kimjong-un

NICHOLAS EBERSTADT, THE NEW YORK TIMES, É MEMBRO DO AMERICAN ENTERPRISE INSTITUTE – O Estado de S.Paulo

vinheta-clipping-forte1A política arriscada empreendida por Pyongyang é um sinal de fraqueza, não de força. Os problemas atuais do regime norte-coreano são, em grande parte, obra de Kim Jong-il, que morreu há um ano e meio.

Ele não foi apenas um governante péssimo, mas também nefasto. Foi o cérebro por trás do fracasso monumental da economia da Coreia do Norte que, sob sua vigilância, registrou o pior desempenho de qualquer Estado industrializado.

Ele foi também o arquiteto da única situação de fome em tempo de paz a atingir uma sociedade urbana e alfabetizada.

Muitas das vítimas desse desastre foram designadas oficialmente membros das “classes hostis” – ou inimigos do Estado -, de maneira que o regime não lamentou as mortes.

Mais do que Stalin ou Mao, em sua busca do poder absoluto, Kim Jong-il destruiu o aparelho de Estado. Não menos atroz para um governante dinástico, também falhou na sua sucessão.

Ele próprio foi preparado para o comando durante quase um quarto de século antes da morte do seu pai, o “grande líder” Kim Il-sung. Mas não se preocupou em nomear um herdeiro até ficar incapacitado por um acidente vascular cerebral em 2008. Seu escolhido, o filho Kim Jong-un, foi posto às pressas no poder em 2010, antes da morte do pai.

Não é surpresa, portanto, o fato de Kim Jong-il ser universalmente (ou talvez secretamente) repudiado pelas elites da Coreia do Norte, que o acusam de deixar como legado uma nação arruinada. Kim Jong-un, o filho, quase admitiu isso em julho, durante um discurso no Partido dos Trabalhadores da Coreia, afirmando que as autoridades do país ainda tinham “um fraco entendimento” do patriotismo do pai.

A semelhança física de Kim Jong-un com Kim Il-sung pode ajudá-lo a se distanciar do legado direto deixado por seu pai, mas ele não conseguirá resolver os problemas que herdou simplesmente imitando o estilo de oratória apaixonado do avô.

O trono não é exatamente incontestado. Ele tem dois irmãos e o mais velho, Kim Jong-nam, denunciou publicamente a última transferência de poder.

O anúncio feito por ele no ano passado de que se casara e o fato de sua mulher estar grávida podem ser vistos em parte como uma apólice de seguro de vida.

Existe ainda a questão de assegurar o próprio Estado, o que já provocou algumas mudanças nos escalões mais altos. Três dos sete homens que acompanharam Kim Jong-un no carro fúnebre de Kim Jong-il durante seu funeral foram atingidos desde então por enfermidades políticas: rebaixamento, eclipse e morte.

Esses fatos provariam que o partido está retomando seu controle sobre o Exército e os órgãos de segurança do Estado.

A Coreia do Norte tem objetivos internacionais na propagação de sua crise. Mas a demonstração de poder nuclear de Pyongyang tem como objetivo também fortalecer internamente a autoridade do jovem líder. A mídia estatal norte-coreana saiu do seu padrão para referir-se a Kim como “querido e respeitado líder”. Diante da lógica orwelliana da propaganda de Pyongyang, isso poderia ser um indício forte de que o rei menino não é nem querido e nem respeitado em seu próprio país.

Essa é exatamente a razão pela qual os governos ocidentais devem refrear seu impulso de estabelecer negociações de alto nível com Pyongyang.

Qualquer ostentação diplomática inevitavelmente será alardeada na Coreia do Norte como uma concessão feita pelo seus inimigos externos. Ele não deve receber esse presente.

Deixar que Pyongyang saiba que suas provocações só lhe trarão prejuízos pode ajudar a mudar os cálculos do regime. E desencorajar a Coreia do Norte a recorrer à chantagem militar internacional, hoje e no futuro. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

FONTE: Estado de S. Paulo

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Vader
11 anos atrás

Texto bastante lúcido. Não se deve negociar NADA com a NK.

maxi47
maxi47
11 anos atrás

Concordo com o texto e consequente com o Vader, o ocidente não se deve se render a retórica de Little KIM, já que ele não é unanimidade na CN.

Marcos
Marcos
11 anos atrás

NK, sonho de consumo da esquerda brasileira!!!

Observador
Observador
11 anos atrás

Senhores,

Não vejo o texto como inovador.

Ora, é vidente que “L’enfant terrible” está fazendo este carnaval todo com intenção de mostrar ao seu povo que as potências estrangeiras o respeitam, que ele é o líder, que tem peito para enfrentar qualquer situação, e etcetera e tal.

