Para a indústria bélica, um grande conflito é como acertar na loteria

Na guerra, quase todo mundo perde, no entanto, para os fabricantes de armas um grande conflito é como acertar na loteria.

Um mês antes dos conflitos iniciarem na Ucrânia, o CEO da Raytheon Technologies, uma das grandes empresas contratadas pelo Pentágono, disse: “Estamos vendo, eu diria, uma oportunidade para aumento das vendas internacionais, as tensões na Europa Oriental e no Mar da China Meridional estão pressionando e levando ao aumento dos gastos com defesa naquelas regiões. Então, eu espero que vejamos algum benefício com isso”, Gregory Hayes, CEO da Raytheon Technologies.

Desde 24 de fevereiro, quando a Rússia iniciou sua operação militar, em princípio para proteger a Donbass, indústrias de defesa contratadas, como Raytheon, Boeing, Lockheed Martin e outras, viram suas ações dispararem.

Joe Biden enviou um bilhão de dólares em armas para Kiev em apenas uma semana e é óbvio que elas foram compradas de alguma dessas empresas, além disso, essa guerra deu às corporações de defesa americanas novos contratos de longo prazo.

No dia 15 de março, Biden assinou projeto de lei de financiamento do governo que inclui US$ 13,6 bilhões em ajuda à Ucrânia, em teoria este dinheiro financiará equipamentos militares e treinamento, juntamente com ajuda para refugiados ucranianos tanto dentro do país quanto em nações vizinhas.

Novos investimentos

Somente a Alemanha terá um aumento em gastos militares de 1 bilhão de euros, comprometendo-se, também, a aumentar seus gastos com defesa em pelo menos 2% de seu PIB, a cada ano, até 2024. Outros países estão seguindo o mesmo caminho, tais como a Romênia, Dinamarca, França, Polônia, Holanda e Itália.

Os países europeus estão planejando construir seu próprio exército. “Temos de ser capazes de reagir de forma rápida e para isto precisamos aumentar a capacidade de desdobramento (resposta) da União Europeia, como já foi acordado. Não podemos agir sozinhos.

Queremos atuar de forma mais coordenada e integrada com nossos parceiros. Atuando em complementaridade com a OTAN, que continua a ser certamente a pedra angular da Defesa territorial da Europa”, Josep Borrell, Chefe de Política Externa da UE.

Opiniões Controversas

Mas para alguns americanos essa atenção dada ao conflito na Ucrânia é uma forma de distração dos principais problemas internos do país.

“Os tambores de guerra estão batendo forte, é uma grande forma distração da crise política e social vividas atualmente nos EUA. A grande mídia tem sido usada para desviar o foco para o conflito da Ucrânia.”, Joe Kent, candidato republicano ao Congresso.

Em 21 de março, cinco ativistas do Resist and Abolish the Military Industrial Complex (RAM INC) foram presos depois de escalar uma instalação da Raytheon BBN Technologies em Cambridge Highlands, em protesto contra os comentários feitos pelo presidente-executivo Gregory Hayes em janeiro, sugerindo que sua empresa se beneficiaria de uma invasão russa da Ucrânia e crescentes tensões militares em todo o mundo, os manifestantes esperavam chamar a atenção para as vendas de armas da empresa e “recordes de violações de direitos humanos”.

“Com cada guerra e cada conflito, os lucros da Raytheon se multiplicam. Os lucros da Raytheon se multiplicam à medida que bombas caem sobre escolas, casamentos, hospitais, casas e comunidades. Vivendo, respirando, seres humanos estão sendo mortos. Vidas estão sendo destruídas, tudo para garantir lucros. A Raytheon lucra com a morte no Iêmen, Palestina e Ucrânia”, disseram membros da RAM INC em um comunicado à imprensa.

Outros interesses

Claro que existem alguns contratempos, mas o complexo industrial militar sempre encontra uma forma de usar sua influência. Um exemplo disso é o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, fundado pela Raytheon, Lockheed Martin e a General Dynamics. Onde acadêmicos recebem uma gorda verba para planejar a política externa e aconselhar políticos.

A Lockheed Martin Corp., Boeing, Raytheon Technologies Corp., Honeywell e General Electrics gastaram cerca de 60 milhões de dólares com lobby junto ao governo federal para estimular funcionários eleitos, moldar políticas e ganhar contratos lucrativos com o governo, somente em 2020, mas isso ocorre todos os anos.

É muito dinheiro, embora seja apenas uma gota no mar em comparação com os bilhões que ganham com as guerras e conflitos pelo mundo.

Pelo menos 15 legisladores que ocupam cargos poderosos em dois comitês da Câmara e do Senado que controlam a política militar dos EUA têm vínculos financeiros com fabricantes de defesa proeminentes, de acordo com uma análise do Bussines Insider de registros financeiros federais.

E ao longo de 2021, democratas e republicanos servindo nos comitês das Forças Armadas do Congresso continuaram a investir ou sacar dinheiro das mais importantes empresas do setor militar e da Indústria de defesa.

“Todos em Washington D.C sabem que os fabricantes de armas estão ajudando a distorcer a política norte americana em direção ao militarismo, mas geralmente tentam ser menos óbvios. Eles estão lucrando com as tensões sobre a Ucrânia enquanto os EUA despejam armas na região.”, disse Erik Sperling, Diretor Executivo da Just foreign policy (Organização anti-guerra).

Fica muito claro que para os congressistas americanos o dinheiro é sempre curto quando se trata do bem-estar do próprio povo, como financiar saúde pública, educação, alimentação, etc, mas para financiar a máquina de guerra sempre haverá dinheiro, de preferência se a guerra for no quintal de outro país.

FONTES: RT, Business Insider, Cambridge Day e CNBC