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GUILHERME RUSSO – O Estado de S.Paulo

Entre a NSA, a Marinha americana e a Otan, o analista de ameaças digitais Kenneth Geers passou quase 20 anos trabalhando para Washington. Autor de artigos e livros sobre ciberespionagem, o especialista alerta: invadir redes estrangeiras é necessário para países que queiram estar prontos para enfrentar rivais, principalmente em tempos de paz, pois “hackear não é simples”. “Agora que estou no setor privado, posso falar”, disse ele ao Estado. Hoje, Geers atua na empresa de segurança online FireEye. No fim do mês, ele participa do IT Forum Expo/Black Hat, em São Paulo. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Kenneth_GeersHá uma guerra online em andamento? Como os Estados devem se preparar?

Sim. Um tema relativamente subestimado é que é preciso estar pronto para a ciberguerra e não há como prever crises futuras o tempo todo. Hackear dá muito trabalho, não é só apertar um botão e ter controle sobre a rede de um adversário, é um processo enorme.

O que fazer então?

Se você quer estar pronto para a ciberguerra, realmente você tem de hackear em tempos de paz.

E o que isso implica?

Para os tomadores de decisão, isso é um tema interessante e desafiador, porque significa que, durante tempos de paz, eles sentirão muita pressão para realizar ciberataques.

Como uma estratégia de inteligência?

É similar à ciberespionagem. Há muita tentação em fazer isso, porque funciona. Há um alto retorno de investimento. Trata-se também de uma questão ética, mas também segue a mesma discussão.

Para estar pronto, então, é preciso estar acostumado a hackear sistemas estrangeiros?

Sim. Isso é um processo que não leva apenas semanas ou meses para ser feito de maneira apropriada. É um processo sem fim, porque você pode ter acesso à rede de seu adversário algum dia e perdê-la porque eles fecharam as brechas ou atualizaram seu sistema.

Quais entidades figuram como objetivos interessantes?

Vários ataques estão ocorrendo agora em alvos estratégicos: eletricidade, desenvolvimentos de pesquisas, universidades, militares, governos e setores financeiros. Esses são alvos legítimos. Segundo a Convenção de Genebra, se uma nação entra em guerra com outra, os elementos no país rival que dão apoio à defesa nacional são todos alvos legítimos.

Como os Estados têm agido?

Em investimentos estratégicos para sabotar as redes de seus adversários em tempos de paz. Fazem isso porque sabem que têm de fazê-lo.

FONTE: O Estado de S. Paulo

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