O bolchevismo tardio
O PT trata os adversários como inimigos do povo e traidores da pátria e vê no crescimento da oposição uma conspiração golpista
Luiz Carlos Azedo
A matriz ideológica da esquerda brasileira é uma mistura de anarquismo, marxismo e positivismo. Leandro Konder, no livro A derrota da dialética, explica que a chegada das ideias de Marx ao Brasil se deu logo após a comuna de Paris de 1871. Contra elas reagiram as elites políticas escravocratas do Império, mas muitos estudantes receberam essas ideias com entusiasmo. Os principais intelectuais do país, porém, não se empolgaram com as teses marxistas.
Tobias Barreto considerava Marx um reformista ingênuo. Clóvis Bevilacqua via a desigualdade como o resultado do progresso. Machado de Assis o ignorou. O grande ideólogo da proclamação da República seria Benjamin Constant, líder positivista ortodoxo, que lecionava na Escola Militar da Praia Vermelha. Somente em 1900, onze anos depois, o professor italiano Antônio Piccariolo (1868-1957) criou o centro socialista paulistano. Era formado por anarco-sindicalistas, sindicalistas-revolucionários, reformistas e socialdemocratas.
Como hoje, o socialismo era algo distante da realidade brasileira. Após a Revolução Russa de 1917, no rastro da I Guerra Mundial, as ideias socialistas voltaram a ter eco no Brasil, sob forte influência do Partido Bolchevique, liderado por Vladimir Lênin. Pouco depois, em 1922, sindicalistas de origem anarquista, liderados pelo jornalista Astrojildo Pereira (RJ) e o contador Cristiano Cordeiro (PE), fundaram o Partido Comunista do Brasil (PCB). Alguns anos depois, Astrojildo converteu ao comunismo o líder tenentista Luiz Carlos Prestes.
A adesão de Prestes completou a simbiose entre as ideias anarquistas, marxistas e positivistas, que depois influenciou o comportamento de toda a esquerda brasileira. Houve uma espécie de fusão da visão bolchevique, cuja política considerava a luta de classes como parte de uma guerra civil mundial, com o golpismo dos militares brasileiros de formação positivista. Seu ponto alto foi a tentativa dos comunistas de tomada do poder pelas armas em 1935. Como os militares tutelaram a República de 1889 a 1985 — com destaque para a Revolução de 1930 e o golpe militar de 1964 –, a concepção de “revolução social pelo alto” adotada por comunistas e militares nacionalistas era a outra face da moeda de uma concepção de modernização do país por uma “via prussiana”. Durante 100 anos da história republicana, o golpismo provocou graves crises políticas.
O golpe
O melhor cenário para examinar essa questão é a crise do governo João Goulart (PTB), em 1964, depois de uma sucessão de tentativas de golpe de Estado por parte da direita militar e setores conservadores. O programa de reformas do governo defendia a nacionalização das empresas estrangeiras e a reforma agrária, mas não reunia apoio efetivo no Congresso. A esquerda, porém, queria que Jango fizesse as reformas “na lei ou na marra”. Além disso, havia o problema da sucessão de Jango, na qual os candidatos mais fortes eram o ex-presidente Juscelino Kubitscheck (PSD) e o então governador da antiga Guanabara, Carlos Lacerda (UDN).
A esquerda nacionalista atacava a “política de conciliação” de Jango e defendia a candidatura do ex-governador gaúcho Leonel Brizola (PTB). O líder comunista Luiz Carlos Prestes, porém, já articulava a reeleição de Jango. Pela Constituição, nenhum dos dois poderia ser candidato. Como o mundo vivia o auge da guerra fria, a radicalização política no Brasil era quase inexorável, com os Estados Unidos incentivando a tomada de poder pelos militares. Foi nesse contexto que houve o golpe de 1964.
A destituição de Jango provocou um racha na esquerda, porque não houve resistência armada ao golpe, por decisão de Jango e de Prestes. Liderada por Carlos Marighella, parcela expressiva resolveu partir para a luta armada, com apoio de Cuba e da China. Prestes e o PCB, com apoio da antiga União Soviética, defendiam uma frente ampla contra o regime militar e a luta pela redemocratização do país por meios pacíficos.
De modo geral, o “bolchevismo” adotava três ideias-força: a implantação do socialismo a partir do Estado, a inevitabilidade da “guerra civil” para a manutenção do poder e a necessidade de neutralizar a reação das potências imperialistas. Essa visão pautou o comportamento da esquerda no Brasil, principalmente dos setores que optaram pela luta armada contra o regime militar, alguns dos quais nunca fizeram autocrítica do seu fracasso.
