O Gunnery Sergeant não é um Sargento de Artilharia!

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Drill_instructor_at_the_Officer_Candidate_School

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As graduações nas Forças Armadas americanas e a confusão nas traduções para o português. Este artigo foi publicado originalmente no antigo site Voo Tático, em 25 de abril de 2011

Uma situação bastante comum que vemos nos artigos em português que tratam sobre as forças armadas norte-americanas são as confusões quanto aos postos e graduações.

Isso ocorre principalmente nos filmes — tanto legendados quanto dublados — mas também em artigos impressos que deveriam, via de regra, ter um rigor maior.

Essas confusões ocorrem porque as carreiras no Brasil e nos EUA não se estruturam da mesma maneira. No Brasil podemos dividir as carreiras entre oficiais e praças. Os EUA tem uma terceira carreira, a de Warrant Officer. Hierarquicamente, os warrant officers ficam entre as praças (enlisted) e os oficiais. São sempre especialistas em suas funções e irão desempenhá-las até o final da carreira, sem nunca atingir funções de comando. Um exemplo típico são os pilotos do Exército; em sua imensa maioria são warrant officers. A carreira do warrant officer tem cinco postos, de W1 a W5. A USAF é a única força que não possui warrant officers.

A carreira dos oficiais é bastante semelhante, com postos equivalentes aqui e lá.

A carreira dos praças tem bem mais graduações e algumas responsabilidades diferenciadas. As graduações de E1 a E4 equivalem grosseiramente às graduações de soldados e cabos no Brasil. As graduações de E5 a E7 seriam o equivalente aos 3º, 2º e 1º Sargento. Não existe, nos EUA, a graduação de subtenente. Ela é substituída pelas graduações de E8 e E9 (Master Sergeant e Sergeant Major e suas diversas variações). A função desses militares é assessorar o comando em todos os assuntos relativos às praças. Um exemplo de Sergeant Major atuando junto ao comandante pode ser visto no filme “Fomos Heróis” (2002).

Feita essa introdução, vamos aos erros nas traduções. Sem dúvida, o mais comum de todos é chamar o Gunnery Sergeant de Sargento Artilheiro ou Sargento de Artilharia, como se ele fosse oriundo dessa arma. Na verdade o “Gunny”, como é chamado informalmente, é o nome da graduação E7 dos Fuzileiros Navais e não tem nada a ver com a arma ou especialização desse
militar. Talvez a tradução mais adequada fosse sargento-armeiro, pois a instrução de armamento e munição era a especialização original desta graduação. Mas o certo realmente seria chamá-lo de 1º Sargento.

Essa é a confusão mais comum pois o Gunny é normalmente a graduação dos Drill Instructors, os comandantes dos pelotões do período de instrução básica, uma figura mítica dos filmes militares. O Gunnery Sergeant, como sua respectiva tradução errada para Sargento de Artilharia, pode ser visto nos filmes “A Força do Destino” (1982), com Lou Gosset Jr. no papel do instrutor; “O Destemido Senhor da Guerra” (1986), com Clint Eastwood e “Nascido para Matar” (1987), com R. Lee Ermey no papel. Este último foi um Gunnery Sergeant também na vida real.

Mais recentemente, no filme “Zona Verde” (2010), o personagem de Matt Damon foi traduzido como subtenente, quando na verdade era um warrant officer. Foi o artifício encontrado por esse posto não existir por aqui.

Uma curiosidade é o pronome de tratamento dos warrant officers. Eles não são chamados pelo posto e sim por “Senhor” na Marinha e na Guarda Costeira e por “Chefe” no Exército.

FONTEmedium.com

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Mauricio R.
Mauricio R.
9 anos atrás

E o “sargenteante” no EB, é uma função ou um posto???

tadeumar
tadeumar
9 anos atrás

Para colocar um pouquinho mais de lenha na fogueira, rsrsrsrs que tal isso:

NCO > Non-commissioned officer.???? Como e o caso do Sergeant Major Plumley no filme: We Were Soldiers.

Ele tinha comando sobre oficiais comissionados (Tenentes e Capitaes).

