O LMV em detalhes – parte 5
Os primeiros “Linces”
Por Guilherme Poggio
No ano de 2018 o Exército Brasileiro (EB) foi acionado para atuar na intervenção federal no estado do Rio de Janeiro. O objetivo era amenizar a grave situação da segurança interna naquele estado. O decreto restringia os efeitos da intervenção somente à área de segurança pública e foi assinado em fevereiro.
Para a execução da missão o EB empregou os meios que dispunha na época e que eram mais adequados para o momento e para o ambiente de atuação. Dentre estes meios estava a viatura de Transporte Não Especializado (VTNE) 3/4 t Agrale Marruá Cargo. Este foi um tipo de veículo largamente utilizado para o transporte de pequenas frações de militares entre um ponto e outro. Constatou-se, no entanto, a vulnerabilidade deste veículo em vários episódios de ataques contra militares.
Para contornar este problema o Exército acionou o Arsenal de Guerra do Rio (AGR) e elaborou um projeto de blindagem para a viatura Marruá Cargo. Foram então concebidos kits de blindagem com emprego de aço balístico. No entanto, essa iniciativa veio tarde e em pequena quantidade: as últimas unidades de um lote de cinco chegaram algumas semanas antes do término da intervenção, cujo mandato executivo encerrou-se no dia 31 de dezembro daquele ano. Cabe destacar que a empresa Agrale já havia desenvolvido uma versão do Marruá com blindagem, mas em função da urgência optou-se pela “solução caseira”.
Diante da urgência da situação, o Gabinete de Intervenção Federal decidiu adquirir, em caráter emergencial, veículos blindados IVECO LMV Lince versão K2 de segunda mão do Exército Italiano. Em agosto de 2018 o Boletim do Exército nº 32 divulgou que um grupo de militares do EB estava na Itália negociando a aquisição de um lote desses.
Na equipe que seguiu para a Itália estavam dois militares da DMat (Diretoria de Manutenção), responsável pelo processo de aquisição dos veículos. É interessante observar que tal aquisição envolveu uma negociação direta entre governos (italiano e brasileiro) e não havia relação nenhuma com o programa da VBMT-LR, que também definiu o LMV da IVECO como vencedor.
Aliás, o veículo escolhido no programa VBMT-LR é bem distinto destes adquiridos em caráter emergencial pelo gabinete de intervenção federal. Há diferenças externas notáveis que não se resumem à pintura somente. É possível notar a ausência da terceira dobradiça nas portas blindadas (veja detalhes sobre este assunto aqui), configuração de painel de instrumentos diferente (o VBMT-LR será customizado segundo critérios do EB e os Lince K2 vieram com a configuração do painel italiano) e ausência de tropicalização (tanto no aspecto do motor como da suspensão).
Concluídos os trâmites para a aquisição dos veículos um grupo de militares do 15º Regimento de Cavalaria Mecanizado – Escola (R C Mec (Es)) e do 1º Batalhão de Engenharia de Combate (1º BE Cmb (Es)) viajou para a Itália para realizar os cursos de operação e de manutenção do veículo no final de setembro de 2018.
Dos dezesseis LMV Lince adquiridos, quatro foram recebidos ainda em novembro de 2018, quando o Gabinete de Intervenção Federal atuava no Rio de Janeiro. Todos os veículos foram encaminhados ao 15º R C Mec (Es). Lá foram elaborados os procedimentos operacionais (em conjunto com o Centro de Adestramento Leste) para seu emprego em ações do tipo GLO (Garantia da Lei e da Ordem). O primeiro adestramento de emprego de frações utilizando o Lince ocorreu nos dias 03 e 04 de dezembro de 2018.
É curioso observar que a evolução do processo de decisão e aquisição de material, neste caso, guarda semelhanças com aquele enfrentado pelas tropas norte-americanas no Iraque e no Afeganistão. Primeiramente notou-se a inadequação do material frente ao problema. Em segundo lugar optou-se pela blindagem de veículos que já faziam parte do inventário e por fim adquiriu-se um veículo cujo projeto já nasceu para receber blindagem.
Para ler os textos anteriores clique nos links abaixo
- O LMV em detalhes – parte 1
- O LMV em detalhes – parte 2
- O LMV em detalhes – parte 3
- O LMV em detalhes – parte 4
Nos textos seguintes o “Forças Terrestres” trará mais informações sobre o projeto do LMV.
O editor Guilherme Poggio viajou a Sete Lagoas a convite da IVECO/CNH.
Belíssimo veículo, interessante notar na imagem 6 o IA2 7.62 (ao que parece).
A coronha parece ser também telescópica. É uma boa evolução, pois a falta desse recurso era uma deficiência do IA2, inclusive no 5,56mm.