Também é evidente que ele deve ter feito um expurgo no partido comunista e nas forças armadas, afastando, rebaixando, enviando para os campos de trabalho forçados e “suicidando”, todos os que parecessem questionar a sua autoridade.

Por isto é tão esfuziantemente recebido pelas tropas nos vídeos em que aparece. Quem não demonstrasse entusiasmo iria para os campos. Ou coisa pior.

A única coisa que o texto trouxe de novo foi a constatação de que o “ditador playmobil” será fortalecido por qualquer tentativa de acordo por parte de outros países. Será reconhecer a força deste e da Coréia do Norte, o que daria gás a Kim Jong-un.

Interessante é que os sul-coreanos não fazem questão da união com a Coréia do Norte em um só país. Já fizeram as contas e viram que os custos da reunificação deixariam os da Alemanha no chinelo.

Melhor é deixar tudo como está e aturar a chantagem de Pyongyang por um pouco de arroz. Sai muito mais barato.

F - 5
F - 5
11 anos atrás

Texto interessante e, vou concordar com o Vader: nada de concessões ao playmobil.
Marcos: a NK não é sonho de consumo de todos da esquerda brasileira. Ditadura é ditadura em qualquer lugar, seja de direita ou de esquerda.

Ribeiro
Ribeiro
11 anos atrás

incrível, para entender o texto tive que pegar os três nomes, e substituir por avô, pai e filho… hehehe
No mais, Marcos, nem todas as ideias socialistas são erradas ou ultrapassadas… e como disse o F-5, ditadura é ditadura em qualquer lugar, seja em pais comunista, capitalista, muçulmano ou nos miseráveis da AL e África, pois através da força, beneficiam poucos ao preço do malefício de muitos.
Abraços

F - 5
F - 5
11 anos atrás

Ribeiro:

Infelizmente existe uma “demonização” sobre quem é de esquerda ou de direita.
Acho que o fundamental é o respeito que devemos ter pelo pensamento político que cada um crê.
O problema é que vemos expressões da época de sessenta e setenta sendo ainda utilizadas. O mundo é outro, os pensamentos são outros, a conjectura é outra…
Abraços

Ribeiro
Ribeiro
11 anos atrás

No fundo, até os capitalista mais feroz (EUA) é socialista, ao querer que os ST da Embraer sejam produzidos no seu território, trazendo benefícios (empregos, impostos, etc) para a região onde será realizada…
No nosso caso, a política de governo de produzir nacionalmente produtos que costumeiramente não eram, é a mesma coisa…
É o exemplo da Petrobras (que sempre defendo), pode ser um pouco mais barato e rápido comprar plataformas na Ásia, mas o retorno social (isto é socialismo) é inquestionável.
Se pegarmos o exemplo da Vale, que foi privatizada, e agora toma suas decisões visando exclusivamente o lucro (corretamente, pois é privada), pode ser que ela é mais lucrativa para os donos, mas para a nação, o que significou a venda? quando trazia mais retorno social?
Antes de mais nada, não estou aqui defendendo políticas de assistencialismo ou controle do estado sobre tudo…
Como diz um colega meu de trabalho, quando o Lula adiou o FX para empenhar no fome zero, transformou os caças em esterco…
Quanto a Korea do Norte… cada um com seus problemas….

Abraços

Ivan
Ivan
11 anos atrás

Ribeiro,

Por favor não confunda Socialismo com Nacionalismo.
São conceitos diferentes que tratam de assuntos diferentes. Um nacionalista pode ser socialista ou liberal, comunista ou capitalista.

Mas este não é o fórum para este debate.

Sds.,
Ivan.

Ivan
Ivan
11 anos atrás

“Qualquer ostentação diplomática inevitavelmente será alardeada na Coreia do Norte como uma concessão feita pelo seus inimigos externos. Ele não deve receber esse presente.”

Aparentemente uma estratégia de contenção seria a melhor opção para Estados Unidos, Japão e Coréia do Sul. O risco passa por medidas desesperadas, como disparar um míssil balístico contra Tóquio ou uma série de foguetes contra Seoul.

Sistemas anti-mísseis, C-RAM e vigilância 24/7 são
necessários agora e durante os próximos anos.
A questão, como sempre, é o custo.

Sds.,
Ivan.

F - 5
F - 5
11 anos atrás

Perfeito Ivan!
Na realidade o nacionalismo pode ser uma característica comum aos liberais, aos socialistas, comunistas ou capitalistas, mas…sabemos que o capital não tem nação…

Vader
11 anos atrás

Ribeiro disse:
25 de abril de 2013 às 9:36

“No fundo, até os capitalista mais feroz (EUA) é socialista, ao querer que os ST da Embraer sejam produzidos no seu território”

Prezado, como o Ivan bem lhe corrigiu, tome cuidado. Isso não é socialismo, até porque o socialismo (científico) não reconhece fronteiras. Isso é nacionalismo, coisa muuuuuuito diferente.

