Revelado discurso que rainha Elizabeth faria no caso de uma 3a Guerra Mundial
Por Jamil Chade
As últimas palavras que os britânicos teriam escutado de sua rainha antes de uma eventual Terceira Guerra Mundial acabam de ser reveladas hoje. Seguindo as regras de sigilo de documentos oficiais, o Arquivo Nacional Britânico acaba de publicar nesta manhã o discurso que estava preparado pelos assessores da rainha Elizabeth em 1983, caso o mundo entrasse em uma nova guerra, desta vez nuclear.
No texto, a rainha Elizabeth usaria palavras que seu pai, o rei Jorge VI, mencionou aos ingleses às vésperas da Segunda Guerra Mundial, evocando o que ela chama de um “corajoso país”. No texto, ela diria que o Reino Unido estaria prestes a passar pela “maior ameaça” de sua história.
Hoje, as palavras de Jorge VI ganharam fama mundial por conta do filme The King’s Speech. Mas, no Reino Unido, elas já faziam parte da memória coletiva.
“Agora, essa loucura da guerra está uma vez mais se espalhando pelo mundo e nosso corajoso país precisa se preparar de novo para sobreviver”, declararia a rainha, seguindo as mesmas palavras de seu pai, meio século mais cedo.
O discurso é apenas parte de um exercício militar que ganhou o nome de WINTEX-CIMEX 83, e que foi conduzido no primeiro trimestre de 1983. O cenário previa um ataque químico dos soviéticos, conduzindo a OTAN a responder com armas nucleares.
1983 foi um dos anos mais delicados da Guerra Fria. Nos EUA, o presidente Ronald Reagan insistia com seus planos de “Guerra nas Estrelas”, enquanto propunha instalar parte das armas nucleares americanas na Europa. Reagan chegou a classificar os soviéticos como “paranóicos” em um encontro com a primeira-ministra Margaret Thatcher. Moscou ainda derrubaria um avião civil da Coréia do Sul, matando 269 pessoas.
Abaixo você confere o discurso da rainha:
Tradução: Nicholle Murmel
Quando me dirigi a vocês pela última vez, há menos de três meses, nós todos desfrutávamos do calor e companheirismo de um Natal em família.
Nossos pensamentos se concentravam nos fortes laços que unem cada geração àquelas que a precederam e àquelas que virão.
Os horrores da guerra não poderiam ser mais remotos enquanto eu e minha família compartilhávamos nossa alegria natalina com a crescente família da Câmara dos Comuns.
Agora essa loucura da guerra novamente se espalha pelo mundo, e nosso bravo país precisa mais uma vez se preparar para sobreviver diante de grandes adversidades.
Eu jamais me esqueci da tristeza e do orgulho que senti enquanto eu e minha irmã perambulávamos pelo berçário, ouvindo pelo rádio as palavras inspiradoras do meu pai naquele dia fatídico de 1939.
Em momento algum eu imaginei que esse dever solene e horrível fosse recair sobre mim.
Todos sabemos que os perigos diante de nós hoje são, de longe, muito maiores do que em qualquer outro momento de nossa longa história.
O inimigo não é o soldado com seu fuzil, nem mesmo o aviador à espreita no céu sobre nossas cidades, e sim o poder mortal do abuso de tecnologia.
Mas quaisquer que sejam os terrores que nos esperam, todas as qualidades que ajudaram a manter nossa liberdade intacta duas vezes durante este século novamente serão a nossa força.
Meu marido e eu partilhamos com as famílias de todo o território o medo que sentimos por nossos filhos e filhas, maridos e irmãos que nos deixaram para servir ao seu país.
Meu amado filho Andrew está em ação neste momento com sua unidade, e nós rezamos continuamente por sua segurança, e pela segurança de todos os homens e mulheres em serviço aqui e no exterior.
É esse laço firme da vida em família que deve se tornar nossa maior defesa contra o desconhecido.
Se as famílias se mantiverem unidas e determinadas, dando abrigo aos que vivem sós e desprotegidos, a vontade de sobreviver do nosso país não poderá ser quebrada.
Minha mensagem, portanto, é simples. Ajudem aqueles que não conseguem ajudar a si mesmos, deem conforto aos solitários e desabrigados, e permitam que suas famílias se tornem focos de esperança e vida àqueles que precisam.
Enquanto lutamos juntos para derrotar esse novo mal, vamos rezar por nosso país e por nossos homens de boa vontade, onde quer que eles estejam.
Que deus os abençoe a todos.
FONTE: O Estado de São Paulo