Evento Saab Barracuda - foto 15 Nunao

Saab Barracuda realizou, em São Paulo, evento para apresentar suas camuflagens de tecnologia multiespectral para jornalistas especializados em Defesa

Vestir uma camuflagem individual de soldado, desenvolvida para ambientes de floresta, certamente não é a melhor forma de passar despercebido ao olho nu dentro de um restaurante, entre mesas, cadeiras e paredes bem pintadas. Mas estamos numa época de drones, de câmeras termais, de sensores otimizados para o espectro infravermelho. E o interior de um restaurante paulistano, reservado pela empresa sueca Saab Barracuda para a apresentação de seus sistemas de camuflagens multiespectrais, pode se tornar um bom local para um teste envolvendo tecnologias disponíveis não só em sofisticados campos de batalha, mas também na loja online de sua preferência.

E foi dentro do restaurante que um dos representantes da Saab Barracuda (divisão especializada em gerenciamento de assinaturas, que faz parte do grupo sueco de defesa Saab), propôs uma demonstração simples das capacidades de um de seus produtos, o SOTACS – Special Operations Tactical Suit (traje tático para operações especiais). Joakin Schackenborg, diretor de Marketing e Vendas da Saab Barracuda para a América Latina, acoplou seu celular (smartphone) a uma diminuta câmera térmica que pode ser encontrada em renomadas lojas online, vendida como “um acessório leve que transforma seu celular numa poderosa câmera térmica infravermelha”.

Joakin Schackenborg, diretor de Marketing e Vendas da Saab Barracuda para a América Latina, mostra a pequena câmera térmica acoplada ao celular, tecnologia que pode ser adquirida em lojas virtuais em qualquer lugar – ou seja, disponível para criminosos e combatentes de conflitos assimétricos de todo o mundo

 

Uma das pessoas presentes ao evento vestiu o SOTACS, postando-se ao lado de outra sem o traje, e Joakin apontou para ambas a câmera acoplada ao celular, cuja tela mostrava uma realidade diferente que a dos nossos olhos. O SOTACS escondia sua ocupante de forma completa da câmera, ao passo que o calor irradiado pela outra pessoa, a seu lado, brilhava na tela. Mais do que ver para crer, o teste foi mais uma situação de “não ver para crer” na eficiência do traje.

Aline Alves, da Assessoria de Imprensa da Saab, veste o SOTACS tendo ao lado Virgílio Veiga Jr, diretor de Vendas da empresa e Paula Nauhardt, diretora de Comunicações da Saab para a América Latina, enquanto Joakin Schackenborg aponta o celular para os três

 

Não era difícil, também, extrapolar o que víamos (ou melhor, o que não víamos no visor do celular / câmera térmica) naquela sala do restaurante para uma situação real de combate, por exemplo, numa área de vegetação – onde o traje, além de se integrar visualmente ao ambiente ao seu redor, pelas suas cores e formato de suas camadas, também não revelaria quem o vestisse a um sensor térmico.

A demonstração acima foi um dos intervalos “lúdicos” de uma apresentação bem mais longa sobre as camuflagens de tecnologia multiespectral da Saab Barracuda, que ocupou boa parte da manhã da última segunda-feira, 20 de fevereiro. Mostraremos alguns detalhes agora, e vale lembrar que os jornalistas convidados também puderam assistir, como preâmbulo, a uma palestra sobre a situação internacional e as mudanças no cenário global de defesa e segurança. Esta será tema de outra matéria.

Batalha de assinaturas

 

Coube a Virgílio Veiga Jr, coronel da reserva e diretor de vendas da empresa, a maior parte da apresentação sobre a Saab Barracuda, os diversos aspectos do uso de camuflagens e os diferenciais dos produtos. A Barracuda nasceu fabricando redes de pesca, e vale dizer que redes também são, tradicionalmente, bases para a produção de sistemas de camuflagem (para fixação dos componentes do produto).

As primeiras entregas em série à agência governamental sueca responsável por materiais de defesa, a FMV, ocorreram em 1957 e de lá para cá a Barracuda chegou a um portfólio de clientes em 60 países, 50% do mercado de camuflagem estática e 90% do mercado de sistemas integrados à plataforma (duas de três áreas exploradas pela empresa, como veremos à frente).

Virgílio Veiga Jr junto a Paula Nauhardt e Oliver Stuenkel, palestrante de Relações Internacionais convidado

 

O uso de camuflagem para se esconder dos olhos de um adversário precede a própria história humana, e no combate moderno continua fundamental para garantir uma capacidade de sobrevivência no campo de batalha. Hoje em especial, com o avanço contínuo dos sensores, trava-se uma verdadeira batalha de assinaturas, contra sensores que atuam no campo visual, radar, ultravioleta, infravermelho próximo e termal, para evitar a detecção e identificação de equipamentos, soldados e instalações.

E, mais do que sobreviver, trata-se de uma preocupação em manter a iniciativa sobre um eventual agressor: manter sua força escondida, não detectada e não atingida, e em contrapartida detectar o inimigo e atacá-lo rapidamente, no momento oportuno, levando o adversário para situações e arenas onde este se encontre em desvantagem.

