Leopard e M113 - 2

Leopard e M113 - 2

Os militares não precisam ser agradados. Eles necessitam dos meios e condições para cumprirem suas missões constitucionais

POR SÉRGIO PAULO MUNIZ COSTA

Quando se pensa uma democracia, vem-nos logo à mente o voto, as instituições, a representação, o governo responsável e a alternância no poder.

Sabemos que existem outras condicionantes: as sociais, expressas na igualdade de oportunidades, no desenvolvimento humano e na redução das desigualdades; bem como as econômicas, traduzidas no direito de qualquer pessoa trabalhar e produzir para viver dignamente e prosperar.

Tudo isso e muito mais converge numa prática comum continuamente exercitada que parte do pressuposto da falibilidade do sistema e da necessidade de sua constante reforma.

Assim, uma democracia são muitas coisas e se fosse possível sintetiza-la numa única palavra, esta seria participação, materializada no concurso de todos os cidadãos nos negócios públicos, na promoção do bem comum e na geração de riqueza.
No caso do Brasil, para que a cidadania se confirme por meio da participação na coisa pública, é preciso que a sociedade seja adequadamente informada dos grandes temas do interesse nacional, e não desinformada pelas conveniências do poder, do corporativismo ou do simplismo.

E para tanto, há que se trazer a público o essencial de questões aparentemente restritas a setores do Estado ou do governo, mas que na verdade dizem respeito à sociedade como um todo.

É o que está faltando na mirabolante proposta anunciada pelo governo de manter os militares na ativa até os 65 anos de idade, com “adaptações na carreira”, no contexto da reforma da previdência.

Uma solução que vai na contramão de qualquer noção de produtividade pela qual o País clama, na medida em que encherá a caserna de idosos e idosas sem condições de acompanhar a atividade-fim das forças singulares e irá gerar mais despesas com instalações, alimentação, saúde e material de consumo, transformando os combatentes que envelhecem no que jamais foram: burocratas, dos quais o País tem uma quantidade mais do que razoável.

Respondendo à clássica pergunta dos anos 50: “Forças Armadas para quê?“, elas servem para fazer a guerra, a atividade humana mais perigosa, tanto do ponto de vista individual como coletivo.

Nesse aspecto, a sociedade brasileira precisa de um choque de informação sobre a sua segurança nacional, que é o produto, bem e serviço que as Forças Armadas oferecem, pelo qual ela paga e vai muito além de eventuais participações em missões de paz, ocupações de favelas, campanhas assistenciais ou contribuições ao desenvolvimento do País.

É preciso desmontar o mito maravilhoso de que o Brasil desfruta de quase 150 anos de paz regional por que é uma nação pacífica.

Este é o efeito. A causa é outra: a incontestável superioridade militar regional do Brasil e o seu ponderável poder para dissuadir eventuais agressões. A paz se assegura com o preparo para a guerra, e ninguém descobriu até hoje outra forma de fazê-lo.

De todo esse dispositivo armado do Brasil, a principal arma é o seu componente humano, sendo desnecessário repetir aqui as especificidades da profissão militar que limitam, em qualquer força armada do mundo, o tempo efetivo de serviço. A guerra é antes de tudo uma questão de fôlego, do general ao soldado.

Porém, o maior mal que se causa a um exército do qual todos saem tarde é que cada vez menos bons entrarão nele cedo. Se a perspectiva de um exército envelhecido, traz, de imediato, a perda de credibilidade da força como elemento de combate, o mal mais duradouro é o afastamento dos melhores candidatos à carreira de oficial combatente.

Da visita do General Dwigh David Eisenhower, Supremo Comandante Aliado na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, que veio ao Brasil em 1946 e conheceu a nova Academia Militar das Agulhas Negras, à época denominada Escola Militar de Resende, o General Pedro Aurélio de Góes Monteiro, destacado chefe militar brasileiro durante o conflito, colheu a observação de que ela formava melhores tenentes que a sua congênere norte-americana, West Point, mas que esta preparava melhores generais.

