021213_Drugs_Rio_Favela

Por Fernando Montenegro

vinheta-opiniao-forteMesmo não possuindo poder de combate para enfrentar o Exército durante a pacificação dos complexos de favelas do Alemão e da Penha, os integrantes do crime organizado prosseguiram promovendo ações hostis, principalmente no campo das operações psicológicas, durante toda a ocupação.

As técnicas, táticas e procedimentos de guerra irregular usados atualmente pelo crime organizado no Brasil foram assimilados pelos revolucionários comunistas na década de 1960 em Cuba, na China, na Albânia e outros países da Cortina de Ferro. Posteriormente, o guerrilheiro brasileiro Carlos Marighela os sintetizou escrevendo o Mini Manual do Guerrilheiro Urbano (1969), conhecido e usado pelas principais organizações terroristas e criminosas do mundo hoje em dia. Quando colocaram integrantes da luta armada e criminosos comuns no Presídio da Ilha Grande nas mesmas celas, no início da década de 1970, estes ensinamentos foram difundidos.

Da simbiose entre criminosos políticos e os comuns, nasceu o Comando Vermelho, primeira facção de crime organizado do Brasil, hoje possuindo conexões internacionais com vários segmentos do narcoterrorismo transnacional, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

Durante a pacificação de algumas favelas no Rio de Janeiro, puderam-se observar ações psicológicas direcionadas aos diversos públicos-alvo do cenário: as tropas do Exército, os próprios criminosos, a população local das comunidades e a opinião pública em geral. Da mesma forma, foram desenvolvidas as chamadas propagandas branca, cinza e negra ao longo da operação.

As pichações em muros e paredes, anteriores à pacificação, foram anuladas pela ação da tropa logo no início. No entanto, novas gravações e pinturas enaltecendo a facção criminosa e as iniciais de seus principais líderes foram realizadas em outros lugares, com siglas referentes ao Comando Vermelho. Também foram grafitados desenhos e textos ironizando a ação do Exército. Normalmente ocorriam nos intervalos de ronda das patrulhas.

Em situações de maior tensão, aproveitando-se de tumultos, surgiam rapidamente faixas e cartazes já preparados previamente, dando a impressão de que as turbas teriam sido agrupadas para aumentar o efeito e a visibilidade dos materiais. Também acompanhavam as faixas panfletos normalmente bem escritos, manipulando e distorcendo os fatos, procurando desacreditar a Força de Pacificação.

O Comando Vermelho filmou e filma suas atuações por ocasião dos embates e depois edita os vídeos, mostrando as forças legalistas sendo alvejadas em associação com imagens depreciativas da polícia ou das Forças Armadas e insatisfações da população com a exclusão social das favelas.

Esses vídeos são acompanhados de legendas e músicas que fazem apologia ao crime organizado. Depois de prontos, eles são postados no YouTube e outros sites da internet, usando inclusive redes sociais.

Os criminosos também se valem da difusão de boatos ameaçando a tropa e seus colaboradores através da comunidade ou simulando conversas no rádio (sabendo que estão sendo monitorados).

Outra forma de evidenciar força ou associação ao terror é a própria embalagem das drogas. Além de identificarem explicitamente sua proveniência, procuram usar slogans como “Rebeldes da Líbia”, “Esquina da Somália”, “Respeita o crime”, “Lança Míssil”. Sempre vêm acompanhados das iniciais CVRL (Comando Vermelho Rogério Lengruber, fundador do grupo) e alguma imagem de um traficante ou de uma arma.

A manutenção da lei do silêncio na comunidade é realizada através do terror. Os traficantes que possuem registro de atividades criminosas na polícia abandonaram a área, entretanto os “ficha-limpa” permaneceram na comunidade, promovendo atividades ilícitas de pequeno volume, direcionadas principalmente ao consumo interno. Os colaboradores das Forças Armadas tinham que ser muito discretos sob o risco de serem “justiçados” pelos criminosos.

