A mania agora é fixar mísseis AA ‘de ombro’ na couraça dos blindados
A ameaça representada pelos helicópteros caça-tanques e, sobretudo, pelas dezenas de Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) militarizados que proliferam no mercado internacional, está levando alguns especialistas em guerra de blindados e em defesa antiaérea a adotar uma solução no mínimo criativa para proteger as suas tropas de ataques pelo ar: fixar MANPADS (Man-portable air-defense systems) – mísseis antiaéreos portáteis de curto alcance – nas torres dos carros de combate e no chassis de outros veículos couraçados.
A novidade surgiu primeiro na Rússia, onde o Exército instalou disparadores do míssil Igla 9K38 (designado SA-18 pelos americanos), cada um pesando cerca de 11 quilos, no seu conhecido blindado antiaéreo ZSU-23-4. A viatura assim modificada teve sua matrícula na força terrestre mudada para ZSU-23-4M4.
A versão 9K38 do Igla tem sistema de controle dotado de transponder IFF (identification friend or foe) – identificador de amigo/inimigo. O sistema de pontaria da arma também fica acoplado à parte externa do veículo, mas todo o procedimento para seu disparo é feito de dentro do blindado.
O míssil do Igla 9k38 – 9M39 – tem guiagem infravermelha, capacidade de voar à altitude de 3.500 m, mas alcance limitado a 5.300 m. Sua efetividade é considerada inferior à do seu congênere ocidental Mistral.
Cada viatura 4M4 transporta quatro lançadores do Igla alojados em dois pares de trilhos nas laterais do carro.
Polônia – Outro Exército que recorreu ao estratagema do MANPAD foi o polonês.
A viatura antiaérea ZSU-23-4 modernizada foi dotada de quatro mísseis “de ombro” tipo Grom (“Trovão”, no idioma local), um “sistema antiaéreo propelido por foguete” (na nomenclatura militar polonesa) que modificou a classificação do veículo blindado para ZSU Biala.
O carro está dotado de canhões automáticos AZP-23, que podem disparar munição de alta tecnologia, formando uma cortina de fogo a distâncias de até 3.500 metros – entre 500 e 1.000 metros a mais que a produzida pela artilharia da viatura padrão ZSU-23-4.
O Grom veio reforçar a capacidade do Biala de responder às ameaças.
Projetado para viajar a uma velocidade de 650 metros por segundo, o MANPAD polonês, de 76mm, é capaz de voar por 5,5 km até alcançar seu alvo.
China – Mas a grande sensação entre os blindados dotados de MANPAD é o ousado programa chinês que instalou dois lançadores de mísseis antiaéreos “de ombro” no costado direito da torre do main battle tank T-98G. O sistema de pontaria do míssil foi colocado no topo da torre.
As poucas imagens do T-98G dotado de MANPAD que chegaram ao Ocidente mostram lançadores que se assemelham aos do sistema FN-6, produzido pela China National Precision Machinery Import and Export Corporation. Esse engenho se desloca a 600 metros por segundo, e mostrou-se eficaz na busca de alvos que se movimentavam a distâncias de até 6 km.
Como nos outros casos, toda a sequência de procedimentos para o disparo do míssil tem lugar no interior da torre.
Apontado como uma viatura de préstimos comparáveis ao do M1A1 Abrams americano, o T-98, de 56 toneladas e canhão de 125mm, usa um chassis inspirado nos carros russos T-72 e T-80 (este, desenhado ainda na Guerra Fria como uma resposta ao carro alemão Leopard).
Equipado com o MANPAD, o T-98G chinês foi redesignado como um fornecedor de defesa antiaérea para tropas terrestres em diferentes situações de combate, bem como para prover a proteção de instalações militares ou estratégicas contra ataques de helicópteros e de drones (VANTs) armados. A expectativa do Exército chinês é de que o tanque seja especialmente eficaz contra aeronaves a baixa altitude e em rover (voo pairado).
Essa é uma tendência que tende a se expandir inclusive no Ocidente onde a figura do veículo AA blindado está desaparecendo em favor de veículos utilitários armados com Manpads.
Distribuindo mais mísseis AA, combinado com os canhões de tiro rápido e metralhadoras e alguns poucos veículos dedicados a defesa antiaérea e todos conectados a um radar na retaguarda, via data-link, e sendo cobertos por um sistema de míssil HIMAD (média e grande altitude) também afastado da linha de frente, e tem-se uma defesa antiaérea com largura, profundidade e densidade próxima da ideal.
Vale salientar que vários sistema ocidentais (de canhões e mísseis ) têm dupla função, sendo aptos a enfrentar ameaças terrestres e aéreas.
Sem dúvida o canhão de um carro de combate se presta a ser ele mesmo apto para a defesa antiaérea. Desenvolver um projétil guiado AA lançador por um canhão de 120 mm é moleza e está passando da hora.
