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Nos últimos 120 anos, os EUA têm oscilado entre o excesso e a ausência de interferência

*ROBERT KAGAN THE WASHINGTON POST

A Guerra do Iraque terá sido o maior erro estratégico das últimas décadas, como alguns analistas têm sugerido recentemente? A resposta é não. Essa honra pertence à não adoção de medidas contra a Al- Qaeda e Osama bin Laden antes dos atentados que mataram quase três mil indivíduos em solo americano, em 11 de setembro de 2001. E se quisermos voltar um pouco mais no passado, um grande erro também foi não deter Hitler na Europa e não impedir a guerra com o Japão, falhas muito mais gigantescas em comparação com Iraque e Vietnã em termos das trágicas consequências que os EUA pagam.

E o problema reside aí. Um tipo de erro é fazer demais, usar a força com excessiva rapidez, de modo exagerado ou, como ocorre geralmente, de maneira incompetente. Outro problema é fazer pouco, não usar a força suficiente de modo rápido como seria necessário para eliminar ou conter uma ameaça antes de ela se manifestar – ou esperar que surja uma alternativa para a força até ser tarde demais para agir eficazmente.

Não surpreende que o primeiro tipo de erro com frequência leva ao segundo. A lição do 11 de Setembro para muitos que viveram aquele momento foi que a passividade diante das ameaças é algo perigoso. Com certeza esse pensamento norteou as ações do governo de George W. Bush no Iraque e o apoio manifestado pelos 77 membros do Senado, incluindo uma maioria de democratas, ao autorizarem o uso da força em outubro de 2001. O então senador Joe Biden expressou a opinião generalizada na época de que, se Saddam Hussein continuasse “agindo livremente”, se tornaria uma “ameaça inevitável” – e a única dúvida era se os EUA resolveriam a questão “agora” ou esperariam “um, dois ou três anos”. Do mesmo modo, as lições aprendidas com a passividade americana na década de 30 produziram o ativismo, às vezes excessivo, durante a Guerra Fria.

É possível argumentar, como o fazem historiadores e analistas, que, em ambos os casos, a excessiva complacência levou a uma paranoia e um ativismo excessivos. Essa é uma das críticas fundamentais que George Kennan e outros têm formulado contra os EUA no decorrer dos anos: a tendência a oscilar irrefletidamente de um lado para outro do espectro.

A questão agora é se o pêndulo vai oscilar demais na outra direção, se a resposta ao que muitos consideram ser um uso desregrado da força será renunciar totalmente a força.

Alguns defendem que os americanos devem voltar a adotar um enfoque mais tradicional do uso da força, talvez presumindo que a década passada foi anormal. Na verdade, porém, por mais de um século, o governo dos EUA tem empregado a força como um instrumento de política externa com bastante frequência. Os EUA fizeram ao menos 26 intervenções armadas desde 1898 no Hemisfério Ocidental, na Ásia, na Europa e no Oriente Médio. Em Cuba e nas Filipinas na década de 1890; no Golfo Pérsico, no Haiti e nos Bálcãs um século depois e no Iraque e no Afeganistão nos anos 2000.

Se incluirmos o envio de contingentes menores de tropas, assim como operações aéreas e navais, como o bombardeio contra Muamar Kadafi pelo presidente Ronald Reagan, a campanha aérea de quatro dias de Bill Clinton no Iraque, em 1998, ou as ações autorizadas pelo presidente Barack Obama na Líbia, o número é seis vezes maior. E não incluímos aí as operações secretas como a que o presidente Dwight Eisenhower ordenou contra Jacobo Arbenz na Guatemala e Mohammad Mossadegh, no Irã, ou ameaças de um ataque nuclear contra nações recalcitrantes, outro recurso favorito de Eisenhower.

Também não teve importância se os governos eram republicanos ou democratas ou se os presidentes eram aparentemente “internacionalistas liberais”, como Clinton, ou supostamente “realistas”, como George H. W. Bush, que ordenou três intervenções militares nos seus quatro anos no cargo.

Devem os EUA retornar àquela norma ou afastar-se dela? Podemos facilmente nomear casos em que a força militar não atingiu seus objetivos e em que seria melhor não ter sido usada. Mas, em outros casos, o uso da força foi eficaz – às vezes mais do que parecia na época. Em minha opinião, a disposição dos EUA para usar a força ou ameaçar usá-la para defender seus interesses e a ordem mundial liberal tem sido um apoio essencial e inevitável à ordem mundial desde o fim da Segunda Guerra. E também um apoio fundamental da diplomacia.

Como George Schultz observou, quando era secretário de Estado, “a dura realidade é que a diplomacia não apoiada pela força é ineficiente”. A questão hoje é encontrar o justo equilíbrio. Com certeza, a resposta está em algum ponto entre o sempre e o nunca. /TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

*É JORNALISTA

FONTE: Estadão

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Requena
Requena
10 anos atrás

Resumindo.

Se os americanos usam a força, o povo reclama.
Se eles não usam a força, o povo reclama.

E aqueles que sempre reclamam que os americanos se acham donos do mundo, são os primeiros que reclamam quando eles não fazem nada.

Não é fácil…