E confusão também muito comum é achar que o wellfare state da social-democracia é socialismo. A social-democracia tem em comum com o socialismo tanto quanto o nacional-socialismo (na verdade em muitos aspectos o nazismo é muito similar ao socialismo, sendo bem mais próximo deste que a social-democracia).

Isto posto, os EUA não tem absolutamente NADA de socialismo, embora no passado já tenham pendido para a social-democracia, e volta e meia se voltem para ela, ainda que temporariamente. Entretanto, os EUA e seu povo são em sua essência LIBERAIS e, mais além ainda, LIBERTÁRIOS, no sentido de que DETESTAM a ingerência do Estado na égide privada, qualquer que seja ela.

Claro: se lutaram uma guerra de independência para se livrar do “rei”, não iriam se entregar ao “Estado”, que pode ser ainda pior que o monarca.

“No nosso caso, a política de governo de produzir nacionalmente produtos que costumeiramente não eram, é a mesma coisa…”

Exatamente, a mesma coisa: é nacionalismo (barato, por sinal), não socialismo, muito embora o socialismo se aproveite da bandeira nacionalista.

“É o exemplo da Petrobras (que sempre defendo), pode ser um pouco mais barato e rápido comprar plataformas na Ásia, mas o retorno social (isto é socialismo) é inquestionável.”

Amigo, retorno social não tem correlação com socialismo, que não tem nada a ver com nacionalismo.

Pode-se ter muito mais retorno social sem qualquer ingerência do Estado na economia, através da regulação própria do mercado, que através de seus mecanismos próprios essencialmente democráticos (pois acessíveis a todos) controla oferta e demanda de tudo: de bens e serviços à mão de obra.

Aliás, isso é o que acontece na maior parte dos países avançados do mundo. A isso se dá o nome de “capitalismo”. E é por sinal o motivo pelo qual alguns países são ricos, e outros pobres, como demonstrou Adam Smith ainda no séc XVIII, cito: “não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu “auto-interesse”

Pode muito bem haver MUITO MAIOR retorno social com a Petrobrás, no exemplo citado, comprando suas plataformas na Ásia, do que produzindo localmente.

Só pra ficar no seu exemplo: o que é mais importante para a Petrobrás? Perfurar petróleo ou empregar mão de obra brasileira? Ou, em outras palavras: o que gera o lucro da Petrobrás (acionistas), os royalties que ela paga (que vão pros governos investirem em saúde, educação, etc), os impostos que ela recolhe (novamente pros governos), o patrimônio que ela acresce (que vão no fundo para todo o povo brasileiro, que é dono majoritário dela) e os salários dos funcionários dela?

É o petróleo, correto? A Petrobras, sem a prospecção e o refino de petróleo, não serve para mais nada, correto? Perde seu objeto, né?

Bem, já que o negócio da Petrobrás é o petróleo (o que lhe importa é isso), o que é mais importante para ela?

1 – Obter seu petróleo mais barato e em maior abundância (mais rapidamente), podendo assim recolher impostos, royalties, contratar mais funcionários para operar as plataformas (gerando postos de trabalho), gerar mais LUCROS para seus acionistas, o que vai atrair mais investimentos e gerar mais um círculo virtuoso, pois com mais dinheiro disponível a Petrobrás pode furar mais poços e construir mais plataformas, etc…

OU

2 – Pagar mais caro pelas suas plataformas produzidas aqui, demorando mais tempo para que ela as ponha em operação, recolhendo menos impostos, pagando menos royalties, contratando menos gente, etc?

Entendeu?

O problema do socialismo é isso: ele INVERTE as prioridades de tudo. Ele pensa no curto prazo, e se esquece do médio e longo prazo. Ele usa a justificativa e se alimenta da miséria DE AGORA para dificultar, obliterar e impedir um AMANHÃ que será muito melhor e mais glorioso do que o que ele consegue produzir agora.

E é por isso que ele é essencialmente INEFICAZ.

É por isso, ao fim e ao cabo, que o socialismo quebrou na União Soviética e no mundo todo que se deu conta disso. É por isso que o socialismo não deu certo em lugar nenhum do mundo, e não vai dar certo em lugar nenhum do mundo: porque ele é ineficaz para gerar riqueza, que é o que alimente mais riqueza.

