O-secretário-de-Estado-dos-Estados-Unidos-John-Kerry

vinheta-clipping-forte1Em meio à saia justa diplomática entre Estados Unidos e a América do Sul provocada pelas revelações de que o governo de Barack Obama realizou espionagem em países da região, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, deverá dar explicações sobre o caso na visita que fará a Brasília, na terça-feira. Em um evento no Rio de Janeiro, ontem, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que o tema “não pode deixar de figurar na agenda bilateral”. Ao mesmo tempo, novidades sobre o caso continuam surgindo. Uma reportagem do jornal The New York Times afirmou que, ao contrário do que disseram autoridades, a vigilância de e-mails incluiu conteúdo, e não apenas o registro de quais usuários trocaram as mensagens.

Segundo os documentos revelados por Edward Snowden, ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês), o Brasil foi um dos principais alvos da inteligência americana. Aparar a aresta é uma tarefa que ganha mais urgência na medida em que se aproxima a viagem da presidente Dilma Rousseff a Washington, em 23 de outubro. Será a única visita de Estado — com todas as honras — que o governo americano receberá neste ano. Na avaliação de Peter Hakim, presidente emérito do Diálogo Interamericano, instituto sediado em Washington, a vinda de Kerry ao Brasil sinaliza que os EUA estão interessados em fazer com que a visita de Dilma resulte em uma agenda bilateral mais positiva. “É a primeira indicação de que Washington está se preparando seriamente.”

A viagem de Kerry ao Brasil foi cancelada em abril, após o atentado à bomba em Boston, reduto político de Kerry. Depois disso, o vice-presidente Joe Biden esteve no país em maio, com uma agenda pautada pela energia. Na época, não haviam sido feitas as revelações sobre espionagem citando o Brasil. Quando elas vieram à tona, no mesmo mês, Biden telefonou para Dilma. O governo americano tem dito que dará todas as explicações pelos canais diplomáticos. A divulgação dos fatos, na avaliação do especialista e professor de relações internacionais da PUC-SP Geraldo Zahran, foi uma motivação para o Departamento de Estado apressar-se em remarcar a visita do secretário. “Temos visto que as declarações das autoridades americanas têm sido para apaziguar, colocar panos quentes”, disse Zahran, também coordenador de pesquisa do Observatório Político dos Estados Unidos (Opeu).

Até mesmo por ser um tema caro à política externa brasileira, o episódio envolvendo o cerceamento e a busca policial no avião do presidente da Bolívia, Evo Morales, na Europa também deverá se impor no encontro entre Kerry e Patriota. A questão está entre os principais pontos do documento de desagravo entregue na terça-feira às Nações Unidas pelos chanceleres do Mercosul. “Essa é uma posição política do governo brasileiro. Faz todo sentido questionar o secretário sobre isso”, disse Zahran.

Uma reportagem publicada ontem pelo New York Times afirma que a NSA vasculhou conteúdo nos textos de e-mails trocados por americanos com correspondentes fora do país, segundo uma fonte de inteligência. Autoridades disseram que a vigilância tratava apenas do cruzamento de dados, e nunca de pessoas não consideradas suspeitas. De acordo com o jornal, para coletar as informações, bastava ser detectada uma palavra-chave, como o nome de um suspeito de terrorismo, para que o e-mail fosse vistoriado. A informação, segundo a publicação, mostra que a coleta era muito mais ampla do que se pensava.

FONTE/FOTO: Correio Braziliense, via Resenha do EB/EBC

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