Saindo mais ainda do assunto, ontem estive olhando lado a lado os carregadores 5,56mm do Imbel IA2 e do Taurus T4. A robustez (e a possível durabilidade) do Imbel frente ao Taurus é gritante. Ponto pra Imbel….
Poggio, o que será feito deste lote pioneiro?
Em princípio permanece como MEM do 15º R C Mec, conforme mencionado no texto, até segunda ordem.
Grato Poggio
O nosso LMV vai ter blindagem no capô?
A blindagem já foi assunto de uma das partes anteriores.
Rafael, sugiro a leitura da parte 2 e 3 deste texto para maiores esclarecimentos.
https://www.forte.jor.br/2019/10/08/o-lmv-em-detalhes-parte-2/
https://www.forte.jor.br/2019/10/09/o-lmv-em-detalhes-parte-3/
Comparem esta matéria (com elementos do 15 RCMec) com a anterior, sobre a instrução do 12 RCMec.
No 12 RCMec a instrução tem caráter nitidamente defensivo – bloqueio e ação retardadora. Nestas situações se escolhe a posição, livrando campo de tiro com os marruas em posição desenfiada.
No 15 RCMec, o LMV permite investir ofensivamente em uma localidade urbana, usando a viatura como anteparo.
O LMV irá permitir à Cavalaria utilizar os elementos exploradores como reforço ao GC, utilizando viaturas blindadas, o que não era possível com o Marruá.
Percebe-se que nossas forças militares perdem tempo e dinheiro adquirindo carros de passeio pintados de verde, que nunca vão ser militares, e na hora que o bicho pega é que eles querem dotá-lo de blindagem, como os Marruás. Não é por que é nacional que deve ser comprado, se for um lixo como esse marruá nem deveriam gastar dinheiro, se já tivessem partido desde o início para os LMV da Iveco, teriam economizado dinheiro do contribuinte. Infelizmente quem gasta mal acaba gastando duas vezes, é por isso que o orçamento nunca chega.
Francisco,
Não creio que o Marruá possa ser considerado lixo, ele atendeu à missão de reconhecimento tático como ainda era pensada na virada dos anos 1990-2000, e cumpre diversas outras missões como 4×4 leve padrão.
E a cronologia dos fatos, assim como os custos envolvidos, não corroboram seu comentário.
O desenvolvimento do Marruá precede o do LMV da Iveco. As maiores aquisições do Marruá foram feitas pelo EB quando as primeiras entregas de produção do LMV mal começavam a ganhar ritmo lá fora. A expansão da Iveco no Brasil para produzir veículos militares só veio depois disso, com o contrato do Guarani, no final da década de 2000. Então não havia, na virada de 1990-2000, essa opção de adquirir o LMV desde o início.
E, mesmo que houvesse, é difícil falar em economia do dinheiro do contribuinte: um LMV custa cerca de 10 vezes mais que um Marruá, e nunca vai ser adquirido na mesma quantidade. Mesmo que se consiga, no futuro, adquirir o LMV nas quantidades necessárias, o Marruá continuará sendo utilizado na retaguarda e em diversas outras funções. O que estamos falando aqui é, mais especificamente, do uso tático em ações de reconhecimento do Marruá e da substituição paulatina dele, nessas funções, pelo LMV, o que só tem planejamento, concorrência, contrato e decisões muito mais recentes do que você dá a entender em seu comentário.
É preciso ter sempre cuidado nas comparações na hora de se analisar ações do passado, ficando atento à cronologia dos fatos, às opções que realmente existiam na mesa dos tomadores de decisão em cada época, assim como aos custos em jogo. Senão a crítica vira coisa de engenheiro de obra pronta, ou de profeta do passado.
A matéria de hoje sobre o LMV (parte 6) e as que ainda virão ajudam a entender melhor essa cronologia e as opções realmente existentes em cada época.
Hoje Agrale ja tem um marrua nlindado de fábrica, e não essa gambiarra deprimente que foi feita a pouco tempo. Se o preço permite acho que ele poderia pelo menos ser adotado pela força nacional e polícias locais como a do próprio RJ, já que o lince é muito caro e adequado para situações piores, que AINDA não chegamos em território nacional.
Você vá morrer falta seu guerra rio míssil rgp aí 47
Isso feriado ou morreu
Iveco lmv blindado graças melhor
Lucas Rousseff kkkk
O EB está testando uma nova criptografia? Que idioma é esse?
você só pode ser presidiário dando opinião de dentro de uma cela.
sem mais.
