Produzir bens manufaturados no Brasil custa 23% mais que nos EUA, revela estudo
Por Sergio Lamucci | De Washington
A indústria brasileira sofreu uma perda substancial de competitividade na fabricação de manufaturados nos últimos dez anos. A alta dos salários e dos preços da energia e a valorização do câmbio aumentaram fortemente os custos de produzir no Brasil, tendência não compensada por ganhos expressivos de produtividade. Em 2014, fabricar manufaturados no país era 23% mais caro do que nos EUA, um salto drástico em relação a 2004, quando o custo da indústria brasileira era 3% menor.
Os dados são de estudo do Boston Consulting Group (BCG). Segundo o relatório, os salários no Brasil mais do que dobraram na última década, período em que o câmbio teve valorização de 20% em relação ao dólar. A produtividade do trabalho, contudo, cresceu apenas 3%. O custo industrial de eletricidade subiu 90% e o do gás natural, cerca de 60%.
“O Brasil perdeu terreno em todas as dimensões”, resume o estudo, que analisa o desempenho dos 25 maiores exportadores, responsáveis pelas vendas de cerca de 90% de manufaturados no mundo. O custo de produzir esses bens no Brasil se iguala ao da Bélgica e da Itália, e é apenas um pouco mais baixo que na França e na Suíça. Na Austrália, o custo é 30% superior ao dos EUA.
No relatório do BCG, o Brasil aparece como um dos países “sob pressão”, ao lado de China, Rússia, Polônia e República Tcheca. O grupo é formado por economias “tradicionalmente de baixo custo”, cuja deterioração da competitividade na última década se deve a um amplo conjunto de fatores, segundo o BCG. Os EUA e o México, por sua vez, são classificados como as “estrelas ascendentes”. O crescimento moderado de salários, ganhos sustentados de produtividade, câmbio estável e vantagens no setor de energia explicam a crescente capacidade desses dois países em competir com os demais.
Ainda é mais barato produzir manufaturados na China do que nos EUA, mas a diferença encolheu nos últimos dez anos, segundo o BCG. Em 2004, o custo de fabricação na China era 14% menor do que nos EUA. Hoje, a diferença é de apenas 4%. Os salários e o preço da energia subiram com força no país asiático nesse período. Ajustados pela produtividade, os custos trabalhistas aumentaram 187%, enquanto os preços do gás natural tiveram alta de 138%. A energia elétrica ficou 66% mais cara.
Os EUA e o México são os países que mostram evolução mais favorável no estudo do BCG. Os salários americanos, por exemplo, subiram 27% de 2004 a 2014, bem abaixo dos 71% registrados pela média dos 25 países analisados. Os preços do gás natural, por sua vez, caíram 25% para os produtores americanos, ao passo que subiram em média 98% para os 25 maiores exportadores. A eletricidade teve alta de 30% nos EUA, variação bem inferior aos 75% da média dos países.
Esses fatores explicam por que muitos analistas falam num renascimento da indústria americana. A chamada revolução do xisto, que tem contribuído para aumentar a produção de gás e petróleo, derrubou os preços do custo de energia, ao passo que os salários estão contidos. No México, a situação também é favorável. Produzir manufaturados no país é 9% mais barato do que nos EUA.
FONTE: Valor Econômico
Estranho… pq será?