Trumpillary vai à luta
Semelhanças profundas entre os dois candidatos são camufladas por um tom bélico de campanha que não reflete a realidade
Leandro Karnal
O vice-presidente dos Estados Unidos da América, Richard Nixon, vivia à sombra do popular Eisenhower. Os republicanos tinham assumido em 1953, após 20 anos de domínio democrata. O fim da Guerra da Coreia (1950-1953) iniciava uma diminuição da Guerra Fria e havia um clima de otimismo econômico no ar. O californiano Nixon não era o carisma em pessoa, mas a prosperidade da década de 50 não exigia pessoas carismáticas.
Nixon foi enviado para um tour diplomático pela América do Sul, em abril de 1958. A recepção no Uruguai foi morna. Em Lima, no Peru, os estudantes o hostilizaram de forma drástica, tanto na rua quanto no hotel. Em Caracas, na Venezuela, a agressão quase virou uma tragédia.
Uma multidão raivosa tentou linchar o vice-presidente. A atitude de Nixon seria louvada como corajosa pela imprensa dos EUA. Na América Latina, o antiamericanismo parecia ter aumentado de forma exponencial.
O episódio ocorreu há quase 60 anos. A Aliança para o Progresso que Kennedy lançou em discurso aos embaixadores latinos, em 1961, apresentou efeitos limitados. A fratura representada pelas imagens do Vietnã seria duradoura. “Yankees, go home” virou mantra para parte dos pensadores latino-americanos.
Intelectuais mais conservadores diziam o contrário. Roberto Campos, no Brasil, era célebre pela americanofilia. O livro Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano aprofundou essa linha afirmando que pior do que ser explorado pelos EUA era não ser explorado. Isso significava que, para os autores como Alvaro Vargas Llosa, países mais ligados à economia estadunidense prosperavam, e os menos ligados ao mundo do dólar, definhavam.
Parte da tradição simpática aos EUA reapareceu agora, nessa época de disputa presidencial. Um grupo decidiu, em plena Avenida Paulista, fazer uma manifestação pró-Trump. Num domingo de outubro de 2016, alguns brasileiros seguraram cartazes em inglês atacando Hillary e apoiando o candidato republicano.
Fica a pergunta: por que pessoas que não fazem nenhuma diferença no processo eleitoral dos EUA necessitam expressar sua opinião? Provavelmente a resposta poderia ser dada tanto pelos estudantes que agrediram Nixon como pelos que manifestaram apoio a Trump na Paulista.
Repercussão. A eleição no grande irmão do Norte abala mais consciências do que votações em outros lugares. Críticos e defensores, pensadores de direita e de esquerda: todos, de alguma forma, consideram os EUA símbolo do que amam ou odeiam. O capitalismo dos EUA ofende quem é inimigo desse sistema e entusiasma aqueles que o defendem. Os EUA sempre constituem o chamado tipo ideal, o protótipo do que deve ser evitado ou seguido.
Por um lado, se os EUA apoiam a candidata democrata, todas as posições que, no Brasil são construídas em torno de Hillary (empoderamento feminino, por exemplo) passam a ser mais válidas. Por outro lado, se o apoio a Trump cresce, posições contra aumento do Estado e críticas ao esquerdismo ganham reforço no Brasil. O modelo do Norte servirá de guia e cânon. No fundo, tanto inimigos como aliados, prestam essa homenagem: não importa o sucesso ou fracasso do capitalismo em Luxemburgo, mas, apenas, no seu epicentro nervoso, os EUA.
A retórica de Trump encarna o político independente que desafia chefões tradicionais do jogo de Washington. Políticos tradicionais são odiados nos EUA e no Brasil. Habilmente, Trump conseguiu parecer um homem de ação e de liberdade de expressão, num mundo onde cada um só fala aquilo que agrada a todos. O republicano usa sua habilidade teatral para reforçar como ele é o verdadeiro americano, aquele que acredita no esforço individual e é livre. Trump é o porto onde nacionalistas, machistas, racistas e homofóbicos podem ancorar seu navio com segurança.
A retórica de Hillary, da mesma forma, tentou convencer a todos de que ela seria a candidata crítica e alternativa, a primeira mulher a postular a chefia da nação com chances reais de vencer, a ponderada em detrimento do intempestivo adversário. Hillary parece o porto onde feministas, cosmopolitas e liberais podem ancorar seu navio com segurança.
