Governo israelense ataca o Irã, de novo
Jonathan Tepperman / The New York Times
No início do mês, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, foi à televisão americana para lembrar ao mundo (como se alguém houvesse esquecido) de que a ameaça do Irã continua muito viva. Falando ao Face the Nation, na CBS, Netanyahu advertiu que a república islâmica está novamente se aproximando da linha vermelha nuclear e insinuou que, se os EUA não agissem logo, ele o faria.
Preparem-se para ouvir mais sobre isso nas próximas semanas. O aparecimento de Netanyahu na TV foi, conforme se noticiou, apenas o sinal de partida de uma nova campanha para jogar os holofotes de novo sobre o Irã. No entanto, não esperem que Washington ou a comunidade internacional se lancem à ação.
Netanyahu não tem – e não deve ter – o tipo de resposta que anseia. Tanto seu linguajar como o comportamento de Israel dificultam, cada vez mais, levarmos suas advertências a sério. As ameaças do governo de Israel sobre o Irã se tornaram corriqueiras.
Netanyahu já fez exercício semelhante no meio do ano passado. E também no meio do ano anterior. Aliás, líderes israelenses já vêm emitindo esses alarmes há quase uma década. Essa repetição não seria um problema se a situação para a qual elas estivessem advertindo não tivesse mudado tanto.
Em 2004, quando o então primeiro-ministro Ariel Sharon levantou a questão do programa nuclear iraniano, ele disse que o ponto limite chegaria quando o Irã estivesse perto de adquirir a capacidade técnica de enriquecer urânio.
Meses depois, contudo, o ministro da Defesa de Israel, Shaul Mofaz, disse que não, que o verdadeiro perigo viria quando o Irã começasse a enriquecer combustível em seu próprio território. Depois, em 2006, o primeiro-ministro Ehud Olmert garantiu que o momento fatal viria quando os iranianos começassem a operar um determinado número de unidades de enriquecimento de urânio.
No ano passado, Ehud Barak, ministro da Defesa de Netanyahu na época, disse que a verdadeira linha vermelha seria cruzada quando o Irã entrasse na “zona de imunidade” – o ponto em que o programa nuclear estaria tão avançado ou bem defendido que não poderia ser incapacitado por um ataque.
O confuso em toda essa ladainha é que o Irã cruzou todas essas linhas vermelhas, mas o suposto desastre ainda não se concretizou. De modo que Netanyahu, agora, está com o problema da ovelha que grita “lobo”. No entanto, há uma falha ainda mais grave em seu caso contra o Irã: a incoerência intelectual.
Netanyahu insiste que a república islâmica deve ser contida antes que ela construa uma bomba nuclear porque não se pode confiar que o país seja capaz de conter o seu uso. O Irã, em outras palavras, não é passível de dissuasão.
Preocupação
No entanto, para isso ser verdade, os líderes do país teriam de ser mais perversos e menos racionais do que Stalin e Mao Tsé-tung, cujos crimes foram infinitamente maiores, mas contra os quais a dissuasão funcionou muito bem. Essa afirmação é dura demais para se aceitar.
E fica ainda mais dura quando nos lembramos de que o Irã, aparentemente, desacelerou o enriquecimento de urânio no ano passado. Teerã o fez em resposta a ameaças e sanções internacionais concertadas – a definição de um comportamento racional.
Sejamos claros: não estou tentando dizer que Israel não tem razão de se preocupar com o Irã. Dado o tamanho e a localização de Israel, a preocupação atual do governo de Barack Obama com Egito e Síria e a aparente disposição de Washington de engajar o novo presidente do Irã em outra rodada de negociações, a ansiedade de Netanyahu é compreensível, embora excessiva.
O que não é compreensível é a maneira como ele está lidando com isso. Se o seu governo estivesse realmente determinado a interromper o programa nuclear do Irã, ele estaria agindo de maneira muito diferente em alguns aspectos fundamentais.
Primeiro, para construir um amplo apoio internacional à ação, ele estaria fazendo de tudo – tudo mesmo – a seu alcance para fazer a paz com a Autoridade Palestina e, com isso, remover o maior empecilho em suas relações com a Europa e o mundo árabe. No entanto, Netanyahu não está fazendo realmente nada a esse respeito. Não se deixem enganar pelo recente anúncio americano de que as conversações de paz serão reiniciadas em breve.
O fato de que o lado israelense será conduzido por Tzipi Livni – uma parceira da coalizão de quem Netanyahu não gosta e desconfia – e o fato de que, mesmo antes de as conversações serem anunciadas, outros membros de seu gabinete declararam anonimamente que elas seriam pouco mais do que uma farsa -, mostram com que seriedade Netanyahu as está considerando as negociações de paz.
Diplomacia.
Segundo, Israel realmente quisesse impedir o Irã de conseguir uma bomba, ele teria colocado a sua própria na mesa. Isso pode parecer bizarro, mas considerem o fato de a eventual oferta de criar uma zona de exclusão regional ganhar Israel. Netanyahu poderia insistir em mecanismos de verificação mais intrusivos que se possa imaginar – inspetores israelenses nas instalações de Fordo ou Natanz, por exemplo.
O Irã rejeitaria, mas isso não teria importância. Jerusalém teria posto Teerã na defensiva e conquistado um pouco do apoio internacional de que tão desesperadamente necessita. Entretanto, em vez de dar esses passos ousados, Netanyahu recorreu a uma velha tática e está chamando a atenção nos EUA. O que aponta para uma conclusão cínica, mas inevitável: ele realmente quer que o restante do mundo resolva o seu problema iraniano.
Não que Netanyahu não preferira que os mulás parem de construir a bomba. Claro que ele preferiria. Ele apenas não está disposto a pagar um alto preço – como oferecer concessões dolorosas – para que isso aconteça. No entanto, se ele não está disposto, por que alguém de fora estaria? / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
* JONATHAN TEPPERMAN É COLUNISTA
FONTE: O Estado de S. Paulo
Pensando bem, Israel não tem mesmo o que temer do Irã. Se o Irã atacar Israel, desaparece do mapa pelos próximos 2 bilhões de anos. Simples assim.
Quem tem que temer o Irã nuclear são seus vizinhos sunitas, que não tem acesso a arma nuclear, cito: Arábia Saudita, Omã, Kuwait, Iraque e Emirados Árabes Unidos.
Vão por mim: se houver um ataque maciço ao Irã, é de lá que virá, não de Israel.
Bom, eu admiro o esforço militar iraniano, mas duvido que eles consigam essa tal arma nuclear. A HESA, para se ter uma idéia, levou dois anos para fazer três míseros saeqes… Eles estão avançando, mas não desse jeito que Israel teme. Se mal tem dinheiro para Saeqes, quanto mais para armas nucleares. Quanto custa um pequeno ICBM para Irã ?? Bilhões, que eles não tem disponíveis. Estão indigenizando muita coisa, mas isso consome muita grana e leva tempo. Eu gosto de ver o esforço deles, é admirável. Esses dias lançaram um novo 4 x 4 muito bacana, lembra o Guarani.… Read more »
Essas ameaças enchem o saco….
No Oriente Médio não tem jeito mas não somente a guerra os satisfazem!!!
Na boa seria bom que ambos Israel e Ira sumissem do mapa ai essa palhaçada acabaria de vez e o mundo teria PAZ de verdade..