O Esquadrão de Cavalaria – Krau e o “atleta”

 

Gustavo Adolfo Franco Ferreira (tenente-coronel da reserva da FAB)

25/08/1960

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Ao ser promovido ao 1º Científico, fui confirmado na Cavalaria. Agora eram volteios, carrosséis, saltos, concursos hípicos. Já usava as lanças cruzadas, o respeitado emblema da Arma de Osório!

No dia do aniversário de Caxias (antigamente era O DIA DO SOLDADO!), o CM instalou uma guarda estática nas rampas de acesso ao pavilhão do patrono, entre as 12:00 e as 15:00 horas. Uma hora por Arma. O esquadrão assumiu posição às 13:00 horas – canícula infernal!

Havia uma combinação entre nós: quem caísse seria jogado no tanque de lavar cavalos! Azar dos azares: mal alimentado, eu cai ali pelos 45 minutos da hora.
Na volta, no espinha de peixe*, começou a ameaça do “atleta”. Eu seria jogado na estrumeira, não no tanque! O bate-boca azedou. Questões desta natureza se resolviam, naquela época no braço, no estande de tiro, ao pé da pedra da Babilônia. Ocorre que o atleta era um ginasta perfeccionista! Forte que nem um pequeno touro, tinha o tronco triangular e, quando retesava músculos era possível estudar anatomia nas costas dele!

Descemos a rampa da carpintaria em dois grupos. À frente o atleta acompanhado de um séquito de bajuladores e aproveitadores, atrás eu e o Krau – eu pedia que ele me levasse para a enfermaria depois do previsível massacre, e que avisasse a meu pai. Deve ter sido patética, a cena! Chegamos ao estande de tiro já sem a túnica branca do uniforme do dia.

Parou, na linha de tiro, e voltou-se para mim – que me aproximava. Ficou chamando minha atenção para suas mãos e me passou uma rasteira. Cai de cara no chão. Virei de barriga para cima para vê-lo, no ar, em vias de voar em cima de mim.

Só havia uma reação: levantei as duas pernas, ainda com botas de cano alto e esporas travadas por pelos de cavalo com a intenção de desviá-lo pelo peito. Errei. As esporas rasgaram a camiseta e marcaram, com um corte raso mas nítido, o peito, o pescoço e o rosto até além das orelhas.

A reação do “atleta” foi inesperada: Levou as duas mãos à face e emitiu um grito que era para ser aterrador. A bem da verdade, o grito teve outro tom. Foi mais para um grito adamado do que aterrador! Naquele momento, naquele ano, naquele ambiente, outrem talvez definisse aquele grito como “frescura”.

O “atleta” desapareceu. O Krau passou a destratar o infausto séquito decapitado.

* Espinha-de-peixe – Veículo de transporte de pessoal que consiste em um banco longitudinal usado dos dois lados

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