Austeridade não funciona e só protege os ricos, diz autor
ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO
A austeridade é uma ideologia fracassada que é esgrimida pelos ricos para repassar o custo das crises para os pobres. Historicamente tem provocado desemprego, conflitos sociais, guerras.
Esse é o cerne de “Austerity, the History of a Dangerous Idea” [Austeridade, a história de uma ideia perigosa], de Mark Blyth. Professor de política econômica internacional na Universidade Brown, ele é doutor em ciência política pela Universidade Columbia, as duas nos EUA.
Filho de açougueiro, Blyth nasceu em 1967, na Escócia. Houve tempo em que ia para a escola com furos nos sapatos. O Estado do bem-estar social europeu lhe proporcionou ensino de qualidade e ele ascendeu socialmente –hoje, integra instituições de alto prestígio.
Agora, esse arcabouço que viabilizou seu avanço está colocado em xeque pelas políticas de austeridade que se estabelecem por todo lugar. O acadêmico teme que as próximas gerações não tenham as chances que ele teve e que o futuro esteja garantido apenas aos já privilegiados. Por isso decidiu escrever o livro, conta no prefácio.
Dedicado ao estudo da política das ideias, Blyth navega pela história, pela filosofia, pela economia. Vasculha as origens da ideologia da austeridade nos escritos de John Locke (1632-1704), David Hume (1711-1776) e Adam Smith (1723-1790), feitos num tempo em que a noção de deficit público estava associada a gastos de reis e suas cortes.
Mesmo assim, lembra que no clássico “A Riqueza das Nações” Smith reconhece que o mercado não pode existir sem o Estado –essencial para a defesa externa, segurança da propriedade privada, estabelecimento de um sistema judiciário, policial, educacional etc.
DEPRESSÕES
Na análise dos séculos 20 e 21, Blyth ressalta que as lições dos erros cometidos em torno da Grande Depressão advinda do crash de 1929 foram esquecidas. Didaticamente, explora os casos da Alemanha, do Japão, dos EUA e da França após a Primeira Guerra Mundial. Em todas essas situações, as políticas austeras fracassaram em recuperar as economias, levando os países ao desastre.
Nos EUA, as medidas de aperto e de corte nos gastos públicos fizeram o desemprego saltar de 8%, em 1930, para 23%, em 1932. No Japão, a austeridade criou a pior depressão da sua história, fez eclodir assassinatos políticos e deu poder à elite que encaminhou o país à guerra.
Na Alemanha, o autor descreve as sucessivas políticas de arrocho que, com o acréscimo de erros dos social-democratas de então, ajudaram a trazer Hitler ao comando do país. Na França, modelo semelhante também provocou uma hecatombe, pavimentando o caminho para a perda de soberania nacional.
Blyth mostra como o Banco da França atuava em defesa dos interesses das 200 famílias mais ricas do país, beneficiando rentistas e prejudicando a maioria da população.
Entre 1932 e 1936, os gastos governamentais foram cortados em 20% (derrubando despesas militares), a produção industrial encolheu e os salários afundaram.
“As elites francesas estavam tão preocupadas com a inflação e tão determinadas a manter o valor do franco que paralisaram a capacidade militar da França de se mobilizar contra Hitler. A austeridade não apenas falhou –ela ajudou a explodir o mundo. Essa é a definição de uma ideia muito perigosa”, afirma o autor.
Blyth vê semelhanças entre a França dos anos 1920 e a crise atual. “A alternativa a cortar é taxar”, defende. Para ele, a crise foi gerada pelo setor privado e está sendo paga pelo setor público.
“Os bancos prometeram crescimento, entregaram perdas, passaram o custo para o Estado e depois culparam o Estado pelo deficit”, ataca. “Os de baixo estão ouvindo o discurso de apertar os seus cintos feito por aqueles que estão vestindo calças muito largas”, diz.
