Mísseis contra antimísseis
Enquanto os EUA constroem um escudo antimíssil global, a Rússia se prepara para atualizar seu arsenal de mísseis estratégicos nucleares e completá-lo com dois mísseis capazes de romper o escudo americano.
Segundo o comandante das FME (Forças de Mísseis Estratégicos), general Sergêi Karakaev, trata-se de um míssil balístico pesado de combustível líquido de 100 toneladas projetado para ser mais potente do que R-36M2 Voevoda, hoje o mais poderoso do mundo, e de um míssil balístico de combustível sólido destinado a substituir os mísseis de quinta geração Iars-RS-24 e Topol-M.
“Como o potencial de mísseis balísticos de combustível sólido pode ser insuficiente para romper o escudo antimíssil americano, essa missão será confiada a um míssil balístico pesado de combustível líquido. Se os EUA não abdicarem de seus planos, esse míssil nos permitirá criar uma arma estratégica de alta precisão não nuclear”, disse o general.
Segundo o general Karakaev, vários protótipos foram lançados em 2012. O mais recente lançamento foi realizado em 24 de outubro e pôs um ponto final na discussão sobre a necessidade russa de um míssil pesado de combustível líquido.
Nos anos 1990, o país atualizou a família dos mísseis Topol e adotou, em 2000, o míssil Topol-M, que se instala em silos (ou SS-27, na classificação da Otan). Há alguns anos, colocou em serviço operacional os primeiros mísseis móveis Topol-M2.
Logo, os novos Topol e Iars-24 irão substituir os mísseis de combustível sólido de primeira geração.
Enquanto isso, o núcleo da força de dissuasão russa é constituído pelos mísseis de combustível líquido UR-100N (SS-19 Stilett, na classificação da Otan) e R-36M (SS-18 Satan, na classificação do Departamento de Defesa dos EUA e da Otan), que, entretanto, já têm a vida útil vencida e devem ser retirados do serviço operacional nos próximos anos.
Novos mísseis estão chegando lentamente às Forças Armadas. Segundo o vice-presidente da comissão de Defesa da Duma de Estado (câmara baixa do parlamento russo), Leonid Kalachnikov, em 2015, a Rússia pode ter de 100 a 105 novos mísseis balísticos.
Se a preferência for dada aos mísseis Topol-M, com uma só ogiva, e Iars-24, munido de três ogivas, a nova frota de mísseis será capaz de transportar, no total, entre 110 a 115 ogivas. Também em 2015, os EUA planejam ter 900 mísseis antimísseis balísticos instalados em todo o mundo.
Em 2001, os americanos se retiraram do Tratado ABM de 1972 (tratado de antimísseis balísiticos) e estão livres de quaisquer restrições ao aumento quantitativo e qualitativo desse tipo de armas. Karakaev não descarta a hipótese de os EUA instalarem elementos de seu escudo antimíssil no espaço.
Sem acordo
A liderança político-militar da Rússia esperava chegar a um acordo com os EUA sobre a defesa antimíssil. Como as negociações com os americanos chegaram a um impasse e Washington não parou de instalar mísseis interceptores na terra e no mar, a Rússia se viu obrigada a pensar em medidas de retaliação.
Como resultado, surgiu a ideia de construir um míssil de longo alcance munido de ogivas múltiplas guiadas individualmente –a Rússia já tem mísseis semelhantes, o já citado UR-100N e o P-36M de combustível líquido.
Esses mísseis, porém, foram colocados em operação no final dos anos 1980 e têm vida útil prestes a terminar. O desenvolvimento de novos mísseis com essas características foi suspenso nos anos 1990, quando a ideia era substituir os mísseis em serviço da FME por mísseis ligeiros de combustível sólido.
Os mísseis ligeiros, no entanto, não são uma boa alternativa aos mísseis pesados de combustível líquido.
“É pouco provável que os mísseis ligeiros Topol-M e Bulavá [um novo míssil de combustível sólido projetado a partir do míssil Topol-M para ser lançado por submarinos atômicos] sejam uma alternativa adequada aos mísseis retirados de serviço”, disse o especialista da Academia de Engenharia da Rússia, Iúri Zaitsev.
Sejam como for, a Rússia não tem a menor intenção de abdicar dos mísseis de combustível sólido, ideais para serem usados em sistemas de mísseis móveis.
Portanto, a Rússia irá desenvolver alternativas atualizadas aos dois tipos de mísseis.
FONTE: Gazeta Russa
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Gostaria que alguém, talvez o Bosco, me ajudasse a entender no que consiste um sistema antimísseis.
Felipe,
De modo geral um sistema antimíssil consiste exatamente nisso, um sistema de armas que tenta interceptar um míssil antes que ele atinja o alvo.
Esse sistema pode ser baseado em canhões (projéteis de impacto ou com espoleta de fragmentação), raio laser ou usar um outro míssil para fazer o serviço.