A presidente Dilma Rousseff e o presidente do PT, Rui Falcão, são remanescentes da guerrilha urbana. A ideia de renúncia ao poder não passa por suas cabeças. Diante da crise econômica, política e ética, a postura da esquerda governista cada vez mais reflete uma espécie de “bolchevismo tardio”. Aposta no Estado para controlar o país, sua economia e a sociedade. Usa de todos os meios para se manter no governo e considera um retrocesso a alternância de poder. Adota a retórica nacionalista para tratar os adversários como inimigos do povo e traidores da pátria. Vê o crescimento da oposição como suposta conspiração golpista articulada pelos Estados Unidos. Viola as regras do Estado democrático de direito ao mesmo tempo que pretende usufruir de suas prerrogativas e garantias.
FONTE: Correio Braziliense
Creio que deveríamos estar debatendo textos como os desta semana há muitos anos, sem medo de empulhação ou desagradar quem discorde, do contrário não há debate sobre o que importa realmente; mas merecem sim o reconhecimento por promover estes temas, muitos ainda se negam.
O Brasil acordou. Porém, sei que há aqueles que ainda estão acordando. Sejamos compreensivos com eles. Afinal, foram 50 anos de escuridão. E aqueles que quiserem continuar dormindo…bem, que continuem então. A história continuará a seguir seu curso natural, e demonstrará, como tem demonstrado, onde está a verdade.
Nenhum partido gosta de sair do poder; o que não pode é virar a mesa aparelhando e/ou distorcendo as Instituições.
Juliano M, eu creio que a uns anos seria impossível…, debates sobre concorrências de caças, helicópteros, transferência de tecnologia e outras coisas se tornavam embates ideológicos, e os editores tinham um trabalho imenso para manter o tópico, quem defendia o governo estava deslumbrado com a modernização meia boca dos meios, e quem já antevia o que vemos hoje se revoltava da cegueira…
OFF-TOPIC : PF apertou a Odebrecht, e todos os seus diretores pediram adesão à delação premiada.
Aguardemos…
Mateus, parabéns, disseste uma grande verdade, além de que quem avisou que poderia terminar mal era golpista, lambe botas “dus yankee”, traidor, homens de pouca fé, tacanhos e não sei mais quais adjetivos.
Agora coma a delação do Mo, o circulo militar vai pegar fogo, principalmente de Brancos e Azuis, não quero nem ver…..
G abraço
rodrigo passos, determinismo histórico ?
Infelizmente a mentalidade comunista esta impregnada no pais, principalmente nas FFAA, foi o governo militar que encheu de empresas estatais e protecionismo economico que atrasaram o pais, o PT apenas pegou tudo pronto. O Brasil tem os piores tipos de militares, os estatistas, foram eles que desarmaram a populacao, pois no Paraguay, Argentina, Uruguay e Chile sempre foi permitido comprar fuzil, pistolas 9mm .40 .45 .357.
O discurso de Dilma , hoje no planalto, me pareceu muito belicoso…
Que eu me lembre, a proibição de calibres para civis começou com o Getúlio Vargas…
De resto, perfeita colocação.
Não, quem determina os fatos são geralmente os homens. E estamos vendo o resultado que certas ações causaram ao país, como a crise, por exemplo. Ou o nível de corrupção à que se chegou. O futuro conta com a promessa de que aprendemos com nossos erros. Senão estamos condenados a viver no passado. Por tanto só há um verdadeiro futuro à nossa frente. O futuro que a maioria dos brasileiros querem. Ainda que existam algumas divergências. Mas uma coisa é certa, sabemos o que não queremos. E o que não queremos é voltar ao passado.
Abraço.
Obrigado Juarez.
Mas a alcunha que mais dói é a de traidor, não é? Como nunca “vesti” essas carapuças, tenho paz, e mais vontade ainda de ajudar minha pátria a ter um futuro melhor.
Abraços!
Vamos adiante Mateus, ainda temos um longo caminho a percorrer…….
G abraço
Resumindo,
todos esses socialistas/comunistas/revolucionários, independente de que ala revolucionaria for,trotskista,marxista,bolchevista ou maoista.São um bando de psicopatas,assassinos,mentirosos, hipócritas sem um pingo de senso de empatia.São egoístas ao extremo com uma tonelada de egomania.
