Ministério da Defesa (MD) anuncia a saída dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica

Roberto Bozzo

Não vamos confundir uma situação realmente lamentável, como o abuso de uma criança, com um falso messianismo que está sendo utilizado para fins políticos.
Todos sabemos que não se conversa com Jesus embaixo de goiabeira ou em nenhum outro lugar.
E tal declaração se torna ainda mais gravosa em um país onde encontramos dezenas de milhões de pessoas humildes e que tem uma fé religiosa exacerbada. e que estão entrando em desespero pela grave situação sócio-econômica em que se encontram.
Para mim, essa é a questão.

Ten Murphy

Em que pese não ser especialista em Cristianismo e seus milagres, tenho certeza quase absoluta que Jesus não apareceria para essa Senhora debaixo de uma árvore.
O que temos observado aqui no Brasil, há muitos anos, é a proliferação desse discurso que sai fácil da boca de qualquer falso profeta (inclua aí, bispos, pastores, apóstolos e até padres).
Ontem mesmo, ‘viralizou’ na internet a história de um pastor que disse que conversou com Deus e que Ele mandou que o pastor avisasse as pessoas para não saírem às ruas porque a morte estaria à solta.
Isso mesmo,. O sujeito conversa com Deus. Assim direto.
É complicado, mas não devemos explorar a boa fé dessa imensidão de pessoas desvalidas no Brasil.

O importante não é se Jesus apareceu para ela debaixo de uma árvore, mas o resultado subjetivo que ela obteve daquilo na infância e se ela está utilizando isso para política de governo na atualidade.

Sobre a possibilidade de Jesus aparecer ou não para as pessoas onde quer que seja, é considerado uma possibilidade para todos os cristãos sem exceção e algo mais ou menos provável dependendo do grupo cristão a quem perguntarmos.

O que não podemos fazer é dizer taxativamente que essa fala dela teve fins políticos através de um falso messianismo. O falso messianismo existe mas não dá para ser absolutista ao estabelecer causa e efeito na fala dela. Se o alegado fato ocorreu ou não, se foi real ou mecanismo psicológico de defesa, se ela usou a história para fins de propaganda ou não, e mais, se ela teve consciência desse uso propagandístico ou não, são muitos fatores para que se diga com certeza absoluta que ela usou dessa situação específica para destilar um falso messianismo com fins políticos.

Então, na análise de discursos políticos e sua crítica (sua, do discurso, não tua especificamente), devemos ponderar os resultados práticos de uma fala sem contudo estabelecer causa-efeito com tanta certeza.

Outrossim, ao dizer que todos sabemos que não se conversa com Jesus embaixo de goiabeira ou em nenhum outro lugar, pressupõe-se uma série de crenças que não são nem nunca foram unanimidade entre cientistas, sequer entre cristãos. Às alegações contra milagres de Hume, Troeltsch, Flew, Smart, Nowell-Smith, McKinnon, Diamond entre outros, a apologética cristã é bastante robusta. Por outro lado, mesmo os cessacionistas cristãos não são negacionistas dos milagres.

Logo, o que todos realmente deveríamos saber com certeza quase absoluta ao fazer alegações tão fortes acerca das crenças de outras pessoas é o status quaestionis daquilo que se alega. Caso contrário estaríamos na senda das possibilidades, não das probabilidades, dos “achismos”, não dos “certezeríamos”. 

Pelo ângulo político ou pelo ângulo religioso e filosófico, é possível Jesus ter falado com ela, mas com diferentes graus de probabilidade, nenhum deles podendo ser absoluto como vossa senhoria utilizou.

Ressalvas feitas, concordamos plenamente que o Brasil é prolífico em falsos profetas, discursos messiânicos, exploradores da fé alheia, de desvalidos e desavisados.

Mas não joguemos fora o bebê com a água do banho. Para os cristãos, conversar com Deus – assim direto – é possível. Fala-se com Deus através da crença no Cristo e seus ensinamentos, do amor ao próximo e da oração. Ouve-se Deus através da suposta palavra escrita popularmente conhecida como Bíblia ou através de uma interferência divina em nossa realidade, por meio de um milagre ou dom especial. Os níveis de probabilidade dessa conversa ocorrer diretamente entre a pessoa e seu Deus varia entre impossível e corriqueiro, dependendo do grupo cristão que analisar a ideia.

Em suma, não podemos fazer alegações absolutas de fatos em disputa na ciência, na filosofia e na teologia, por causa de falsos religiosos e/ou políticos com discursos messiânicos.

Tampouco podemos estabelecer causa-efeito a priori nas falas dos políticos, somente a posteriori, ou seja, se existir causa-efeito na fala da Ministra Damares Alves, será identificada apenas em suas consequências empiricamente demonstráveis, jamais em suas motivações subjetivas, motivações essas que não jamais foi possível conhecermos com grau absoluto de certeza, mesmo se ela as confessasse.

A certeza unívoca das motivações uma pessoa não é possível, apenas certeza análoga. E analogamente o resultado é contaminado por nosso próprio subjetivismo, nossas crenças, pressuposições etc., o que faz esse tipo de análise feita a priori ser praticamente impossível.

Causa-efeito a partir das consequências políticas das falas, sim, a partir das motivações intrínsecas e subjetivas das pessoas, jamais.

Espero ter contribuído no debate.

Abraços.

Desse nem ouvi falar. Por incrível que pareça o absurdo nem é a crença na arca de Noé, já que é um mito praticamente universal, contado em várias culturas, o que pode revelar uma origem comum, seja arquetípica ou em algum acontecimento real. E mesmo que não fosse, mitos são excelentes para fins didáticos, independente de sua veracidade.

O absurdo é usar essa história com fins políticos, o que não imagino como pode ser possível. Pesquisei e não encontrei. Então, se não foi utilizado como ilustração para alguma coisa, mas política de governo, é bastante preocupante.