Desenvolvimento do país exige política industrial de longo prazo, afirma Chang
Por Vanessa Jurgenfeld | De São Paulo
Ha-Joon Chang, professor de Cambridge: “O Brasil abriu mão de desenvolver suas atividades manufatureiras”
O economista sul-coreano Ha Joon-Chang, professor na Universidade de Cambridge, ressaltou ontem a importância da política industrial de longo prazo para o desenvolvimento econômico de um país. Conhecido pelo livro “Chutando a Escada”, ele defendeu a necessidade de o Brasil investir em infraestrutura e em indústria de alta tecnologia para melhorar o padrão de vida de sua população.
Ele destacou que não basta uma política de corte de impostos para incentivar alguns setores na economia em um momento de crise, sendo preciso desenhar uma política industrial de longo prazo em que sejam desenvolvidas atividades industriais “que só poucas pessoas podem fazer”.
Fazendo uma comparação, Chang afirmou que a política industrial na Coreia do Sul foi fundamental para o seu desenvolvimento. “Nos anos 1960, o PIB per capita da Coreia era de US$ 80, em um momento em que Chile e Argentina tinham provavelmente PIB per capita de US$ 400 e o Brasil, provavelmente de US$ 200”, disse.
Segundo ele, apesar das críticas que existiram, o quadro melhorou para a Coreia porque houve o desenvolvimento da indústria siderúrgica, automobilística e de eletrônicos. “E temos o padrão de vida que temos hoje, que é de US$ 22 mil de PIB per capita, enquanto a Argentina deve estar em US$ 8 mil. Nós éramos 20% da Argentina e agora somos três vezes mais”, afirmou. “Quando começamos, todos estavam céticos, e alguns diziam que países como a Coreia deveriam desenvolver apenas a indústria intensiva em mão de obra, o que fizemos. Mas, ao mesmo tempo, desenvolvemos outros tipos de indústrias e usamos nossa taxa de câmbio para importar tecnologias mais avançadas, aprendendo com isso”, destacou.
Na visão do economista, as políticas protecionistas para o setor industrial foram fundamentais não só para a Coreia neste período de avanço industrial, mas para diversas nações hoje desenvolvidas alcançarem o padrão que hoje ostentam. Mas defendeu que essas políticas sejam temporárias, o que não significa só um ou dois anos. “Podem ser de 20 anos, mas um dia devem ser retiradas e as empresas que as receberam devem ter desenvolvido a sua produtividade”, destacou. “Fazendo uma analogia, há alguns remédios que criam temporariamente uma melhora no seu estado físico. Quando você toma esse medicamento, precisa usar essa recuperação temporária para mudar sua vida, fazer exercícios, mudar a alimentação, para no longo prazo viver sem o medicamento. Não adianta tomá-lo e não fazer nada, pois criará dependência disso para se sentir melhor”.
Na avaliação de Chang, o Brasil tem feito ações importantes no setor aeroespacial, na exploração de petróleo, no etanol, “mas não está explorando todo o seu potencial”. Citou, por exemplo, que nos anos 1980, a indústria manufatureira representava quase 30% do PIB. Hoje, essa fatia está em 13% e com previsões de que represente apenas 9% no futuro. “Parte disso pode ser considerada desindustrialização natural, mas grande parte ocorreu porque o Brasil abriu mão de desenvolver suas atividades manufatureiras”, disse. “Se você destruiu sua indústria por 30 anos, não pode esperar que ela volte à vida simplesmente com uma taxa de juros e uma taxa de câmbio mais favoráveis em dois ou três anos”.
Crítico do neoliberalismo, Chang disse que “ninguém tem o monopólio da verdade” e que a “economia não é como as ciências naturais, em que você definitivamente prova coisas”. Segundo ele, “a política também é fundamental para a economia, não podendo ser tratada da mesma forma que a química e a física”.
