Armed servicemen wait in Russian army vehicles in the Crimean town of Balaclava
GILLES, LAPOUGE, CORRESPONDENTE EM PARIS – O Estado de S.Paulo

Há menos de oito dias, o pesadelo ucraniano terminava. Os heroicos democratas que ocupavam a Praça Maidan, em Kiev, há três meses tentando acabar com a influência de Moscou, foram vitoriosos. Viktor Yanukovich, a marionete manejada pelo presidente russo, Vladimir Putin, fugiu. As capitais ocidentais, que não ajudaram muito, comemoraram. Além disso, para grande prazer, o arrogante Putin parecia cabisbaixo. Com certeza, ele se lastimava em um canto do Kremlin, mas estava em silêncio.

Na realidade, ele não se lastimava, mas preparava sua revanche. E seu silêncio tinha muito ruído e furor. Repentinamente, Putin se apossa de uma parte da Ucrânia, a Crimeia, diante de um Ocidente impotente, paralisado, espantado. No entanto, o que surpreende é o espanto. Era bastante previsível que Putin reagiria à perda da Ucrânia. Além disso, se os diplomatas ocidentais tivessem retomado seus cursos de história e geografia, teriam imaginado que essa reação imprevista teria lugar na Crimeia.

Desde tempos imemoriais, a infelicidade da Rússia, sua obsessão e sua ideia fixa é o fato de não ter saída para o mar. As estratégias políticas de Pedro, o Grande e de Catarina II, no século 18, são explicadas, em parte, por essa necessidade eterna da Rússia. Esse imenso continente dispõe de apenas três saídas marítimas: Vladivostok, que está no fim do mundo. Murmansk, nos mares polares, e a Crimeia, que tem as chaves do Mediterrâneo, do Canal de Suez e do Oceano Índico. Para Moscou, perder a Ucrânia é ter a porta dos oceanos batendo no seu nariz.

Ora, depois de perder a Ucrânia, em 1991, com o colapso da União Soviética, Moscou teve o cuidado de conservar uma base na região. A Ucrânia arrendou para os russos uma enorme base naval na Crimeia, que permite aos russos manterem ali centenas de navios de guerra e 20 mil homens. Sem dúvida, a Crimeia é parte da Ucrânia e apossar dela é infringir o direito internacional. Putin, contudo, preferiu infringir o direito internacional.

Eis porque, do fundo do seu silêncio, ele enviou seus soldados para a Crimeia e esse homem, que os jornais há cinco dias descreviam como um “tigre de papel”, conseguiu retornar em poucas horas ao centro do jogo oferecendo aos diplomatas europeus mais um abacaxi para descascar.

Primeiramente, estupefatos, os ocidentais se recompuseram algumas horas depois, afirmando que não é muito bonito você se apossar de uma parte de um país estrangeiro. Mas e depois? Bom, em seguida, as coisas ficaram mais complicadas. É preciso reconhecer que a consternação dos ocidentais é legítima. Eles não têm muito controle dos eventos, uma vez que a opção militar está descartada.

O aliado que os ocidentais dispõem na Ucrânia, que é o novo governo interino em Kiev, é frágil. Esse governo, na euforia da vitória, já cometeu várias besteiras e uma delas foi suprimir o russo como segunda língua da Ucrânia nas regiões onde ele é mais falado, como na Crimeia, por exemplo, onde a maioria da população é russa.

Além disso, trata-se de um governo provisório. Não foi eleito, mas reunido pelos vencedores da Praça Maidan. Não se trata de um governo de união nacional, pois é inteiramente controlado pelos aliados de um dos ícones mais explosivos do mundo, Yulia Tymoshenko.

Esse poder provisório demonstrou energia, pois decretou a mobilização do Exército ucraniano. O problema é que as forças armadas ucranianas, após o governo de Yanukovich, formam hoje um Exército fragmentado e sem armamento. Eis o peão com o qual a Europa pode contar entre seus amigos ucranianos: um governo sem Estado, sem finanças e sem Exército. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

FONTE: O Estado de S. Paulo

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Rafael M. F.
Rafael M. F.
10 anos atrás

É o que venho falando há horas: Putin não irá passar da Criméia. Ele pôs suas tropas lá apenas para garantir o porto de Sevastopol e consequentemente a saída para o mar. Após a ocupação, não há notícias de qualquer ação militar por parte da Rússia nem da Ucrânia. Foi-se o tempo que a Rússia poderia fazer o que quisesse sem prestar contas com o mundo. Vejam o que aconteceu no incidente com o Greenpeace e na prisão das integrantes da banda Pussy Riots. Uma ação militar em larga escala contra a Ucrânia obrigará a UE e os Estados Unidos… Read more »

Lyw
Lyw
10 anos atrás

A Rússia mostra a cada dia o quanto a palavra “Liberdade” tem tido cada vez menos importância na política do país.

Quanto ao ocidente querer intervir de alguma forma… Se na liderança desta “intervenção” estiverem os EUA, só posso dizer que o país que invadiu o Iraque alegando a presença de inexistentes armas de destruição em massa não tem moral alguma para pensar em tal coisa!

Rafael M. F.
Rafael M. F.
10 anos atrás

Bom, acredito sim que haja um único interessado no escalonamento das tensões e em um conflito generalizado: a China.

Um conflito em larga escala entre Rússia e EU/USA na Ucrânia enfraqueceria ambos os lados, pois seria economicamente desastroso para todos. O que pode ser bom para os Qin.

