Manuel Castells, sobre os indignados brasileiros
1. Sociólogo espanhol, Manuel Castells esteve no Fronteiras do Pensamento 2013 para a conferência Redes de indignação e esperança. No preciso momento de sua fala no Teatro Geo (11/06), a Avenida Paulista era espaço de tensão entre a polícia militar e os manifestantes contra o aumento das passagens de ônibus. Questionado pelo público sobre o que estava acontecendo na cidade, Manuel Castells respondeu:
2. Todos estes movimentos, como todos os movimentos sociais na história, são principalmente emocionais, não são pontualmente indicativos. Em São Paulo, não é sobre o transporte. Em algum momento, há um fato que traz à tona uma indignação maior. O fato provoca a indignação e, então, ao sentirem a possibilidade de estarem juntos, ao sentirem que muitos que pensam o mesmo fora do quadro institucional, surge a esperança de fazer algo diferente. O quê? Não se sabe, mas seguramente não é o que está aí.
3. Porque, fundamentalmente, os cidadãos do mundo não se sentem representados pelas instituições democráticas. Não é a velha história da democracia real, não. Eles são contra esta precisa prática democrática em que a classe política se apropria da representação, não presta contas em nenhum momento e justifica qualquer coisa em função dos interesses que servem ao Estado e à classe política, ou seja, os interesses econômicos, tecnológicos e culturais. Eles não respeitam os cidadãos. É esta a manifestação. É isso que os cidadãos sentem e pensam: que eles não são respeitados.
4. Então, quando há qualquer pretexto que possa unir uma reação coletiva, concentram-se todos os demais. É daí que surge a indicação de todos os motivos – o que cada pessoa sente a respeito da forma com que a sociedade em geral, sobretudo representada pelas instituições políticas, trata os cidadãos. Junto a isso, há algo a mais. Quando falo do espaço público, é o espaço em que se reúne o público, claro. Mas, atualmente, esse espaço é o físico, o urbano, e também o da internet, o ciberespaço. É a conjunção de ambos que cria o espaço autônomo. Porém, o espaço físico é extremamente importante, porque a capacidade do contato pessoal na grande metrópole está sendo negada constantemente. Há uma destituição sistemática do espaço público da cidade, que está sendo convertido em espaço privado.
5. O que muda atualmente é que os cidadãos têm um instrumento próprio de informação, auto-organização e automobilização que não existia. Antes, se estavam descontentes, a única coisa que podiam fazer era ir diretamente para uma manifestação de massa organizada por partidos e sindicatos, que logo negociavam em nome das pessoas. Mas, agora, a capacidade de auto-organização é espontânea. Isso é novo e isso são as redes sociais. E o virtual sempre acaba no espaço público. Essa é a novidade. Sem depender das organizações, a sociedade tem a capacidade de se organizar, debater e intervir no espaço público.
FONTE: Ex-Blog do Cesar Maia
NOTA DO EDITOR: as fotos acima, via Folhapress e Uol, mostram duas situações distintas de uma indignação que certamente deve ser, a princípio, vista num contexto conjunto. São cenas de ontem em São Paulo: a face violenta, com vandalismo à prefeitura da cidade e que depois se estendeu a outras ruas do centro, com depredações e saques (ou seja, crimes), e a face pacífica, de passeata na avenida Paulista, em momentos praticamente simultâneos. Ontem, a separação se apresentou bastante nítida em vários momentos, o que inclui o aspecto geográfico da separação, mas nem sempre ela é assim e, como a própria dinâmica das redes sociais, as realidades se sobrepõem e se interconectam, e papéis aparentes também mudam no dinamismo de cada momento e contexto, em questão de segundos e minutos.
As diferenciações entre “manifestantes pacíficos” e “vândalos”, e que estão em voga na mídia e nas declarações diversas, são coisas bem mais complexas daquilo que virou moda dizer nos últimos dias, assim como os elogios a uns e reprovações a outros, acompanhando essas declarações. Não são questões estanques. Nesse sentido, a distinção entre o organizado e planejado frente ao desorganizado e espontâneo não pode ser simplista.
O texto acima, das declarações do sociólogo espanhol, ajuda a tentar entender alguns aspectos dessas questões, mas é necessário também se atentar a agendas de lutas pelo poder que há muito existem: não é porque um fato novo acontece na história que essa mesma história dos conflitos de grupos organizados, pré-existentes, e que têm suas próprias agendas, deve ser descartada numa análise. “Mocinhos” e “bandidos” não nascem do dia para a noite, nem mudam suas agendas reais com essa rapidez.
Com certeza o movimento que começou por causa do aumento de 0,20 em São Paulo era direcionado, visando capitalizar votos para a próxima eleição estadual, a mais cobiçada pois já ganharam nas principais capitais e a federal, só faltando SP mesmo; o GF ao invés de trabalhar, estava mais preocupado em fazer suas alianças para as prósimas eleições e só abriram o olho e estão tentando afinar o discurso, quando ministros abriram a boca para criticar o governo de SP iniciando assim a campanha eleitoral e os mesmos problemas ocorreram no DF, governado por seu partidário e embaixo dos narizes… Read more »
errata = próximas
Caro Antonio M,
Assino embaixo.
[]s
Senhores, A presidentA incompetentA está numa espiral descendente que não vai haver bolsa-esmola ou marqueteiro que resolva. É difícil construir uma reputação; é fácil destruí-la; e é praticamente impossível reconstruí-la. Como não teremos boas notícias até a eleição (o dólar já vai a R$ 2,20) a tendência é o nível de rejeição ao governo Dilma subir cada vez mais neste ano e no próximo, pois se a nossa situação econômica está ruim em 2013, podem apostar que ano que vem será bem PIOR. Os protestos dificilmente atingirão resultados práticos, mas uma coisa é certa: o povo acordou do torpor em… Read more »
A QUEM INTERESSA A BADERNA? http://www.rogeriomendelski.com.br/: “Identificados alguns baderneiros, identifica-se também a origem ideológica de quem usou coquetéis molotov, paus, pedras e rojões contra o patrimônio público e contra as forças da ordem. E o grupo mais marcante foi aquele que a polícia de Brasília, do governador petista Agnelo Queiroz, prendeu. Eram cinco funcionários graduados do palácio do Planalto! Todos com cargos em comissão e encarregados de organizar a manifestação em Brasília. A polícia chegou aos nomes do Palácio do Planalto após ouvir quatro manifestantes que foram detidos. Um deles é o motorista do caminhão que levou pneus que foram… Read more »
Justamente, queria ver a cara do “gênio” político, do quadrilheiro chefe do mensalão que trouxe a copa sabendo que ia redundar em gastos bilhonários e pensando em reeleição ou eleição dele ano que vem. Agora deve estar pensando o que esta por vir ano que vem em termos de protestos na época da copa e as vésperas da eleição. Que vai estar poior a economia isso é certo. As medidas ilusórias pra manter a economia aquecida exauriram todas. Ele deixou a bomba para estourar na mão dela, a bisonha que não vê seu maior inimigo dentro da trincheira. Ela vai… Read more »