Interessante nao e mesmo? Mas a estrutura hierarquica das forcas armadas americanas e muiiito mais complicada que no Brasil.

E para responder ao comentario do Mauricio, o Sargenteante e a dona de casa do quartel.

O almoxerifado controlado por dele. E uma funcao segundo eu entendo dos meus tempos de EB, no 4 Esquadrao Cavalaria Mecanizada. (1973). Juiz de Fora. MG.

https://www.youtube.com/watch?v=qaOl-Z8iWlA

Vader
9 anos atrás

Interessante como nos EUA os praças são muito mais valorizados que aqui, e o grosso do investimento é feito neles e não (tanto) nos oficiais. E o poder que é dado aos sargentos e NCOs (dos mais diversos matizes e classificações) é algo sem paralelo por aqui.

Mal comparando, segue mais ou menos a doutrina romana. Na legião, quem realmente mandava, quem realmente fazia a diferença em combate eram os centuriões e os optiones, que nada mais eram que sargentos. Essa era a verdadeira força da legião no dia-a-dia, e não os tribunos (oficiais) que comandavam as frações maiores nas batalhas campais.

A verdadeira reforma de “RH” das Forças passa por uma reestruturação dos postos e graduações, principalmente no Exército.

vjbreternitz
vjbreternitz
9 anos atrás

O artigo contém ao menos um erro: nos Marines, existe a graduação de 1º Sgt – depos do Gunnery Sgt vem o Staff Sgt e ai o 1º.

a.cancado
a.cancado
9 anos atrás

Sobre traduções, me lembro de uma temporada da série ’24’ (’24’ horas, aqui), onde o personagem Jack Bauer trva contato com o Air Marshall em um vôo, enquanto caçava um terrorista no avião,. O Air Marshall é como o US Marshall, um delegado federal, com autonomia pra atuar em todos os EUA, sem ter que respeitar divisas de estados, mas foi traduzido 9ao pé da letra) como MAJOR-BRIGADEIRO!…rsrsrsrsrsrsrs

Já sobre hierarquia aqui, e o poder de sargentos sobre oficiais, um amigo meu, que serviu na Brigada Paraquedista, me contou que durante a instrução QUALQUER UM recebe ordens de sargentos-instrutores, que sequer sabem as patentes dos que estão fazendo os cursos. Ele disse que viu dois coronéis tomarem um esporro humilhante de um sargento, e ainda tiveram que ‘pagar 20’…rsrsrsrsrsrsrss

Mauricio R.
Mauricio R.
9 anos atrás

tadeumar,

Obrigado pelo esclarecimento.

Colombelli
Colombelli
9 anos atrás

Tadeu, o sargenteante cuida da sargenteação, nome que é dado ao “S1” da companhia, bateria ou esquadrão, ou seja, é normalmente um segundo ou primeiro sargento que é responsável pelo controle de pessoal. Faz diariamente o mapa da força e a escala de pessoal de serviço da subunidade bem como preenche a escala de pessoal de serviço da unidade com o quantitativo solicitado nos termos do que solicita o S1.

O almoxarife é de responsabilidade do “sub”. A subtenência, ocupada muitas vezes por um segundo ou primeiro sargento é o almoxarife da subunidade ( companhia ou esquadrão), e o responsável acaba sendo chamado de “sub” mesmo não sendo subtenente.

Há ainda o furriel, um terceiro sargento que faz os pagamentos no âmbito da subunidade.

As outras duas funções são o sargento de educação física e o sargento de tiro.

Por fim, tem a ultima função, esta não oficial, que é o responsável pela “sala de meios” onde fica o material de instrução. Também um terceiro sargento.

Paulo Meira
Paulo Meira
9 anos atrás

Nos países de tradição aglo-saxônica o Oficial se dedica a “pensar” o combate, traçar planos, planejar, o dia-a-dia da tropa, controle da disciplina e treinamento é atribuição do Sargento, todo Batalhão tem o seu Seargent-Major encarregado da disciplina, vestimenta, moral e conduta da tropa, e isso vai se replicando, nas companhias e pelotões.
Um velho ditado ditado Inglês, diz que o Exército perfeito teria Oficiais alemães, Sargentos britânicos e logistica americana