Na sua visão, há risco de as políticas de austeridade, como no passado, produzirem crises políticas e sociais. Desconstruindo a cantilena oficial das “crises soberanas”, o professor argumenta que talvez os bancos não devessem ter sido resgatados pelos governos. Compara casos como o da Irlanda e da Islândia.
Em linguagem aguda e clara, o livro ajuda a entender o momento para além dos números.
“Austerity, the History of a Dangerous Idea”
AUTOR Mark Blyth
EDITORA Oxford University Press
QUANTO US$ 19 (R$ 44, 304 págs.)
AVALIAÇÃO Bom
FONTE: Folha de São Paulo
Fazer críticas é fácil. Um certo partido político tupiniquim sempre fez isso. Difícil mesmo é apresentar soluções.
Nunca li em Keynes endivide-se até quebrar.
Abs,
Ricardo
Acho engraçado como as pessoas vêm de maneira erronea os escritos de Keynes.
os bancos tem suas parcelas de culpa, de fato.
Mas ninguém obrigou os governos dos PIIGS a entrar em déficit.
Deviam ter investido em produtividade industrial, como a poderosa Alemanha o fez.
Só fizeram farra, deu no que deu.
E não adianta culparem a Alemanha, esta sempre avisou : olha a *¨%$#$%¨&*** do déficit !!!
Os que culpam a Alemanha, disciplinada, sábia, austera e eficiente, estão com dor de cotovelo, com preconceito anti-germânico, recalque de segunda guerra e neura pq não admitem que as políticas de seus países foram erradas.
Apenas admitam : ” erramos” . pronto. Não, ao invés disso, culpam a Alemanha. Populismo barato, e desculpa esfarrapada. Berlim nunca controlou os gastos dos PIIGS. Isso é medida interna de cada governo.
É o mesmo que meu vizinho torrar no cartão de crédito, e depois, além de eu ter de emprestar dinheiro para salvá-lo, ele me culpar pela gastança dele.
O cara acertou em cheio e os governos são reféns das elites seja pelo financiamento direto dos políticos, seja pele pressão midiática ou pelas as grandes reuniões do fórum de Davos para pressionar sempre por uma solução neoliberal universal…
Tenho de ler este livro…
E acrescentando, os banqueiro e o setor financeiro criaram a bagunça, lucraram com ela e ao conseguir repassar a maior parte do custo da cagada feita para o setor público sem receber qualquer sanção por tudo, SÓ GARANTE que no futuro o ciclo se repetirá e a CONTINUIDADE da irresponsabilidade do setor está mais que preservada na sua elite.
Graças a tecnologia e ao meu Kindle DX já comprei a versão digital do livro por U$ 9,82 no Amazon para dar uma boa lida neste livro…
E já estou com ele pela Amazon Whispernet via rede celular em menos de 5 minutos !!!
Sempre dá para aproveitar do lado bom da tecnologia yankee…
giltiger disse:
8 de setembro de 2013 às 14:21
“Lado bom da tecnologia yankee” é ótimo …..Ainda bem que existem esses malditos mas, dizem que se não existissem a vida seria bem melhor ……
Boa leitura!!!
kkkkk
esses comunas são uma graça…falam mal dos yankes mas não saem do macdonalds com os kindle, comprando livros na Amazon, fazendo pesquisas no google e postando tudo no face… kkkkk
hipocrisia é uma droga mesmo.
Pena que da “mamãe” russia não sai nada que preste né. Puts, esqueci da vodka…e da sharapova
AUSTERIDADE??!!
Que auteridade e essa?? Na Europa mesmo apos “austeridade” os governos ainda gastam mais do que gastavam antes da crise! Nos EUA idem!
Nao ha austeriade alguma a nao ser na cabeca de academic de esquerda como Paul Krugman e outros seguidores de Keynes. A unica coisa que esta “austeridade” que eles esbravejam contra fez foi diminuir o ritmo do crescimento do gasto dos governos, ainda assim a cada ano eles continuam gastando mais e mais.