Caio: penso que o Agrale Marrua blindado, com algumas melhorias, tal como proteção contra IEDs e kits removíveis de blindagem, poderia ser uma boa opção para as unidades da cavalaria mecanizada das Forças de Emprego Geral, que possuem um caráter mais defensivo do que ofensivo. Um upgrade negociado entre o EB e a Agrale poderia substituir aqueles veículos fracos que os exploradores possuem e dota- los de algo mais seguro.
Abraço.
“Agrale Marrua blindado, com algumas melhorias, tal como proteção contra IEDs e kits removíveis de blindagem”
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No mundo real, o que você quer é um novo projeto, pq não é só balançar uma varinha mágica na frente de um Marruá, recitar palavrinhas mágicas e bummm: surge um kit milagroso para proteção contra IEDs e pontos para placas de blindagem…
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“que possuem um caráter mais defensivo do que ofensivo”
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Vocês viajam demais. Demais…
“No mundo real, o que você quer é um novo projeto”: pois que a Agrale se movimente e busque este nicho de mercado. Associe-se com outras empresas nacionais ou estrangeiras (entendo que o fator principal gira em torno de $$$).
Caro Bardini: não convém ao EB, com seu orçamento reduzido, inclusive, equipar todas as unidades com LMV, já que estamos no assunto. Conforme já foi exposto por um colega comentarista, só para a cavalaria mecanizada e outras funções o EB precisaria de aproximadamente 600(!) LMV. Custando 1.000.000 cada, em média, não sei se vamos ter 600.000.000 pra equipar todas as unidades (conta de padaria é claro).
O que poderia ser feito, pra reduzir custos e equipar todas as unidades, é optar por um material nacional com custo menor e adaptado conforme as necessidades das Forças de Emprego Geral(que devem presar pela capacidade de presença e dissuasão). Não é viável dotar a 1º Brig Cav Mec com LMV pra fazer patrulha de fronteira, quando um blindado de menor custo poderia faze-lo, principalmente considerando a capacidade ofensiva de nossos vizinhos.
Acho que tu vive em uma realidade paralela, pq no Brasil não deve ser…
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“pois que a Agrale se movimente e busque este nicho de mercado”
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Se tu fosse da diretoria, tu toparia torrar dinheiro do bolso da ENCOSTADA da Agrale, pra bancar um extenso programa de Pesquisa e Desenvolvimento, somando a capacitação de pessoal e linha de produção para dar origem a um produto novo, emaranhado em incertezas, que teria de além de funcionar, ser “barato”… para no final das contas atender um Exército que NUNCA consegue manter os planejamentos de investimentos de um MALDITO ANO PARA O OUTRO???
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Tu faria essa loucura?
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“Associe-se com outras empresas nacionais ou estrangeiras”
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Olha, continua nessa linha que tu é capaz de descobrir a IVECO Brasil…
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“não convém ao EB, com seu orçamento reduzido, inclusive, equipar todas as unidades com LMV, já que estamos no assunto”
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Claro, claro… blablabla de orçamento. Volto na primeira questão. Se tu mandasse alguma coisa na Agrale, tu tiraria dinheiro do bolso pra bancar desenvolvimento e etc de um 4X4 nacional???
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“não sei se vamos ter 600.000.000 pra equipar todas as unidades”
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E teria grana pra bancar Agrele imaginário?
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“O que poderia ser feito, pra reduzir custos e equipar todas as unidades, é optar por um material nacional com custo menor e adaptado conforme as necessidades das Forças de Emprego Geral”
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Daqui a pouco tu realmente vai descobrir a IVECO Brasil…
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“Não é viável dotar a 1º Brig Cav Mec com LMV pra fazer patrulha de fronteira, quando um blindado de menor custo poderia faze-lo, principalmente considerando a capacidade ofensiva de nossos vizinhos.”
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Vocês viajam demais… Demais.
A coisa podia ser feitas em etapas Bardini, primeiro o exercito poderia contratar o desenvolvimento do produto – tal qual a forca aérea fez com a embraer no caso do KC – e posteriormente assinar contratos para a aquisição em lotes. Tudo feitos em etapas, sem descapitalizar a agrale.
o Marrua Blindado acho que e uma ótima opção paras forças policiais e a força nacional (por causa principalmente de seu custo de aquisição e manutenção), já para as forças armadas os requisitos são outros, nesse causo o Lince foi a melhor opção (apesar de seu custo altíssimo de manutenção)
“por causa principalmente de seu custo de aquisição e manutenção”
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Caro e com um projeto de confiabilidade medíocre…
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“já para as forças armadas os requisitos são outros, nesse causo o Lince foi a melhor opção”
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Só o tempo dirá se foi “a melhor opção”. No momento, é apenas a opção mais fácil de justificar…
Qual a opiniao de quem usou o lince no rio de janeiro?
Interessante o Marruá blindado na foto acima(não a gambiarra horrível). Bem que poderia ser adquirido pra uso policial ,principalmente contra estes grupos que explodem bancos e tal.