Em um olhar para a economia americana, o economista disse acreditar que há uma nova bolha por conta do ‘descolamento’ existente entre os preços dos ativos no mercado financeiro em ascensão e a fraca recuperação da economia real americana. “O mercado de ações está no seu mais alto nível de todos os tempos, mas, de outro lado, a economia real não vai muito bem”, afirmou.
Não há como a economia americana sustentar o atual nível do mercado de ações, na avaliação de Chang. “Os preços estão irreais. O futuro não parece muito bom. Mesmo que essa recuperação relativa esteja ocorrendo no setor financeiro, o salário médio está mais baixo do que antes da crise, há muitas pessoas desempregadas e muitas que só conseguem achar trabalho para meio período”, disse, citando que nesse tipo de situação, sem investimentos na economia real, não há sustentação da demanda no futuro.
“Isso caracteriza claramente uma bolha”, disse. “Se você lê a imprensa financeira mundial, muitas pessoas falam de bolha. Mas muitos estão inflando essa bolha sem se importar, porque acreditam que vão inflá-la talvez por mais um ou dois anos e depois sair do mercado antes de ela estourar. Isto é uma ilusão coletiva porque cada um acredita que será a pessoa esperta e poderá sair antes do estouro, mas haverá um momento em que ninguém conseguirá sair”.
Chang participa nesta semana do Latin American Advanced Programme on Rethinking Macro and Development Economics (Laporde), na Fundação Getulio Vargas.
FONTE: Valor Econômico via Resenha do Exército
Que por sua vez exigem política educacional de longo prazo. O que não ocorre.
O exemplo meritório citado, na área tecnológica, é o mesmo há tempos, capitaneado por uma empresa parte do sistema aeronáutico montado na estrutura do Ministério da Aeronáutica e hoje carreada por investimentos privados, mas com base educacional ainda estatal e militar – ITA – há tempos uma das melhores faculdades do país.
Não me ocorre que o ITA, o IME ingressem nessa política de cotas para isso ou aquilo. Sem adentrar na polêmico debate das políticas afirmativas, ninguém é contra o ingresso do cidadadão A ou B, desde que esteja preparado para realizar o processo seletivo idêntico a todos.
A política educacional nos últimos 10 anos se resume às políticas de facilitação de acesso, vez que a melhoria da educação de base é falha, corrigi-se flexibilizando o ingresso. Formação curricular mais sólida, preparação e salário de professores mais justos e dignos se perdem em discussões político-aventureiras-oportunistas do lado do Estado ou ideológico-extremista-sindicalistas por parte do corpo docente, e tudo fica inconcluso no ensino de base civil. Por que será que não há esse quadro caótico no ensino de base militar ?
Isso é um circulo vicioso que redunda numa parca elite realmente apta ao acesso para áreas de inovação tecnológica, pois o processo seletivo será feito por bem ou por mal. Se não na “entrada” o será na “saída”.
Sinceramente, não há luz no fim desse túnel. E mesmo que seja a luz de um trem vindo em sentido contrário, nem de fabricaçao brasileira ele será…, é chinês.
E a impressão que nossa classe política não leva nada disso em conta, aliás, parece que regojizam a cada notícia que trata do “fim do capitalismo” como uma vitória pessoal.
Já disse e digo de novo… vamos ter que passar por uma guerra civil, tomar uma porrada muito grande ou 90% da população passar fome…
Abandonou-se o ensino médio, depois fizeram o mesmo com o ensino superior… “investimos” na área das Ciências Humanas e abandonamos as Ciências Exatas…
Temos uma multidão de administradores, pedagogos, sociólogos, comunicólogos, economistas….. etc etc… e NENHUM engenheiro, seja de qualquer tipo.
O ministério do trabalho tem batido récordes em cime de récordes na expedição de vistos de trabalho para engenheiros estrangeiros simplesmente porque eles NÃO existem aqui…
O ultimo que sair não esqueça de apagar a luz flw?
Sds.