0123-WOMEN-COMBAT-sized.jpg_full_600

AIL COLLINS – THE NEW YORK TIMES – O Estado de S.Paulo

vinheta-clipping-forte1As mulheres nas Forças Armadas dos EUA terão de servir em combate. E não era sem tempo. “Acredito que as pessoas chegaram à conclusão sensata de que não se pode dizer que a vida de uma mulher é mais valiosa do que a vida de um homem”, disse-me certa vez a general da reserva da Força Aérea Wilma Vaught.

Desde quando a recomendação tornou-se pública, na quarta-feira, exceto por críticas da Concerned Women for America (“nossas forças militares não podem continuar preferindo a experimentação social e correção política, em lugar de preparar-se para o combate”), a recepção parece em geral positiva.

É difícil lembrar – tantas partes da história recente parecem difíceis de lembrar hoje em dia -, mas foi o espectro de mulheres sob fogo que, mais do que qualquer outra coisa, ajudou a esmagar o movimento por uma Emenda de Direitos Iguais à Constituição dos EUA nos anos 70. “Nós dizíamos que esperávamos que ninguém entrasse em combate, mas, se entrasse, as mulheres deveriam estar lá também”, recordou a feminista Gloria Steinem.

O medo de pôr mulheres nas trincheiras dispersou-se em dois fronts. Um, é claro, foi a mudança do modo como o público americano pensa sobre as mulheres. O outro foi a escassez de trincheiras na guerra moderna, quando um oficial nas linhas de frente não está necessariamente numa posição mais perigosa que um trabalhador de apoio.

Shoshana Johnson, uma cozinheira, foi baleada nos dois tornozelos, capturada e mantida em cativeiro por 22 dias após sua unidade ser separada de um comboio que cruzava o deserto iraquiano. Lori Piestewa, como Johnson uma mãe solteira, estava guiando no mesmo comboio repleto de funcionários e trabalhadores de manutenção. Ela estava conduzindo habilidosamente seu Humvee em meio ao fogo de morteiros quando um caminhão imediatamente à sua frente deu uma guinada e a roda dianteira do seu veículo foi atingida por um foguete. Ela morreu no acidente que ocorreu logo em seguida.

A maior preocupação de segurança para mulheres nas forças militares não é realmente tanto o fogo inimigo, mas sim abusos sexuais de colegas. Como o crime é bem pouco denunciado, é impossível dizer quantas mulheres sofrem ataques sexuais quando estão de uniforme, mas 3.192 casos foram registrados em 2011. Permitir que mulheres recebam os benefícios de servir em postos de combate não agravará essa ameaça. Aliás, poderá melhorar as coisas, pois significará mais mulheres nos altos escalões das Forças Armadas e isso, inevitavelmente, levará mais atenção às questões femininas.

A ideia dos militares sobre o que constitui um posto de combate tem mais a ver com burocracia do que com balas. Hoje, as mulheres estão em patrulhas armadas e aviões de caça. Mas não podem ocupar aproximadamente 200 mil postos oficialmente denominados “de combate”, que com frequência trazem melhor remuneração e são o trampolim para promoções. O sistema é complicado. Mas os cínicos poderiam especular se algumas altas patentes militares não temem mais a mobilidade hierárquica das mulheres do que o perigo no front.

“Só temos uma mulher que é general quatro estrelas”, disse a senadora Kirsten Gillibrand, de Nova York, membro da Comissão das Forças Armadas do Senado, que elogiou a nova recomendação do Estado-Maior. Foi “um grande passo adiante para nossos militares”, disse ela, e um passo que não era de fato esperado. Só recentemente, recordou Gillibrand, ela e seus aliados declararam vitória quando meramente conseguiram uma fraseologia na lei de autorização de defesa requerendo que o Departamento de Defesa estudasse a questão de mulheres em combate.

As mulheres constituem hoje quase 15% dos militares americanos e sua disposição de servir tornou possível a mudança para um Exército só de voluntários. Elas assumiram seus postos com tanta tranquilidade que o país mal tomou conhecimento. O espectro que adversários julgavam impensável – nossas irmãs e mães morrendo sob fogo em terras estrangeiras – já aconteceu muitas vezes. Mais de 130 mulheres morreram e mais de 800 foram feridas no Iraque e no Afeganistão. A Câmara dos Deputados tem uma mulher duplamente amputada, a recém-eleita Tammy Duckworth, de Illinois, uma ex-piloto militar que perdeu as duas pernas quando seu helicóptero foi abatido no Iraque.

Percorremos um longo, por vezes trágico, e heroico caminho. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

* É COLUNISTA E ESCRITORA

FONTE: O Estado de S. Paulo

VEJA TAMBÉM:

  • Exército Brasileiro se prepara para ter mulheres combatentes em até cinco anos

 

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest

3 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Clésio Luiz
Clésio Luiz
11 anos atrás

Vai ser interessante acompanhar o desenrolar disso, especialmente se as forças armadas americanas não baixarem os padrões físicos com que são aceitos os infantes, as mulheres começarem a serem reprovadas, começarão a alegar preconceito.

Depois dos padrões serem rebaixados, quando elas estiverem em linha de frente, o que as feministas dentro das FAAs farão para impedir que os relatórios criticando o desempenho delas na linha de frente chegue a público…

shipbuildingbr
11 anos atrás

Mas o objetivo é baixar os padrões mesmo. Elas são apenas a ferramenta.

Vader
11 anos atrás

Que lamentável isso tudo.

Mas quer saber? Libera geral. Depois as mulheres que não reclamem quando começarem a morrer aos magotes. Pois o inimigo não terá dó delas.