Existem vários estúdios rudimentares que produzem músicas de péssima qualidade e com linguagem extremamente chula visando a apologia ao sexo explícito, ao crime organizado e depreciando a polícia ou o Exército. Essas músicas são muito populares no interior das favelas e são usadas para promover a degradação moral da comunidade, edificar os criminosos e provocar as forças legalistas. Embora sejam constantemente reprimidas, muitas vezes fica difícil identificar em tempo a origem do som dentro do labirinto de becos e vielas de uma favela com 16 km de perímetro e 400 mil habitantes.

Em algumas ocasiões, durante a madrugada, foram preparados gatilhos de tempo em artefatos caseiros para incendiar veículos estacionados na rua, mas foram neutralizados antes de serem detonados. Em outras ocasiões, foram preparadas barricadas com a finalidade de impedir ou dificultar o trânsito das viaturas. Essas ações normalmente eram muito bem articuladas, pois contavam com a participação de várias pessoas. Alguns olheiros (vigias), distribuídos nos arredores, monitoravam a movimentação da tropa, usando celulares para falar ou enviar mensagens de texto, ou mesmo rádios tipo talk about.

Tendo em vista que existe uma quantidade significativa de pessoas que vivem e se beneficiam do tráfico de drogas (vigilantes, vendedores, seguranças, embaladores/preparadores, transportadores, dentre outros), estas eram usadas sistematicamente para provocar arruaças e desgaste na tropa, ao promover brigas, desobediência e resistência ao acatamento de ordens.

Normalmente, mulheres, gestantes, idosos e crianças simpatizantes do tráfico formavam uma barreira protegendo os marginais contra a tropa por meio de escândalos, agredindo com palavras ou arremessando objetos de toda ordem. Essa situação costumava ser extremamente delicada, até mesmo para o uso de tecnologias não letais (spray de pimenta, munição de borracha, entre outras), pois quase sempre havia elementos preparados para filmar as ações da tropa e explorar as imagens na mídia. Em várias oportunidades, parecia que os jornalistas já estariam por perto, alertados de que haveria algum enfrentamento e, após a chegada deles, as turbas eram formadas e as hostilidades iniciavam.

Do acima descrito, pode-se perceber que os integrantes do Comando Vermelho dominam várias técnicas de emprego de Operações Psicológicas, direcionando-as aos diversos públicos-alvo integrantes do Teatro de Operações e sabendo usar redes sociais, internet, edição de vídeos, gravações de músicas, ou atividades mais rudimentares como grafitar paredes ou espalhar o terror com boatos e ameaças.

A maior dificuldade em realizar uma repressão mais eficaz a essas ações das forças adversas foi a falta de liberdade legal da tropa, conforme as regras de engajamento. É importante salientar que o Exército foi empregado numa situação de normalidade constitucional. Isso significa que todos os moradores das comunidades (por mais violência e ilícitos que houvesse) estariam em pleno gozo de seus direitos e garantias individuais. A tropa não possuía, portanto, autorização para entrar nas casas/barracos, recolher veículos sem documentação (missão da polícia), ou realizar outras ações. Os militares deveriam agir como se estivessem em um bairro de classe A, por exemplo.

A decisão da forma de emprego foi tomada no plano político e causou um enorme desgaste à Força de Pacificação em todos os níveis hierárquicos; entretanto, mais uma vez, os militares brasileiros souberam se adaptar a essas condicionantes, anularam as ações e concluíram a missão com sucesso histórico sem precedentes, entregando as comunidades às autoridades do estado do Rio de Janeiro, com índices de segurança inéditos naquela região.

*Fernando Montenegro, Coronel da reserva do Exército brasileiro e por duas vezes comandante de uma Força Tarefa Valor Batalhão de Infantaria Leve

FONTE: Portal Diálogo-Américas

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Marcos
Marcos
11 anos atrás

Essas organizações ditas criminosas, na verdade terroristas, continuam atuando porque existe a concepção de elas são vítimas da sociedade e de que são uma espécie de “cumpanheros” da grande causa.

