Mudança nas prioridades de defesa norte-americanas
Por Cel Paulo Roberto da Silva Gomes Filho
No último dia 19 de janeiro, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América publicou uma sinopse da sua Estratégia de Defesa – o texto completo não foi disponibilizado por ser secreto. A versão tornou públicos os aspectos ostensivos daquela Estratégia e significa uma guinada nos rumos das Forças Armadas daquela superpotência, capaz de influenciar bastante as relações entre EUA, China e Rússia.
O documento é assinado por Jim Mattis, atual Secretário de Defesa. Mattis é General Fuzileiro Naval da reserva. Sua última função na ativa, como general de exército, o mais alto posto da carreira militar, foi a de Comandante do US Central Command, um dos seis Grandes Comandos Conjuntos dos Estados Unidos. No posto de tenente-coronel, em 1991, comandou um Batalhão na Guerra do Iraque. Como coronel, em 2001, liderou um Regimento de Fuzileiros na Guerra do Afeganistão e, promovido a general em 2003, comandou uma Divisão dos Marines na invasão do Iraque. Trata-se, portanto, de um Secretário de Defesa respeitado entre os profissionais militares, experiente e experimentado em combate.
A Estratégia reconhece, claramente, que a superioridade militar dos EUA sobre seus possíveis adversários está diminuindo. Isto confere ao texto um sentido de urgência na busca do restabelecimento de uma superioridade militar que volte a ser ampla e incontestável.
A edição marca nova visão norte-americana em relação à defesa. A chamada “Guerra ao terror” perde importância. A competição entre Estados Nacionais passa a ser (novamente, a exemplo dos tempos de Guerra Fria) a primeira preocupação dos EUA em relação à Segurança Nacional.
Os adversários nominalmente citados são China, Rússia, Coréia do Norte e Irã. O primeiro é acusado de militarizar o mar do Sul da China e de usar o poder econômico para intimidar vizinhos. Ao segundo, atribui-se violação de fronteiras e intimidação de países lindeiros. A Coréia do Norte é listada pela busca do desenvolvimento de tecnologia nuclear para fins militares e pelo programa de desenvolvimento de mísseis intercontinentais. Ao Irã é conferida a instabilidade do Oriente Médio, especialmente pela busca de uma hegemonia regional e pelo patrocínio de atividades terroristas.
Um ambiente internacional muito mais complexo, de mudanças tecnológicas e de crescentes desafios à segurança, exige, na visão apresentada pelo documento, forças armadas mais letais, resilientes e inovadoras. Determina, ainda, o fortalecimento das alianças e a atração de novos parceiros internacionais.
Além disso, de acordo com o documento, a construção de uma força armada preparada para vencer a guerra exige que se atribua alta prioridade para a sua preparação e o seu adestramento. Assim, cita-se a necessidade de uma suficiente e contínua dotação orçamentária. Da mesma forma, capacidades-chave devem ser modernizadas. As forças nucleares, o espaço e o ciberespaço, os sistemas de comando e controle e as comunicações, as defesas antimísseis, a inteligência artificial, a robótica e a logística, entre outras capacidades, são aspectos que devem merecer atenção e modernização.
É uma espécie de reencontro das forças armadas com a sua vocação primária. Após uma fase em que a guerra ao terror enfatizava técnicas, táticas e procedimentos adequados ao combate de contra-insurgência, completamente diferentes daqueles destinados ao combate convencional, retorna-se, agora, com toda ênfase ao clássico inimigo identificado como sendo um ente estatal. Isto certamente trará grandes e profundas consequências no preparo e no emprego das tropas norte-americanas. Apenas um exemplo dessas mudanças: forças sobre rodas e com blindagens leves deverão, gradativamente, ser substituídas por forças pesadas e de maior blindagem.
O documento também se dedica à formação dos recursos humanos das forças armadas. Afirma, com todas as letras, que a educação militar profissional está estagnada, mais preocupada com o cumprimento dos currículos previstos do que com a letalidade ou a engenhosidade. Reafirma a importância da iniciativa em combate e da capacidade dos líderes de decidirem por si mesmos e com grande iniciativa, na eventualidade cada vez mais provável de as comunicações serem afetadas pela guerra cibernética das potências inimigas.
No campo das relações internacionais, o documento enfatiza a importância de reforçar alianças e atrair novas parcerias. Destaca as regiões do Indo-Pacífico, da Europa e do Oriente Médio, sem deixar de citar a importância de um hemisfério ocidental estável. Chamam atenção, pelo claro desafio aos interesses chinês e russo, as diretrizes para se expandirem as alianças na região do Indo-Pacífico, sobretudo pelo estabelecimento de relações bilaterais e multilaterais de segurança com os países daquela região, e para se fortalecer a OTAN, com o objetivo de dissuadir ações russas e de controlar o arco de instabilidade na periferia da Europa.