Alguns estados já adquiririam para suas forças policiais (se não me engano Santa Catarina e Goiás).
O LMV não é capaz de substituir o Marruá em missões GLO. Observem quantos soldados os Marruás da foto estão transportando.
Na minha opinião, o blindado ideal para transportar um GC com proteção em favelas é o Guarani.
rdx
Em qualquer dos casos, um blindado, seja um LMV ou Guarani, nunca irá atuar sozinho. Você precisa sempre garantir flancos, eixos secundários e mesmo, dispor de uma reserva para acionamento em caso de combate.
Ou seja, é importante ter condições de desbordamento.
Isto pode acontecer tanto em manobra convencional quanto dentro de uma favela. Sendo assim, os LMVs fazem a sondagem e os desbordamentos, com os Guarani transportando o GC para a ação principal. Cada macaco no seu galho.
A ação de patrulha é típico de emprego para o LMV. Voce pode ter até 4 homens em condições de reagir prontamente a qualquer ameaça, acionando reservas ou um GC em um Guarani em caso de necessidade.
Quando os LMVs foram dotados de alguma estação automática de armas (Poggio !! estamos aguardando a parte do armamento!), será uma fração de botar terror em qualquer situação de combate. O LMV não é um transporte de tropas, assim como o marruá também não é. 6 fuzileiros na boleia de um marruá é uma improvisação que apenas demonstra a dificuldade (mobilidade e recursos) de acionar um Guarani em determinadas funções.
Colocar um Guarani (com todas as dificuldades de mobilidade em função do seu tamanho) para simples ações de patrulha, é desperdiçar meios e causar estafa desnecessária no GC. Acho que a parte 2 desta matéria já especifica a necessidade da economia e flexibilidade de meios. É disto que se trata. O Guarani não ficará de fora, mas apenas reservado para missões mais “nobres”.
Abraço
Carvalho, eu respeito a sua opinião mas continuo achando que o LMV é inadequado para operações em áreas de alto risco, pelos seguintes motivos:
1. Não tem blindagem do motor
2. Tem muita superfície com vidro.
3. Não tem espaço interno para transportar prisioneiros, mortos/feridos e materiais apreendidos. Na minha opinião, um blindado para combate urbano precisa ser capaz de resgatar a guarnição de outro LMV pedido em combate.
4. Não tem espaço adequado para receber uma REMAX, por exemplo.
5. A doutrina é muito bonita mas na prática uma guarnição com 04 soldados tem pouca utilidade numa área de alto risco.
Ok. Mas apenas aponto o seguinte:
4. Há previsão de instalar remax nos LMVs
5. Numa área de alto risco não haverá apenas 4 soldados operando isoladamente. Ao contrário, 8 fuzileiros em duas LMVs terão muito mais facilidades de desbordar e progredir do que um GC em um Guarani.
O LMV com uma REMAX seria uma excelente plataforma de apoio de fogo.
Carvalho, o LMV pode levar exatamente uma esquadra (cinco militares).
Na verdade Poggio….1 motorista + 4 fuzileiros.
Não sei exatamente os procedimentos que estão sendo adotados, mas a princípio o motorista não desembarca, até para prover proteção (como na foto).
O EB emprega patrulhas com 08 homens?
Isso. Esquadra = 4 homens
+ o motorista
1. Considerar o conceito de célula de sobrevivência do projeto.
2. Esse vidro tem uma blindagem muito boa, testado na prática.
3. Na verdade ele tem um espaço bom na “mala” aonde dá pra levar prisioneiros sim (com pouco conforto e sem proteção blindada).
4. Na verdade ele tem totais condições de receber uma Remax, é só arrancar a torreta e colocar outra. Toda a adaptação de parte elétrica e afins já está na viatura.
5. Relembrar que a viatura comporta na verdade 5 militares e isso seria, na média, o efetivo de uma esquadra dentro de um GC dentro de um pelotão.
Mas pra esse cenário que tu tais imponto, o que você precisa nesse tipo de missão é de no mínimo um M1117 ASV…
É a VBTP policial do US Army
https://www.youtube.com/watch?v=IjSQ3FDU43E
Os militares da foto do adestramento não são do 15° R C MEc (Es), são da Bda Pqdt. Dependendo das vielas das favelas o Urutu tinha mais mobilidade e capacidade de infiltração do que o Guarani, que se diferencia pela maior proteção blindada. A Marruá Cargo foi utilizada para transporte de 1 (um) GC completo ou uma esquadra por vtr e quando chegaram as Lince foi utilizado com uma viatura por esquadra.
Alexander Lima, agradeço as correções (verdade – o coturno é marrom).