Entrevista com Jaques Wagner: compra dos Pantsir não deve ser concluída até as Olimpíadas
Ministro falou sobre cooperação técnico-militar Brasil-Rússia, comentou a aquisição dos helicópteros russos MI-35 e avisou: dificilmente a compra dos carros antiaéreos Pantsir será concluída até as Olimpíadas.
Este sábado, logo após a realização da Parada Militar, o ministro da Defesa do Brasil, Jaques Wagner, que está em Moscou representando a presidenta Dilma Rousseff, concedeu entrevista à Sputnik e à Rede Globo. O diretor da Sputnik Brasil, Aleksandr Medvedovsky, acompanhado do jornalista Konstantin Kuznetsov, encontrou o ministro em um hotel no centro de Moscou, onde foi realizada a entrevista.
Gostaríamos de fazer uma pergunta sobre a cooperação técnico-militar entre Brasil e Rússia. Durante a exposição de armamentos LAAD-2015, realizada no Rio de Janeiro, muito se falou sobre a possibilidade de compra de helicópteros russos K-32. Essa possibilidade realmente existe?
Nos compramos helicópteros russos que estão em Porto Velho, em Rondônia. Acredito que a perspectiva mais palpável de aquisição brasileira seria o carro antiaéreo Pantsir. A presidenta assumiu esse compromisso, mas a compra atrasou. Estamos com problemas de aperto fiscal este ano, mas eu conversei com Embaixador da Rússia no Brasil e acho que rapidamente poderemos estar fazendo o pedido de oferta de preços, por que na verdade até agora nem isso foi feito.
Os helicópteros serão usados durante os Jogos Olímpicos como um dos elementos de segurança?
Eles podem ser requisitados. Na verdade eles estão todos baseados nessa base em Rondônia. Eles fazem um outro serviço, mais voltado para a fronteira brasileira. Se houver um entendimento da Aeronáutica de que é importante trazé-los para participar da cobertura da Olimpíada, eles virão.
Então a compra dos Pantsir dificilmente será concluída até as Olimpíadas?
Eu acho muito difícil. Teríamos que fazer um contrato agora (para que isso fosse possível). No momento somente vamos fazer a formalização do pedido para uma oferta dos russos. Por isso eu acho que até a Olimpíada dificilmente conseguimos (comprar os Pantsir).
FONTE: Sputnik News
Eu confesso que apesar de achar o Pantsir um sistema antiaéreo fantástico não gostava dele para o Brasil pois pensava que seria usado de forma tática na defesa antiaérea na linha de frente do EB.
Com a divulgação que ele seria usado pelas três Forças, e que teria como objetivo a proteção de alvos estratégicos e o uso em grandes eventos esportivos, passei a achá-lo interessante.
Para a defesa antiaérea de média altitude da linha de frente do EB um sistema modular como o CAMM-L é muito mais adequado.
Se o EB estiver equipado com o Igla, o RBS-70, o Gepard, o Pantsir e o CAMM-L, além dos canhões 35 e 40 mm com suas respectivas diretoras de tiro, munição 3P (para o 40L70) e radares Saber, estaremos bem na fita.
Bosco, você que é bem letrado nesse assunto, quais seriam as outras opções para o Brasil no lugar do Pantsir? Existe algo comparável vindo de Israel ou dos nossos novos amiguinhos suecos?
Bosco, supondo que nos próximos 2 anos nossa economia se estabilize, e se encerrem eventuais cortes na pasta, você acredita que há interesse do EB na aquisição dos dois sistemas, pantsir e CAMM? E você acha que é realmente vantajoso adquirir o pantsir com o tal TOT? Na minha opinião de leigo, acho que seria muito mais vantajoso o TOT do verba e do RBS, sistemas de baixa altura que o EB poderia adquirir em grande quantidade. Quanto ao pantsir e o CAMM, diante de nossa realidade financeira, seria mais vantajoso adquiri-los de prateleira mesmo, com algum pacote de manutenção e sobressalentes. Estou errado?
Pois é Clésio, acho que os Suecos têm muito a oferecer ao Brasil, desde que tenha cash. A Suécia possui um sistema antiaéreo de média altura, mas esqueci o nome e acredito que sejam bem inferior ao pantsir.