Quando eu vejo essa polarização, não comum nas campanhas dos EUA, penso seriamente num hipotético polonês, em 1945, tendo de tomar partido entre os nazistas que arrasaram o país (e estavam sendo expulsos) e seus libertadores soviéticos. A pergunta sempre difícil: você prefere nazistas ou soviéticos?
Agressividade. Tanto nos EUA como aqui, as pessoas destemperadas, inclinadas aos palavrões, sem freios politicamente corretos, parecem estar em ascensão. A capacidade de insultar foi associada a uma veia de autenticidade. Ulisses Guimarães, criticando a campanha de Collor (um Trump avant la lettre), teria dito que, em época de campanha, abraçaria até estuprador.
É exatamente essa prática do político comendo com felicidade o pastel engordurado na feira e abraçando todos que irrita o eleitor médio. Jânio Quadros conseguiu vender, na sua Vila Maria e no país todo, o marketing da antipolítica.
A política representativa, no Brasil e nos EUA, está chegando a um paradoxo cada vez mais complexo. O aumento do narcisismo do indivíduo exige que o candidato tenha um perfil que seria a representação do próprio eleitor melhorado. Só assim ele “me representa”, usando a próclise que se consagrou no nosso mundo. Cada vez mais, o candidato deve encarnar meu eu melhorado e seu adversário passa a ser meu perfeito outro piorado.
Trump acusou Obama de não ter nascido nos EUA. Foi uma calúnia política e, diante de documentos claros, ele teve de retroceder. A mentira política faz parte do jogo, mas, no mundo da internet, ela é usada como ferramenta básica. Um dos manifestantes da paulista usava o cartaz “Obama e Hillary criaram o ISIS” (o Estado Islâmico). É uma calúnia política, mas, atualmente, a verdade não é mais fundamental. A chave é usar os recursos da detração para atingir o outro, o inimigo, aquele que representa o oposto do meu mundo e, por consequência, não me representa.
Assim, distantes no espaço, os manifestantes da Paulista e os eleitores dos EUA mostram o verdadeiro candidato de todos: o Narciso. Minha opinião deve ser manifestada, mesmo que ninguém a tenha pedido, mesmo que ninguém a respeite, mesmo que não faça a menor diferença porque isso, em última análise, é liberdade de expressão.
Semelhanças. As diferenças entre republicanos e democratas são mais de slogans do que de práticas concretas. Hillary e Trump são membros de uma elite branca e bem sucedida, uma é rica, o outro, milionário. Ambos estão convictos de valores bem mais próximos do que gostariam de reconhecer. Mas, para fins de campanha, tornam-se polos de dois mundos incomunicáveis e mutuamente excludentes.
Você imagina um homem sem controle tendo o poder de acionar o maior arsenal atômico do planeta? Um pesadelo! Você imagina uma mulher que usa servidores não seguros para trocar e-mails portadores de segredos de Estado? Um desastre. Trump é o modelo do americano xenófobo e bem sucedido. Hillary é a mulher política que ignorou a traição do marido e agora recebe apoio do casal Obama, exatamente o mesmo Obama que ela atacou de forma visceral quando disputou com ele a candidatura democrata. Um que erra por falar demais; outra que muda o discurso de acordo com sua ambição do momento.
Democracia é o melhor dos sistemas, sempre. Mas há uma conclusão incômoda. Quem manda nos Estados Unidos e no Brasil não está concorrendo e nem precisa do seu voto. Quem tem o poder real, nunca se candidata e nós, como uma plateia de musical da Broadway, batemos palmas para X ou Y, porque isso nos transmite o conforto de que nossa aprovação é determinante para o espetáculo.
Orgulhoso, eu ligo para o SAC da grande empresa e sou atendido por alguém que não decide nada e me dá razão. Quem manda, de verdade, está inacessível. Desligo o telefone com sensação de poder.
Seria a consulta popular a maneira mais sofisticada de perguntar minha opinião sobre quem não vai, de fato, mandar? Assim, aqueles sobre os quais eu nunca fui consultado podem continuar, democraticamente, fazendo o que querem? Marionete com ilusão de liberdade seria mais feliz? Nosso/a candidato/a é Trumpillary! Só com Trumpillary seremos felizes.