O socialismo, ao negar o mérito (de quem produz plataformas mais rápidas e mais baratas, no seu exemplo) promove a pobreza e beneficia o fraco e o incapaz, desestimulando o forte e capaz a ser cada vez mais forte e capaz, ao mesmo tempo em que tira qualquer estímulo para que o fraco e incapaz se torne forte e capaz.

“Se pegarmos o exemplo da Vale, que foi privatizada, e agora toma suas decisões visando exclusivamente o lucro (corretamente, pois é privada), pode ser que ela é mais lucrativa para os donos, mas para a nação, o que significou a venda?”

Amigo, pelo amor de Deus, a Vale quando foi privatizada era uma empresa à beira da FALÊNCIA! Da bancarrota!

Hoje, 15 anos depois, ela é um dos maiores conglomerados do setor de mineração DO MUNDO! DO PLANETA! Ela emprega 50 vezes mais pessoas, gera 100 vezes mais royalties, recolhe 100 vezes mais impostos! E o tal LUCRO dela, atrai mais investimentos, que geram mais produtos, mais empregos, mais royalties, etc!

O que traz mais “retorno social”? Uma empresa deficitária e semi-falida na mão de meia dúzia de funcionários públicos e burocratas escolhidos a dedo por sucessivos governos, ou um dos maiores e mais dinâmicos conglomerados do mundo?

Amigo, o Estado não serve para ser empresário! Ele é INEFICAZ nisso. O Estado serve é para prover segurança, saúde e educação, e olhe lá!

Olha só, estou te respondendo porque sinto que você é bem intencionado, não um daqueles teleguiados estúpidos que infestam a net por aí. Até porque aqui nem é o foro adequado para essa discussão.

Mas pense bem antes de escrever. Leia mais, estude mais, não saia repetindo todas as bobagens que l^~e por aí.

As palavras vinculam as pessoas.

Saudações.

Observador
Observador
11 anos atrás

Ribeiro disse:
25 de abril de 2013 às 9:36

Vader disse:
25 de abril de 2013 às 12:05

Senhores,

Se vocês soubessem a SACANAGEM que rolou/rola/rolará na compra de conteúdo nacional para o Pré-sal, todos iriam defender a compra de tudo isto lá fora, o mais longe possível daqui.

O pouco que acompanhei (pessoalmente) cheira muito mal. Se estrapolar para o resto, então…

Mais eu não posso dizer.

Vader
11 anos atrás

Ah sim, esqueci de dizer:

Isto tudo posto, sou favorável a que o Brasil produza TUDO aqui. De tomate a plataforma petrolífera. De feijão a caças. De soja a foguetes espaciais.

Mas o Brasil e suas empresas PRIVADAS tem que fazer isso com QUALIDADE. Com eficiência. Com capacidade.

E não alimentado pelo “leite de pata” fácil do governo e das estatais.

Reserva de mercado nunca deu certo em lugar nenhum do mundo. Reserva de mercado só gera atraso, na medida em que elimina a concorrência, que é a força motriz por trás da inovação.

É até curiosa a situação brasileira, porque tivemos exemplos CLAROS do que a reserva de mercado fez com o Brasil na década de 80: nossos carros eram carroças. Nossos computadores, lixo. Nossa indústria, no geral, estava arrebentada. Sem competitividade alguma.

Como ninguém podia comprar um carro importado, nem um computador importado, essas empresas prosperavam.

A hora em que abriu-se a economia, o leite de pata secou. Os empresários vagabundos, que só sabiam embolsar o lucro dos consumidores (que não tinham de quem comprar, senão deles), sem investir em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, quebraram.

Quando da abertura de mercado e das privatizações promovidas na década de 90, nossa indústria se recuperou admiravelmente. Tanto é assim que surgiu uma Embraer, por exemplo, que estava praticamente falida. Uma Vale. Que a Petrobrás se tornou o gigante que é hoje. E vai por aí.

Agora, como brasileiro tem memória curta, para arrumar carguinhos pros cumpanheros o PT se propõe a voltar 20 anos no tempo, e arrumar reserva de mercado e estatais para tudo que é lado.

É surreal. Parece que voltamos aos piores tempos do Regime Militar, a década de 80, “década perdida”.

Ou seja: teremos um pouquinho de vôo de galinha e, logo logo, mais uma década perdida. Precisaremos de mais 20 anos para se recuperar da “sementinha do mal” que o PT plantou.

O socialismo e os ideais socialistas são o maior fator de atraso de qualquer país.

Ribeiro
Ribeiro
11 anos atrás

Valeu amigos…
Obrigado pelos esclarecimentos…
Abraços

nunes neto
nunes neto
11 anos atrás

Vader, assino embaixo!Um detalhe, os carros fabricados aqui, ainda são carroças, e custão o valor de 2 carruagens importadas.Abçs