EUA e os limites do antiterrorismo
Peter Baker e David E. Sanger* – O Estado de S.Paulo
Quatro vans com vidros escuros encontraram-se num confortável bairro de Trípoli, na Líbia, enquanto um líder da Al-Qaeda voltava para casa no sábado, depois das orações matinais. Sua mulher observou alarmada pela janela quando os homens – empunhando armas com silenciador, alguns deles mascarados – arrebentaram a janela do carro dele. A ação durou alguns instantes e eles levaram consigo um dos mais procurados suspeitos de atos terroristas dos EUA.
Mais ou menos na mesma hora, a cerca de 5 mil quilômetros de distância, comandos extremamente bem treinados da mesma equipe dos Seal da Marinha que matou Osama bin Laden emergiram do mar e tentaram invadir um palacete na Somália para capturar outro homem que estava no topo da lista de procurados dos EUA, Abdulkadir Mohamed Abdulkadir. Recebidos por uma rajada de balas, iniciaram um demorado tiroteio, mas tiveram de se retirar sem capturar seu alvo no país, mais conhecido pela maioria dos americanos como o cenário do filme Falcão Negro em Perigo.
O mais recente capítulo das iniciativas do presidente Obama no combate à Al-Qaeda e seus vários afiliados tornou-se a história de duas invasões, apenas uma delas bem-sucedida. A captura de Nazih Abdul-Hamed al-Ruqai, mais conhecido como Abu Arnas al-Libi, na frente de sua casa em Trípoli, onde ele vivia normalmente sem se preocupar com a segurança, representou uma vitória que os EUA buscavam havia tempo.
Mas o fracasso da operação na Somália destacou os limites do poder dos EUA, mesmo para uma das unidades militares mais famosas. Em parte em razão da incursão em que Bin Laden morreu, no Paquistão, por obra do Team Six da Seal, em 2011, muitos americanos acostumaram-se aos triunfos das Forças Especiais e passaram a vê-las como o equivalente aos heróis das operações militares em grande escala que caracterizaram o conflito no Iraque e no Afeganistão durante anos. Os resultados opostos nesses dois pontos da África enfatizam as incertezas e os perigos inerentes a qualquer forma de guerra.
Representantes do governo admitiram que a operação da Somália fracassou. “Estes soldados agora tentam descobrir o que aconteceu, tentam descobrir quem foi o informante, e há certa confusão no caso”, disse um funcionário. Segundo veteranos militares, os resultados contrastantes refletem os desafios do contraterrorismo.
As incursões quase simultâneas ocorreram no momento em que Obama tenta retirar as tropas do Afeganistão e abandonar a guerra ao terror por meio do amplo uso de ataques com drones, o que caracterizou sua presidência. As duas operações na costa africana evidenciam a evolução da ameaça do terror, em outro ambiente longe dos epicentros do Oriente Médio e do Sul da Ásia. Por outro lado, podem ter estabelecido mais um precedente, pois os EUA deixaram claro que não confiam nos serviços de segurança da Líbia. Para Washington, a Líbia é em grande parte um espaço não controlado, dada a capacidade cada vez menor do seu governo neste sentido.
A incursão na Líbia nasceu no ano passado, quando as agências nacionais de segurança acreditaram ter chegado a um entendimento sobre o paradeiro de Abu Anas e começaram a elaborar um plano para capturá-lo. Abu Anas, que foi indiciado em 2000 pelo atentado de 1998 às embaixadas americanas do Quênia e da Tanzânia, era um alvo muito procurado, mas além da logística de sua captura, as autoridades tinham de considerar o aspecto legal.
O plano para encontrá-lo foi discutido repetidamente por funcionários do segundo escalão em todo o governo; seria então aperfeiçoado e enviado aos secretários de gabinete para que emitissem seu parecer e o enviassem a Obama.
A operação na Somália foi montada mais recentemente, nos últimos meses, depois de um intenso debate no governo para decidir se missões que preveem um ataque direto valiam o risco de vida para os seus executores.