COLUNISTA E PROFESSOR DE HISTÓRIA DA AMÉRICA NA UNICAMP, É AUTOR DOS LIVROS ‘HISTÓRIA DOS EUA’ E ‘EUA: A FORMAÇÃO DE UMA NAÇÃO’
FONTE: Estadão
Leandro Espiritual, quem não te conhece que te compre.
O “intelectual” de esquerda (sim, eu sei que não pode ser os dois ao mesmo temo) que mais engana desavisados, o sujeito paga de isentão e fala o falou sobre Escola sem partido no roda viva ( q fim de carreira esse programa) e sempre passa vergonha quando escalado ao lado de Ponde no Jornal da Cultura.
É assim que Banania avança pra trás.
Ninguém leva mais a sério esse pessoal que tomou conta do ocidente nos últimos anos, dividem a sociedade em vários grupinhos, jogam uns contra os outros e acusam levianamente qualquer um que tenha opinião diferente da deles de xenofóbico, homofóbico, islamofóbico, fascista, racista, machista e por aí vai.
Pois é… lulla e o PT sempre usaram essa tática e ninguém da “inteligentcia” falou nada por 35 anos…só agora os “isentões” reclamam do belicismo das campanhas oposicionistas de lá como daqui…porque será??
zzzzzzzzzzzzzz….. Me desculpem! Esse tipo de fala está muito repetida!
Juliano M. 9 de novembro de 2016 at 14:20 concordo com você… Ouvir esse cara é “pegadinha do malandro”!
Texto típico de doutrinador esquerdopata , torço que que perca sua boquinha “Trump é o modelo do americano xenófobo e bem sucedido” Bacana o site dar esta abertura,dando um tapa de luva em alguns
Problema é que os analistas de verdade desapareceram do ocidente, hoje você tem palpiteiros que dizem o que gostaria que fosse e não a realidade,.
”Trump acusou Obama de não ter nascido nos EUA”. É uma mentira mas é fato que ele filho de africanos islâmicos e na politica externa principalmente depois que a hillary saiu ele fez de acordo com o seu ponto de vista islâmico e não seguindo o pragmatismo e os interesses dos EUA como não tem nenhum candidato moderado que faça uma critica a administração Obama vai o Trump mesmo.
”Um dos manifestantes da paulista usava o cartaz “Obama e Hillary criaram o ISIS” (o Estado Islâmico)” . É mentira, mas a suas ações para tirar os Assad junto com a falta de vontade de continuar combatendo o terrorismo ativa e passivamento só porque a guerra ao terror ficou feia na opinião publico possibilitaram o surgimento do Isis em que a administração Obama covarde se recusa a colocar homens no solo para combater e só arrumou uma estrategia boa agora porque viu que os republicanos estavam ganhado votos na questão sobre o terrorismo. O apoio do Putin ao Assad também facilitou o surgimento do isis o que também não exime a culpa do Obama
O grande erro da Hillary que é uma grande politica principalmente nas questões sobre politica externa foi não ter feito uma auto critica á administração Obama que foi um coco e não ter apresentado propostas boas para resolve-las ela junto com os democratas se esconderem atras do politicamente correto e usaram seu lobby na imprensa e no meio intelectual para se blindar do povo ! Enquanto Trump mesmo que de maneira demagoga apresentava propostas para resolver esses problemas e ainda usava sua maneira agressiva para criticar o lobby que protegia os democratas. Se vocês verem as pesquisas de opinião dos eleitores do Trump eles não concordam com todas suas propostas malucas votam nele porque querem mudança e ele representa isso!
ah como é bom assistir todos os programas de tv de todas as emissoras brasileiras e estrangeiras hj uma delicia ver a cara deles q não acreditaram no sr donald j. trump
Eu particularmente quero fazer uma pergunta aos foristas que estão ou moram nos EUA hoje ou aqueles que acompanham sua vida politica de perto : Ronald Reagan ganharia as primarias do partido republicano e as eleições se concorresse hoje ? Nesse ambiente politico?
augusto 9 de novembro de 2016 at 16:10
Augusto, eu acho que ganharia com facilidade, especialmente em uma época em que imagem (aqui entendido como a percepção que o outro tem da pessoa, não sua aparência física) conta mais do que conteúdo.
O Reagan, por ter sido um ator, era excelente nisso. Ele não escreveu nenhum de seus discursos, mas ainda hoje vários discursos que ele apenas leu, estão entre os mais lembrados da história recente dos EUA. O discurso na tragédia da Challenger, o do muro de Berlin, o de Point du Hoc e mesmo seu último discurso são até prazerosos de se ouvir. Reagan não lia os discursos: ele os interpretava como um ator interpreta um papel.
