Desmembrar o Google, despadronizar as cidades, evitar os grandes eventos
(Richard Sennet – Um dos mais famosos sociólogos do mundo, professor da London School of Economics e da Universidade de Nova York. Entrevista ao UOL, 01) 1. Se Theodore Roosevelt fosse presidente agora, acabaria com os monopólios de Google, Apple, Microsoft, Facebook e Amazon. São grandes demais para permitir concorrência, esmagam os menores e isso é ruim para o capitalismo. Em Berlim, até conservadores me apoiaram, dizendo que o Google precisa ser desmembrado.
2. Os empresários da tecnologia são libertários por natureza, longe do governo, querem menos impostos e mais liberdades. Mas têm tendências monopolizantes e falta governo que breque esses anseios de controlar tudo. Porém eles são muito melhores que o Goldman Sachs, por exemplo, que gosta de usar o Estado para servir aos arranjos financeiros.
3. A qualidade de vida nas cidades é algo muito concreto. As manifestações são por problemas concretos que as pessoas acham que podem ser resolvidos. As cidades emergentes estão copiando os shopping centers, os subúrbios e o gosto pelo carro das cidades americanas de 50 anos atrás, justamente quando esse modelo está em crise aqui. Por razões econômicas, as cidades emergentes estão sendo padronizadas. Até “características locais” estão sendo padronizadas e produzidas em série. Ainda vivemos sob a influência do planejamento mecânico de Le Corbusier, ele também um progressista que achava que a produção em massa democratizaria a habitação.
4. As cidades americanas estão se latino-americanizando. Os ricos estão deixando os subúrbios e voltando para as áreas centrais e a periferia vai pertencer aos pobres. Como já acontece no Brasil. No mundo, a [urbanista] Jane Jacobs, que defendia cidades mais compactas e de usos mistos pode ter perdido para o Le Corbusier, mas nos EUA ela está sendo redescoberta. Eu amo a Jane.
5. A palavra mágica da Olimpíada de Londres foi a pouca corrupção. Olimpíadas e Copas são um convite à corrupção, pelos prazos curtos, negócios gigantescos e regras não muito claras. Acho que conseguimos fazer em Londres um evento muito transparente. Como a maior parte do orçamento foi municipal, a prefeitura tinha que prestar contas diretamente e explicar como regenerar cada investimento, como vender ou revender cada construção. De Atenas a Atlanta, isso não aconteceu.
6. Quais serão os benefícios reais da Olimpíada para os moradores do Rio? Se você não consegue me responder facilmente, é um problema. Mas já está tarde demais para o Rio. Em democracias talvez tenha virado um mau negócio abrigar esses eventos. Prefiro projetos economicamente sustentáveis e sempre o menor ao maior. Eletricidade e saneamento precisam ser enormes, mas sempre prefiro cinco escolas pequenas do que uma gigante. Vinte clínicas em vez de um gigante hospital. O oposto de políticos e de muitos urbanistas. E oposto do gigantismo desses eventos.
FONTE: Ex-Blog do Cesar Maia