Poxa se isso e “austeridade” entao nosso futuro realmente e sombrio.
Mas quem realmente consegue enxergar a relaidade do mundo, ve que so reclama de “austeridade” politicos populistas que adoram gastar com programas sociais de modo a garantir uma base eleitoral dependente de tais assistenciais estatais, e academicos ingenuos e tolinhos, levados na lorota desse papo antigo de Guerra das classes.
Mas tudo bem, cada pais tem o governo que merece, vamos ver quem tera a casa em ordem, os que gastam mais e mais sem parar ou os que buscam viver de acordo com seus meios e fonte de renda.
Com relacao ao livro, e vindo da escolar que veio… Passo, a nao ser se faltar papel higienico em casa.
Sds!
Correcao: “escolar que veio…”
Artigos estourando o mito da “austeridade” nao faltam, mas seguem aqui dois curtinhos so para quem quiser comecar a ver a luz:
http://online.wsj.com/article/SB10001424052702303823104576391331356123692.html?KEYWORDS=MICHAEL+J+BOSKIN
http://online.wsj.com/article/SB10001424052702303823104576391331356123692.html?KEYWORDS=MICHAEL+J+BOSKIN
E mais um mostrando como Krugman esta completamente fora da realidade e ainda nao voltou do planeta Krugman:
http://www.realclearmarkets.com/articles/2011/08/06/the_peculiar_madness_of_paul_krugman_99169.html
Enfim, o que levara a Europa e os EUA para fora da crise sao politicas de crescimento, mas gastando mais do que se arrecada so nos levara a enforcar o que resta da economia.
O necessario e ter politicas beneficiais a criacao de empregos, principalmente em medias e pequenas empresas, reforma de leis trabalhistas socialistas e assistencialistas, reforma tributaria com menor enfase em arrecadao da renda das pessoas e maior enfase em consume e varias outras politicas que removam o estado aonde ele nao deveria estar e se intrometer.
Só para complementar o Marine, os três tipos de austeridade. É bom ler o artigo por que, como Marine disse, e o autor do livro escreve, fica claro que a ‘austeridade’ mencionada no post é justamente o contrário do sentido da palavra. É incrivel como foi tão deformada. O governo estourar ‘menos’ o orçamento já é ‘austeridade’… E o pessoal ainda bate palmas pra isso? É difícil ver que o céu é azul?
“Há a forma keynesiana-krugmaniana, que promove mais gastos governamentais e mais impostos; há a forma de Angela Merkel, que advoga menos gastos governamentais e mais impostos; e há a forma austríaca, que defende menos gastos governamentais e menos impostos.”
http://mises.org.br/Article.aspx?id=1684
A ideia de austeridade depois de uma crise posterior a uma época de expansão descontrolada é uma forma de TRANSFERÊNCIA de responsabilidade do setor privado para o setor público.
O que as pessoas não percebem é a FINALIDADE desta ideia em proteger as elites. Elas enriqueceram até ilicitamente na situação anterior a crise, não são responsabilizadas e nem perdem muito com ela, os prejuízos advindos são transferidos ao setor público e o custo repassado para a população em geral.
Nesta situação de crise o governo que pode e deveria atuar com programas para beneficiar a população é tolhido e ‘instruído” pelas elites a cortar justamente os programas sociais.
Desta forma a ELITE com uma fração do dinheiro necessário e contando com a necessidades prementes da população desassistida pelo governo em regime de AUTERIDADE tem melhores condições de GRADUALMENTE retomar sua atividade econômica, pagando patamares de salários mais baixos e investindo menos capital nos negócios sem comprometimento visível do “way of life” da elite.
Basicamente após a CRISE a austeridade é uma forma política da elite remover a concorrência do estado no momento de recuperação nacional tanto para diminuir seus custos econômicos como para valorizar-se como salvadores e demonizar o Estado aos olhos da população geral…