‘Por alguns instantes acreditei que estava morrendo’
Entrevista com o Capitão Nelson Leoni, ferido no ombro por um disparo de fuzil, em 2005, quando servia no Batalhão Brasileiro da Força de Paz, no Haiti.
EBlog: Como foi a sua preparação para a Missão de Paz no Haiti?
Cap Leoni: Iniciamos a preparação com 6 meses de antecedência. No início ocorreram instruções teóricas para um nivelamento do conhecimento sobre as Missões de Paz da ONU e o nosso objetivo no Haiti. Após este período ocorreram as instruções práticas, primeiro individuais (tiro, treinamento físico militar e outras instruções práticas) e as atividades em frações. Realizamos diversos exercícios já com as frações constituídas, primeiro por pelotões, depois subunidades e com todo o Batalhão. Este período serviu para o aprimoramento do conhecimento profissional e a formação do grupo unido e coeso, atributos essenciais para uma missão como essa.
EBlog: Porque o Sr foi voluntário para a missão no Haiti?
Cap Leoni: Tinha o grande sonho de poder participar de uma missão real e aplicar todos os conhecimentos adquiridos na Academia Militar das Agulhas Negras e na tropa. Além, é claro, da oportunidade de viver uma experiência única de vida.
EBlog: No Haiti, quais eram as suas funções/atribuições? Como era a sua rotina?
Cap Leoni: Fui para o Haiti como Comandante de Pelotão de Fuzileiro de Força de Paz, com integrantes do 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista. Minhas atribuições como comandante de pelotão eram: realizar patrulhas motorizadas e a pé e operações de busca e apreensão, ocupação de pontos fortes, execução de Postos de Bloqueio e Controle de Estradas, segurança de autoridades e ser responsável pela saúde física e mental de meus subordinados
EBlog: O Sr pode nos contar como foi o acidente?
Cap Leoni: No dia 22 de junho de 2005, meu pelotão participou de uma operação de busca e apreensão no Bairro de BelAir, após deixarmos presos e material apreendidos no Forte Nacional (Então Base da Companhia Paraquedista) formamos um comboio para retornar a Base Bravo com a missão cumprida. Quando o comboio passou pela frente do Bairro Cité Soleil fomos emboscados e recebemos rajadas de fuzil, um destes disparos me atingiu no peito e no braço. Como havia uma ambulância no comboio, fui socorrido imediatamente pelo médico e levado ao Hospital Argentino da ONU para os primeiros-socorros.
EBlog: O Sr teve medo de morrer?
Cap Leoni: Logo após o tiro, desmaiei pelo excesso de sangue perdido. Neste período passei por uma experiência chamada EQM (Experiência Quase Morte). Por alguns instantes acreditei que estava morrendo e neste momento fiquei muito aflito, não por morrer, mas por tudo que estava deixando como esposa, familiares e amigos que só iriam me ver em um caixão quando chegasse ao Brasil.
EBlog: Após o acidente e hoje recuperado, qual foi a maior lição de vida?
Cap Leoni: Quando passamos por momentos críticos em nossas vidas nos apegamos à fé que possuímos e aos verdadeiros amigos. Com fé e o apoio de meus familiares e amigos tive forças para nunca desistir, mesmo quando tudo indicava o contrário, e sempre olhar a vida pelo lado bom. Não ter o movimento total do braço é apenas um detalhe, pois recebi o direito de viver novamente e hoje aproveito cada instante da minha vida.
FONTE: eblog