Marcos
Marcos
10 anos atrás

“Os heroicos democratas que ocupavam a Praça Maidan, em Kiev, há três meses tentando acabar com a influência de Moscou, foram vitoriosos.”
– Pois é! O que ele chama de heróicos democratas, nada mais são que golpistas.

“Viktor Yanukovich, a marionete manejada pelo presidente russo, Vladimir Putin, fugiu.”
– Pois é! Mas o marionete foi democraticamente eleito pelo povo ucraniano.

juarezmartinez
juarezmartinez
10 anos atrás

Está todo certinho o raciocinio de vocês, agora já perguntaram para os Ucranianos se eles concordam em entregar a Ucrânia de grátiz para o new Stalin????

Notaram que eles vão ficar quase sem litoral,? Cadê o Ivan, o mapento????

Grande abraço

Rafael M. F.
Rafael M. F.
10 anos atrás

Concordar certamente não. Mas, convenhamos, a Criméia nunca foi ucraniana…

Rafael M. F.
Rafael M. F.
10 anos atrás

Mapa da Criméia

http://dickschmitt.com/travels/black-sea/overview/large_Images/sevastopol-map-gnu-wiki.jpg

Observem como Grécia e Turquia (que possuem bases americanas) estão proximas. Um Su-27 vai, volta e sobra querosene nos tanques.

Acham que os russos se arriscarão a perder aquela que é a sua principal base naval desde a Guerra da Criméia?

Rafael M. F.
Rafael M. F.
10 anos atrás

Sem contar que os ucranianos ainda possuem Odessa.

aldoghisolfi
aldoghisolfi
10 anos atrás

Todo país feito aos golpes do tacão militar, desconsiderando as etnias que o compõem estão ruindo fragorosamente.
Cadê a Iuguslávia pós Yosip Broz Tito?
A Criméia passou a ser parte da Ucrânia em 1954. Durou muito.
A Criméia é questão de espaço vital e a geo-política russa determina a necessidade dos portos mediterrâneos; acho que o conflito cessa por aí, sob pena de intervenção econômica da UE e dos EEUU, coisa que o Putin vai evitar. Depois, penso que o Rafael tem razão: só a China ganha com o imbroglio.

juarezmartinez
juarezmartinez
10 anos atrás

Mas vão entregar Savastopol assim de mãos beijadas, com toda a infraetrutura de apoio a esquadra exisitente lá??
Tenho lá minhas dúvidas.

Grande abraço

juarezmartinez
juarezmartinez
10 anos atrás

Vocês ja pensaram se o Putin resolve que as minorias Russas nos estados bálticos estão em perigo e precisam ser socorridas.
Não lembra os Sudetos ou ainda Danzig…….

Grande abraço

Rafael M. F.
Rafael M. F.
10 anos atrás

Juarez,

Para isso os estados bálticos precisam estar com suas respectivas políticas internas se deteriorando, o que não é o caso.

Lançar uma barragem de artilharia contra suas próprias tropas pode ter funcionado em 1939/40. Mas não funcionará hoje.

Brandenburg
Brandenburg
10 anos atrás

Boa noite, há ainda quem pense que, no sec XXI, governos deixarão de tomar decisões estratégicas com base em interesses geopolíticos de seus países.Creio que o problema atual demonstra que não.A Russia perdeu o cordão de segurança proporcionado pela Cortina de Ferro e creio que parou por aí.Não vai consentir que a Ucrania atual se ligue à OTAN criando uma vulnerabilidade inaceitável para seu único acesso a mares quentes. Creio que a Criméia é fato consumado e, se houver escalada, ainda poderemos ver o Rio Dnieper como fronteira entre a Ucrania do Oeste e a de Leste.Os romanos criaram um… Read more »

aldoghisolfi
aldoghisolfi
10 anos atrás

Está na mídia:

“Crimeia decide convocar referendo de emergência para se integrar à Rússia”.

Liebsraun… anschluss… corredor polonês… crise dos sudetos… a história se repete!

Soldat
Soldat
10 anos atrás

Putin

Parabéns você esta certo a Crimeia pertence a Russia e pronto…..

Afinal porque só os Âmis, Ingleses, Franceses podem invadir e destruir países em nome da Democracia????.

E porque os Russos não podem defender seus interesse e sua Democracia também? Eles tem o mesmo direito e podem faze-lo também!!!!

Vai lá Putin chute no traseiro dos Âmis é isso ai kakakakaka…….

Requena
Requena
10 anos atrás

Uma coisa ninguém pode negar.

O Putin é disparado o líder mundial mais inteligente de todos os que estão a frente das grandes potências.

“Enquanto os outros estão preparando o almoço, ele já jantou…”

Santana Denis
Santana Denis
10 anos atrás

Com a crise na região a Rússia se apossar da Crimeia era a coisa mais óbvia seja pela base russa, seja pelos 58% de população russa ou mesmo para defesa do território estratégico, e com certeza a UE e os EUA previam isso, nada mais vai acontecer, não ha novidades, tudo que é dito na mídia pelos ocidentais é pura falácia na verdade eles estão dizendo para Rússia “Ok MANTENHA O COMBINADO FIQUE APENAS COM A CRIMEIA”. os tempos são outros e a POLÍTICA domina tudo mas para o grande público tem que ter todo esse “teatro”, os problemas começarão… Read more »

Santana Denis
Santana Denis
10 anos atrás

Ah e lembrem-se que o Estado Russo e o Estado Americano reuniram-se essa semana, esta tudo certo tudo segue como “combinado”.

Carlos Alberto Soares
Carlos Alberto Soares
10 anos atrás

Corta a grana geral, geral mesmo se me entendem.

kkkk o Josef Putin vai ficar com sorriso amarelo.