrupamentos de tropas que estão perto de Donetsk – são Avdiivka, Peski, Maryinka. E tal cenário indica batalhas ainda mais complexas e destrutivas que as recentemente ocorridas em Severodonetsk.

A frente para as batalhas de Slavyansk e Kramatorrsk é difícil, há alta densidade de prédios residenciais, assentamentos entremeados por grandes áreas de matas, rios e mudanças de altitude, o que cria dificuldades significativas para o lado atacante. E tudo isso é defendido por forças adversárias ucranianas muito grandes, estimadas em 70.000 combatentes, com uma grande quantidade de artilharia, veículos blindados de combate, defesa aérea coberta.

Assim, tendo estabelecido o controle operacional sobre Svyatogorsk, unidades regulares das Forças Armadas Russas e o 1º Corpo de Exército da Milícia Popular do LDNR começaram a se reagrupar às pressas e avançar os pelotões de fuzileiros motorizados na direção de Slavyansk. Isso foi anunciado nos primeiros dias de junho pelo serviço de imprensa da sede da defesa territorial da DPR e uma série de publicações ligadas aos separatistas. No entanto, a ofensiva esperada por muitos nessa direção, até este momento, ainda não ocorreu.

Após a travessia do Seversky Donets e a rápida expulsão das formações paramilitares ucranianas de Tatyanovka e Prishib, as unidades de infantaria, mecanizada e artilharia das forças russas e separatistas se atolaram em duelos de contra-bateria e rifles com o exército regular ucraniano no segmento tático Tatyanovka – Sidorovo (cerca de 12-15 km de Slavyansk). Esse alinhamento ainda não permite que as unidades russas façam fogo direto (usando os canhões antitanque 2A29 Rapira e mísseis antitanque Kornet-E) sobre as rodovias Slavyansk-Barvinkovo ​​​​e Kramatorsk-Dobropolye, através do qual, o suprimento de material e pessoal da área fortificada Slavyansk-Kramatorsk das Forças Armadas da Ucrânia se realiza.

No momento, apenas o controle condicional dessas rodovias foi estabelecido, o que permite impedir, parcialmente, o apoio logístico às Forças Armadas da Ucrânia, com forças russas continuamente atacando o transporte de carga ucraniano com projéteis guiados de alta precisão de 152 mm “Krasnopol-M2 / D” na designação de alvo do UAV Orlan-10 ou diretamente usando drones-kamikaze “Cube-BLAH” e “Lancet”.

Em primeiro lugar, as unidades das Forças Armadas da Ucrânia e os batalhões nacionais dispõe de uma cadeia completa com alturas dominantes, incluindo o Monte Karachun e montes que cobrem o flanco nordeste do agrupamento eslavo das Forças Armadas da Ucrânia. A implantação das posições de tiro Stugna-P e Milan-2T ATGM em Karachun no futuro próximo permitirá que os antitanques ucranianos mantenham as regiões sul, central e oeste de Slavyansk sob fogo, complicando significativamente a operação das forças russas até a cidade.

Ao mesmo tempo, a implantação de radares de contra-bateria rebocados Firefinder e radares de contra-bateria móveis AN / TPQ-48А LCMR, na mesma montanha, fornecerá, temporariamente, os cálculos de tiro para os obuses rebocados M777A2 implantados em Slavyansk e as armas autopropulsadas CAESAR com as coordenadas exatas das posições de tiro dos obuseiros russos D-30, D-20, “Msta-B” e canhões autopropulsados ​​”Msta-S” perto de Tatyanovka, realizando a preparação da artilharia antes do início do ataque a Slavyansk. Aqui novamente há uma situação de duelo em que as baterias autopropulsadas russas, implantadas em Svyatogorsk e Tatyanovka, são forçadas a travar um duelo de contra-bateria com armas autopropulsadas francesas de 155 mm CAESAR, se deslocando no denso perímetro urbano de Slavyansk. Em tais condições, apenas o uso por do radar de contra-bateria “Zoopark-2”, por parte dos russos, podem atingir as posições da artilharia ucraniana.

