Entre os motivos dos americanos, pré-sal, Irã, Bolívia e Venezuela
CRISTINA TARDÁGUILA/ELIANE OLIVEIRA
Quem acompanha os altos e baixos da política internacional brasileira enxerga pelo menos quatro motivos que teriam levado os Estados Unidos a espionar o Brasil — e mais precisamente as comunicações da presidente Dilma Rousseff — tão de perto. As razões seriam a recente aproximação do país com a Venezuela de Hugo Chávez, a Bolívia de Evo Morales e o Irã de Mahmoud Ahmadinejad. Ainda estaria na lista a descoberta do petróleo do pré-sal.
Segundo um grupo de diplomatas e juristas ouvidos pelo GLOBO ontem, o fato de o Brasil ser uma das nações emergentes parece ser, por outro lado, apenas um detalhe para os americanos. Ao espionar o Brasil com o afinco revelado no domingo pelo “Fantástico’ os Estados Unidos estariam de olho nas relações políticas do país, em petróleo e gás, nas compras governamentais e também na participação em grandes obras de infraestrutura e logística.
Os Estados Unidos são, aliás, o principal investidor do setor produtivo nacional. De janeiro a julho, o total de investimentos somou US$ 5,2 bilhões — 20% do total. E, dependendo da área, o lobby americano é pesado. Um dos exemplos mais conhecidos é o realizado em torno da compra de novos caças pela Força Aérea Brasileira (FAB).
O governo do Brasil ainda não decidiu se ficará com os aviões produzidos na Suécia, na França ou nos Estados Unidos, mas as pressões americanas continuam e, se a presidente Dilma Rousseff mantiver sua ida a Washington este ano, o assunto será levantado por seu colega Barack Obama. Os americanos também buscam informações sobre o pré-sal.
A curiosidade é tanta que chegou a incomodar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao tomar conhecimento da presença de navios dos EUA no Atlântico Sul, ele insinuou várias vezes, publicamente, que a chamada Quarta Frota estava na região por causa do pré-sal. Em recente visita a Brasília, o secretário de Energia dos EUA, Ernest Moniz, disse que as empresas americanas querem investir “grande capital” no Brasil, mas que “precisam de garantia razoável para seus investimentos” e que eventuais parcerias deveriam ser operadas com “bons modelos de negócios’
Moniz antecipou ainda que os investidores americanos pretendem entrar nas próximas licitações de petróleo e gás. A seguir a opinião de alguns dos diplomatas e juristas ouvidos pela reportagem sobre a espionagem nas comunicações da presidente Dilma Rousseff.
Marcos Azambuja
EX-SECRETÁRIO GERAL DO ITAMARATY (1990-1992)
“Vale destaque a aproximação do Brasil com a Turquia de Erdogan e o Irã de Ahmadinejad, além de Chávez e dos demais populistas da América Latina. E ainda tem o pré-sal. Precisamos ter uma tecnologia de proteção própria. Nossa espionagem é artesanal. Mas, aqui, muita gente associa espionagem à ditadura. Acontece que toda democracia tem que fazer espionagem. Isso não é um atributo do autoritarismo. É algo essencial à defesa’
Luiz Felipe Lampreia
DIPLOMATA E EX-MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (1995-2001)
“Os EUA devem monitorar uns 30 países. É natural que o Brasil esteja no grupo. Somos uma das dez maiores economias do mundo e abrigamos diversos interesses deles. Temos o pré-sal. Os EUA querem saber para onde o país vai, como vai se posicionar… E, num sistema presidencialista, monitorar o mandatário é importantíssimo. São da Dilma as decisões mais importantes. Por outro lado, nossa resposta é muito pobre. Corremos o risco de sermos surpreendidos sempre’
Jório Dauster
DIPLOMATA E EX-EMBAIXADOR NA UNIÃO EUROPEIA (1991-1998)
“A primeira linha de interesse passa pelo petróleo. Pelo pré-sal e pela relação do Brasil com a Venezuela. Também tem a relação com o Irã. Infelizmente, por falta de capacitação nossa, estamos muito abertos a ataques como esse. Porque, sim, isso foi um ataque. Pode até ser que os EUA venham com palavras simpáticas, mas nós continuamos vulneráveis. Sempre soubemos da espionagem, mas agora não dá mais para fingir que ela não existe.
Celso Lafer
JURISTA E DUAS VEZES MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (1992 E 2001-2002)
“O que aconteceu é prova da deficiência na inteligência e dos serviços de proteção da presidente. É necessário investimento nas tecnologias de informação e na segurança delas. Lembro que os EUA teriam informações sobre a aproximação do Brasil ao Irã e Venezuela pelas vias tradicionais.”
FONTE: O Globo via Resenha do Exército
Considero ridícula a pantomima encenada pelo governo do PT, que tenta capitalizar um acréscimo na rejeição ao tio Samuel Wilson, na tentativa de abrir uma cortina de fumaça, que possa encobrir a própria inconsistência.