A nova Estratégia de Defesa norte-americana deve ser estudada não só pelos interessados nos assuntos de defesa, mas também por todos os observadores da cena internacional. Ao anunciar claramente suas novas prioridades estratégicas, o documento marca a firme tomada de decisão da superpotência global pela manutenção do seu “status”. Resta saber quais serão os movimentos das potências militares (re) emergentes que terão seus interesses político-estratégicos diretamente afetados, principalmente as mencionadas China e Rússia. As regiões do Mar do Sul da China e do Leste Europeu, além da Península Coreana e do Oriente Médio, devem ser as mais afetadas pelo novo posicionamento norte-americano.
Oxalá a nova realidade internacional exposta claramente na Estratégia de Defesa dos EUA desperte estudiosos e acadêmicos brasileiros para um maior interesse pelo estudo dos assuntos de defesa.
FONTE: Agência Verde-Oliva/CCOMSEx
1 – “A versão tornou públicos os aspectos ostensivos daquela Estratégia (de Defesa)”, ou seja, a melhor defesa será o ataque.
2 – Secretário de Defesa militar. Nada como um profissional frente a um “especialista”.
3 – “Fortalecimento das alianças e a atração de novos parceiros internacionais”, tem sido um ponto fraco do Trump.
4 – “Combate ao Terror” foi um desvio de função das FAs americanas. Talvez uma nova FA dedicada a inimigos assimétricos se faça necessária.
5 – América do Sul ficou de fora. Se isso é bom ou ruim um dia saberemos.
Há um ditado que diz: “Quem faz mais, faz menos. Quem faz menos, não faz mais.”
Parece Q isso ficou claro agora.
O Comando Conjunto de Op Esp pode atuar na guerra contra o terror com apoio das Forças de Emprego Geral, mas estas devem estar sempre prontas para um conflito de alta intensidade.
Paralelo a isso, o Trump precisa baixar sua crista e entender Q precisa de seus aliados, pois não haverá só mais uma frente, mas várias.
Sds
De uma coisa pode se ter certeza, eles não estão deixando de pensar na luta Urbana… Pelo contrário, é ela quem vai moldar os novos meios.
https://www.army.mil/article/197555/next_generation_combat_vehicle_must_be_effective_in_megacities_forscom_commander_says
Quanto mais os EUA se prepara para a guerra, mais nós vivemos em paz…
Esqueceu de ligar o modo ironia.
ODST, Não mesmo, não existe ironia na frase do Victor Moraes. Me diga quantos conflitos de larga escala houveram depois da II Guerra Mundial? Tudo o que aconteceu não passou de combates regionalizados (locais, ex.: Vietnan, Coreia, Israel contra o resto, conflitos em países Africanos, IrãXIraque, Iraque contra a renca ocidental, etc, etc, etc). Me diga o porque a Russia não destruiu/se apoderou da Europa nas décadas de 60 e 70? Expandindo a sua zona de influência e se apoderando de uma área estratégica e destruindo um dos maiores pilares de sustentação do Ocidente Imperialista? Não o fez pois não… Read more »
A questão é que nunca, nem no auge da Guerra Fria, a soberania norte-americana foi tão ameaçada. China, Rússia e Irã, juntos, detém capacidade tecnológica, recursos financeiros, recursos naturais e, principalmente, recursos humanos, que os EUA simplesmente não conseguirão acompanhar por muito tempo. Os EUA venceram a Guerra Fria empurrando a URSS para um dispêndio financeiro além do que podiam acompanhar e, aparentemente, estão provando do mesmo veneno agora. É ver onde isso vai parar – americano nao tem vocação pra ser 2o colocado
Você esqueceu de citar o nhonho da Coréia do Norte que gosta de brincar de sair disparando mísseis por ai. O Trump ultimamente tem mais saído na mão com seus supostos aliados do que seus adversários
A China tudo bem é um adversário em potencial..
Rússia e Irã vão se enrolar neles mesmos como sempre o fizeram.
Os defafios hj são as guerras hibridas, convencionais, assimetricas e possivelmente todas as 3 juntas, num mesmo TO ou em TOs diferentes mas lutadas ao mesmo tempo. Ou seja o exercito americano não sera convencional mas modular. A capacidade de enfrentramente de variados espectros de ameaças ao mesmo tempo que resumira se um exercito será preparado ou não, esse é o futuro, é tbm já é presente, basta olhar o EB hj, ele tem que se preparar para ações GLO, patrulhamento de fronteiras, guerra contra o trafico, defesa nacional contra um estado inimigo que pode utilizar ações convencionais e assimétricas,… Read more »
Mas isto fatalmente esbarra no modelo de conscrição. Especialização exige profissionalismo.