Não menos importantes pontos de apoio elevados que fortalecem as defesas das Forças Armadas da Ucrânia é a presença de um pequeno monte situado a um quilômetro e meio a sudeste da vila de Donetsk (próximo ao vale Seversky Donets). Com uma altura de 50 e 55 metros, respectivamente, que permitem que as Forças Armadas da Ucrânia mantenham o controle de fogo nas margens do Seversky Donets, impedindo que as unidades de engenharia do Exército Russo construam uma passagem de pontão na área de Shchurov e Raygorodok. E, portanto, chegamos à conclusão de que, sem a liquidação das posições de radares de contra-bateria, sistemas antitanque e artilharia das Forças Armadas da Ucrânia nas alturas dominantes, é extremamente difícil imaginar a conquista de Slavyansk .

E isso sem mencionar o fato de que a área fortificada Kramatorsk-Eslava hoje tem um contingente de 70.000 combatentes das FAU, batalhões nacionalistas e mercenários estrangeiros, bem como poderosas zonas industriais fortificadas. Além da presença ao longo da cidade de uma usina metalúrgica e uma usina termelétrica.

Quanto a Kramatorsk, para iniciar o ataque a esta cidadela altamente fortificada das FAU, será necessário suprimir, antecipadamente, as posições de tiro dos sistemas de artilharia e antitanque implantados na poderosa infraestrutura da zona industrial de Kramatorsk e em uma série de alturas adjacentes, incluindo o Dragon Ridge, Double Mountain, Kuschevataya Gora, Abronka e a montanha Krasnaya. Os canhões autopropulsados de 155 mm CAESAR implantados em suas encostas são capazes de disparar contra as unidades russas a 35 km de Kramatorsk (nas áreas de Svyatogorsk, Seversk e Yampol), e isso é um obstáculo muito sério para a operação ofensiva das forças russas.

O único evento taticamente significativo na direção operacional de Nikolaev (na área do “arco South-Bug”) foi o estabelecimento do controle operacional sobre o Kinburn Spit com a desativação final da infraestrutura naval da Marinha Ucraniana em Ochakovo por mísseis e ataques de artilharia e mísseis e ataques aéreos pela aviação operacional-tática das VKS e Aviação Naval, da Marinha Russa. Esta operação foi concluída com sucesso, uma semana antes, o que permitiu que as unidades das Forças de Foguetes e artilharia estabelecessem uma cortina de fogo condicional.

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Ao mesmo tempo, a saturação da área fortificada de Nikolaev com avançados canhões autopropulsados ​​​​de 155 mm franceses CAESAR, obuses americanos de 155 mm M777A2, bem como mísseis antitanque modernos e armas pequenas não apenas mantiveram o mesmo ritmo, mas também recebeu uma tendência de expansão constante. Cerca de 70 Km da linha de contato da boca do Bug do Sul até Snegurovka se caracteriza por duelos de contra-bateria, bem como batalhas com o uso de armas pequenas e mísseis antitanque, causados ​​por equipes de morteiros móveis ucranianos e baterias de artilharia, bem como as ações da DRG das Forças Armadas da Ucrânia e batalhões nacionais.

Além disso, o fornecimento contínuo de munição para as posições de obuseiros de longo alcance de 152 mm “Gyatsint-B” e canhões autopropulsados ​​de 155 mm CAESAR das FAU, em Nikolaev, oferece a possibilidade de fogo sobre as forças russas, avançando de Kherson até as fronteiras dos assentamentos de Posad-Petrovskoe, Ternovye Pody e Znamenka. Afinal, a detecção e identificação de colunas de veículos blindados russos em marcha na zona de estepe das regiões de Kherson e Nikolaev é uma tarefa muito mais simples para os operadores de UCAVs ucranianos do que descobrir a localização da artilharia das FAU na área urbana de Nikolaev para operadores russos de UCAVs “Orion” e “Orlan-10”. É lógico supor que os fatores acima impedem significativamente as ações ofensivas de unidades russas na direção de Nikolaev.

No entanto, a posição geográfica taticamente vantajosa de Nikolaev (na margem leste do Bug do Sul) sugere uma simplificação notável da operação proposta para impedir as brechas na logística da área fortificada de Nikolaev das FAU. Em particular, o bloqueio e a das FAU podem ser alcançados, em primeiro lugar, através do lançamento de poderosos ataques de mísseis pontuais nas pontes Varvarovsky e Ingulsky, o que impedirá a entrega de munição ao posições de tiro da artilharia das Forças Armadas da Ucrânia ao longo das rodovias M-14 e H-24, e também eliminar o fortalecimento e rotação de unidades mecanizadas ucranianas na área fortificada de Nikolaev.

