Economia guia livro sobre a ascensão do nazismo de Hitler
RODRIGO RUSSO
DE SÃO PAULO
As razões econômicas para as decisões tomadas pela Alemanha antes e durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) são o tema da extensa investigação de Adam Tooze, historiador britânico, em “O Preço da Destruição – Construção e Ruína da Economia Alemã” (ed. Record).
Em quase 900 páginas, incluindo apêndices e notas explicativas, Tooze analisa o cenário alemão após a Primeira Guerra, as disputas que permitiram a ascensão de Hitler ao poder e suas principais decisões para sustentar o esforço de guerra, que, para o autor, estava fadado ao fracasso se interpretado com auxílio da história econômica.
Na alentada introdução, ele explica que, com frequência, essa esfera econômica fica completamente isenta de escrutínio crítico.
“Muitas vezes, presume-se que o regime de Hitler somente enfrentou as verdadeiras escolhas estratégicas de política econômica, nas quais a ideologia nacional socialista era realmente influente, em 1936, quatro anos após a chegada ao poder”, observa, para logo em seguida desmontar essa tese.
Tooze também critica os historiadores do século 20 por assumirem em suas análises que a Alemanha era uma gigante econômico em potencial, afirmando que a história do período é marcada pelo fim da hegemonia de qualquer país europeu e pela ascensão de novas potências –especialmente os EUA.
Segundo o autor, Hitler percebeu com clareza, na década de 1920, a “ameaça de hegemonia global” representada pelo país, e pensava em como contrapor-se ao seu domínio econômico e militar, aparentemente inevitável.
O líder alemão, contudo, escolheu resposta explosiva: a anexação de território a leste para rivalizar com o território ocupado pelos EUA.
O rearmamento, portanto, é a “força absoluta e determinante que impulsionou, desde o início, a política econômica. Tudo o mais foi sacrificado em prol disso”.
Dessa forma, Tooze põe em xeque a visão que confere proeminência à questão da criação de postos de trabalho na agenda do regime nacional-socialista.
“As decisões de política econômica mais cruciais tomadas no período 1933-34 não se referiam ao desemprego, e sim às dívidas externas da Alemanha, à sua moeda e ao desarmamento, e, com relação a essas questões, não é possível fingir inocência política.”
Uma das principais revelações do livro é a de que, no verão de 1939, Hitler estava ciente de que seu esforço por um programa de longo prazo de preparação para a guerra havia fracassado.
O crescente rearmamento das potências ocidentais contra as quais pretendia investir, aliado à impossibilidade, por desequilíbrio no balanço de pagamentos, de incrementar sua produção bélica obrigou o regime a se lançar antecipadamente ao confronto, já que não ganharia mais nada ao postergá-lo –o país tinha tênue vantagem militar no início da guerra.
O componente ideológico do antissemitismo também foi fundamental na decisão de Hitler, que evitava o assunto nos discursos oficiais à liderança militar, mas acusava a comunidade judaica internacional de buscar a destruição do regime nazista.
Um dos méritos do autor é utilizar linguagem clara e relatos com riqueza de detalhes, embora a leitura do trabalho, por seu volume de informação, não seja fácil.
A edição brasileira poderia apenas ter tido o cuidado de atualizar currículo do autor.
Entre o lançamento no exterior, em 2008, e a publicação neste ano no país, Tooze trocou a britânica Universidade de Cambridge pela americana Universidade Yale, onde leciona história alemã moderna desde 2009.
AUTOR Adam Tooze
EDITORA Editora Record
FONTE: Folha de São Paulo
O aspecto econômico realmente recebe pouca atenção na maioria dos textos que leio sobre conflitos armados, mesmo sendo parte importante em suas causas.
Interessante o que o autor fala, sobre a ascensão da economia alemã na década de 30, foi baseada na produção de armamentos. Eu já desconfiava disso, mas nunca tinha lido algo de um autor que sustenta-se essa minha ideia.
A Alemanha não queria a Guerra em 1939, isso é bullshit.
Eles achavam que os ocidentais ficariam passivos diante do ataque a Polônia, tanto que Hitler esbravejou com Goering naqueles dias : ” E agora ?? “