Giordani
Giordani
11 anos atrás

Como combater essas “organizações” se quem está no Poder as defende? Quem está no Poder as trata como “vítimas da sociedade”? Enquanto a sociedade civil não expurgar essa gente do poder, essa gente com os pensamentos das marias-do-rosario, nada mudará. Além do mais, a Sociedade Civil tem que ter em mente que presídio não é para recuperar e sim punir os deliquentes! O marginal tem que ter medo de ser preso e condenado…

Requena
Requena
11 anos atrás

A coisa tá pior do que eu pensava.

E como o Giordani falou, esse “jeito Maria do Rosário de ser” ainda vai nos deixar 100% reféns dessa bandidagem.

Vader
11 anos atrás

Lendo a reportagem só me veio uma musiquinha na cabeça:

“O infante é o guerreiro que mata guerrilheiro;
Mata, esfola, usando sempre o seu fuzil;
O infante é o guerreiro mais temido do Brasil!”

Quem conhece a marcha sabe do que estou falando… 😉

Universal
Universal
11 anos atrás

Pois é. São as forças de segurança fabricando estes “terroristas”. Tiram o jovem da favela, dão lhe educação, alimento, fardas, saúde, uma arma, treinamento, e conhecimento para agir em nome do crime, geralmente depois de dar baixa, mas frequentemente ainda durante o serviço. O que significaria “Pqd” após os nomes de alguns traficantes? Ou alguém nega que eles tenham treinamento militar? E nossas forças de defesa ainda não sabem como lidar, ou combater o temido “Mini Manual do Guerrilheiro Urbano” escrito por Carlos Marighela, em 1969? Para os ignorantes é sempre mais fácil acusar os “cumpanheros” e ser extremamente míope… Read more »

juarezmartinez
juarezmartinez
11 anos atrás

Meu caro Universal, todo mundo sabe que hoje as OMs localizadas no RJ são grandes centros de formadores de “soldados do tráfico” e que, esta situação está completamente fora de controle. Alnguns assuntos considerados “pano preto” pelos CM, como desaparecimento de munição(em grande escala hem) armamento e outras cositas mais que não se podem falar aqui com a fonia em on. Já se tentou por varias vezes reduzir o número de OMs no RJ com uma das medidas para estancar o fluxo de alimentação dos traficantes, mas sempre as “FORÇAS OCULTAS” e os ‘INTÉRÉSSÉS(By Leonel Brizola) impediram isto. Existem verdadeiros… Read more »

Marcos
Marcos
11 anos atrás

juarezmartinez

Isso está parecendo a Alemanha da década de 30, onde todos eram obrigados a usar o emblema do partido na lapela.

Marcos
Marcos
11 anos atrás

O mais emblemático aparelhamento ideológico de um órgão no Brasil é o Itamaraty.

Giordani
Giordani
11 anos atrás

E o segundo, para nossa vergonha perante os demais brazileiros, é a Brigada Militar…

Marcos
Marcos
11 anos atrás

juarezmartinez:

“… aonde que os oficiais que não traziam a estrela vermelha pelo lado dentro da gola da camisa ou no lado de dentro do bibico foram passados a reserva…”

Isso ai é no sentido metafórico, do tipo “vestir a camisa”, ou de fato estão tendo de usar bottom, tipo coisa da Alemanha Nazista?

MAD DOG
MAD DOG
11 anos atrás

… Parabéns a todos!!! … Mataram a charada!!! … O GF, e demais estados administrados pelos “cumpanheiros”, permitem e apoiam essas facções, para não dizer as futuras “Brigadas Revolucionárias de Libertação Social ou dos movimentos sem alguma coisa”, enfim, as tropas de frente para esses Ptralhas tocarem o terror na Nação e tentarem se perpetuar no poder na força caso não consigam mais de forma democrática. Como pano de fundo, fingem combate-los, mas os fatos falam por sí próprios. Só há duas soluções: 1ª – EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO! 2ª – O Vader já deu! “O infante é o guerreiro… Read more »