Hoje por exemplo, eu tenho certeza de que se o Tom Hanks se candidatasse, ele teria uma grande chance de se eleger.
“Quem tem o poder real, nunca se candidata e nós, como uma plateia de musical da Broadway, batemos palmas para X ou Y, porque isso nos transmite o conforto de que nossa aprovação é determinante para o espetáculo.” Ah, mas o que fazer na internet sem a briga de torcidas??! Claro que temos que escolher salvadores azuis ou vermelhos para sermos felizes!! SQN
Leandro KARNAL??Que tristeza e que piada trilogia.=/
Se realmente a América voltar ao isolacionismo o mundo será um lugar anda mais perigoso. Sentirão a falta dos EUA quando chineses e o russos começarem a operar. A proliferacao nuclear será realidade. Seria o caso de desentupir o buraco lá em Cachimbo?
A vitória de Trump se explica facilmente quando se olha a composição dos votos por faixa etária. (Os mais velhos votaram no Trump).
A explicação é essa:
Saudades do Reagan.
Não sei. Acho que o Al Gore seria mais difícil de derrotar que a Hillary.
Imagino que Leandro Karnal teve que se esforçar pra minimizar a vitória de Trump sem parecer que estava com dor de cotovelo.
Esse foi um dos motivos que me afastei dos comentários de forma mais frequente na Trilogia.
Realmente não sei qual é o verdadeiro posicionamento dos Editores, pois no atual estado de coisas no Brasil e no mundo, TODOS ligados a um único objetivo nefasto – Um Governo Biônico Global – não existe espaço para ficar em cima do muro, de fato, nem existe muro. Assim sendo, deixo uma profunda reflexão de maneira completamente verdadeira para as almas sinceras que estiverem dispostas.
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Mentalidade Revolucionária Vs Ordem Natural
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Para quem quer que deseje se orientar na política de hoje – ou simplesmente compreender algo da história dos séculos passados –, nada é mais urgente do que obter alguma clareza quanto ao conceito de “revolução”. Tanto entre a opinião pública quanto na esfera dos estudos acadêmicos reina a maior confusão a respeito, pelo simples fato de que a idéia geral de revolução é formada quase sempre na base das analogias fortuitas e do empirismo cego, em vez de buscar os fatores estruturais profundos e permanentes que definem o movimento revolucionário como uma realidade contínua e avassaladora ao longo de pelo menos três séculos.
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Só para dar um exemplo ilustre, o historiador Crane Brinton, em seu clássico The Anatomy of Revolution, busca extrair um conceito geral de revolução da comparação entre quatro grandes fatos históricos tidos nominalmente como revolucionários: as revoluções inglesa, americana, francesa e russa. O que há de comum entre esses quatro processos é que foram momentos de grande fermentação ideológica, resultando em mudanças substantivas do regime político. Bastaria isso para classificá-los uniformemente como “revoluções”? Só no sentido popular e impressionista da palavra. Embora não podendo, nas dimensões deste escrito, justificar todas as precauções conceptuais e metodológicas que levam a esta conclusão, o que tenho a observar é que as diferenças estruturais entre os dois primeiros e os dois últimos fenômenos estudados por Brinton são tão profundas que, apesar das suas aparências igualmente espetaculares e sangrentas, não cabe classificá-los sob o mesmo rótulo.
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Só se pode falar legitimamente de “revolução” quando uma proposta de mutação integral da sociedade vem acompanhada da exigência da concentração do poder nas mãos de um grupo dirigente como meio de realizar essa mutação. Nesse sentido, jamais houve revoluções no mundo anglo-saxônico, exceto a de Cromwell, que fracassou, e a Reforma Anglicana, um caso muito particular que não cabe comentar aqui. Na Inglaterra, tanto a revolta dos nobres contra o rei em 1215 quanto a Revolução Gloriosa de 1688 buscaram antes a limitação do poder central do que a sua concentração. O mesmo aconteceu na América em 1786. E em nenhum desses três casos o grupo revolucionário tentou mudar a estrutura da sociedade ou os costumes estabelecidos, antes forçando o governo a conformar-se às tradições populares e ao direito consuetudinário. Que pode haver de comum entre esses processos, mais restauradores e corretivos do que revolucionários, e os casos da França e da Rússia, onde um grupo de iluminados, imbuídos do projeto de uma sociedade totalmente inédita em radical oposição com a anterior, toma o poder firmemente resolvido a transformar não somente o sistema de governo, mas a moral e a cultura, os usos e costumes, a mentalidade da população e até a natureza humana em geral?