O comentário do general norte-americano, independentemente do acerto quanto à formação de oficiais e generais, serve de base à reflexão sobre a carreira profissional das pessoas sobre cujos ombros recairão graves responsabilidades na maior de todas as crises para um país: a guerra. É uma questão cujas decisões não se aplicam ao presente, mas a gerações e ao futuro do País no médio prazo.

O que se quer do oficial combatente, não só do Exército Brasileiro, como da Marinha do Brasil e da Força Aérea Brasileira, é a máxima proficiência em cada etapa da carreira.

E isso não se assegura impondo-lhe a permanência cada vez maior nas fileiras, mas exatamente o contrário, admitindo-se a evasão com proventos de inatividade proporcionais ao tempo de serviço, e com programas de inserção profissional no mercado de trabalho, como acontece nas forças armadas dos países mais avançados que dependem de dispositivos militares críveis com elevado grau de prontidão e resposta.

Se estamos discutindo o presente do País, o Brasil precisa de menos funcionários e de mais trabalhadores.

E se estamos discutindo o seu futuro, é preciso alertar que o Brasil na medida em que se desenvolver e atingir seus objetivos de crescimento econômico e influência internacional, terá, inevitavelmente, maiores desafios na área de defesa que precisam ser visualizados desde já.

O Brasil precisa voltar ao tempo, não tão distante, em que encarava os seus problemas de frente, em busca de soluções e não de projetos de poder.

Com problemas proporcionais ao seu tamanho, o Brasil não tem problema pequeno, que no caso da Defesa Nacional, além de enorme, é permanente, simplesmente como acontece a qualquer unidade política soberana.

É um erro grosseiro querer resolver problemas antigos com velhas ideias. O que se vai conseguir com isso é trazer problemas maiores, desenterrando velhos e criando novos. Por sinal, como aconteceu nos anos 90 do século passado.

No início daquela década, com propostas ingênuas de drástica redução de efetivos e criação de forças profissionais dotadas de meios de deslocamento que as fariam mais caras e menos eficientes do que o dispositivo existente para as estratégias de presença e dissuasão que o Brasil prioriza.

E no final da década, quando a insensibilidade e o descaso da elite política para com a Defesa Nacional funcionaram, tanto no meio civil como no militar, como eficientíssimos cabos eleitorais de Lula, que já ouvira de Fidel Castro a recomendação de agradar os militares, peça-chave de seu projeto de poder.

Os militares não precisam ser agradados. Eles necessitam dos meios e condições para cumprirem suas missões constitucionais, a via pela qual verdadeiramente se exerce e se confirma a subordinação do poder militar ao poder civil.

No grande sistema de equações que é o Brasil, a militar, a exemplo das demais, emprega as mesmas variáveis – pessoas, recursos e políticas – com as mesmas constantes – nação, estado e soberania – e quem governa o País haverá de lidar com umas e com outras, variáveis e constantes, sem embaralha-las.

Mas para isso, será preciso antes de tudo saber que a equação militar é diferente.

FONTE: Diário do Comércio

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest

6 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Caio
Caio
8 anos atrás

Sendo direto e reto , talvez grosseiro nas palavras. O que eu vejo nas propostas desta nossa enigmática previdência, suas restrições aos trabalhadores públicos , privados, civis e militares das esferas mais baixas, não se toca no alto funcionalismo, em qualquer setor , se quer no sistema parasitário de remuneração política( isto me limitando somente, a remuneração) estas outras classes, não existem nas discussões de mudanças previdênciarias ,.
A imensa desinformação sobre o papel das forças armadas e suas atribuições é fruto da nossa imprensa televisiva, principal meio de informação/ desinformação da grande maioria de jossa gente, sendo que a uma flagrante depreciação destas forças, por vários profissionais da imprensa, como o senhor Ricardo boechat por exemplo , que me assustou ao criticar, um parco envio de verbas emergênciais a defesa nacional, além de matérias focadas somente no período da ditadura, tentando criar um senso comum, no qual os nossos militares são uma eterna ameaça a democracia.