As especificidades da formação de um “guarda-chuva” antimísseis sobre a cabeça de ponte de Kherson pelas Forças Armadas Russas, bem como o reconhecimento aéreo contínuo optoeletrônico e de radar do segmento da linha de contato Snigirevka-Arkhangelsk não exigem menos atenção dos círculos de especialistas no departamento de defesa russo. Assim, apesar da localização na profundidade operacional de 55 quilômetros (zona de retaguarda) da região de Kherson, o assentamento de Novaya Kakhovka, controlado pelo exército russo foi recentemente atingido por artilharia de foguetes de longo alcance das Forças Armadas da Ucrânia, o que causou a detonação dos arsenais de artilharia de campanha.

Aparentemente, nem toda a linha de contato nesta área é coberta pelas divisões de defesa aérea S-300PM2 e Buk-M3, o que permite que alguns mísseis ucranianos Smerch e Tochka-U, invadam a retaguarda sul. A barragem de reconhecimento de aeronaves não tripuladas russas ao longo da fronteira entre as regiões de Kherson e Nikolaev também precisa ser intensificada, o que permitirá detectar a chegada de artilharia ucraniana em posições de tiro antes mesmo do início de seu uso de combate e, em seguida, lançar ações preventivas ataques de artilharia e mísseis.

  1. CONCLUSÃO

Somente com a conclusão das batalhas em toda área de Donbass, as forças russas conseguirão liberar forças para invadir a cidade de Zaporozhye, um alvo taticamente importante. A ocupação da cidade é essencial para se cortar as rotas de comunicações de Kharkov, como ferrovias e estradas que a comunicam com as áreas ocidentais do país e de onde provém os recursos da OTAN. Neste caso, a libertação de Kharkov será mais rápida dentro da perspectiva estratégica russa.

A julgar pelas informações que chegaram nas últimas semanas sobre áreas com uma intensidade especial de hostilidades, podemos concluir que a direção do ataque principal das Forças Armadas da Federação Russa recairá sobre Kramatorsk. Provavelmente, no futuro, a ofensiva será direcionada a Dnepropetrovsk, o que permitirá ir para a retaguarda e privar os agrupamentos das forças ucranianas que compõem as formações fortemente entrincheiradas perto de Donetsk e na frente de Ugledar a Vasilyevka (margem do Rio Dnieper) de suprimentos. No entanto, há outras possíveis direções de ataque.

Batalhas prolongadas, custosas e complexas ocorrerão, com a Rússia devendo empregar suas reservas estratégicas e possivelmente se vendo na necessidade de ampliar o número de BTG – atualmente em torno de 80 para todo o fronte e claramente limitado – para no mínimo 120 BTG, considerando o número de 600 combatentes. As Forças Armadas da Ucrânia estão atualmente com 700 mil pessoas mobilizadas, tornando ainda mais difícil qualquer desfecho militar rápido do conflito – se considerados todos os objetivos estratégicos da Rússia.


*Rodolfo Queiroz Laterza, Delegado de Polícia, historiador, pesquisador de temas ligados a conflitos armados e geopolítica, Mestre em Segurança Pública

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Hilton
Hilton
2 anos atrás

Ótima análise. Pois demonstrou isenção de não apoiar nenhum dos lado envolvidos.

Albuquerque
Albuquerque
2 anos atrás

A região que a Rússia está atacando atualmente é a principal defesa ucraniana.
É o ponto nevrálgico da guerra
Essa região que os ucanianos levaeam oito anos fortificando.
Passando por Lisichiansk, os russos chegarão a Kramatorsk e a atacarão por três lados.
Depois restará a região perto de Donetsk, (Adviika e arredores) também bastante fortificada, mas já bastante castigada.
O fato é que a tática russa de bombardeios constantes está dando ótimos resultados
Diminui muito suas perdas e aumentou exponencialmente as ucranianas.

Rayan
Rayan
Reply to  Albuquerque
2 anos atrás

Porém o excelente artigo é detalhista em examinar os sérios desafios em concluir as ofensivas em vários eixos e mesmo em Donbass. O artigo do Professor sobre as batalhas em fortificações prenunciou isso. Não vai ser um passeio. Fora os ataques diversionistas ucranianos no sul que obrigam a reposicionamento de tropas russas.