O míssil a ser interceptado pode ser de cruzeiro, balístico ou semibalístico.
Mísseis de cruzeiro são interceptados desde a década de 80 usando canhões ou mísseis em navios para defendê-los de mísseis anti-navios.
No caso do post, faz-se referência a mísseis balísticos, que em geral são interceptados por mísseis.
Em geral, mísseis balísticos com mais de 300 km de alcance (considerados de curto alcance, médio alcance, alcance intermediário e intercontinental) não chegam inteiros ao alvo porque sobem muito além da atmosfera e caem com grande velocidade tendo que liberarem um “veículo de reentrada” resistente ao calor da reentrada. Dentro do veículo de reentrada é que está a ogiva.
Esses veículos de reentrada caem a velocidade muito grande, acima de 2 km/segundo. Quanto mais de longe o míssil é lançado mais ele tem que subir e maior velocidade tem o veículo de reentrada sendo mais difícil é sua interceptação.
A trajetória de um míssil balístico é dividida em 3 fases: fase de impulso (onde o motor está ligado), fase intermediária (que vai do desligamento do motor até a reentrada) e fase terminal ou de reentrada (quando o míssil volta a entrar na atmosfera).
É mais eficiente para o míssil antimíssil interceptar o veículo de reentrada na fase intermediária, fora da atmosfera (interceptação exoatmosférica), usando para isso um “veículo de destruição exoatmosférico” que atinge em cheio o “veículo de reentrada”, destruindo-o por impacto direto.
Sistema antimísseis balísticos como o THAAD, o SM-3 e o futuro S-500 usam esse método (O THAAD pode também fazer interceptação endoatmosférica).
A interceptação também pode se dar dentro da atmosfera (abaixo de 100 km) e para isso usa-se um interceptador endoatmosférico, como por exemplo os usados no sistema Patriot, S-300, S-400, etc.
Espero tê-lo ajudado.
Um abraço.
Olá Bosco,
Gostaria de saber qual a diferença entre um míssil balístico e um míssil de cruzeiro?
Desde já agradeço a sua resposta.
Alex,
Um míssil de cruzeiro é para todos os sentidos um avião. Ele voa, tem asas, superfícies de controle aerodinâmicas e seu motor funciona desde o lançamento até o impacto com o alvo.
Há várias opções de motorização para mísseis de cruzeiro. Desde motores foguetes (ex: Exocet), motores turbojatos (Ex: Tomahawk) e motores Ramjets (Ex: Brahmos).
Também mísseis de cruzeiro podem ser subsônicos, supersônicos e futuramente poderão ser hipersônicos (acima de Mach 5) usando motores “scramjets”, etc.
Voam entre uns 3 metros acima do nível do mar (Ex: Harpoon) até 15 km de altura (Brahmos) e no futuro os hipersônicos voarão a uns 40 km de altura.
Como um míssil de cruzeiro “voa” ele não funciona no espaço e para ter sustentação em grande altitude, digamos, acima de uns 30 ou 40 km, onde o ar é muito rarefeito, ele tem que ter grande velocidade, como no caso dos futuros mísseis hipersônicos.
Já um míssil balístico não voa. Ele não tem asas. Ele é lançado por força de um motor foguete de grande empuxo e que fica funcionando apenas na fase de impulsão, que corresponde a uns 20% apenas da trajetória, depois o foguete se apaga e o míssil continua subindo por força da inércia até chegar no apogeu e começar a cair em direção ao alvo.
Tem uma trajetória tipicamente parabólica e seu motor sempre exerce uma força contrária à da gravidade.
Há um terceiro tipo, chamado de “míssil semi-balístico”. Esse míssil junta as características de trajetória dos dois tipos anteriores, já que é lançado como um míssil balístico até chegar a uma determinada altitude e aí ele voa (ele tem sustentação dada por pequenas asas ou pelo próprio corpo) por um determinado tempo propulsado por seu motor foguete e depois que o motor se apaga ele rapidamente perde velocidade e sustentação e cai como um míssil balístico.
Esse míssil semibalístico não tem uma trajetória parabólica típica de um míssil balístico já que quando atinge o “apogeu” ele estabiliza e voa nivelado, até começar a cair.
Exemplos: MAR-1, Iskander, ATACMS, HARM, etc.
Só de curiosidade, o Iskander russo quando está na fase intermediária, voando a 50 km de altitude, ele chega a Mach 6.
Espero ter ajudado.
Um abraço.
Bosco,
Muito obrigado pela sua atenção na resposta, sanou minhas dúvidas.
Abraço
Grande Bosco,
Os seus esclarecimentos aos comentaristas Felipe Ferreira e Alex Stélio foram bem aproveitados por mim também. Estão bem didáticas. Meus agradecimentos.
Abraços