Na tela da apresentação acima, os círculos azuis representam as assinaturas radar do carro de combate nas três situações indicadas

Mais do que simplesmente esconder, a ideia de camuflagem é de misturar ao ambiente, ao mesmo tempo em que não se prejudica o emprego dos armamentos, já que o objetivo é manter a capacidade de ação, a iniciativa, e atingir o adversário antes de ser atingido.

As camadas da sobrevivência

Veiga destacou que o gerenciamento de assinatura busca reduzir a detecção e a distância de identificação contra sensores, nos diversos espectros. Ou seja, fazer com que uma detecção que sem os sistemas de camuflagem seria possível, por exemplo, a milhares de metros, só possa ser feita pelo adversário a centenas ou dezenas de metros.

Mas a detecção é só a primeira das “camadas” de proteção que visam aumentar a sobrevivência no campo de batalha. Se não for evitada a detecção, deve-se evitar a identificação que precederá um disparo. Caso esta ocorra, a camuflagem deve prejudicar sua precisão, ou seja, evitar ser atingido. São essas as três primeiras camadas da sobrevivência, na qual atuam os sistemas de camuflagem como os produzidos pela empresa – há outras camadas na “cebola” da sobrevivência, que são evitar a penetração de projéteis e, em caso de penetração, evitar mortes, mas estas já fazem parte, por exemplo, de sistemas de blindagem.

Na batalha de assinaturas que visa evitar que o inimigo lhe detecte, identifique e atinja, os sistemas da Saab Barracuda visam gerenciar as assinaturas, como no caso da térmica / infravermelho, mostrada pelo teste visto no início da matéria, do traje SOTACS. Este pertence a uma de três categorias de sistemas produzidos pela empresa: os sistemas integrados ao soldado, à plataforma e à força.

Sistemas integrados ao soldado – desenvolvidos para que o combatente se misture a qualquer ambiente de fundo, dando capacidade de obter a iniciativa. A proteção multiespectral, segundo a empresa, chega a bloquear 80% da energia emitida pelo corpo humano. Mas a capacidade de sobreviver também inclui o conforto do soldado, o que é fundamental para sua prontidão em combate: o SOTACS, por exemplo, fornece proteção contra mosquitos, além de reduzir a temperatura sob o sol, com permeabilidade (mínima retenção de líquidos) e leveza.

Convidada do evento experimenta o SOTACS

 

Experimentamos um traje e, de fato, mostrou-se bastante leve, fresco e pouco inibidor dos movimentos, mesmo que, visto externamente, as camadas de material dessem impressão contrária.

Sistemas integrados à plataforma – são módulos desenvolvidos sob medida para cada plataforma, como carros de combate,  blindados de transporte de pessoal, etc. A Saab Barracuda afirma que a distância média de detecção de uma plataforma equipada com seus sistemas modulares aumenta em 50% nos diversos espectros (em outras palavras, um sensor que detectaria a plataforma a 1 km só vai detectá-lo em metade dessa distância).

Outros benefícios são a redução de calor e economia de energia operacional. Dentro de viaturas sob o sol, por exemplo, a temperatura cai devido ao isolamento feito pelos módulos, permitindo maior conforto às guarnições, melhor desempenho dos equipamentos eletrônicos e dos armamentos, e menor consumo de combustível pelos sistemas de refrigeração.

Sistemas integrados à força – são soluções personalizadas de camuflagem multispectral desenvolvidas para garantir leveza e evitar que se enrosquem nas mais diversas plataformas. Aqui, as possibilidades de emprego vão desde veículos até alojamentos, reservatórios de água, víveres, munições etc.

A empresa alega que, além de protegerem contra os sensores, também diminuem a temperatura interna pela redução em até 80% da incidência de radiação solar. Um exemplo é a rede ULCANS, que, testada sobre um reservatório de água sob o sol. Sem a proteção, e numa situação relativamente amena de temperatura do ar em 28 graus, a temperatura da água armazenada chegava a 44 graus. Já com a proteção, a água manteve-se a 21 graus, menos que a temperatura externa.

Os aspectos econômicos (redução no consumo de combustível pelas forças em campanha, entre outros) foram bastante enfatizados tanto por Virgílio Veiga quanto por Joakin Schackenborg. Segundo este, as economias no consumo de combustível / energia em sistemas de controle ambiental, resultantes do uso de uma rede ULCANS, permitem que o investimento na sua aquisição “se pague” em cerca de 180 dias.  Essa capacidade de proteção da incidência solar foi demonstrada aos convidados do evento em plena rua, num dia de forte sol, como vimos na matéria que abriu esta série. Uma casualidade climática que pareceu feita sob encomenda.

Mas há outras “casualidades” para se abordar aqui. Falando em economia, a questão que vem à mente é o uso de sistemas do tipo por um país como o Brasil, onde pesadas restrições orçamentárias para aquisição de equipamentos de Defesa são constantes – ainda que sejam sistemas que possam gerar economia, além da desejada capacidade de dissuasão, como a empresa busca vender suas soluções. Este é o principal assunto da próxima matéria.

Reportagem e fotos: Fernando “Nunão” De Martini (o editor compareceu ao evento a convite da Saab)

Imagens adicionais: Saab

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