Ah o tempo…
Só ressaltar aqui que as suas práticas políticas, a presidente Dilma e do ex-presidente Lula estão longe de serem próximas aos comunistas da URSS ou da China. Existe alguma afinidade sim, mas quando a bancada ruralista precisa de apoio eles chegam junto. Quando a FIESP pediu incentivos fiscais eles chegaram junto.
A reforma de base pretendida pelo ex-presidente João Goulart passou longe no PAC. Aliás o próprio nome do projeto já deixa claro que de esquerda sim, mas não aos moldes tradicionais. Programa de Aceleração do Crescimento, ora bolas, Crescimento econômico já que não podia ser demográfico. Muito menos se tratou de um projeto de reorganização urbana e rural. As empreiteiras que cresceram durante o regime civil-militar de 1964-85 são as mesmas que hoje foram condenadas no esquema de corrupção.
Não faremos também reducionismo. O verdadeiro poder político e econômico na República Federativa do Brasil, pós 1988 é o PMDB. Desde o Sarney não ocupa a presidência, mas não precisa. Melhor é ser o poder dos bastidores, pois sem ele não há governo. O PSDB de FHC não governou sem o PMDB, nem tão pouco o governou Lula. A Dilma enfrenta crise política não por ser de esquerda, como alguns na internet fazem crer que a Guerra Fria ainda não acabou, mas porquê a crise econômica e a corrupção criaram uma cena dantesca. Um navio afundando onde o salve-se quem puder fica evidenciado pelo racha do PMDB. O PT continua o partido com maior número de assentos 88 de 513 na Câmara dos Deputados e 15 no Senado. No Senado onde alterna com PMDB o maior no Senado,19 e na Câmara dos Deputados 79.
A oposição que puxa as manifestações mais exaltadas não chega a ter número expressivo quando o critério é representatividade.
Tudo isso não isenta o PT, bem como os demais partidos de serem parte de um esquema longo e complexo de corrupção. Um esquema aliás que não se sabe nem quando começou, pois é mais antigo do que se imaginava. Isso apenas mostra o que muitos não querem admitir: estamos fadados a tirar um governo que não gostamos para um que talvez venhamos a gostar. As decisões políticas de maior peso não serão e nunca foram feitas nas urnas, mas em reuniões palacianas da qual o povo não é convidado.
Anderson e Mateus, perfeitos!
Eu li em algum lugar que é necessário tirar ou pelo menos reformular todo o governo que esta aí, porém infelizmente o time reserva é tão ruim quanto o titular e de quem é a culpa? Do Povo!
O povo brasileiro é igual aquela criança que a mãe “manda estudar para ter um futuro” e quando cresce se tornara ninguém, trabalha duro e ganha mal e pensa: devido ter ouvido minha mãe!
Nós temos um longo caminho pela frente. Não basta uma restruturação política, temos que ter uma educacional e cultural também!
A gravação do Lula é emblemática quando ele diz: “…o judiciário é covarde, o legislativo é covarde, etc… todos ficam em compasso de espera aguardando um milagre que vai salvar todo mundo…” O Lula é astuto ele sacou que PMDB, PT, PP, PSDB, PTB etc, vão todos morrer abraçados se não se unirem para barrar a Lava a Jato. Ele já convenceu todos os partidos disto.
Benjamin Constant o Grande mentor do Exercito Brasileiro !!! 1889
Juarez
https://www.youtube.com/watch?v=fS7lE2bD_Lg
Comunistas hoje no Brasil! Quem? Compare com aqueles que deram motivo a Revolução de 1964! Não creio que deva se gastar tantas “letras e esforço mental” para definir nossa atualidade política com supostos comunista. Comunista brasileiro não lê O Capital e confunde Lenine com cantor de MPB. Quem entende ao contrário são alguns poucos componentes da direita – por isso é que existem comunistas desse tipo no Brasil. Chamar certos anarquistas de comunistas, bolchevique ou vermelho é dar status imerecido a quem não deve.
Carlos Alberto
24 de março de 2016 at 5:24
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Muito Gratificante perceber a referência ao Pe. Paulo Ricardo um homem que tem se dedicado a alertar sobretudo aos mais jovens, aos estudantes sobre o perigo de se lançar, às cegas, às paixões de ideologias espúrias.
O seu trabalho é digno e digo isso independentemente de qualquer matriz religiosa. A hora urge!