Prezado
A conscrição não atrapalha.
Temos um efetivo enorme de militares do Efetivo Profissional.
A conscrição é só de onde saem, e saem muitos caras bons.
Muitos exércitos de ponta ainda usam a conscrição.
Além disso, oras missões menos perigosas e Q fazem parte do escopo de missões de um exército, recrutas são válidos.
O EB é considerado misto. Pois tem um efetivo variável, de conscritos e o efetivo profissional.
Exércitos Q tem efetivo só de voluntários sem conscrição passam por problemas de não completamento de claros e grande envelhecimento dos quadros.
Mas no BR o conscrito tem baixa escolaridade, como fazer para adequá-lo a sistemas cada vez mais sofisticados ?
E conscritos inteligentes não obedecem cegamente : param, pensam, questionam.
O envolvimento do EB , cada vez maior nas operações GLO, mostra a falência da segurança pública e das polícias, em geral. Banalizaram o emprego do EB nessas missões. E reputo nisso parcela de culpa da nossa CF de 88, a ¨cidadã¨, que transformou o bandido em ¨vítima¨, aliado ao nosso direito ¨garantista¨.
Todas as análises possíveis, quer industriais, políticas, econômicas, militares, geográficas, culturais são analisadas pelos EUA.
A 30 anos atrás os EUA já olhavam para a China e sabiam o que estava nascendo.
A “ameaça” China é o que mantem a industria de armas dos EUA….
Concordo, e se fosse Russo deixava de olhar tanto para o Ocidente e começava a olhar para a borda oriental de suas fronteiras com a China.
A China está faceira para aliciar todo o Oriente Médio e parte da Africa, principalmente os quintais russos dessas paragens.
Texto poker face desse Coronel. Repleto de gatilhos.
Interessante essa questão da educação. Do meu humilde ponto de vista percebo que as escolas militares tem dado uma guinada “pró-MEC” – não no sentido acadêmico de se buscar fazer alguma coisa, mas no sentido de encher o currículo para validar diploma – e andam deixando coisas básicas de lado. Chegaram a tirar educação física de cadetes da AFA por causa de um currículo de ADM, tiraram muito da parte de exatas de pilotos, e diminuíram currículo de exercício de campanha e da parte de tiro, além de que nunca houve um trabalho em defesa pessoal ou artes marciais. Lá… Read more »
Porque se preocupar com a América Latina? Não há força política ou militar por aqui. Só servimos para fornecer matérias-primas básicas e alimentos básicos, para qualquer dos lados envolvidos e citados na reportagem. Seguiremos sendo meros lacaios…
Todos sabem que se um deles espirrar, já estaremos morrendo de pneumonia.
Se preocupar com a América Latina talvez porque o petróleo que a Rússia não consegue fornecer a Venezuela fornece?
E não há esquecimento da LatAm, vide o tópico “manutenção de um hemisfério ocidental estável”. Essa é a maior ameaça da Rússia, vide as tentativas de abocanhar a Ucrânia e as sementes de instabilidade nas Américas do Sul (Venezuela, Bolívia e Equador) e Central (Cuba, neosandinistas na Nicarágua e afins).
Lá ele vão substituir gradativamente os blindados sobre rodas por blindados com maior blindagem, e aqui vamos de blindados que só resistem a tiros de fuzil.
Vejamos, o governo Reagan nos deu HMMWV, Bradley, Abrams, Apache e outros equipamentos que os americanos usam até hoje. Vamos ver o que sai com o Trump.
Russia e China na jogada atrapalham muito, o Nixon enfraqueceu a URSS ao fazer aliança com a China, venceram o comunismo Russo, mas o Comunismo Chinês é mais sinistro , é uma espécie de nazismo camuflado (uma mistura de comunismo com capitalismo) , A China é uma nação Comunista, mas voltada para o Comercio, joga tal qual os Americanos, na prática o Comunismo lá não existe, já tem classes Ricas de Classes Pobres, o Povo Chinês já não é aquele povo pobre iletrado e camponês, hoje é um povo dominado pelo Consumismo e pelas altas tecnologias, o que complica as… Read more »
Como já diziam os romanos na Antiguidade: Quer manter a paz ? Prepara-te para aguerra ! Nenhum beligerante maluco ataca um país bem preparado militarmente, exemplos históricos recentes ? Hitler RESPEITOU a integridade e neutralidade da Suíça e Suécia, simplesmente daria muito trabalho atacá-las.