Drones tornam-se aliados da ONU em missões na África

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12-03-2013Drones_Ladsous

ClippingForças de manutenção da paz em um lugar remoto no indócil leste do país fizeram o apelo à noite. As tropas perceberam um movimento suspeito por perto, mas entrar na floresta seria arriscado demais. O controle em terra poderia enviar um drone para dar uma olhada?

Uma aeronave pilotada remotamente decolou para investigar em meio à escuridão e enviar uma imagem ao vivo do que estava acontecendo. O drone é um recurso familiar para a maioria dos militares modernos em todo o mundo. Mas a ONU insiste em chamar seus equipamentos de aeronaves desarmadas ou de veículos aéreos não tripulados, pois o termo “drone” ganhou má reputação devido às versões armadas utilizadas por Forças americanas. Funcionários da ONU enfatizam que pretendem usar drones apenas para ter noção de algum problema no solo e para proteger civis e suas próprias tropas. “Temos um mandato aqui para neutralizar grupos armados, e é impossível fazer isso sem inteligência”, declarou Martin Kobler, que chefia a missão da ONU na República Democrática do Congo.

Um número cada vez maior de drones está voando nas missões mais complexas de manutenção da paz no mundo, suscitando novas questões sobre o que fazer com tantos dados importantes. A ONU recebeu sinal verde do Mali e da República Centro-Africana para intensificar o uso dos teleguiados em suas missões de paz, porém não teve permissão para usá-los no Sudão do Sul. Mais que nunca, tropas estrangeiras hoje conseguem coletar uma quantidade imensa de informações sobre pessoas e lugares de seu interesse: quem vende armas para quem, onde há minas de ouro ilegais e a localização exata de uma base rebelde. Segundo funcionários da ONU, tudo isso é mantido em segredo e disponibilizado apenas a critério de seus advogados. A organização continua sendo questionada se e como as informações serão partilhadas com, por exemplo, um governo anfitrião, um comitê de sanções com aval do Conselho de Segurança da ONU ou até mesmo um tribunal de crimes de guerra.

No Conselho de Segurança, que autoriza missões de manutenção da paz, a Rússia e a China são a favor de ações mais lentas, ao passo que os Estados Unidos e o Reino Unido elogiam a utilidade dos drones. A Human Rights Watch exigiu mais transparência e que quaisquer informações obtidas sobre atrocidades contra civis sejam transmitidas aos monitores de direitos humanos da ONU. A experiência no Congo, palco de um dos conflitos mais persistentes enfrentados pela ONU, dá uma boa noção sobre o fascínio e as limitações da nova tecnologia. Suas forças de manutenção de paz estão incumbidas de derrotar os vários grupos rebeldes que passaram 20 anos matando e estuprando pessoas e pilhando recursos minerais, muitas vezes com Exércitos de países vizinhos.

Funcionários da ONU dizem que os drones podem ser mais úteis para vigilância do que helicópteros, pois podem voar baixo sem ser vistos ou ouvidos facilmente e permanecer durante horas acima de uma área. Um helicóptero correria o risco de ser derrubado a tiros. Os limites, porém, são óbvios. Os cinco drones para essa missão, alugados da empresa italiana Selex, têm um alcance de voo de cerca de 200 quilômetros a partir da estação de controle aqui em Goma, de forma que só podem cobrir uma pequena parte da zona de conflito mais ativa. Os drones também enfrentam a oposição ferrenha da natureza. Quando o Programa Alimentar Mundial quis que drones verificassem se uma estrada estava transitável, o dossel da selva era tão fechado que os drones não conseguiram captar uma imagem com a qualidade requerida.

Nem mesmo as forças de manutenção da paz que perceberam o movimento suspeito em torno de seu posto na floresta tiveram muita ajuda. Um violento temporal desabou logo após o drone decolar, e os pilotos remotos o fizeram voltar a Goma antes que fosse danificado. No entanto, a missão de manutenção da paz no Congo pretende gastar até US$ 15 milhões por ano com os teleguiados. Funcionários da ONU dizem que essa é uma fração minúscula do orçamento anual da missão, de US$ 1,46 bilhão. O comandante das forças no Congo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, disse que os drones já o ajudaram a ter uma ideia melhor de onde os guerrilheiros atuam. Eles podem ajudar a discernir se uma aldeia é mesmo apenas uma aldeia ou também é um abrigo de milicianos, onde um posto de sentinela é montado a cada noite em um arvoredo. Goma agora está mais calma do que há um ano, quando o exército rebelde M23 dominou o lugar. O interior próximo, porém, continua sob o terror, e há relatos constantes de estupros e assassinatos. “Se a presença desses drones colaborar com as ações no solo, podemos dizer que eles são úteis”, opinou Justine Masika, ativista de direitos humanos que trabalha com vítimas de estupro. “O que mais precisamos agora é de paz”.

FONTE: Folha de S. Paulo

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