Vale salientar que o US Army usa o projétil M830A1 de 120 mm que provê autodefesa antiaérea para o M-1.
http://www.fas.org/man/dod-101/sys/land/m830a1.htm
Estava desenvolvendo o XM943, também capaz de ser usado contra helicópteros, mas pelo jeito ainda não está operacional.
Pois então Bosco, teve um caso de combate assimétrico entre um tank iraquiano e um Lynx britânico, aonde os dois se caçavam. O helicóptero usa seus mísseis e sensores para achar o tank, enquanto este usava seu canhão para tentar acertar o helicóptero. Agora não me lembro bem em qual guerra aconteceu isto, se foi em 1991, ou agora em 2003/2004.
Essa opção é interessante e acaba por dar mais vida nos novos TOs. A poucos dias atrás o Oganza escreveu algo sobre o Terminator russo, justamente por causa característica polivalente em combate urbano e/ou antiaéreo.
O Gepard com MANPADs também seria uma alternativa à nós, afinal já foi testado na Europa (não me lembro se pela Alemanha ou Holanda). Mas nesse caso (é claro que você conhece, só estou citando para registro) são dois canhões de 35mm e não o canhão de 105mm do Leo 1A5.
Talvez fosse interessante testar o Gepard com MANPADs Igla/Mistral e o Leo 1A5 adaptando-os com MANPADs e o MSS 1.2. Acho que o Peru tem uma solução parecida para os seus T-55.
É aquela estória, novos tempos, novas ameaças, novos desafios, temos que se adequar à elas.
Até mais!!! 😉
Olá Srs.,
Sou absolutamente leigo a respeito de blindados e por isso gostaria de fazer uma indagação: Já que essa questão em dar aos blindados capacidade de defesa anti-aérea, coisa que já faz muito tempo que acho estranho isso já não ter ocorrido a mais tempo, está se tornando uma tendência, seria viável desenvolver um blindado armado com o canhão GAU-8 do A-10? Teria capacidade contra outros blindados e contra aeronaves em uma arma automática…
Obrigado,
Nadim.
Nadin,
Há vários outros canhões de 30 x 173 mm que são tão bons quanto e são usados rotineiramente.
Tudo bem que a cadência do GAU-8 é de 4200 t/min, mas por exemplo, a cadência combinada dos dois canhões do Pantsir é quase isso.
Há vários outros canhões em 30 mm usados na função AA, em gera, em reparos duplos, pra aumentar o alcance.
Apesar de ser em calibre 25 mm, o LAV-AD ficou por duas décadas servindo os Marines com um canhão GAU-12, de 5 canos.
Os chineses adotam o canhão equivalente ao GAU-8 em veículo terrestre.
Seria interessante usar nos gepard do eb
Esse exemplo citado, dos tanquistas iraquianos, mostrou talvez a unica tripulação daquele país bem treinada e determinada, aqueles caras eram bons, O Lynx venceu, mas foi no sufoco !
Se todos o exército iraquiano fosse daquele jeito, a História teria sido diferente.
Antigamente eu achava que so o equipamento importava, hoje entendo que o Homem é o que importa, o resto é secundário…
Como disse o Capitão Kirk na introdução do Starfleet Academy :
” A Melhor tripulação pode retirar de uma nave velha um desempenho superior a uma tripulação pouco treinada com uma Nave Mais moderna ”
😉
Obrigado pelo esclarecimento José Bosco.
Cordialmente,
Nadim.
Correção:
“Há vários outros canhões em 30 mm usados na função AA, em gera, em reparos duplos, pra aumentar o ALCANCE.”
Quis dizer: pra aumentar a TAXA DE TIRO.
A maioria dos canhões de pequeno calibre (até 40 mm) dos veículos de combate têm função AA secundária.
E claro, os veículos AA dotados de canhões AA os utilizam secundariamente para bater alvos no solo.
Muitos mísseis antitaques têm potencial AA, como por exemplo o Javelin, o Kornet, o Hellfire e mesmo o TOW, que pode ser mortal contra um helicóptero pairado e já obteve pelo menos um abate em situação real.
Por sua vez há vários mísseis antiaéreos com capacidade de atingir alvos em terra, como por exemplo o Roland, o ADATS, o RBS-70, o Starstreak, o “Pantsir”, etc.
Com a possibilidade dos carros de combate (MBTs) de usarem seus canhões para lançar projéteis AA guiados ou não, ou instalar Manpads em suas torres, ou mesmo usar uma metralhadora de controle remoto, o que ocorre é que cada vez mais os veículos de combate passam a ser mais parecidos com caças multirole e helicópteros de ataque, capazes de se contrapor à múltiplas ameaças, tanto no ar, quanto em terra.
Bosco,
Na terra (ground) como no ar e no mar é essencial que um sistema de armas tenha uma missão prioritária.
O risco do ‘multi tudo’ é fazer mais ou menos um pouco de tudo e nada bem feito.
Abç.,
Ivan.