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Não, não houve revoluções no mundo anglo-saxônico e bastaria esse fato para explicar a preponderância mundial da Inglaterra e dos EUA nos últimos séculos. Se, além dos fatores estruturais que as definem – o projeto de mudança radical da sociedade e a concentração do poder como meio de realizá-lo –, algo há de comum entre todas as revoluções, é que elas enfraquecem e destroem as nações onde ocorrem, deixando atrás de si nada mais que um rastro de sangue e a nostalgia psicótica das ambições impossíveis. A França, antes de 1789, era o país mais rico e a potência dominante da Europa. A revolução inaugura o seu longo declínio, que hoje, com a invasão islâmica, alcança dimensões patéticas. A Rússia, após um arremedo de crescimento imperial artificialmente possibilitado pela ajuda americana, desmantelou-se numa terra-de-ninguém dominada por bandidos e pela corrupção irrefreável da sociedade. A China, após realizar o prodígio de matar de fome trinta milhões de pessoas numa só década, só se salvou ao renegar os princípios revolucionários que orientavam a sua economia e entregar-se, gostosamente, às abomináveis delícias do livre mercado. De Cuba, de Angola, do Vietnã e da Coréia do Norte, nem digo nada: são teatros de Grand Guignol, onde a violência estatal crônica não basta para esconder a miséria indescritível.
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Todos os equívocos em torno da idéia de “revolução” vêm do prestígio associado a essa palavra como sinônimo de renovação e progresso, mas esse prestígio lhe advém precisamente do sucesso alcançado pelas “revoluções” inglesa e americana que, no sentido estrito e técnico com que emprego essa palavra, não foram revoluções de maneira alguma. Essa mesma ilusão semântica impede o observador ingênuo – e incluo nisso boa parte da classe acadêmica especializada – de enxergar a revolução onde ela acontece sob a camuflagem de transmutações lentas e aparentemente pacíficas, como, por exemplo, a implantação do governo mundial que hoje se desenrola ante os olhos cegos das massas atônitas.
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O critério distintivo suficiente para eliminar todas as hesitações e equívocos é sempre o mesmo: com ou sem transmutações súbitas e espetaculares, com ou sem violência insurrecional ou governamental, com ou sem discursos de acusação histéricos e matança geral dos adversários, uma revolução está presente sempre que esteja em ascensão ou em curso de implantação um projeto de transformação profunda da sociedade, se não da humanidade inteira, por meio da concentração de poder.
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É por não compreenderem isso que muitas vezes as correntes liberais e conservadoras, opondo-se aos aspectos mais vistosos e repugnantes de algum processo revolucionário, acabam por fomentá-lo inconscientemente sob algum outro de seus aspectos, cuja periculosidade lhes escape no momento. No Brasil de hoje, a concentração exclusiva nos males do petismo, do MST e similares pode levar liberais e conservadores a cortejar certos “movimentos sociais”, na ilusão de poder explorá-los eleitoralmente. O que aí escapa à visão desses falsos espertos é que tais movimentos, ao menos a longo prazo, desempenham na implantação da nova ordem mundial socialista um papel ainda mais decisivo que o da esquerda nominalmente radical.
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Outra ilusão perigosa é a de crer que o advento da administração planetária é uma fatalidade histórica inevitável. A facilidade com que a pequena Honduras quebrou as pernas do gigante mundialista mostra que, ao menos por enquanto, o poder desse monstrengo se constitui apenas de um blefe publicitário monumental. É da natureza de todo blefe extrair sua substância vital da crença fictícia que consegue inocular em suas vítimas. Com grande frequência vejo liberais e conservadores repetindo os slogans mais estúpidos do globalismo, como por exemplo o de que certos problemas – narcotráfico, pedofilia, etc. – não podem ser enfrentados em escala local, requerendo antes a intervenção de uma autoridade global. O contrasenso dessa afirmativa é tão patente que só um estado geral de sonsice hipnótica pode explicar que ela desfrute de alguma credibilidade. Aristóteles, Descartes e Leibniz ensinavam que, quando você tem um problema grande, a melhor maneira de resolvê-lo é subdividi-lo em unidades menores. A retórica globalista nada pode contra essa regra de método. Ampliar a escala de um problema jamais pode ser um bom meio de enfrentá-lo. A experiência de certas cidades americanas, que praticamente eliminaram a criminalidade de seus territórios usando apenas seus recursos locais, é a melhor prova de que, em vez de ampliar, é preciso diminuir a escala, subdividir o poder, e enfrentar os males na dimensão do contato direto e local em vez de deixar-se embriagar pela grandeza das ambições globais.