Funcionários do Departamento de Estado observaram em particular que tais missões têm escasso valor estratégico, e questionaram se o Al-Shabab, grupo extremista com sede na Somália, que reivindicou a autoria do ataque ao shopping center de Nairóbi, no Quênia, no mês passado, não seria bem mais do que um problema regional. Dezenas de pessoas foram mortas no ataque. Até agora, o governo utiliza tropas de outros países africanos, treinadas por empresas privadas americanas, para combater as forças do Al-Shabab na Somália. Mas o ataque do mês passado em Nairóbi levou alguns funcionários americanos a avaliar a capacidade do Al-Shabab de semear o caos além das fronteiras da Somália.
Em termos de relações diplomáticas, a incursão na Somália foi a decisão mais fácil. “A Líbia tem um novo governo frágil; as preocupações eram diferentes e bastante concretas. Tivemos de pesar os riscos e os benefícios para o governo, para a situação da segurança do nosso pessoal em terra”, disse um funcionário.
O governo procura também punir os perpetradores do ataque letal do ano passado ao escritório diplomático americano de Benghazi, na Líbia, no qual foi morto o embaixador Christopher Stevens, além de três outros funcionários. “Por que, se fomos capazes de pegar Al-Libi, não pegamos os autores de Benghazi?”, perguntou o deputado republicano Peter T. King, de Nova York, no programa Face the Nation da CBS.
A captura de Abu Anas, também chamado al-Libi, decorreu sem nenhum problema do ponto de vista americano. Ele se dirigia num utilitário esportivo Hyundai preto para a casa de três andares no bairro de Noflieen, na região nordeste de Trípoli, quando as quatro vans surgiram de três direções, disse seu filho, Abdullah, de 20 anos.
“Eles arrebentaram o vidro”, contou Abdullah. “Havia sangue em uma das suas sandálias que ficou para trás, por isso achamos que se feriu com o vidro quebrado”. Dois líbios do grupo ordenaram a seu pai que entrasse na minivan. Não houve um disparo. “Todos condenamos abertamente a morte do embaixador americano; o que acontece quando a pessoa é sequestrada na frente da própria casa?”, perguntou.
*Peter Baker e David E. Sanger são jornalistas.
TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
FONTE: O Estado de S. Paulo
A falha dessa operaçao na Somália, ao meu ver, foi tentar uma invasão diurna, contra uma fortaleza (presumivelmente bem guarnecida, tendo em vista a recenticidade dos atos terroristas em questão), sem o necessário apoio aereo de um helicóptero Apache. Aparentemente faltou aquele poder de fogo capaz de imprimir uma inaugural “violência da ação” capaz de atordoar as defesas, e com isso abrir-se lacuna suficiente para ingresso naquela bagaça! Um disparozinho de hellfire teria caído como uma luva…
Nao. O que ocorreu foi que os comandos observaram um monte de criançinhas, utilizadas como escudos humanos, por todas as partes. Entao foi decidido abortar a operaçao, com o fim de evitar um massacre de inocentes. Isso, meu prezado, foi o que realmente ocorreu.
João.filho,
Desconhecia totalmente tais fatos. Parece que a parcialidade da mídia impede que a informaçao seja repassada por completo, se isso puder significar que uzamericanu feio nao sao malvadu! mais uma vez a postura do team six foi digna de aplausos. Fico muito grato pela informaçao!
Saudaçoes
Nem uma coisa nem outra, leiam aqueles que dominam o ingês, c/ mta atenção:
(http://www.informationdissemination.net/2013/10/in-somalia-we-have-problem.html)
O Team Six pode não ter capturado “Ikrima”, mas deixaram mtos operativos do al Shabaab bastante preocupados.
Uma das materias sobre este assalto, no the guardian (http://www.theguardian.com/world/2013/oct/09/us-raid-al-shabaab-somalia-navy-seals), entrevista um dos moradores do local que estava indo rezar ainda no escuro. Ele conta que escutou um barulho atras e viu se movimentando “tres vacas”… Logo ele escutou o tiroteio e, entao, percebeu que as “vacas” eram Seals com mochilas nas costas… embora nao sei exatamente porque estariam carregando mochilas nas costas, embora seja possivel dependendo da missao. Os relatos de proprias fontes do governo americano relatam que civis apareceram depois que o combate se desenrolava e, assim, os seals retrocederam. Prezado Joao.filho, vc poderia fornecer um link p/… Read more »