Felipe,
O sistema sueco é o Bamse.
Acabei de lembrar aqui Bosco, rs.
Clésio, no link abaixo muito se fala sobre defesa antiaérea, inclusive há um comentário do próprio Bosco elencando os sistemas de média altura disponíveis no mercado:
http://www.forte.jor.br/2014/03/03/exercito-brasileiro-e-saab-assinam-contrato-de-sistema-de-misseis-terra-ar-rbs-70/
Clésio e Felipe,
Levando-se em conta o desempenho cinético, a compactabilidade e mobilidade, o Pantsir é um sistema único (salvo algum outro de origem chinesa), sem igual no Ocidente. Resta saber se precisamos de um sistema com essas características.
Na Rússia ele é usado para defender sistemas S300 e S400 e grandes deslocamentos de veículos dentro de território amigo.
Como disse acima, pra defesa de eventos esportivos em situação de paz e para a defesa de pontos de alto valor estratégico no interior do país, acho ele adequado, já que estaremos usando-o como os russos, dentro de território amigo e coberto por outros sistemas (aviação de caça e sistemas de grande altitude).
Já se for usado para a defesa de média altitude no campo de batalha, dando cobertura aos Gepards, aí não os considero a melhor indicação e preferia sistemas modulares (cada coisa separada: radar, posto de comando, lançadores de mísseis, etc.) e de preferência, operados por controle remoto.
Sistemas modulares seriam menos propensos a serem neutralizados com um único tiro, tendo maior capacidade de sobrevivência de modo geral.
Uma vantagem adicional é a mobilidade estratégica maior.
Quanto a adquirir o Pantsir, eu acho que é sim vantagem já que só Deus sabe quando e se iremos ter o CAMM-L.
E se por acaso viermos a ter os dois no futuro, eles não seriam conflitantes e sim, complementares.
Quanto a TT, não acredito muito nisso, e hoje se fala disso a repeito de quase tudo que compramos. Estamos virando “os chatos” rsrsrss
Quanto a sistemas semelhantes, como disse, não há nada muito semelhante hoje no Ocidente.
O que é mais parecido, como o Felipe mencionou, é o BAMSE, sueco. Tem características cinéticas parecidas (20 e 15 km) e ambos são guiados por comando (o Pantsir é por COLOS e o BAMSE é por ACLOS), o que em tese barateia o míssil.
Só que o Bamse é rebocado, enquanto o Pantsir é autopropulsado, com vantagens e desvantagens para ambos.
O Pantsir é mais avançado, tendo em vista que usa um radar de varredura eletrônica que permite que o sistema engaje 4 alvos ao mesmo tempo vindo do mesmo setor, enquanto o Bamse só engaja um alvo de cada vez, controlando dois mísseis ao mesmo tempo.
Uma coisa que não gosto no BAMSE é que ele é tripulado. Dentro daquele módulo há dois “cabras” (tomara que não estejam marcados para morrer, rrss).
Só vejo razão para sistemas antiaéreos tripulados se operarem em movimento ou após parada rápida.
Outros sistemas ocidentais que seguem a mesma linha, como o Roland e o Crotale, acho que já não estão mais sendo fabricados, e mesmo que estejam (no caso do Crotale NG tenho dúvidas), eles não são os melhores exemplos de mísseis de defesa de área, tendo desempenho que os coloca como sistemas de defesa de baixa altitude.
Se formos buscar no Ocidente mísseis de defesa de média altitude, há vários, mas todos modulares, sem as características de compactabilidade/mobilidade do Pantsir, mas que podem se mostrar mais adequados quanto à capacidade de sobrevivência no campo de batalha e em expor os operadores ao fogo inimigo.
Claro, me refiro aqui ao Pantsir em chassi de caminhão. O Pantsir montado sobre lagartas, a exemplo do Tunguska, são outros 500. rsrss
Logo após a SGM começou-se um boom de desenvolvimento de mísseis sup-ar tendo em vista que a maior ameaça era representada pelo bombardeiros em grande altitude e que no nível baixo havia os velhos e confiáveis canhão e metralhadora.