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Que o globalismo é um processo revolucionário, não há como negar. E é o processo mais vasto e ambicioso de todos. Ele abrange a mutação radical não só das estruturas de poder, mas da sociedade, da educação, da moral, e até das reações mais íntimas da alma humana. É um projeto civilizacional completo e sua demanda de poder é a mais alta e voraz que já se viu. Tantos são os aspectos que o compõem, tal a multiplicidade de movimentos que ele abrange, que sua própria unidade escapa ao horizonte de visão de muitos liberais e conservadores, levando-os a tomar decisões desastradas e suicidas no momento mesmo em que se esforçam para deter o avanço da “esquerda”. A idéia do livre comércio, por exemplo, que é tão cara ao conservadorismo tradicional (e até a mim mesmo), tem sido usada como instrumento para destruir as soberanias nacionais e construir sobre suas ruínas um onipotente Leviatã universal. Um princípio certo sempre pode ser usado da maneira errada. Se nos apegamos à letra do princípio, sem reparar nas ambiguidades estratégicas e geopolíticas envolvidas na sua aplicação, contribuímos para que a idéia criada para ser instrumento da liberdade se torne uma ferramenta para a construção da tirania.
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Sobre a Ordem/Direito Natural: O comando da lei varia, e deve, de acordo com o lugar, mas o que é “por natureza” deve ser o mesmo em qualquer lugar. Aristóteles
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Ps.: Pode não parecer, mas estou falando sim de Defesa.
Pps.: Karnal não merece um nanosegundo de audiência. A única coisa que ele merece é a TOTAL obliteração da relevância.
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Que Deus nos abençoe.
Grande Abraço.
É Oganza, eu também não entendo mais qual é a do Blog. Daqui a pouco só falta publicar aqui com destaque e como se fosse de suma importância o vídeo onde aparece a Dilma cassada falando alto e em bom tom que Trump ¨é di direita e faxista¨.
oganza 10 de novembro de 2016 at 5:00 Texto muito bom! Sugiro como tema, já que temos esta abertura neste espaço.
Leio todos os sites de temas militares , o único que sigo religiosamente é a trilogia, devido o conjunto da obra , trabalho profissional e pelo numero de comentaristas de alto nível que segue este espaço.
Não vejo problema a trilogia colocar estes textos de “pensadores” como Leandro Karnal, acho até bom para que pessoas como você oganza, que tem argumentos fundamentados para confrontar tais ideologias. Muitos jovens idolatram este cara como sendo o Guru do século e outros tantos incautos não o conhecesse ainda. O que eu sinto falta é das notas que a trilogia colocava no fim das postagens deste gênero, indicado qual era o posicionamento do site, mesmo que seja uma pagina aberta , acho que ter um posicionamento claro até para direciona o debate.
O mudo vive em constante mudança, tudo acontecendo para satisfazer a vontade do que domina e gira a roda.
A linha editorial da trilogia sempre foi a mesma, nos últimos anos porém tem saído da sombra e se assumido.
Como disse em outros comentários: jornalismo militante, ativismo político, a revolução pela construção de narrativas convenientes ao projeto politico-ideologico da esquerda por veículos de comunicação, formadores de opinião.
Não existe jornalismo sem q questões subjetivas estejam presentes, normal, o problema é quando escolhas de charges, seleção de textos, moderação de comentários se tornam instrumentos deliberados do viés de opinião editorial não assumida.
A ausência crescente dos bos comentaristas na trilogia talvez seja uma consequência.
oganza 10 de novembro de 2016 at 5:00
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Já eu prefiro que os tópicos possam ser apresentados de maneira diversificada, com isto aumentando o debate. Senão isto aqui acaba uma convenção de vacas de presépio.
