Europa e a Defesa comum
GILLES LAPOUGE
A pergunta é: onde estão todos os soldados que os países europeus deveriam enviar à Republica Centro-Africana para apoiar os 1,6 mil dos franceses que tentam restabelecer a ordem em meio ao caos e a razão em meio ao delírio? Esquadrinhamos mares e ares com grandes lunetas, mas nada, não vimos nada no horizonte.
E não foi por falta dos regimentos europeus serem anunciados. Na terça-feira o chanceler francês, Laurent Fabius, deu a boa notícia. No dia seguinte, o ministro dos Assuntos Europeus forneceu detalhes: alemães e britânicos enviariam tropas à República Centro-Africana. O que foi retificado por outro ministro. Não. Seriam soldados poloneses e belgas.
E o que restou desse vasto Exército europeu? Nada. Um Exército de fantasmas. E os militares franceses continuarão a combater sozinhos.
Podemos multiplicar as explicações: egoísmo dos Estados, efeitos da crise, recusa obstinada da Grã-Bretanha a qualquer embrião de Defesa comum europeia. No fundo, observamos um movimento: a Europa, que durante séculos foi o continente da guerra, está farta. E uma estranha mudança ocorre: enquanto o mundo se rearma, a Europa, tranquilamente, se desarma.
Dois países ainda dispõem de uma força militar vigorosa: França e Grã-Bretanha. Mas, mesmo nestes países, os Exércitos se contraem. Depois da atuação medíocre no Iraque e no Afeganistão, os britânicos reduziram seu orçamento militar em 8% para 2013.
A França ainda mantém boa imagem. Seu Exército brilhou no Mali e mostra-se exemplar na República Centro-Africana, mas não tenhamos ilusões. Ela possui alguns regimentos muito ágeis, mas o resto é vazio. A cada ano o Exército perde subsídios, homens e material. Corre uma piada que diz que o Exército francês inteiro pode ser alojado num estádio de futebol.
A Alemanha continua resolutamente pacifista. O chefe do Estado Maior da Suécia acabou de declarar que, em caso de guerra, seu Exército poderá resistir por uma semana, mas não duas.
O contraste é espetacular com outros continentes. Nem é preciso lembrar a força em termos de material e homens dos americanos. A China tem um Exército enorme e vem modernizando suas forças armadas.
A Rússia rearma um Exército a serviço de uma diplomacia cada vez mais intransigente. O Paquistão vem reforçando sua força nuclear. Índia e Indonésia se armam.
Claro que a Europa tem a vantagem (ou o inconveniente) de ser apoiada militarmente pelos EUA desde o fim da 2ª Guerra. Sabemos que Obama recompôs os destinos do mundo sobre um novo mapa: na sua cabeça, a Europa não está mais no centro. A Ásia expulsou-a.
Tudo se passa como se a Europa, cansada de lutar, enojada com os rios de sangue que derramou, preferisse depor armas e conservar seu posto, mas em outras bases que não a militar. Um desejo que podemos compreender, mas é ilusório. A força econômica, a força política e a militar caminham juntas. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
É CORRESPONDENTE EM PARIS
FONTE: O Estado de S.Paulo
Pela primeira vez na história da humanidade os europeus estão a tanto tempo tranquilos, a exceção dos conflitos ocorridos na Irlanda do Norte e nas antigas nações do extinto bloco soviético, desde os anos 40 não há sérios conflitos dentro do continente e nem há expectativas de tal para os anos futuros.
A Europa vive tempos de completa paz e isto é maravilhosos, espero realmente um dia o mundo possa seguir tal exemplo. “make love not war” !
.
O texto é cômico e triste…
– triste pelo caminho que a defesa européia está tomando.
– cômico por correpondente denegrir gratuitamente as outras FFAA, principalmente a Britânica, e ainda sim batendo e assoprando nas FFAA francesas, mas o melhor mesmo é quando assopra:
– “Seu Exército brilhou no Mali e mostra-se exemplar na República Centro-Africana…”
É para rir ou para chrorar?
Ps.: A Republica Centro-Africana não era uma colônia francesa? Do que a França tá reclamando?
Sds.
E o Brasil de Portugal. Não é por isso que Portugal deveria se responsabilizar pelo que acontece aqui.
E sim, se você não acompanhou, a França brilhou no Mali, sozinha. É duro de engolir não?
Militarmente, a França fez apenas o esperado; estrategicamente, agiu no momento mais apropriado, antes que essa faísca se espalhasse pelo resto da Africa, que é um grande barril de pólvora. Uma Africa anarquista, é a soma do que foi o Afeganistão com o Vietnam num território muitas vezes maior.