sergio ribamar ferreira
sergio ribamar ferreira
8 anos atrás

Caro SR. Caio. Concordo plenamente com o Sr. Sobre o Sr. Boechat, este e outros são velhos conhecidos em depreciar as Forças Armadas visto terem uma única ideologia a indecente e promíscua esquerda. Daí a crítica de desconstrução. Posso estar cometendo o maior dos absurdos em dizer mas o Brasil não possui bons combatentes por não terem tido a mais de sessenta anos um batismo de fogo. Não participar diretamente em conflitos, não tomar partido. sempre se mantendo à margem de uma posição cômoda de não apoiar lado a ou b. Nosso povo não é pacífico, muito pelo contrário. Observemos as nações que de certa frma se envolvem direta u indiretamente em conflitos. Deus me perdoe, mas é uma realidade. “Ao vencedor as batatas”.

Delfim Sobreira
Delfim Sobreira
8 anos atrás

O “fantasma” do golpe militar só se dissipará quando todos que presenciaram o regime militar, eu inclusive, estivermos mortos.
Por isso a esquerda tentou enfiar na cabeça dos jovens que tivemos uma ditadura, mas que a luta foi vitoriosa, blablabla.
O que trouxe trouxe democracia foi a vontade popular expressa nas grandes manifesfações do Diretas-Jâ.

Jorge Alberto
Jorge Alberto
8 anos atrás

Complementando o q oSr Delfim disse…

Para q a esquerda seja vitoriosa em implantar essas ideias na cabeca dos jovens, basta que os mais velhos q presenciaram a verdade da “ditadura”, se calem e “deixem pra la”… Nada facam!!

Para o triunfo do mal, BASTA que o bem nada faça!

Antonio Carlos Jr Zamith
8 anos atrás

Ficaram 13 anos calados com Dilma e Lula falindo, roubando e sovietizando o Brasil e não vai ser em 2 anos do Temer que vai corrigir.

Henrique Santos
8 anos atrás

Nascido em 1962, portanto a dois antes do Golpe de 1964, percorri uma lacuna de pelo menos 10 anos sem perceber a política ao meu redor. Residente numa região dividida pela classe média, formadas por trabalhadores dos setores público e privado e outra formada por trabalhadores braçais e afins, aonde o único meio de comunicação de massa era o rádio, a ditadura, como o sistema de governo que regia o país, para nós proletários foi inócuo. Demorou 24 anos para que tomássemos conhecimento da real situação política do país. Acho que os políticos que foram anistiados retornando ao país foram mais danosos que os militares, pois estes tinham um projeto de poder nacionalista…lembro que não foram os militares que rebentaram com a estrutura educacional brasileira sob a justificativa de ultrapassada…sou de uma época em que a educação e seus agentes eram valorizados…enquanto digito sou admoestado pelo meu colega de repartição que a minha concepção é de um alienado…respondo a ele que a educação que obtive com dificuldade mas amparado pelas instituições sérias da época me permitem hoje ter parâmetros para comparar o discurso falacioso dos governos posteriores….o papel das forças armadas para nós sempre foi preponderante para o projeto nacional de país muito contrário ao está sendo implementado atualmente com a entrega dos nossos recursos naturais. Não posso conceber nem admitir a estigmatização das forças armadas como deletéria para a nação brasileira. Para mim meritocracia não é sinônimo alienação…os esforços atuais que são realizados em busca de dotar o indivíduo de ferramentas intelectuais capazes de competir/concorrer em condições iguais só serão válidas quando o ensino fundamental juntamente com a valorização de professores comprometidos se tornarem estratégia de Estado, O evento das olimpíadas realizadas em nosso país é uma boa oportunidade para refletirmos as nossas posições tanto no campo político quanto no militar, além do campo educacional. Deus esteja conosco!