Nada que com um pouco de educação não se possa superar.
Ademais, a mortadela acabou, e os radicais sumiram. Estão todos restritos ao Facebook, onde também perdem espaço.
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Por falar em educação, estou devendo um pedido de desculpas ao Galante e ao Carlos Soares por diferenças religiosas.
O sangue ibérico às vezes fala alto.
Independente do viés ideológico, a questão central do texto do autor me parece correta. Existiriam poucas diferenças entre um governo de Trump e de Hillary se pudéssemos acompanhá-los ao mesmo tempo, principalmente pela colocação que concordo de que eles são apenas a parte visível de um governo realizado em outro nível. Não, não estou dizendo que existem um grupo secreto governando, mas sim que grupos que possuem informação (política, militar, econômica) conseguem direcionar as ações destes governantes para as suas agendas. Assim, para ficarmos com um exemplo, se a CIA acredita que Assad tem que sair do governo Sírio, Trump acabará aceitando esta idéia, afinal eles são os ‘especialistas’ na matéria.
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Quanto ao governo mundial que o Oganza comenta, parece-me um futuro sem volta, mas esta revolução (seguindo o conceito colocado e aceito por mim) ocorre não pela vontade de agentes humanos, mas pelos avanços tecnológicos que facilitam comunicações, translado, comércio e, por consequência padronizam a humanidade. Um avanço ‘natural’, digamos.
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Claro que não nego a existência dos agentes que trabalham em prol desta união, mas relativizo a importância deles em relação as mudanças (revolução?) na sociedade realizadas pela tecnologia.
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Abraço
“Semelhanças profundas entre os dois candidatos …”.
Eu sempre gostei de história e geografia. Se este Sr. que assina o texto fizesse uma análise das propostas, e do consequente resultado, apenas sob os olhos da “geografia” dos votos, teria de assumir o quanto é equivocado seu artigo. Não existe nenhuma semelhança, em nenhum aspecto; a diferença mais “gritante” é a distribuição dos votos por áreas geográficas, o que eles chamam de condados: Donald Trump venceu em mais de 95% da área geográfica dos EUA. Esta distribuição de votos provoca, e comprova, todas as outras diferenças entre os 02 candidatos. O link abaixo, mostra esta realidade: aproxime de um estado qualquer em azul (democrata) e vejam o quanto de área está em vermelho (republicano). Quem mora nas grandes cidades é democrata, quem mora no interior (baixa densidade populacional) é republicano, são as áreas onde estão localizadas as atividades de produção agrícola e mineral, e recursos naturais.
https://www.theguardian.com/us-news/ng-interactive/2016/nov/08/us-election-2016-results-live-clinton-trump?view=map&type=presidential
Acredito que o problema sempre e essa dicotomia de Azul(democracia,republica) x Vermelho(comunismo,socialismo, Multiculturalismo e todas essas aberrações que hoje em dia é o certo) segundo os Democratas Americanos.
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Tem que ter uma 3 via?!..para acabar com isso!?
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oganza 10 de novembro de 2016 at 5:00 isso é a democracia. Mostra-se os fatos bons e o ruins e deixem que as pessoas decidam de que lado ficar, afinal quem gosta de mandar no “livre arbítrio” é justamente a esquerda!
Agora uma coisa é verdade, a quantidade de mascarás caindo na internet depois que o Trump ganhou está imensa!
Não porque ele ganhou e sim porque muita gente disse (e apostou) que ele perderia de qualquer maneira!
Hoje o mundo acordou para muitas coisas ,o politicamente correto só cabe em filmes e novelas de ficção todo ser humano pensante que usa seus parcos neuroneos está deixando de lado a midia que só serve aos interesses de minorias e vendo que isto só serve para castrar as massas e deixa-las de lado em favor de grupos minoritários,politicos,banqueiros , empreiteiras e conglomerados de comunicações,continuando assim não dá ,haverá dias ou já ha dias em que vivemos iguais a cães e escravos destes,que querem nos doutrinar. Quem falar a verdade e abolir estás doutrinas tem todas as oportunidades de assumirem o protagonismo,estamos cansados de ser dividido,hoje pensar alto não concordar com este povo ideologizado é crime e dá multa e até cadeia,vai acabar,vejo no horizonte Bolsonaro no poder ai o bicho pega,eu vou continuar vivendo como sempre vivi mas vou poder ter meu trabuco para me defender e defender minha familia,só quem foi impurtunado por bandido sabe o que é ter seu direito de defesa tolido,hoje é dificil não achar alguém que não passou por isso.
