Senegal recebe helicópteros Mi-24V modernizados para enfrentar o terror do ISIS e da Al Qaeda
Por Roberto Lopes
Especial para o Forças Terrestres
A Força Aérea do Senegal recebeu, na quinta-feira da semana passada (30.11), dois helicópteros de ataque Mi-24 (código Otan: Hind) remodelados pela empresa de aviação Wojskowe Zakłady Lotnicze Nr 1 (WZL-1), da Polônia.
Um An-124, da Antonov Airlines, transportou os aparelhos à capital Dakar.
As aeronaves, de fabricação russa, integram o lote de três unidades comprado pelos senegaleses, em 2015, aos estoques da Aviação Militar da Eslováquia. Aliás, nesse ano, os próprios militares russos começaram a aposentar os seus 250 aparelhos Mi-24, comumente chamados de “tanque voador” (“letayushchiy tank”).
Os aparelhos vendidos pela companhia Mil Moscow Helicopter Plant aos eslovacos eram Hinds dos modelos V/D/DU.
De produção iniciada em 1973, o modelo D revelou-se um meio aéreo bem mais próximo da concepção que os chefes militares russos faziam de um helicóptero de ataque, que as versões que o precederam.
Seu nariz fora redesenhado para conter duas cabines separadas, para piloto e artilheiro, além de uma metralhadora giratória Yak-B calibre 12,7 milímetros no “queixo” (parte inferior do nariz).
Ele também estava apto a transportar 4 lançadores de foguetes de 57 mm e – mais importante – quatro mísseis antitanque 9M17 SACLOS Falange (de eficácia muito superior à do antiquado sistema MCLOS do Mi-24A) – além de bombas, naturalmente.
O Hind DU era uma versão com controles de pilotagem redundantes, que se destinava ao treinamento das tripulações. Já o Mi-24V – também conhecido como Hind-E – podia ser classificado como um autêntico “helicóptero porta-mísseis”.
Na Rússia ele voou com um vetor antitanque 9M114 Shturm (código Otan: AT-6 Spiral), e 8 mísseis pendurados nos quatro pilares subalares de cada uma das aletas laterais do aparelho. O desempenho do aparelho agradou tanto que a indústria russa fabricou 1500 exemplares do Mi-24DU.
O primeiro Mi-24 senegalês inspecionado e revitalizado pela WZL-1 foi entregue em fevereiro deste ano aos militares do país africano. O serviço incluiu um estágio de treinamento para aviadores e mecânicos que se especializaram na operação do Mi-24.
Em junho do ano passado, anunciou-se que o Senegal planejava atualizar os seus Mi-24 com sistemas eletro-ópticos israelenses do modelo Controp DSP-HD. Mas não se sabe se a remodelação a cargo da WZL-1 incluiu esse serviço.
O kit DSP-HD é um composto de alta tecnologia que pesa cerca de 29 kg e está formado por câmera diurna, rangefinder e apontador a laser. A esses equipamentos pode, eventualmente, ser agregada uma câmera infravermelha.
De acordo com as informações obtidas por especialistas do Ocidente, os senegaleses pretendem usar os seus Mi-24 para patrulhar as zonas menos habitadas do país, que servem de refúgio a núcleos guerrilheiros, e apoiar os deslocamentos em terra das suas tropas expedicionárias.
Ameaças – Para autoridades ocidentais da luta anti-terrorista, a proximidade espacial do Senegal com o Mali é fator que o torna suscetível a ataques terroristas, particularmente os engendrados pela rede Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI), pelo ISIS e pelo grupo denominado Província do Estado Islâmico do Oeste da África, mais conhecido como Boko Haram¹.
Durante alguns anos esses líderes da luta anti-terror consideraram o território senegalês como não mais do que um importante centro de recrutamento e logística; mas agora se sabe: o país é, ele próprio, um potencial alvo para ataques indiscriminados de grande envergadura.
E isso por vários motivos.
Em primeiro lugar porque seu presidente Macky Sall, de 56 anos, continua a ser um aliado fundamental das organizações africanas e de potências extra-continentais que lideram as ações contra o terror na África Ocidental.
Em segundo, porque o Senegal integra a chamada Iniciativa Trans-Sahariana de Combate ao Terrorismo (TSCI), que emprega agências civis e militares em um trabalho coordenado por agentes americanos.
O terceiro ponto refere-se ao fato de o Senegal ser um país anfitrião do exercício continental de combate ao terrorismo do US Africa Command (AFRICOM), que, recentemente, assinou um acordo de cooperação de Defesa com os Estados Unidos.
Dakar também mantém tropas na Missão de Estabilização Integrada Multidimensional das Nações Unidas no Mali (MINUSMA). E em maio passado, a Administração do presidente Sall aprovou a implantação de uma força de intervenção rápida na Região Central do Mali – pedido do diretor das operações de Imposição de Paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix.
Frota – Na África a empresa polonesa WZL-1 desfruta de boa reputação como oficina modernizadora de helicópteros de combate russos. A companhia também modernizou dois Mi-24Vs para a Aviação Militar da República de Camarões – serviço completado em 2016.
A opção do Senegal pelas aeronaves russas de asas rotativas já tem mais de dez anos.
Em 2005 Dakar encomendou na Rússia dois Mi-24/35Ps recebidos em 2007. De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa de Paz de Estocolmo (SIPRI), o Senegal também recebeu dois Mi-171 russos.
Mas a verdade é que a pequena frota de asas rotativas montada pelos senegaleses na última década transformou-se em um amontoado de modelos antiquados, com todos os problemas de aquisição de suprimentos e manutenção precária que isso pode acarretar. A lista dessas aeronaves inclui:
– 02 aparelhos de transporte armados Mil Mi-2;
– 02 Pumas SA 330;
– 02 Bell 206L;
– 01 Bell 205;
– 01 AS355 Twin Squirrel (Écureuil 2); e
– 01Aerospatiale Gazelle.
¹Nos últimos meses, as autoridades senegalesas prenderam três indivíduos suspeitos de vinculação com o ISIS: dois marroquinos detidos em Dakar a 29 de março, e um cidadão nigeriano, capturado a 1º de abril.
O nigeriano foi descrito como membro do Boko Haram, e, supostamente, dedicava-se ao recrutamento de jovens senegaleses para a seita islâmica, sediada no vizinho Mali.
Em fevereiro do ano passado, quatro imãs já haviam sido presos na cidade de Kaolack, no oeste do Senegal, por suspeita de proselitismo e recrutamento em nome do Boko Haram.
No fim de junho deste ano, três extremistas senegaleses confessaram para o Departamento de Investigação Criminal do Senegal que formavam parte de um grupo de 23 cidadãos do Senegal alistados nas fileiras do Boko Haram.
As autoridades de Dakar também descobriram que um grupo de 10 a 30 dos seus compatriotas já viajaram para redutos do chamado califado da ISIS nos territórios da Síria, da Líbia e do Iraque.
Em fevereiro de 2017, dois cidadãos malienses foram detidos em Dakar pela Brigade d’Intervention Polyvalente (BIP), acusados de estarem ligados ao comandante Al-Mourabitoun – Mohamed Ould Nouini –, o afiliado da al-Qaeda que planejou o atentado de março de 2016 na Costa do Marfim, onde 19 pessoas foram mortas e 36 saíram feridas.
Hind – Eliminando barbudinhos cortadores de cabeça desde 1979.
Boa! pau no ISIS!