Mafix
Mafix
Reply to  Albuquerque
2 anos atrás

Essa região que os ucanianos levaeam oito anos fortificando.”
Rapaz voce esta vivendo em 1914 ?
Não existe isso de fortificação na era moderna com misseis artilharia aviação etc …

Albuquerque
Albuquerque
Reply to  Mafix
2 anos atrás

Eu também achava até ver as dezenas de vídeos de trincheiras e bunkers sendo bombardeados e as centenas de fotos de ucranianos mortos dentro delas.

Guilherme Leite
Guilherme Leite
Reply to  Albuquerque
2 anos atrás

Então colega, uma trincheira é feita em um dia por uma retroescavadeira. Se for a isso que você se refere, as fortificações existem em qualquer lugar da Ucrânia.

Antunes 1980
Antunes 1980
2 anos atrás

Se passar do ponto atual de defesa, a região mais fortificada da Ucrânia, o avanço até Kiev será mais rápido do que estamos vendo agora.

Albuquerque
Albuquerque
Reply to  Antunes 1980
2 anos atrás

E os ucanianos não estão economizando.
Na expectativa de cerco em Lisichiansk, mandaram mais 20 mil soldados para a região de Seversk.
Os russos já estão a menos de 10 kms dessa cidade.
Passando Seversk, a próxima para será Kramatorsk.

Gabriel ferraz
Gabriel ferraz
2 anos atrás

Rapaz 70 mil homens na contenção de duas cidades? Isso daria mais ou menos 20 por cento do contingente total da Ucrânia, sem contar na quantidade de equipamentos pra suprir essa gigante tropa, só tem um grande problema nisso tudo, se essa cidade foi furada e tomada ,cada vez mais a retaguarda ucraniana ficará desguarnecida tanto de tropas quanto de equipamentos. Será uma batalha muito intensa e sangrenta para os dois lados.

Patrício
Patrício
Reply to  Gabriel ferraz
2 anos atrás

Sem contar que os deslocamentos ucranianos são constantemente atacados pela aviação e artilharia russas.

Oráculo
Oráculo
2 anos atrás

Muito boa a análise. Sobre o assunto das tropas… Vi um vídeo da Batalha em Lisichiansk. Nele a tropas “russa” que estavam lutando na cidade era toda formada por árabes. Parecia até um vídeo da guerra da Síria. Por isso não creio num esgotamento das forças russas como alguns analistas ocidentais afirmam. São milhares de mercenários nas linhas russas. Os árabes, em particular, são, em sua maioria, veteranos das guerras da Síria, Iraque e Líbia. Ou seja, são “carne de pescoço”. Por isso que o avanço russo se sustenta e segue continuo. Se o plano final for mesmo dominar a… Read more »

Rayan
Rayan
Reply to  Oráculo
2 anos atrás

Poderia compartilhar o vídeo? Pesquisei sobre o emprego de mercenários sírios nas fileiras russas e não consegui. Obrigado.

Rayan
Rayan
Reply to  Oráculo
2 anos atrás

Poderia compartilhar? Obrigado

Patrício
Patrício
Reply to  Oráculo
2 anos atrás

E por falar em mercenários, os chechenos tomaram a bandeira que os brasileiros levaram para a Ucrânia.

Nilton L Junior
Nilton L Junior
Reply to  Patrício
2 anos atrás

Troféu

Patrício
Patrício
Reply to  Nilton L Junior
2 anos atrás

E foi anunciada a captura de um sujeito ucraniano com nacionalidade israelense.
Não sei se será considerado e julgado como mercenário, mas também dançou.

Nilton L Junior
Nilton L Junior
Reply to  Patrício
2 anos atrás

Pode ser que não, hoje houve troca de prisioneiro do azov por militares Russos, jah os Chechenos tem o coração piludo e a probabilidade do sujeito ir ao encontro do criador é grande.

RPiletti
RPiletti
Reply to  Patrício
2 anos atrás

Sente orgulho disto?

Augusto
Augusto
2 anos atrás

Analise magistral, e esse tipo de analise que procuro para analisar o andamento do conflito.

Seria ainda mais perfeita a analise se o autor tivesse colocado mapas mais detalhados nas regiões das principais batalhas.

Nilton L Junior
Nilton L Junior
2 anos atrás

Muito boa a análise, sobre vigilância aérea os A-100 da Rússia com certeza não estão parados.

Segue o update https://youtu.be/i1aD8z2i1M0