Leandro Karnal não da né!!!
Que tristesa ver ele por aqui!
Este cidadão é um sofista. Só isso. Um habilidoso e letrado esgrimista da retórica, que usa sua técnica para o mal: a prevalência do que entende ser da essência do esquerdismo/socialismo.
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Percebam como ele dá voltas e voltas, finge atacar alguns esquerdismos/istas apenas para atacar os “direitistas” (que – ohhhh, supremo crime!) fizeram uma manifestação de apoio a D. Trump, mas no final conclui dizendo que a democracia, em essência, está errada, demonstrando apenas o velho ódio da esquerda à democracia.
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Ou seja: o cara apenas finge ser um “isentão” na (aliás vã) tentativa de convencer o leitor da pureza de seus propósitos, quando a verdade é que ele serve a objetivos sinistros.
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Como disse alguém acima, quem não o conhece que o compre. Eu, infelizmente, tenho o desprazer de conhecê-lo bem demais.
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O que lamento é este espaço se prestando ao desserviço de divulgar o que este energúmeno defeca por aquela massa amorfa que ele possui entre as orelhas. Depois não se sabe porque os bons comentaristas estão cada vez mais raros por aqui…
Na rede os esquerdistas estão desolados. A guinada à direita é uma tendência mundial.
Esse texto aqui …. não ….
Oganza & Lord Dr Vader
Bom tê-los por aqui novamente.
Simples:
Diferenciar inteligência de um coletor de dados.
Na primeira exige-se IE e Raciocínio Lógico, na segunda amontoa-se qualquer coisa de conhecimento para sustentar a própria ilustração.
Shalom
“Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ao menos façamos tudo para não viver inteiramente como animais”
Saramago, 2002, p. 119
“…. do conhecimento …. ”
Melhor ….. (rs)
CA:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_sof%C3%ADstica
Mais um escroto comunista, hipócrita com palavras bem estruturadas para o MAL. Bonito e honesto para esse colunista da vermelha “unicamp” é Stalin, Mao, Castro. Chê..etc.. Mal sabem esses “bem informados historiadores” que estariam mortos nos governos desses comunistas. Seu adorador do diabo! Não deem mais espaço para esses tipos de vermes militares. Já fizeram muita cagada deixando-os dominar a educação brasileira.
Ainda bem que já caiu a ficha em muitos participantes que este espaço na verdade é vermelho! Não gostam de serem contrariados, filtravam post, tinham síndrome nazistóide camuflada ao advertirem post enfáticos e contrários aos mandantes de autorização para visitar submarinos e bases…. etc..etc.. Tudo bem típico dos blogs sujos. Agradavam aos petralhas para conseguirem “passes”. Faz tempo isso!
Por fim abriram o fórum para um monte de troll comunistas e seus criativos e variados nicknames.
Por favor leiam/Ponham vírgula “vermes, militares”.
Mas Karnal está certo numa coisa, a distância entre republicanos e democratas é menor que se imagina.
Como diz a piada americana, quando o ladrão te pega se vira republicano, e quando a polícia te pega se vira democrata.
No final todos gostam de carrões e loiras peitudas.
Eu gosto !
Eu gostei do ponto sobre as semelhanças entre os dois candidatos. Lembrando que os democratas americanos pouco tem de parecido com o que se considera esquerda por aqui. De qualquer forma, apesar dos problemas, prefiro nosso sistema eleitoral ao deles. Foi genial para o séc XVI, mas o mundo mudou.
O texto do Karnal me lembrou outro que da Economist sobre Democracia que li tempos atrás. Como ouvi de um americano “Como só ficaram esses dois de 300 milhões de habitantes?” São fatos que temos que encarar se queremos que o sistema continue existindo. Pode ter seus problemas mas eu ainda prefiro ele às alternativas.
http://www.economist.com/news/essays/21596796-democracy-was-most-successful-political-idea-20th-century-why-has-it-run-trouble-and-what-can-be-do
Leandra Espiritual não merece o tempo que eu passei lendo. Só desconfiei do conteúdo no meio do texto e já era tarte haha. Uma piada!
Puts!
Colocar um texto deste marxista fala contra a reputação desta página…
Lamentável!