Os primeiros mísseis sup-ar eram enormes, geralmente fixos e complexos (e pouco confiáveis) e aptos a serem usados contra aviões em grande altitude.
Logo houve o surgimento dos primeiros mísseis portáteis como o Redeye, lançados do ombro, com alcance de não mais que 3 ou 4 km e outros mais pesados, lançados de veículos, alguns com capacidade todo o tempo, ogivas bem mais letais e alcance de 6 a 7 km. Ex: Crotale, Roland, Chaparral, etc.
Durante muito tempo houve uma convivência harmonioso desses dois sistemas de baixa altitude tendo em vista que os mísseis mais leves “manpads” tinham obrigatoriamente que serem complementados pelos seus “irmãos” mais pesados já que aqueles tinhas deficiências que os deixavam à beira de serem inúteis.
Com o passar do tempo os mísseis portáteis se aperfeiçoaram a ponto de terem desempenho semelhante a mísseis com 6 ou 7 x sua massa.
Ou seja, já na década de 90 o Ocidente não via tanta necessidade de ter os dois tipos de mísseis cobrindo a baixa altura. Como os mísseis mais pesados não podem substituir os mísseis lançados de ombro, estes venceram a corrida da evolução, e o Ocidente tratou de montar seus mísseis portáteis “manpads”, com alto desempenho, em veículos dos mais diversos, com as mais diversas configurações de sensores, e ainda com a vantagem de uma redução significativa de custos.
Ou seja, sem “embromation”, no Ocidente houve a fusão de mísseis portáteis lançados de ombro com os mísseis “veiculares” num único míssil, que “lembra” os mísseis manpads iniciais, mas são muito melhores.
Acima desse novo míssil portátil híbrido (Ex: Stinger, Mistral, Starstreak, RBS-70, etc) o que se viu foi o desenvolvimento de uma classe de mísseis oriundas dos mísseis ar-ar, que foram adaptados para o lançamento do solo, e que cobrem uma área pelo menos 10 x maior que a coberta pelos primeiros. Ex: Spyder, SLAMRAAM/NASAMS, Spada, Iris-T SL, Umkhonto GBL, CAMM-L, VL Mica, etc.
Acima de ambos tem os sistemas considerados pesados, como o Patriot, Meads, Samp-T.
Já na Rússia, não houve essa percepção de que os mísseis manpads poderiam substituir os mísseis “veiculares” e estes tiveram um desenvolvimento exponencial já que foram considerados mais aptos a defender as colunas blindadas no caso de uma guerra contra a OTAN e sua formidável força aérea.
Houve uma sucessão de sistemas, cada um mais sofisticado e letal. Ex: SA-8, Tunguska, TOR, Pantsir.
Na Rússia há uma coexistência pacífica entre sistemas manpads, mísseis veiculares, sistemas HIMADS de porte leve e pesados.
Dentre todos, se destaca o Pantsir, que tem características de um sistema veícular de defesa de baixa altura, mas tem desempenho de míssil de média altitude, o que faz dele um sistema único.
É impressão minha os sistemas defesa antiaérea sobre blindados 6×6 ou 8×8 estão fora de moda?
Parece-me que as opções estão concentradas em caminhões (médio e grande alcance) ou em 4×4 (de curto alcance).
Ou em veículos sobre lagartas, mas aí é outra história.
Claro que um Pantsir com canhões, mísseis e radar exige um caminhão desse porte, o que me causa estranheza é não empregarem essa classe de mísseis (umas 6 unidades), num blindado da classe do Guarani ou do Piranha – ainda que houvesse a necessidade de um veículo dedicado apenas ao radar.
Abraços.
Muito obrigado pela lição Bosco. Brasil poderia fazer uma boa parceria com os suecos envolvendo o RBS e o Bamse, aproveitando todo o alarde do gripem. De qualquer modo, acredito que (se vier) algo nos próximos anos, será o Pantsir apenas e nada mais em um TOT de bilhões para equilibrar a balança com os russos. Bom saber que ao menos é um ótimo vetor.
Na boa, esse Jaques Wagner só traz notícia boa, não é mesmo?…rsrsrsrsrsrsrs
Eu avisei, amigos, eu avisei…