Análise: 25 anos sob a proteção do Satã
Grigori Milenin
Há precisamente vinte e cinco anos, as Forças Armadas russas passaram a contar com o míssil balístico intercontinental (ICBM) R-36M2, conhecido como Voevoda e designado pela OTAN com o nome assustador de SS-18 Satan.
O míssil mais poderoso em termos de potencial destrutivo, passou a ser uma das lendas da época da Guerra Fria. Peritos comentam com a Voz da Rússia o papel que este complexo balístico desempenhou na política mundial de dissuasão nuclear, falam também do armamento que o irá substituir.
O R-36M2 recebeu na OTAN a classificação de Satan durante a corrida armamentista, que acompanhou todo o período de confrontação política entre a União Soviética e os EUA na época do pós Segunda Guerra, e que levou à criação dos armamentos mais mortíferos. Dezenas de bombardeiros estratégicos, prontos a levantar voo a qualquer instante em direção à URSS estavam em estado de prontidão nas centenas de bases aéreas da OTAN no mundo inteiro. Nos oceanos já faltava espaço para os submarinos. Os seus mísseis nucleares eram capazes de exterminar a vida na Terra. De ambos os lados do Atlântico surgiu literalmente toda uma “fileira” de mísseis. A corrida armamentista chegou aos poucos até no espaço. O ex-chefe do Estado-Maior das forças balísticas estratégicas da antiga União Soviética Viktor Essin revelou à Voz da Rússia que a concessão americana de “Guerras nas Estrelas”, desenvolvida a fim de destruir cargas nucleares na órbita circunterrestre, embora fosse um blefe, teve, no entanto, uma resposta perfeitamente adequada.
“A decisão de criar o complexo balístico Voevoda foi tomada quando o presidente dos EUA na época, Ronald Reagan anunciava a formação da Iniciativa Estratégica de Defesa, isto é, a criação da defesa antimíssil profundamente escalonada com sistemas de ataque espaciais. A fim de suplantar este sistema de defesa foi necessário o complexo balístico, capaz de transportar grande carga.”
A vantagem principal do míssil é a capacidade de carga. O complexo leva para o território do inimigo potencial vários blocos de combate, não deixando chance ao sistema de defesa antimíssil, apontou Victor Essin.
Mas o Satan tem também um defeito – seu posicionamento estacionário. Nas condições do dia de hoje esse fator aumenta a vulnerabilidade. Além disso, a enorme potência do míssil agora é desnecessária, afirma o diretor do Centro de Pesquisas Sociopolíticas Vladimir Evseev: “a época em que os mísseis tão pesados eram necessários acabou. Agora é preciso desenvolver novos aparatos com peso menor no momento de partida e, consequentemente, transportem um número menor de ogivas. Mas, na íntegra, eles irão corresponder aos novos enfoques de diminuição do volume de armamentos nucleares”.
Agora os complexos balísticos Voevoda estão sendo retirados gradualmente de serviço. Os prazos de vida útil dos armamentos está expirando sem possibilidade de prolongamento. Mas a Rússia não renuncia à posse de mísseis balísticos intercontinentais pesados. Vladimir Evseev apontou que, num futuro próximo, o Satan será substituído pelo novo complexo Sarmat.
A maior vulnerabilidade do SS-18 não era ser estacionário e nem seu peso de mais de 200 toneladas e sim o tempo necessário para que fosse lançado.
O SS-18 é essencialmente uma arma de primeiro ataque e não se presta a um contra-ataque já que as ogivas inimigas os atingiriam antes que ele decolasse, daí ser praticamente inútil como arma de dissuasão.
Mas o inimigo poderia saber que, dependendo da ação convencional que tomasse, a URSS reagiria com um primeiro ataque, nuclear.
A existência deles com certeza foi um fator importante.
Seriam úteis se instalados em locais remotos e desconhecidos, mas esconder algo assim não é fácil.
Sem dúvida Wagner. O SS-18 foi um poderoso dissuasor no sentido que nenhum inimigo iria querer provocar a URSS/Rússia a ponto dela optar por uma agressão nuclear, mas levando-se em conta a doutrina vigente na época da GF o primeiro ataque seria decisivo e teria obrigatoriamente que aniquilar o país atacado de forma definitiva e irreverssível. Nesse sentido a “vingança” implícita no conceito MAD não seria possível usando o SS-18 que provavelmente seria destruído. Por muito tempo as únicas armas capazes de manter a doutrina MAD do lado dos soviéticos foram os SSBNs. Só a pouco mais de 10 anos… Read more »
O SS-18 tem várias características interessantes que juntas nunca foram usadas combinadas nos sistemas americanos:
1- Combustível líquido armazenável como no Titan II;
2- lançamento à frio como no MX (Peacekeeper);
3- MIRVs como no Minuteman III e no Peacekeeper.
Interessante ver que os motores de combustível líquido emitem pouca fumaça e que o lançamento é extremamente lento se comparado com os foguetes de propelente sólido.